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Érix


Descrita por Marcelo Piropo


Personagens da aventura:

Os anões: Feldim Braço Forte; Fortum Barba Grande; Kragum Mata Orc; Windolfin Braço de Clanggedin Barba de Prata; Dumairin Polegar Sujo. Os humanos: Ajax filho de Felonte, Herói de Arabel; Kantras de Shadowdale; Adom de Mystra ; A Bruxa Coral; Diana de Tymora; Frogsong; Kelta Westingale; Adsartha; Iorek de Moradin, Defensor de Aglarond; Magnus de Helm; Cyric, O Príncipe das Mentiras. Os elfos: Arthos Darkfire; Fergal Hall; Kariel Elkendor; Elder Villayette "Moonblade" Elkendor; Halaur de Evereska; Parliin de Evereska; Siali de Evereska; Il'har de Evereska; Torcond de Evereska.


Érix


      Comitiva da Fé partiu em viagem pelos obscuros caminhos dos Reinos.  No início, em busca do construtor duma espada encantada, depois, caçando um antigo artefato.  Agora, a Comitiva, após destruir o filho de Bane, X'vim, conseguiu a Orbe do mago Ogor, objeto divino capaz de mudar o destino de toda Tiro.

Bane surge no caminho da Comitiva

      Adsartha roga à Deusa:

      "Ó, Grande Mãe, cura a fadiga de Elder, as queimaduras de Feargal e as dores de Iorek".  E de pronto a grande mãe baixou à terra em essência, não sem antes pedir permissão a Kelemvor, e fez o que lhe era pedido.  Adsartha envolveu-se em grande energia.  Kantras amou sua mulher neste momento e também teve temor.  O dorso de Feargal, magoado, refez-se por encanto.  O vigor retornou aos membros flácidos de Elder Villayette.  Iorek sorriu um riso largo, todo contente.

      Ainda sorri, a Orbe à guisa de gravidez enfiada dentro da camisa, quando recebe uma reprimenda de Kantras.

      "Iorek de Moradin, defensor de Aglarond, retira a magnífica Orbe da barriga.  Respeitemos o objeto divinizador".  O ranger, cheio de galhofa, saí-se assim:
      "A seriedade é para os combates. E, até nestes, há momentos de descontração.  Acabo de derrotar Xvim, filho do Hades, devo poder comemorar."

      Kantras não concordou.  Entretanto não fez polêmica.  Respeitava o ranger mais experiente... Se bem que o respeito arrefecesse com o passar dos dias.  Passou a achar esta Comitiva um agrupamento de gabões.  Excetuavam poucos.

      Iorek, a barriga contraindo-se das gargalhadas, disse:

      "Elfo Halaur de Evereska, desejo reunir a Comitiva para decidirmos nosso futuro.  Tomaria conta da 'coisa'."  E apontou para o contrariado Cyric.

      Cyric matutava.  Planejava, mas nada, nadinha se concretizava em sua mente, nenhum estratagema infalível para subtrair a Orbe mágica.  Este Iorek era mesmo um velhaco, simulando patuscada, mantinha a Orbe entre seus enormes braços de urso.  Viu o elfo Halaur se aproximar e o restante da enorme Comitiva afastar-se.  Certamente haveria reunião.

      Kelta, sempre acompanhado pela sua esposa, chegou-se a Feargal enquanto caminhavam. Iam reunir-se distante dos ouvidos de 'a coisa'.

      "Feargal... Entende... Quero o anel mágico de volta."
      Respondeu Feargal:
      "Compreendo e agradeço.  Não fosse seu auxílio, eu estaria em audiência com Kelemvor no reino da morte."

      Sentou-se a Comitiva nas úmidas pedras do charco.  Participaram da conversa: Kelta, Coral, Ájax, Adon, Diana, Arthos, Villa, Kantras, Iorek e o dileto de Mystra, Kariel.  Os demais ou foram despistados (o tema do colóquio não os iria agradar) ou por motivos variados não sentaram-se no círculo.  Foi o ranger que iniciou.

      "O elfo, Arthos 'Sem Noção' Fogo Negro, disse-me desejar ofertar a Orbe para sua amada Diana.  Argumenta ele que..."
      Kantras interrompeu e disse como um rei."Se o tema gira em torno do encantado artefato, a sacerdotisa deve participar" e retirou-se.  Caminhou até Adsartha.  Ela orava num sítio tranqüilo, os joelhos dentro duma poça, as mãos acariciando a água, os olhos cerrados.

      "Ó, sábia sacerdotisa, perdoe perturbá-la, mas a Comitiva precisa do seu saber."
      Adsartha pousou suas mãos molhadas na face de Kantras. Disse:
      "Amado esposo..." sorriu contrariada, não por haver sido interrompida, mas pelos, por ela considerados, exagerados elogios.  Afagou-lhe, entretanto, a nuca enquanto caminhavam. Amava-o.

      Fora uma discussão belicosa.  Ainda mais estando o bravo Ájax vestido com as fulgentes armas, presentes de Tymora.  Eram uma lança, um gládio, um grande escudo, uma bela armadura e no elmo uma crina encarnada.  O tema girou em torno da possível deificação de Diana.  Passado um tempo de ameaças e acusações, com pausas breves para idéias procedentes, Diana achou melhor negar a dádiva que lhe davam.

      "Então, se eu ficar com a Orbe e tornar-me Deusa perderei meu Arthos?"
      A esta quase súplica acudiu Adon, amado de Mystra.
      "O Éter não é para os feitos de carne. É para os Deuses e os espectros."
      "Assim", disse Diana, "nego esta Orbe, que será um presente maldito se me separar do meu Arthos."

      Estavam todos exasperados de tão demorada peleja verbal quando o dileto de Mystra, Kariel, erguendo-se, falou:

      "O nosso problema é o medo de que a Orbe do mago Ogor caia nas mãos virulentas do mal.  Digo, então, que a Orbe deverá seguir nas mãos de alguém apto para usá-la no momento (se este chegar) em que os nossos inimigos nos tenham retirado todas as esperanças.  Caso contrário, alcançar a Escada Celestial será nossa meta.  Ademais, é contra a crença de Elder e de Magnus que a Orbe seja usada por um de nós; para ambos isto significa blasfêmia.  O mesmo pensamento têm os bravos anões, versados nos combates.  Você, Ájax, dileto de Tymora, é o mais indicado para portar a chave.  E você, Adon, amado de Mystra, o mais apto para guardar a Orbe sem ceder as tentações ou jazer pleno de maquinações.  Repetirei, e espero não o fazer em vão: morreremos todos se for preciso, lutaremos para chegar a escada, faremos o possível para não cometer a blasfêmia de anelar-se com os Eternos."

      Calou-se.  A reunião havia acabado.  No céu, Selune estava quase cheia.

      A Comitiva dispersou.  Fora preparar os cavalos para uma nova cavalgada.  Iriam rumo ao oeste, para a cidade de Águas Profundas, sítio da escada que leva para a casa do Deus Pater.  Iorek esperou todos se afastarem do dileto de Mystra, Kariel.  Aproximou-se.

      "Kariel, Escolhido, deve saber o motivo que me levou a apoiar a idéia de Arthos..." E contou o segredo de Diana: a bela humana na verdade era uma dragoa, e estava magicamente transformada.  Contou em voz baixa para não andarem dizendo-o fofoqueiro; antes, pelo mesmo motivo, pediu a devida permissão à Diana-Dragão (não seja este "Dragão" adjetivo depreciativo).  Kariel, como bom escolhido, não esboçou cara de espanto, ou gargalhou qual um bufão.  Limitou-se a inclinar, sutil, a cabeça.

      Inesperadamente nova reunião aconteceu.  Eis o poder das palavras.  Foi o elfo Feargal dizer:

      "Temos a Orbe, correto? Vamos para a Escada Celestial.  Então, alguém de mais tino do que eu me responda, para quê Mirkuls serve-nos Cyric?" Disse e os partidários da execução pegaram-se com os da absolvição.
      Lembrava Elder:
      "Ele salvou minha vida!"
      Lembrava Kelta a Elder:
      "Por conveniência. Por pura conveniência, meu caro".
      Falaram muito, disseram que matavam, que aconteciam, nada, no final a coisa (não "a coisa") ficou na mesma.  Antes Feargal tivesse ficado calado.  Eis a inutilidade das palavras: por mais que se peça para não fazer, acaba-se fazendo.  Feargal pediu para matar, ele não matou, nem ninguém.

      "Cyric pode sentir Bane."  Acrescentou Elder Villayette, só faltou dizer coitadinho.  Ponto final.  Os enfadados aventureiros montaram em seus cavalos de Evereska.
      Lá foi a Comitiva sem mais delongas, cavalgando na noite molhada.  Amanheceram cortando uma planície rochosa, habitada por gêiseres.  Paisagem craterosa, difícil de seguir montando.

      Dobravam uma grande rocha quando um inesperado trono tétrico se lhes apresentou.  Nele sentado vinha o Pai dos Demônios e Senhor da Destruição, o Grande Bane de tez rubra, rutilante, refletia os surpreendidos aventureiros.  Ao seu lado repousava uma espada; "ameaça" foi o nome que lhe deu Kelta, e tentou fugir, sair dali, salvar sua amada Coral...

      "Curvem-se diante de um Deus, mortais."  Fez a voz boa para gelar espinhas.
      "Curvo-me, não por ter fé em você, mas por respeitar todos os Deuses Eternos e Imortais." Pronunciou Ájax.  Se bem não tenha se curvado.  Desceu sim do cavalo e vez uma discreta vênia.
      "Tuas palavras, bem colocadas, dão-me esperança quanto a humanidade."
      "O respeito e a honra correm nas veias de Ájax, filho de Felonte."

      De todos da Comitiva, apenas os anões não temiam, fiavam-se em Moradin Feito de Mythril e na sua certa intervenção caso o Deus da Destruição anelasse lançar fúria contra eles.  Depois, Fortum, o Pai, trazia consigo o Martelo do Trovão.  Postavam-se embebidos em orgulho os anões.  Mãos nos grossos cintos, olhos ardendo na direção do inimigo.  Os elfos de Evereska temeram o Demônio Maior, mas não demonstraram.  Dos humanos, Iorek era quem menos temia.  Também em seu peito ardia o aço de Moradin.  Kantras desceu do cavalo e cumprimentou a Divindade.  Mas Bane não lhe deu atenção.

      "Também o sangue da Diva Tymora corre em tuas veias mortais, Ájax."
      "Se diz, Pai do Mal, então não foi sonho, e à Mater Tymora dedicarei valorosas hecatombes."

      Em seguida, dirigindo-se a todos, disse o Pai do Hades.

      "Mortais, entreguem-me a Orbe feita pelo mago Ogor e pelo ajuntador de tempestades, Pater Ao.  Não percam tempo com digressões, não se esqueçam que sou Bane, Deus Rei do Inferno.  Entregem-me a Orbe, não me façam levantar..."

      Iorek disse piadas irrelatáveis.  Inenarráveis foram também as de Arthos.  Neste momento Kantras teve desgosto profundo pela Comitiva e viu a imagem que tinha do Defensor de Aglarond, Iorek, desfazer-se.

      "Não!" Fez Elder. "Nós levaremos a Orbe para a Escada Celestial.  Morreremos se for preciso!" E segurou no cabo de sua Lâmina Lunar.
      "Sua tolice me comove.  Entregar a Orbe ao Pater Ao, ajuntador de tempestades? Pousar o artefato na mão do guardador da escada? Para quê? Não pensem que sou vosso inimigo, vós sois sobremodo ínfimos para importunar-me.  Quem não vos queria foi Ele.  Eu não posso prosternar o Pai Ao como vos fizeram crer.  É inocência dos mortais achar que um artefato feito por mãos de carne pode derrotar o ajuntador de tempestades, Ao.  Ele nunca os quis, humanos.  Isto tanto é verdade que vós, humanos, não têm um Deus maior.  Aí está o verdadeiro papel da Orbe, elevar a divindade que moldará a espécie humana, assim como Moradin aos anões e Corellon aos elfos... Serei o patrono dos humanos, Rei da humanidade."

      O dileto de Mystra, Kariel, tomou a frente.  Disse com voz de quem está pronto para uma batalha.

      "Não! Não, por todos os Deuses eternos!"
      Bane franziu os sobrolhos.
      "Dê-me a Orbe ou trarei de Hades meus Balors, todos meus filhos.  Não da estirpe de Xvim, nem deste Eltab, que só era bom para ser pária de magos humanos.  Trarei Balors." Esteve prestes a empertigar-se.  Kariel correu a mão pelo cabo da espada... Bane soergueu-se e voltou a sentar.  A tensão diminuiu.  Continuou Bane "Farei melhor, pois intento disseminar fúria.  Os Fados colocam tudo no mesmo lugar.  Rumem para sudoeste.  Serão três sóis de jornada.  Quando chegarem ao monte que chamam Monte do Destino, subam-no.  Libertem Érix.  Ele vos dirá verdades que farão a Comitiva rogar por meu nome.  Agora vão, e se tomarem outro caminho eu vos esmago."

      "A mim não esmaga, minha Diva mãe não deixa."  disse Ájax.
      "Veremos."  Fez Bane contendo um sorriso.
      "Quem é este Érix, Ó Horrenda Bestial?"
      "Não é outro," respondeu Bane, "do que aquele que desobedeceu ao Pai."

      A Comitiva correu para longe da Besta Escarlate Cara de Djim.  E durante a corrida, penosa para os cavalos que escorregavam nas pedras molhadas, o medo de que se tratasse de um jogo funesto de Bane habitou o íntimo de todos.  O pavor de que a qualquer momento o Deus Maior do Mal surgisse tomado de insana fúria matando e esquartejando.

      O sol chegou à metade da sua quotidiana jornada.  Os cavalos, os elfos, os anões e os humanos estavam exaustos.  Não é escusado fazer notar serem, o elfo Kariel e o deiforme Ájax, exceções.  Cessaram a marcha para preparar acampamento.  Foi neste ponto que Iorek mais uma vez incitou a morte do esquivo Cyric.  Este, mais escorregadio do que nunca, após pilheriar contra a Comitiva, deitou-se à sombra de Iorek que o vigiava abertamente.

      "Grande Comitiva, pelos Deuses abençoada.  Que Tymora vos esmague.  Agora seremos párias de Bane, seguiremos os seus desmandos, as suas demandas.  Quanta vergonha. "Estas palavras falou Feargal Rall, elfo selvagem na raça e nas ações.  Grande discórdia correu a Comitiva, uns concordando com as palavras vituperiosas do elfo, outros discordando.  Destarte tornou-se evidente a fragmentação no seio da Comitiva.  Já neste tempo formavam os anões um grupo a parte, perdida estava a comunhão de dias passados; os elfos de Evereska, que nunca se haviam misturado, distanciaram-se.  O cerne da própria Comitiva seguia desfigurado; aceitava-se como líder o jovem Kantras, marido de Adsartha, príncipe do Vale das Sombras, para as atitudes sensatas, Ájax, para as atitudes guerreiras, e Kariel, para os temas inumanos.  Kelta fez-se em ilha onde habitava Coral; tremendo desgosto trazia, causado pelas atitudes pouco respeitosas da Comitiva; não aceitava lideranças, mas concordava com todas as palavras de sabedoria.

Cyric se livra

      No anoitecer do dia seguinte Iorek e Feargal tomaram tento e foram dar cabo da vida de um outrora Deus das Mentiras. Excitou-lhes Ájax com estas palavras guerreiras.

      "Deita-se um pachorrento à minha sombra e eu lhe comeria o fígado."
      O elfo Feargal, selvagem na raça e nas atitudes, chegou-se a Cyric dizendo.
      "Tua hora chegou!"

      Mas ninguém foi Deus à toa; e já dizia o antigo adágio, quem foi Deus nunca perde a Divindade.  Escorregou Cyric, deixando um pé-de-cabra nas partes pudendas de Feargal.  O elfo tombou praguejando.  Iorek de Moradin, hábil entre os arqueiros, atirou uma de suas setas contra "a coisa".  Cyric, acrobata, desviou-se executando piruetas.  Caiu sobre o cavalo e partiu.  Iorek, chamando a sua montaria, lançou mais uma flecha.  O Príncipe das Mentiras abaixou-se, quase deitando-se no dorso do cavalo.  Partiram Magnus de Helm, Iorek de Moradin, e Arthos Fogo Negro.  Debalde.  Encontraram o cavalo de Cyric, mas d' "a coisa" não tiveram notícia.
      Palavras de Kelta quando soube da fuga do príncipe funesto.

      "Até que ele seja preso ou morto, eu não dormirei em paz."

      Pela manhã, diante da aurora, os elfos de Evereska reverenciaram a Corellon, Deus Pater Elforum.  Estavam na época dos festejos do Grande Pai Élfico, e nada, nem estes dias perturbados, os impediriam de render homenagens e hecatombes.  Kantras uniu-se ao canto de Corellon, Ájax, temente aos Deuses todos, fez o mesmo.  Toda a Comitiva deveria ter agido de modo semelhante, mas começa-se a notar que esta é "da Fé" mais no nome do que nas atitudes.  Feargal, além de não curvar-se diante do Deus Élfico, fez balbúrdia enquanto os demais elfos o faziam.
      Kantras irritou-se com Feargal.  Disse:

      "Cuidado com suas palavras. Não ofenda aqueles que têm fé."
      "Bha! Garoto! Vá crescer!" Respondeu-lhe o elfo.
      "Desafio-lhe, agora, para um combate de honra". Fez-se ouvir Kantras.
      "Que quer, garoto, puerzinho, morrer? Não pode comigo." Desdenhou, Feargal.
      "Eu posso com você e defenderia com muito gosto a honra do jovem príncipe."  Isto disse Ájax.  Feargal viu o exagero de seus atos.  Afastou-se.

Desafio ignorado

      No dia seguinte, a Comitiva (que seguia viagem para o Monte do Destino) recebeu a visita de um pretendente a Orbe do mago Ogor.  Vinha vestido para as escaramuças, armadura completa, toda de metal negro, pesado elmo escondia-lhe a face.  Vinha só, como se a confiança em suas próprias armas fosse o suficiente.  Ergueu dois lábaros antes da aproximação derradeira: o primeiro, uma bandeira branca; o segundo, a efígie de Bhaal, Senhor da Carnagem. Pronunciou:

      "Ó, Comitiva, indo por caminhos ermos não conhecem o deiforme Tityrus Severus, que canta aos Deuses Eternos e pretende tornar-se um deles."  Fez uma breve pausa.  Continuou.  "Não há justiça em que todos lutem contra mim.  Sou mortal.  Escolham dentre vós um campeão e eu o farei fechar os olhos para todo sempre.  A Orbe será decidida neste combate, de modo que não haja carnificina desnecessária.  Se recusarem, retornarei com meu exército.  Mas antes de decidirem, saibam que sou filho de Bhaal, Senhor do Assassinato."

      A Comitiva voltou-se para Feargal.  Este fez-se de surdo.  Ainda estava magoado, só não se sabe com quem, pois fora ele o ofensor.  Ájax, recente entre a Comitiva, e sabendo haverem grandes guerreiros nesta, aguardou.  Quem não o fez foi Tityrus; não escutando resposta, foi-se.

      "Será que fizemos certo?" Argüiu Adon.
      Respondeu Kelta.
      "Acabamos de somar mais um inimigo a nossa lista".

Érix, o Pai dos Humanos

      O Monte do Destino revelou-se um vulcão encantado, de cuja erupção era contida pelas mãos dos Deuses.  A subida não era difícil, mas desaconselhada para os cavalos.  Feargal subia, magoado, sendo seguido pelos outros, inclusive Frogsong, a jovem que em tudo concordava com o elfo, menos em deitar-se com ele, ato que só faria depois de abençoada pelos Deuses.  Fora uma escalada rápida até a boca da cratera.  Lá o calor e cheiro do enxofre, bafo dos diabinhos residentes no profundo inferno, impregnava as vestes e as narinas.  Kelta, cauteloso, chegou-se a beirada e olhou para baixo.  Viu um lago de lava perturbado.  Eram bolhas e rodamoinhos, arrotos e flatos... Kelta retirou a face, cancelando a visão, o vento qual fogo fez arder sua tez endurecida.  Neste ato, seus olhos toparam com uma visão, algo que estava do outro lado da boca rochosa.  Na parede interna da boca, a meio caminho entre a beirada e o magma, via-se uma figura humanóide, presa por uma das mãos.

      Os elfos estreitaram sua visão superior.  Descreveram a cena: um humano, disseram, sem panos cobrindo o sexo; as vestes, se houveram, foram-se, consumidas pelo terrível calor.  A barba é enorme e os cabelos negros, refletem o rubro rio de fogo.  Tanta é a magreza que aparecem nítidas as costelas sob a pele.  Embaixo dele, a lava vulcânica cozinhando-o a anos.

      Os elfos, todos, partem sacando suas armas, decididos a libertar o ser aprisionado.  Os anões não se mexeram.

      "Consideramos grande blasfêmia libertar um indivíduo castigado pelos Deuses.  Não chegaremos até ele, nem ajudaremos."  Fez Fortum Barba Grande, rei entre os anões.  Emendou Windowfim Braço de Clanggedin Barba de Prata: "Nem minhas cordas, boas para as escaladas, serão ferramentas de irrelatável profanação." assim afastaram-se os anões do restante do grupo.

      Fizeram a volta na boca da cratera. Pararam sobre o ponto exato onde, no paredão, Érix jazia acorrentado.

      "Algo vai errado.  Por que Bane nos mandaria libertar alguém? Deve haver aí um ardil que nos escapa." Destarte falou Kelta.
      Com voz minguante, disse o dorido Érix aprisionado.
      "Ó bela língua, a falada pelos humanos temporais! Ó oclusivas suaves, pronunciadas por quem estava destinado a mudez! Quanto tempo, quanto tempo não ouço vozes humanas"
      Arthos inclinou; colocou o rosto na boca do vulcão e olhou para baixo, para o prisioneiro.
      "É Érix? Que fez para merecer tão dura punição?"
      A voz fraca respondeu num sussurro:
      "Puni-me o Ajuntador de Tempestades por ódio da minha criação... por ódio da minha ousadia..."
      "Qual fora seu pecado?" Instou Arthos.
      "Tinha o homem boca e nada dizia, e seus olhos não distinguiam as coisas do mundo... Dei à humanidade as artes, tirei-lhe o pêlo de fera que lhe cobria a tez, fiz-lhe caminhar ereto.  Ao Pater irou-se contra minha criação, e condenou-me ao padecimento eterno.  Contudo, meu padecimento veio com o conforto da predição.  Vi que um dia vós estarias aqui, ornados com belas armas, para libertar-me..." As forças se foram.  Desligou-se a mente do condenado.

      Enquanto debatiam a liberdade do prisioneiro, e discorriam sobre a necessidade de não se tomar partidos importantes de forma impensada, viram, lá embaixo, juntar-se um pequeno exército.  Eram, sem dúvida, seus inimigos.  Deram por perdidos os cavalos e Feargal, que encontrava-se abaixo.

      Disse o Dileto de Mystra, Kariel.

      "Tityrus cumpriu a palavra dita.  Está de volta e nos sitia no alto desta montanha.  Vem com ele uma força protegida dos Deuses.  Talvez também nos oprima Fzoul Patriarca."

      Antes, Feargal, sentindo a aproximação de cavaleiros, procurou sítio para ocultar as montarias dos seus companheiros e, após deixar Frogsong com a incumbência de proteger os animais, escalou até a boca da cratera por um caminho estreito.
      Alegrou-se a Comitiva ao vê-lo vivo.  A presença de inimigos aguardando aos pés da montanha apressou a difícil decisão.  Ia Arthos preparando as cordas quando se ouviu:

      "Acorda, Arimera, de carne humana o cheiro eu sinto!" Era uma voz estridente e vulgar, carregada de lascívia e vitupérios.  Veio do fundo da cratera, dalgum ponto abaixo do Érix agonizante.

      Outra voz semelhante fez-se presente:

      "Palomera, chama Asrimera, que Teolomera nem quer acordar.  Acorda Teolomera, que sinto cheiro de humano."
      "Ainda mais esta." Praguejou Feargal.
      Kantras voltou-se para os presentes.
      "Então, devemos ou não libertar este que se diz Pater Hominum?"
      "Se estamos aqui, libertemos, mas antes pediria para Diana e Coral irem ter com os anões. Estas vozes me parecem ameaçadoras."  Estas palavras falou Kelta.  As mulheres obedeceram.

      Ainda havia fragmentos de discussão, quando lá embaixo algo inesperado ocorreu.  Inesperado podia até ser, mas era também a mais lógica.  Uma aliança entre dois exércitos (o de Fzoul e o de Tityrus) que anelavam a mesma coisa, um objeto único, que só poderia ser usado por um dos lados.  Ninguém sabe dizer ao certo como começou.  Talvez seja o que menos importa.  Entretanto crê-se que tudo iniciou com uma disputa de grandeza.  Disse deste modo Tityrus, embora não se possa assegurar.

      "Meu ardor, sendo maior que o teu, Fzoul de Bane, coloca-te abaixo de mim, no comando e na fibra.  Vai-te acostumando a seguir os rastros dos meus pés e a compreender os sinais das minhas mãos."
      A estas palavras replicou Fzoul.
      "Se falas sério, é certo que Talos de ti arrebatou o juízo.  Não se diga maior do que tu és na realidade.  O valor repousa nos humildes, naqueles refulgentes que conseguem ocultar, da vista dos tolos, sua magnífica rútila."
      Gargalhou Tityrus.
      "Não me repreendas que tu não o podes.  Não se oculta a águia que alça alto vôo, mostra-se, mesmo assim o resultado é que a lebre, ocultando-se entre os ramos da erva, cairá ensangüentada.  Meu ardor vem de origem Divina, tu, de mortal herança, não me podes fazer frente; aceita teu destino e te ofertarei esplêndidos sobejos."
      "De agora em diante Tityrus, descendente de Bhaal, não há mais esperança para ti. Tuas palavras enfadaram o Dileto de Bane Troco momentaneamente de inimigos.  Arma-te, cão imundo, pois teu sangue tem os minutos contados."

      Assim formou-se a carnagem.  E as tropas que vinham misturadas, pouparam o difícil momento de transpor as lanças defensivas.  Tytirus esquivou-se por entre os seus homens.  Fzoul prostrou o homem de nome Vergitor.  Veio Vergitor montado, espada erguida, contra o Dileto de Bane.  Fzoul vibrou a maça na cabeça do adversário, rancando-lhe metade do crânio; os olhos saltaram das órbitas, os miolos escorreram por toda a face do infeliz, que fez a viagem para Hades.  Depois Fzoul animou seus homens com estas palavras:

      "Fibra, Luanos, lutem, não por suas vidas, mas por suas almas, pois se nosso inimigo prevalecer, só conhecerão dores e sujidades infernais."

      Depois lançou-se, qual onda bravia contra condenadas embarcações, no meio da refrega.  Em pouco tempo, estava com a face coberta de miolos.  Note-se não ser ele um guerreiro insigne, mas o temor da sua presença e as dádivas divinas, faziam-no insuperável no campo de batalha.

      Servus Tityrus Severus, como uma pá que tranqüilamente remove a areia, removia seus adversários da sua frente e do mundo dos homens.  Os golpes da sua espada espalharam vísceras pelo chão, assim como cabeças, fígados, costelas, mãos e pernas.  O sangue quente molhava a sua face, inclinando-o mais para o combate.  Caçou então Fzoul.

      Fzoul parou de combater.  Aguardou Tityrus.  Este veio, correndo, erguendo a lâmina pelos Deuses do Éter encantada.  Do interior de Fzoul brotou uma essência maligna, composta de negrume, um espectro feito de sombras e pesadelos.  Tityrus estacou.  A criatura fez a mão converter-se em gládio e espetou-o na boca aberta, de pasmo, de Tityrus.  No percurso, o gládio quebrou os dentes dianteiros da boca deste, cortou sua língua em duas.  Saiu na nuca.  A força espectral segurou Tityrus pelos cabelos, mantendo-o de pé enquanto a vida lhe escapava do corpo.  Então, já não havia espectro, viu o moribundo, o próprio Fzoul sustentando-o de modo humilhante.

      "Que Bane dê a tua alma, o gozo dos pederastas."

      Ainda tentou Tityrus pedir clemência para sua alma.  Mas Fzoul, favorecido neste momento pelos Deuses da Iniqüidade com uma força superior, arrancou com as mãos a cabeça do inimigo e a mostrou largamente.  Estava terminada a escaramuça.
      Assistiram estas coisas os elfos do alto da cratera.  Arthos, tendo preparado as cordas, foi encontrar Érix.  Escalou até o prisioneiro e viu ser a corrente encantada pelas ordens Divinas.  Ocorreu-lhe uma idéia, usar Hadrillys, a espada encantada.  Preparava-se para subir...

      Ájax, empertigado como um Deus, viu três criaturas aladas, um pouco dragões, um pouco leões, um pouco cabras, com uma cabeça de cada destas representações; contudo como uma cabeça principal, a de uma górgon: face bestial feminina e cabelos em forma de serpente.  Viu as três saírem voando, duas até a superfície, outra contra Arthos.  Ájax, veloz como um Deus, segurou a lança prateada, presente da sua Diva mãe e atirou.  Matou a terrível gorgiméra no momento exato em que esta preparava o derradeiro ataque contra Arthos, que viu a morte de perto mais uma vez.  Tymora desceu invisível do céu e fez a lança entrar mais fundo na górgon, até atravessar seu coração.  A criatura caiu para a lava.  Sem que ninguém visse, Tymora levou a lança de prata consigo.

      Feargal reconheceu a górgon e ordenou que todos olhassem para baixo.  O Dileto de Mystra, Kariel, foi dando imunidade contra o olhar da górgon à Comitiva.  Assim pôde a Comitiva batalhar.  Arthos subiu, retirou Hadrillys da bainha de Iorek e, desesperado pelo terror às criaturas, saltou na cratera.  Mirou, na queda, as correntes.  A lâmina mágica contra as correntes encantadas causou uma explosão.  Partiu-se Hadrillys, a espada encantada, e seus pedaços mergulharam na lava.  Mas agora estava livre o Divino Érix.

      Das nuvens caíram quatro raios que fulminaram as bestas.  Haviam quatro, ocorre que uma gorgiméra manteve-se afastada do combate.  Fulminou-as o Pai, irado por haverem falhado em sua empresa: a de guardar o prisioneiro.

      Não viram os aventureiros quando Helm, Deus Guardião, caminhou nas profundezas do lago de lava e juntou os pedaços de Hadrillys, a espada encantada.

      Kariel cobriu as partes (aquelas que o pudor manda recatar) de Érix.  Emprestou-lhe um manto.  Uma Deusa menor, destas das quais o nome não chega aos mortais, veio às claras, do céu e deu de beber a Érix um líquido revigorante.  Foi como se Érix nunca dantes houvesse padecido da árdua prisão.

      "Retorno para o Reino Celeste, os Fados cumpriram-se.  Não tramei minha liberdade, Pater Ao há de aceitar-me de volta.  Vós, bravos heróis, receberão, no tempo certo, vistosa recompensa."

      Com um gesto fez desaparecer Fzoul e todo o seu exército, em seguida subiu para o Éter.


Esta história é uma descrição em teor literário dos resumos de aventuras jogadas pelo grupo Comitiva da Fé em Salvador sob o sistema de RPG Advanced Dungeons & Dragons.

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