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O Retorno de Obscura

Descrita por Ricardo Costa e Ivan Lira.
baseada no jogo mestrado por Ivan Lira



Personagens principais da aventura:

Os Humanos: Magnus de Helm; Sirius Lusbel; Sigel O'Blound (Limiekli), Melegaunt Tantul. Os Elfos: Arthos Fogo Negro; Mikhail Velian; Kariel Elkandor e Galaeron Nihmedu. O Halfling: Bingo Playamundo.


O Retorno de Obscura
     

     "Pessoal, acho que acabei de encontrar o que viemos procurar!", falou Sirius ao ver uma parede de blocos de pedra dentro da caverna e nela uma passagem, bloqueada por diversos pedregulhos. Aquele muro rochoso diferia da superfície da caverna: parecia ainda mais antigo e desgastado.

     "Temos que tirar estas pedras, se quisermos passar.", disse Mikhail, o elfo clérigo da Deusa da Magia, enquanto olhava para Magnus, que entendeu a mensagem sem palavras e ajudou o amigo a erguer uma das rochas. Logo toda a Comitiva também participava do esforço para desempedir a passagem. Porém havia uma pedra maior, que deveria pesar mais de uma tonelada, e não poderia ser movida desta forma.
     "Alguém tem um martelo?", perguntou Sirius.
     "Ainda que usássemos um martelo levaríamos bastante tempo para esfacelar esta rocha!", opiniou Mikhail.

     Os outros pensavam em uma maneira, quando Melegaunt antecipou-se. Concentrou-se, gesticulou e recitou algumas palavras em língua arcana. A rocha então diminuiu rapidamente de tamanho, até tornar-se um seixo que podia ser levado em uma mão. Kariel observou a magia em silêncio e tirou algumas conclusões sobre Melegaunt. Pelo tamanho a que a pedra foi reduzida, percebeu que o arcano era ainda mais poderoso do que havia suposto. Sirius viu a pedra diminuída e quis saber:

     "Senhor Melegaunt... o efeito desta magia é temporário?"
     "Sim. Porquê?"
     "Podíamos levar esta pedra e, quem sabe usá-la. Já pensou... podíamos arremessar este pedrisco contra um inimigo e atingi-lo com um pedregulho enorme!"
     "Meu caro...", meneou a cabeça negativamente, "...não sabemos quando exatamente o efeito irá passar e levar esta pedra pode causar acidentes. Sugiro deixá-la aqui."
     "Sim", disse Mikhail apanhando o seixo e jogando-o de lado. "Deixemos esta coisa aí e prossigamos."

     A frente da passagem havia apenas a escuridão. As trevas foram afastadas pela luz das lanternas trazidas por Mikhail e Bingo, e pela luminosidade azulada da lâmina mágica da espada de Kariel. Diferente do ambiente da caverna, não havia sinal de insetos, teias de aranha ou poeira. Tudo estava estranhamente em ordem para um local que não era visitado há muitos milênios.

     "Acho prudente verificarmos a existência de armadilhas à medida que avançamos.", sugeriu Kariel.
     "Você poderia cuidar disto, Arthos?"
     "Sim, Magnus. Pode deixar que vou a frente!"

     Seguiram então em um corredor. Arthos parava de tempo em tempo e analisava o chão e as paredes. Mas não notou nenhum mecanismo e a Comitiva então prosseguiu. Chegaram em uma nova passagem e iluminaram o próximo aposento. Parecia ser um grande salão e existia uma outra porta do lado oposto. Mas havia um imprevisto: não havia piso. Logo depois da porta por onde entravam os heróis, iniciava-se um abismo cujo fim não podia ser visto. Mikhail abaixou-se e tomou um pouco de areia e pedras e jogou no precipício. Para sua surpresa e dos membros da Comitiva, os fragmentos ficaram flutuando sobre o ar, com se houvesse uma plataforma invisível sobre ele. Então aproximou-se o clérigo e tentou pisar no vazio, mas quase caiu, sendo amparado pelos amigos.

     "Sem dúvida é uma estranha magia. Nunca vi nada parecido.", comentou Melegaunt.

     Apesar da experiência desastrada de Mikhail, os outros também tentaram pisar na suposta "plataforma invisível". Arthos também falhou e por pouco não caiu. Kariel, Bingo e Melegaunt tentaram em seguida e não obtiveram sucesso. Já iam desistir de tal método, quando Magnus, o paladino, pisou no vazio e conseguiu fazer o que os outros apenas tentaram. Ele agora caminhava como se estivesse sobre um piso invisível.

     "É preciso limpar os pensamentos da existência deste abismo. Não acreditem que ele existe", disse Magnus. "Assim poderemos passar."

     Arthos fez o que o amigo dissera e também conseguiu passar, Sirius e Bingo em seguida e assim, descoberta a chave, os demais membros da Comitiva começaram a atravessar. Alguns não conseguiram esquecer o abismo e não venceram a ilusão, acabando por serem carregados por seus companheiros mais afortunados. Chegando ao outro lado, olharam para trás, ainda espantados com aquela magia.

     "Isto aqui deve ser uma sala comum. Não deve haver nenhum abismo."
     "Tem razão, Sirius. É o que acreditamos. Tudo isso não deve passar de uma elaborada ilusão.", disse Galaeron. "Mas não temos tempo para divagar. A este momento, os phaerimns podem estar as portas de Evereska. Vamos prosseguir!"

     Arthos então empurrou a pesada porta, abrindo-a. Revelou-se um estreito corredor. O elfo de cabelos vermelhos prosseguiu a frente, em passos rápidos, sendo seguido pelos seus companheiros, que vinham de modo mais cauteloso, logo atrás. De súbito, um ruído sob os pés de Arthos, e da parede um dardo foi disparado, atingindo o ombro do aventureiro. Em poucos segundos, sentiu o elfo o sangue ferver e as veias pulsarem. Era um veneno antigo e forte. rthos cambaleou e seus amigos preocuparam-se e aproximaram-se, mas, talvez pelo veneno ser muito antigo, ou por alguma resistência do herói, a armadilha não foi mortal. Aos poucos seu corpo foi voltando ao normal e pôde-se recobrar do revés.

     "Tenha cuidado, Arthos. Como disse, este local deve estar repleto de armadilhas. Quanto mais nos aproximarmos da Pedra Karse, mais teremos surpresas.", advertiu Kariel.
     "Suponho que deva haver algo guardando esta tal pedra, visto as dificuldades que já enfrentamos."
     "Concordo, Mikhail. Acredito que encontraremos mortos-vivos ou algum tipo de constructo mágico"
     "Mais mortos-vivos?! E esse tal de constructo? Pela Deusa, no que me meti ?", Limiekli suspirou.

     Arthos Fogo Negro já havia sido um ladino no passado, com bom desempenho em habilidades furtivas, tais como abrir cadeados, esconder-se e desarmar armadilhas. Mudou de vida com o passar dos anos e já não exercitava tais artes com freqüência, mas pela experiência anterior, era ele que continuava a frente. Talvez, por conta da falta de prática ou da perfeição do mecanismo, Arthos deixou de notar outra armadilha: o chão abriu-se em sua frente e revelou-se um largo poço, onde pontiagudas estacas esperavam suas vítimas. Quase que o elfo era empalado: foi salvo por reflexo, conseguindo saltar para trás e segurar-se na borda do buraco. Com a ajuda de Magnus, que tomou sua mão, saiu da dificuldade.

     "Arthos! Vai desarmar as armadilhas da pior maneira?", fez troça Mikhail, com os insucessos de Arthos.
     "Ah, é? Experimente ficar aqui na frente!", respondeu.
     "E agora? Como vamos passar? Este fosso é largo demais para darmos um salto."

     Criou-se um outro momento de silêncio e reflexão. Os membros da Comitiva pensavam como poderiam transpor aquele obstáculo com segurança. Arthos tentou escalar. Firmou seus dedos e pés nas reentrâncias dos blocos de pedra da parede, e movendo-se com cuidado, foi atravessando, tendo o fosso abaixo de si. Conseguiu seu intento. Pulou do outro lado da armadilha.

     "Podem me chamar de Arthos, o Aranha!", brincou, em uma reverência aos demais do outro lado. Galaeron falou com os companheiros de expedição.
     "Poderíamos criar um portal para o outro lado do poço, mas este recurso não deve ser utilizado desta forma. A magia é algo a ser usado apenas em momentos especiais e acredito que Melegaunt e Kariel devem concordar com esta filosofia. Portanto, pensemos em outra alternativa."
     "Se tivéssemos algo para jogar sobre aquelas estacas. Uma pedra ou algo parecido. Poderíamos passar por cima das pontas...", pensou Kariel.
     "A pedra!", falou Sirius, em voz de empolgação.
     "Que pedra!?", perguntou Mikhail. "Não há pedras aqui!"
     "Não... falo da pedra que foi reduzida por Melegaunt na entrada e que vocês não me deixaram trazer. Podíamos jogá-la aí e esperar o efeito da magia terminar."
     "O efeito da magia já deve ter acabado a esta hora."
     "Na verdade não, Mikhail. Porém não deve demorar muito para que isto aconteça. Pode dar certo, mas teria-se que ir rápido e correr o risco da magia se dissipar na hora errada. E ainda há o obstáculo do abismo novamente...", revelou o arcano Melegaunt.
     "Vale a pena tentar. Eu vou indo...", disse Sirius.
     "Vou com você também. Posso correr bastante rápido!", ofereceu-se Kariel. Sem mais demora partiram a toda velocidade em direção a entrada daquele complexo.

     Kariel rapidamente distanciou-se de Sirius e chegou no abismo mágico. Conseguiu concentrar-se o suficiente para passar e continuou correndo. Sirius, que veio atrás, também venceu a magia do abismo, mas resolveu esperar o amigo ali mesmo, já que não conseguiria alcançá-lo. Kariel chegou então na entrada do complexo, onde Mikhail havia descartado a pedra. Olhou e não encontrou. Então, usou seus poderes de Escolhido para detectar a magia lançada por Melegaunt e eis que uma pequena pedra brilhava ante seus olhos. Apanhou-a do chão e pôs-se a correr de volta. Passou pelo corredores, e chegou novamente ao abismo mágico. Sirius o esperava. Pisou para testar a passagem, mas não conseguiu apoio. Para não perder tempo, pegou a pedra e a arremessou para Sirius, que estava o aguardando, em pé sobre o abismo.

     "Pegue! Corra Sirius!"

     E Sirius correu como nunca havia feito. Ao chegar próximo à armadilha, arremessou a pedra no fosso das estacas. Ainda no ar, o seixo se transformou em um imenso pedregulho, que caiu bem no meio das pontas de madeiras, destruindo-as. Agora a Comitiva poderia pular para cima da pedra e de lá para o outro lado, onde aguardava Arthos. Kariel, chegou logo depois e parabenizou Sirius pela idéia.

     E então, prosseguiu a Comitiva. Andaram por mais alguns minutos. Uma nova armadilha surgira no caminho dos aventureiros, três pêndulos gigantes com lâminas enormes saíram das paredes, elas balançavam pelo caminho, tornando impossível a passagem. Arthos procurou o mecanismo que acionou a armadilha, mas não encontrou, deduziu ele que estaria por dentro da parede. O pequeno Bingo, bastante habilidoso, opinou:

     
"Kariel, você pode usar um encantamento que me faça flutuar?"
     "Sim pequenino, isso seria muito simples, mas o que pretende com isso?"
     "É que eu olhei os pêndulos e percebi que existe uma fresta entre eles perto do teto. Eu poderia passar por entre eles." Como o halfling observou, realmente um pequeno espaço existia num dos cantos superiores da parede.

     Kariel então atendeu o desejo de seu amigo e o fez flutuar. Bingo subiu as paredes como se aranha fosse e conseguiu passar pela fresta descrita por ele. Ao atravessar, retornou ao chão e procurou algo que parasse a atividade dos pêndulos laminados. Por fim encontrou um mecanismo na parede e fez os pêndulos pararem possibilitando assim a passagem do grupo.

O Senhor do Templo Karse

     Um novo corredor se revelou, igual ao anterior, porém menos extenso. Ao atravessarem, chegaram em um salão, completamente vazio, salvo por uma escada que conduzia a uma nova passagem. Entraram neste novo ambiente e quando caminhavam pelo centro em direção à escada, algo surgiu no teto. Uma luminosidade clareou as trevas e transformou-se na figura horrenda de uma crânio, coberto por um luxuoso manto. Em voz tenebrosa, a imagem começou a falar.

     "Quem invade os domínios de Wulgreth? Quem são vocês? Como conseguiram chegar até aqui?."
     "Somos a Comitiva da Fé. Precisamos da Pedra Karse.", disse Kariel.
     "Jamais a terão! Jamais!" Disse Wulgreth com uma tensão esquizofrênica.
     "Precisamos da Pedra para impedir a invasão dos phaerimns".
     "Phaerimns. Eles voltaram? Eles acabarão com todos vocês. Minha vingança será completa."
     "Vingança contra quem? Nós nem o conhecemos!", observou Sirius.
     "Contra suas civilizações, que no passado levaram-me a ruína e destruíram meus seguidores."
     "Do que está falando?", perguntou Galaeron.
     "Vocês estão desejando a Pedra Karse, mas não poderão tê-la. Só vivo por causa dela. Outras pessoas também a quiseram e pagaram alto preço por isso. Inclusive Karsus, com todas suas experiências infames... Vocês não passarão. Voltem agora mesmo!"

     Em seguida a imagem desvaneceu e desapareceu por completo, deixando os heróis mais apreensivos e alguns deles confusos, como Limiekli, que perguntou:

     "Que criatura era aquela?"
     "Suponho que seja um maldito lich, um mago morto-vivo que renunciou a vida para aumentar a sua existência."
     "Sim, Magnus. Mas me preocupa o fato dele ter mencionado Karsus. Se ele for da época de Netheril teremos grandes problemas. Os arcanos daquele período foram os mais poderosos a pisarem em Faerûn"
     "Kariel tem razão!", comentou Galaeron, "Não teremos como vencê-lo. Ainda sim vocês desejam prosseguir?"
     "Se houver a possibilidade de pelo menos um de nós sair daqui com a Pedra terá valido a pena!", continuou o elfo mago da Comitiva.
     "E este tal lich? Como vamos combatê-lo?. Precisamos de uma estratégia", Mikhail falou a Kariel.
     "Eu e Magnus enfrentamos um deles, a alguns meses atrás. Parece que são atingidos mais eficazmente por armas encantadas."
     "Não se preocupem com isto. Eu e Galaeron juntos podemos combatê-los. Enquanto isso, peguem a Pedra!", disse Melegaunt.
     "Está certo...", Arthos interferiu. "Mas não vamos deixá-los desamparados. Vamos prosseguir, então."

     Então a Comitiva seguiu em direção da escada. Uma longa e alta escada, que denunciava o tamanho que deveria ter aquela estrutura em seu tempo áureo. Arthos examinou os degraus em busca de mecanismos traiçoeiros a medida que foram subindo. Terminados os degraus os heróis chegaram em uma sala. A iluminação que carregavam não era suficiente para observar todo o aposento, que parecia ser enorme. Haviam antigas e largas colunas de pedra pelo salão e o chão tinha desníveis e degraus. Sirius , parece ter visto um vulto ao longe. Limiekli também percebeu algo:

     "Não estou gostando nada disso!", disse o ranger humano, enquanto olhava ansiosamente ao seu redor. Mikhail sacou de seu martelo e o apontou em direção a coluna, invocando um dos poderes mágicos de sua arma. Em seguida anunciou.
     "Existe algo em frente. Uma criatura morta-viva!".

     As luzes da Comitiva voltam-se para o local apontado pelo clérigo de Mystra e de lá surgiu o inimigo. Um tipo de beholder, criatura com um grande olho no seu corpo flutuante, esférico e sem membros, localizado acima de sua boca e seis tentáculos, com olhos menores nas extremidades de cada um. A maioria conhecia este tipo de criatura, capaz de conjurar feitiços incríveis a partir dos seus olhos. Porém, aquele era diferente. Sua pele era morta e sua carcaça murcha. Era um beholder morto-vivo. De um dos olhos do monstro partiu um raio em direção a Kariel. O Escolhido de Mystra conseguiu desviar-se. Mikhail também foi alvejado, mas não teve a mesma sorte. O raio luminoso o deixou lento, como se estivesse se mexendo debaixo d`água. Sirius foi também atingido e acabou ferido. Os raios continuam a partir dos olhos do beholder. Magnus se esquivou de um deles, porém Limiekli foi atingido por outro. Depois de se recomporem da violenta investida do beholder, o contra-ataque começa. Sirius atingiu duas flechas no olho central da criatura, Galeron invocou projéteis de energia mística que atingiram dois dos olhos nos tentáculos, mas que, aparentemente, não surtiram efeito. Kariel lançou de suas mãos um relâmpago, mas o ataque também falhou. Galaeron então comunicou a todos.

     "Nossas magias não surtirão efeito. Teremos que contar com as lâminas de vocês!"

     Arthos partiu com o seu sabre e deu três golpes rápidos no corpo do beholder. Um dos tentáculos, em um rápido movimento, envolveu o corpo de Arthos e começou a esmagá-lo, como se fosse uma cobra estrangulando sua presa. Tentou o monstro fazer o mesmo com Magnus, mas o paladino, em um lance de agilidade, abaixou-se e não deixou ser pego. Limiekli disparou flechas e Kariel, que não podia usar a magia, sacou sua 'Goliath' e em uma investida certeira, decepou o tentáculo que prendia Arthos, libertando-o. Mikhail novamente pegou seu martelo, chamado 'Destruidor de Tempestades', e apontou para a criatura. Em outra das suas fantásticas propriedades, um intenso raio de luz deixou a arma encantada. A luz forte incidiu sobre a criatura e a sua carcaça definhou, os tentáculos perderam ao movimento e o ser parou de flutuar, caindo em um baque surdo ao solo. Magnus e Arthos, que estavam mais próximos da criatura, ficaram cegos por alguns minutos, tamanha foi a intensidade da luz. O efeito da magia do monstro sobre Mikhail também cessou com o passar de alguns minutos.

Quem é Melegaunt Thantul?

     Não houve muita demora após o combate e a Comitiva partiu logo em frente, através do salão tenebroso. Outra escada começava a ser avistada a medida em que se aproximavam. Quando preparavam-se para subir o teto escuro iluminou-se e formou-se uma imagem já conhecida: a do mago morto-vivo Wulgreth.

     "Vocês são muito insistentes! Recuem seres inferiores!"
     Kariel olhou para o alto e respondeu resoluto:
     "Já disse! Precisamos da Pedra Karse!"
     "Se desejarem a Pedra Karse, encontrarão apenas a morte nas mãos de Wulgreth. Retornem e poderão continuar vivos para ver seus povos serem mortos pelos phaerimns!".
Arthos colheu uma pedra no chão e arremessou na imagem em tom de desafio. Kariel, que já se enfadava das ameaças, retrucou:
     "Poupe nosso tempo! Se quer nos destruir apareça logo e nos enfrente, pois não iremos parar até termos a Pedra Karse!."
     "Tolos inferiores. Pensam que sou estimulado por suas bravatas...". Wulgreth, interrompeu sua fala e moveu sua cabeça sem carne para a direção onde se encontrava Melegaunt. "Que sortilégio é esse entre vocês!? Que eu veja a verdade!"

     Uma energia azulada envolveu rapidamente Melegaunt e sua fisionomia se transformou. O idoso humano, lentamente desapareceu e deu lugar a uma figura sombria, envolta em um manto cinzento. Apesar de sua forma humanóide, não era humano, nem semi-humano, ou mesmo deste mundo. Seu corpo parecia ser feito de pura sombra.

     "Advirto que suas surpresas não irão salvá-los. Não prossigam!", disse Wulgreth, antes de desaparecer, deixando a surpresa e perplexa Comitiva:

     "Por Tymora! Em nome da Deusa, que engodo é este!", disse Kariel, sacando sua espada e apontando para a estranha figura.. Sirius se aproximou e afastou com sua espada a lâmina do elfo de cabelos azuis.
     "Ele deve se explicar, Sirius!"
     "Mas ele salvou vidas, Kariel. Temos que lhe dar alguma oportunidade de falar antes de ameaçá-lo."

     Kariel guardou sua espada e exigiu explicações. Magnus ficou intrigado por não ter sentido o mal em Melegaunt antes e rogou a Helm, o Deus Guardião a quem servia, que o informasse se havia maldade naquele ser que acompanhava a Comitiva.

     "Sinto trevas no coração deste ser!", informou o paladino.
     "Esperem... deêm-me a oportunidade de falar. Sou realmente Melegaunt Tantul. Criei este disfarce pois sabia que não me auxiliariam se vissem minha verdadeira aparência. Além do mais, não tenho nada contra vocês ou seus povos. Só desejo uma coisa: a Pedra Karse!"
     "Para quê?", argüiu Sirius.
     "Posso apenas dizer que é para ajudar meu povo! Sou um vulto, um ser feito de sombras e preciso da Pedra. Se não contarem com a minha ajuda, não conseguirão vencer Wulgreth. Ele era um mago de Netheril e estas ruínas eram sua cidade flutuante. O poder que ele possui deve ser excepcional. Somente juntos poderemos vencê-lo."
     "Fez tudo isso somente para chegar até a Pedra!?", Mikhail falou em tom grave. "E enquanto aos phaerimns. Será verdade o que nos disse ou toda a história é mais uma falsidade?"
     "Prometo que farei o possível para eliminar os phaerimns, depois que ajudar meu povo! A Pedra Karse é um artefato poderoso. É o único fragmento de mythalar, uma rocha especial, imbuída de poderosa magia bruta. Com seu poder poderei ajudar meu povo e juntos acabaremos com os phaerimns!"
     "Primeiro os phaerimns! Não posso confiar em suas palavras. Já nos enganou antes e pode fazer o mesmo depois. Em nosso caminho já encontramos impostores antes e isto sempre levou a tragédia à nossa Comitiva."

     Os momentos foram de grande tensão. Galaeron balançava a cabeça negativamente e exibia uma expressão de desconsolo:

     "Por Corellon! O que levei à Evereska!? Serei punido novamente pela minha imperícia!"
     "Não se culpe!", disse Melegaunt, "Não cometeu erro nenhum da primeira vez, elfo. Não tinha como saber que os choques da sua magia com a de Gothyl provocaria a explosão que libertou os phaerimns. Enquanto você e Kariel usam algo chamado de Ondulação, a fonte da magia deste mundo, eu e Gothyl tiramos nosso poder da Ondulação Negra. O encontro destas duas energias de naturezas diversas destruiu o globo. Já para minha ida a Evereska, tive que tomar algumas precauções. Por fim, vocês não têm escolha. Sou um arcano de um poder elevado, acima de todos os que estão aqui. Não poderão me derrotar e somente com minha ida vocês conseguirão chegar até a Pedra."

     A Comitiva se entreolhava. Ninguém gostaria de levá-lo a Pedra, mas o que o vulto havia dito fazia sentido. Não poderiam enfrentá-lo e ainda que conseguissem vencê-lo a um preço alto, estariam enfraquecidos para lutar contra Wulgreth. Realmente não havia outro caminho. Mikhail então pronunciou-se em nome de todos.

     "Irá então conosco, mas se estiver mentido o caçaremos, não importa os poderes que tenha!"

     Assim partiu novamente a Comitiva, ainda mais tensa e com novas preocupações em seus pensamentos. Subiram a escada, semelhante a anterior e chegaram em um outro salão. A luz dos aventureiros mostrava que o caminho continuava ao final do salão, em uma porta que estava fechada. Havia a frente da passagem uma estátua de uma mulher, de cerca de cinco metros de altura, cuja figura era desconhecida para os heróis. Andaram então em direção da porta, mas ao chegar no meio do caminho foram detidos por uma energia, como se fosse uma parede invisível, que não os deixou prosseguir.

     "Que tipo de encanto é este? Não é nada que eu conheça", comentou Kariel.

     Arthos testou o encanto. Jogou uma pedra, que atravessou a barreira invisível como se não existisse. Sacou então o seu sabre e tentou atravessá-lo, mas a 'Lâmina das Rosas' não conseguiu ultrapassar o encanto. Observando a experiência, Arthos e Mikhail chegaram juntos a uma conclusão.

     "Artefatos mágicos não atravessam a barreira!"
     "Sim, Arthos, mas não podemos passar e deixar nossos itens! Perderíamos força considerável", ponderou Mikhail.

     Ficaram a pensar em uma maneira. Eis que Bingo, sempre irrequieto, encontrou em um canto uma pedra circular, com diversos entalhes.

     "Olha o que eu achei!", disse levando a peça a vista dos demais.
     "Isto pode ser uma espécie de chave. Deve haver aqui algum mecanismo onde possamos encaixá-la".
     "Certo, Kariel. Vamos procurar neste salão, mas eu aposto que deve estar naquela estátua! Sirius, você que está sem itens mágicos, veja se acha algo por lá!"

     Sirius atendeu ao pedido de Arthos, atravessou a barreira e examinou a estátua, com um certo receio de que a ela se mexesse e lhe atacasse. Afinal, desde que começou a andar com a Comitiva, coisas assim aconteceram. Mas não desta vez. Não encontrou nada, mas ao olhar para a porta atrás de si viu que em seu centro havia um encaixe, exatamente da mesma forma do objeto que Bingo havia encontrado. Aproximou-se então do grupo de amigos e pediu a chave. Porém, quando tentou voltar em direção da porta, foi impedido pela barreira. A peça tinha propriedades mágicas e como os outros objetos encantados da Comitiva, não atravessava a sala.

     "E agora?", perguntou Limiekli.
     "Não há nenhum encanto que possa disfarçar a natureza mística deste objeto? Deve haver um meio de ocultar isto.", sugeriu Arthos.
     "Uma boa idéia. Dêem-me a peça!", pediu Melegaunt.

     O homem sombra levou a chave para longe dos demais companheiros e invocou um encanto. Em seguida trouxe de volta a peça.

     "Sirius, vai lá! Veja se dá certo!". Sirius andou e desta vez passou com a chave. Colocou a peça no encaixe. A porta se abriu e a barreira foi desfeita. Os heróis comemoraram mais um obstáculo vencido e continuaram seu caminho por um pequeno corredor, que os levou até uma escada. Subiram e novamente encontraram outro corredor, um pouco diferente do anterior, por ser estreito e ter decorações em suas paredes. Ao fundo havia uma luz tênue, branca como a do dia.

     "Pela luminosidade, parece haver uma passagem, além do corredor, para fora deste complexo"
     "Ou pode ser uma entrada para uma criatura alada, Arthos.", comentou Kariel.
     "Ai ai ai... isto me traz lembranças desagradáveis!", Sirius coçou e lamentou.
     "Nem me fale! Nem me fale...", disse Limiekli.

     Enquanto andavam, Bingo Playamundo se recusava a acreditar na farsa de Melegaunt, um homem amistoso que os cativou. A inocência do pequeno halfling era torturada com tão revoltante dúvida. Contudo afastou-se dele, lembrou de Celerum, aquele que traiu o grupo no passado.

O Último Mythalar

     A Comitiva foi avançando no corredor, até chegar em outro salão, este o maior de todos daquele lugar, com gigantescas colunas que sustentavam o teto. Haviam aberturas no alto, que deixavam entrar a luz do sol, iluminando parcialmente todo o lugar. Ao longe havia um altar e os elfos, com sua visão aguçada, podiam ver que sobre ele havia um cristal esverdeado. Kariel podia sentir a magia que emanava do objeto.

     "É o mythalar, com certeza. Nunca senti uma emanação tão poderosa!"
     "Senhores... é chegada a hora. Preparem-se!", disse Arthos.

     Mal disse isto o elfo de cabelos vermelhos, apareceu na sala a figura de Wulgreth. Era um esqueleto, envolto em um rico e belo manto púrpura, cheio de ornamentações douradas. Ele olhou para aqueles invasores e apontou-lhes o dedo sem carne.

     "Vocês cometeram um grande erro. Agora morram, malditos seres vivos!"
     "Vamos ter o mythalar de qualquer maneira!", gritou Melegaunt, que retirou de seu manto uma garrafa e a atirou no chão. Uma fumaça negra deixou os cacos do recipiente e tomou a forma de uma mulher, a bruxa Gothyl.
     "Gothyl! Rápido! Vá até a pedra!" Ordenou Melegaunt.

     A Comitiva não teve tempo de tomar qualquer atitude em relação à surpresa: com um gesto do lich, surgiram seis esqueletos a sua volta, trajando armaduras e portando espadas, partiram eles em direção ao grupo. Mikhail conjurou um de seus encantos divinos, oferecendo uma proteção extra para seus companheiros. Melegaunt conjurou um relâmpago, que partiu de suas mãos em direção de Wulgreth. O lich rebateu o encanto com um tapa, tal qual estivesse espantando um inseto. Galaeron também atacou, invocando mísseis de energia mística. Wulgreth usou sua magia e devolveu o encanto ao mago de Evereska, que teria sido atingido, se não houvesse agindo sobre ele uma proteção mística. Os esqueletos se batiam contra a Comitiva. Mikhail defendia-se, bloqueando o golpe do inimigo com seu martelo, Sirius sacou sua espada e também impediu um ataque. Já Magnus lutou contra dois, conseguiu se esquivar da espada de um e acertou um golpe certeiro em outro, retirando pedaços dos ossos do adversário. Limiekli e Bingo, mais afastados, atiravam flechas em dois esqueletos que se aproximavam , porém sem resultado. Arthos também enfrentava um inimigo, e infelizmente a espada do morto-vivo o atingiu no ombro, manchando sua camisa de sangue. Kariel, afastou-se do combate. Seu objetivo era alcançar o mythalar antes de Gothyl e ele conjurou um encanto de teletransporte. O Escolhido de Mystra conseguiu seu intento, mas só por um segundo. A seguir uma proteção mística na área do altar o enviou de volta ao lugar onde estava, enquanto a bruxa se aproximava cada vez mais do seu objetivo.

     O combate mágico entre Melegaunt, Galaeron e Wulgreth prosseguia fantástico. Magias de alto poder e de morte eram conjuradas pelos três magos e eram habilmente defendidas. Era uma batalha altamente equilibrada e qualquer falha seria fatal para cada um deles. Enquanto isto, o combate contra os esqueletos ficava franco e direto. Todos, a exceção de Kariel que estava concentrando-se em encantos, lutavam corpo a corpo com os adversários, em uma luta dura. Aqueles esqueletos não eram mortos-vivos comuns. Eram muito mais fortes e resistentes que os que normalmente os heróis encontravam nos covis do mal por onde se aventuravam e por isso tinham dificuldades. Kariel lançou novo encanto, visando desta vez confundir a bruxa e ganhar tempo. Com uma ilusão fez desaparecer a Pedra Karse e surgir dezenas de imagens da mesma, espalhadas por toda a área do altar. Porém a bruxa continuava avançando sem ao menos esboçar alguma reação ao encanto. O Escolhido de Mystra então concluiu que seu sortilégio não a havia enganado. Gothyl agora estava bem próxima ao altar, quando surgiu um ser que estava até o momento invisível. Era um demônio, conhecido como cornugon, originário do plano infernal de Baator, que guardava a Pedra. Ele avançou sobre a bruxa, que reagiu conjurando um encanto. Surgiu então uma jaula de energia que o prendeu e depois desapareceu, levando junto a cria do inferno.

     Kariel desistiu de lançar magias, já que nada parecia funcionar naquela circunstância, e partiu correndo em direção da pedra. Arthos conseguiu destruir o seu oponente e também começou a correr em direção do mythalar. Melegaunt falou algo com Galaeron e em seguida conjurou uma porta de energia e ambos entraram. Surgiram em outro ponto, um pouco mais distante de Wulgreth. O homem de sombra correu em direção do lich enquanto gritava:

     "Afastem-se, guerreiros! Gothyl, pegue a Pedra e Galaeron... use a magia que combinamos... agora!"

     Melegaunt aproximou-se de Wulgreth e conseguiu imobilizá-lo com os braços. Em seguida Galaeron conjurou um encanto e quatro grandes esferas flamejantes surgiram sobre ele. Galaeron comandou então aquelas esferas e elas caíram como meteoros sobre Melegaunt e Wulgreth, causando uma poderosa explosão. Os dois foram implacavelmente pulverizados. Enquanto isto acontecia, a bruxa Gothyl apanhou a Pedra Karse. A mulher de pele levemente azulada e vestido negro e esvoaçante segurou com as duas mãos o mythalar e proferiu um mantra de palavras místicas, cada vez repetido mais rapidamente. Kariel e Arthos correram para chegar até ela, na esperança de chegar antes que o encanto, qualquer que fosse ele, se completasse. Enquanto aos demais membros da Comitiva, continuavam suas batalhas contra os guerreiros mortos-vivos.

     Infelizmente era tarde. Gothyl completara o ritual, e isso se confirmou com um enorme feixe mágico de energia que saiu da Pedra Karse indo em direção ao céu, numa área acima do deserto de Anauroch. Apenas os elfos, dotados de um incrível visão, puderam ver o destino do raio. Este , de uma forma espetacular, abriu uma fenda mágica no céu como se rasgasse o firmamento. Tal abertura gerou um som ensudercedor que assustou os habitantes do grande deserto. A energia empregada naquele processo foi tão grande que os seres mais poderosos de Faerûn puderam sentir. Num lugar bastante escondido dos reinos, um ser observava um poço encantado tentado descobrir a origem daquela energia. No reino conhecido como Thay , os zulkires se assustavam com tamanho poder. Em outro reino, uma das filhas da falecida deusa Mystra se indagava do ocorrido, enquanto em Halruua os arcanos mais poderosos procuravam respostas. No lugar conhecido por Montanha Subterrânea, um insano arquimago se sentia ameaçado com tamanho poder, e em Águas Profundas, outro homem, cujo o conhecimento das artes místicas era soberbo, apertou com força seu cajado negro e decidiu que deveria saber o que estava acontecendo. Aquele fenômeno era algo raro, pois por um momento, dois mundos estavam ligados, o Plano Material e o Plano das Sombras. Os alicerces dos Cosmo vibraram até que finalmente algo saiu da fenda: um pedaço de terra flutuante. Se tratava de uma cidade, com enormes torres negras.

     A fenda se fechou com o cessar do raio. Aquele processo exauriu todas as energias que a Pedra Karse possuía. Assustada, Gothyl largou a pedra, que agora era um simples cristal, e ela espatifou-se no chão. Revoltada, disse, "Não! Eu queria aquela energia!". Ao ver Kariel e Arthos se aproximando, pensou em conjurar um encanto, mas voltou atrás e os ameaçou.

     "Idiotas, o plano deu certo. Obscura está de volta e vocês não podem fazer nada." E com algumas palavras mágicas ela desapareceu diante dos olhos dos elfos.

     Com a energia da Pedra Karse acabada, o Templo Karse começou a desmoronar. Galaeron notou que o artefato mantinha aquele lugar intacto e com sua destruição o templo começou a ruir causando vários desabamentos. Rapidamente chamou todos para que se aproximassem e o grupo acatou o pedido. Passaram pelas cinzas daquele que um dia fora Melegaunt Thantul e se juntaram ao elfo de Evereska. O arquimago conjurou um feitiço e teletransportou-os dali.

     Ao pé da pequena montanha, os aventureiros a viram desabar sobre si mesma, extinguindo um lugar antigo, remanescente do império de Netheril. Contudo, ao longe, muito longe, outro lugar, também remanescente de Netheril, acabara de voltar, Obscura estava de volta.


Esta história é uma descrição em teor literário dos resumos de aventuras jogadas pelo grupo Comitiva da Fé em Salvador sob o sistema de RPG Advanced Dungeons & Dragons.

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