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O Poder da Ondulação Negra

Descrita por Ricardo Costa.
baseada no jogo mestrado por Ivan Lira



Personagens principais da aventura:

Os Humanos: Magnus de Helm; Sirius Lusbel; Sigel O'Blound (Limiekli). Os vultos: Hadrhune Tanthul, Príncipe Aglarel e Leevoth. Os Elfos: Arthos Fogo Negro; Mikhail Velian; Kariel Elkandor e Galaeron Nihmedu. O Halfling: Bingo Playamundo. Participação Especial: o Coronal Eltargrim Irithyl, Khelben "Cajado Negro" Arunsun e Laeral Mão Argentêa.


O Poder da Ondulação Negra
     

     A praça bastante bela, rica em decorações e um magnífico jardim, estava repleta de soldados de Evereska, que olhavam as três figuras que acabaram de surgir numa embarcação voadora, também conhecida como spelljammer, de cor negra. Eram três vultos, seres humanóides, cujo corpo parecia feito de sombra. A Comitiva da Fé e Galaeron também estavam entre os apreensivos espectadores. Acreditavam os heróis que o barco vinha de Obscura, mas não esperavam um ataque. Se o quisessem fazê-lo, não haveria apenas um barco, mas sim uma esquadra. Inimigos com as capacidades demonstradas pelo vulto Melegaunt assinariam certamente a extinção do enfraquecido reino de Evereska naquele momento. Mas pela graça dos deuses do Seldarine, não foi hostil a intenção dos forasteiros. Um dos vultos, vestindo um manto cor de terra e segurando um cajado pediu para os presentes:

     "Elfos, levem-me ao seu líder!"

     Hesitaram os elfos. O que fazer? Seria correto? E se fosse uma armadilha? Era o que pensavam. Ante tal hesitação, quem tomou a dianteira e dialogou com o recém-chegado foi Galaeron, o nobre evereskano que acompanhava a Comitiva da Fé naqueles dias.

     "Quem são vocês?"
     "Somos diplomatas de Obscura. Identificamos uma grave ameaça ao seu Reino, mas pelo que vimos do alto, parece que chegamos tarde para evitá-la."
     "Vocês então devem conhecer Melegaunt!", falou Arthos.
     "Sim, elfo. Ele é um de nós. Por acaso está com vocês?"
     "Não. Ele pereceu ao trazer Obscura de volta."

     O vulto ficou em silêncio por alguns segundos e em seguida voltou seus pensamentos para seu objetivo primeiro.

     "Vocês, que começaram o diálogo, são os líderes deste Reino?"
     "Não. Os líderes de Evereska são os Anciões da Colina.", explicou Kariel., "Acredito que o senhor Galaeron pode levá-los até eles, pois é da nobreza local."
     Um outro vulto, que carregava uma espada na cintura e parecia controlar um mecanismo do barco voador, disse para Galaeron:
     "Então suba, Senhor. Leve-nos até eles!"

     Galaeron subiu, mas chamou a Comitiva para ir ao Parlamento Élfico. Então o barco negro deixou o atracadouro, singrando os ares em direção ao prédio do Parlamento. Os elfos, na altura do solo, também se encaminhavam para o prédio, pois queriam saber as notícias. Os membros da Comitiva iam bem próximos uns dos outros. Em suas mentes ainda ecoavam os últimos acontecimentos. Mikhail, pensativo, comentou com seus amigos.

     "Quando Khelben Arunsun apareceu, disse que o sábio Elminster estava em outro plano. Será que existe uma relação entre este fato e os acontecimentos dos últimos dias. Não terá ele caído em uma armadilha?"
     "Entendo o que dizer, Mikhail. Ter o sábio longe certamente é uma vantagem para os monstros. Melegaunt pode ter planejado isto também, como planejou a libertação dos phaerimns.", conjecturou Magnus. "Mas isto é apenas especulação... o que importa agora é que sabemos que o aço mata estas criaturas. Temos que ser vigilantes a partir de agora!"

     Bingo, que estava bastante calado, falou com uma voz triste.

     "Puxa... eu sei que vocês estão preocupados com estes bichos, mas não sentiram nada quando Melegaunt morreu? Ele nos enganou, mas também nos salvou um monte de vezes e foi um amigo nosso durante este tempo. Não consigo esquecer isto!"
     "Bingo... depois do que aconteceu com Celerum..."
     "Não, Kariel. Com Celerum foi diferente. Ele o tempo todo tentou espalhar a desconfiança entre nós. Ele sempre foi mal, desde o começo. Melegaunt, não!" Disse o pequeno.
     "Ele mentiu para nós. E, além disto, Magnus sentiu trevas em seu coração!", continuou Kariel.
     "E você, Kariel? Nunca teve trevas em seu coração?", perguntou Arthos.

     O Escolhido de Mystra então calou-se. Lembrou que já havia sido conhecido como o 'Elfo de Coração Negro', no tempo em que se uniu ao exército de Forte Zenthil contra um grupo de humanos de Cormyr, que promovia uma campanha de limpeza racial contra os elfos do norte. Naquela época, tinha o coração preenchido com fúria e ódio, sentimentos que quase custaram sua alma.

     "Talvez...", prosseguiu Bingo, "... Melegaunt não tivesse antes a chance de ter conhecido o outro lado..."

     A conversa terminou com a chegada do grupo no prédio do Parlamento Élfico. Os vultos e Galaeron foram na frente, enquanto um elfo pediu para que a Comitiva aguardasse um instante. Depois de poucos minutos, foram conduzidos por corredores familiares e chegaram à sala que antecedia o Salão dos Anciões da Colina. No aposento, viram os três vultos de Obscura, que conversavam com Galaeron sobre a autoridade dos governantes locais. A Comitiva se aproximou deles e os cumprimentou. O vulto que carregava um cajado e que parecia ser o líder, olhou para aqueles recém-chegados e perguntou-lhes.

     "Afinal, quem são vocês? Disseram que Melegaunt estava morto quando chegamos..."
     "Somos a Comitiva da Fé e Melegaunt nos acompanhou por um período.", explicou Kariel.
     "Ele uniu-se a nós para conseguir o poder do mythalar e trazer sua cidade de volta, aliado a bruxa Gothyl.", completou Arthos.
     "Então foi por isto que voltamos?", o vulto pareceu se surpreender.
     "Não era de seu conhecimento esta atitude de Melegaunt?", argüiu Mikhail.
     "Melegaunt desapareceu há alguns ciclos, ou anos como chamam aqui. Não sabíamos deste estratagema. Estávamos vivendo nossas vidas até que a cidade foi dragada por uma fenda e trazida a de volta a Faerûn."
     "Ele havia nos dito que faria isto para salvar seu povo...", prosseguiu o clérigo de Mystra na explicação.
     "Desconheço qual seja o perigo de que ele desejou nos salvar."
     "Diga-me, senhor. Qual o status que este Melgaunt desfrutava em sua sociedade?", quis saber Kariel.
     "Ele era um Tanthul..."
     Antes que continuasse a explicar, o vulto foi interrompido por um de seus companheiros.
     "Sou Hadrhune, Hadrhune Tanthul, um dos príncipes de Obscura. Os Tanthul são príncipes e governantes de Obscura. Respondemos ao Alto Príncipe Telamont Tanthul. Melegaunt era um dos Tanthul e misteriosamente desapareceu há alguns ciclos."

     Neste momento, o elfo que havia conduzido a Comitiva até aquele aposento, entrou novamente na sala:

     "Por favor, queiram me seguir. Os Anciões esperam pelos senhores."

     Todos então seguiram o elfo até o grande salão onde se reuniam os Anciões da Colina. Eles estavam sentados à mesa, de frente para os convidados, e em um púlpito, o diretor do Parlamento Élfico, Anskalar Duorsenna. Os Anciões então chamaram a frente de sua mesa os diplomatas de Obscura:

     "Pois bem, estrangeiros. Vieram a nosso Reino com quais intenções?"
     "Sou Hadrhune. Este do meu lado esquerdo é o Principe Aglarel e a minha direita é o Capitão da Guarda Leevoth. Somos diplomatas da cidade de Obscura. Soubemos que foram atacados por monstros antigos, conhecidos como phaerimns, que julgávamos instintos. Pensamos em combinar nossas forças e combatê-los."
     "Enquanto à Comitiva da Fé, o que podem nos dizer sobre a volta desta cidade de Obscura?", perguntou Amrod, o mais antigo membro e líder dos Anciões da Colina.
     "O que podemos testemunhar é que Melegaunt Tanthul, que estava conosco, era um vulto como eles e junto com a bruxa Gothyl usou o poder do mythalar para trazer a cidade ao nosso plano, a pretexto de salvar seu povo. No entanto, eles alegam desconhecer qualquer ameaça.", disse Arthos.
     "Este assunto é realmente confuso.", respirou fundo Amrod. "Senhor Radrune, concordaria em se submeter a uma sondagem mística para verificarmos a veracidade de suas palavras?"
     "Certamente.", concordou.

     Após isto, um arquimago de Evereska aproximou-se e realizou um encantamento. Após o ritual, comunicou que não havia encontrado nenhum feitiço agindo sobre os vultos, mas que também não conseguiu detectar a sua verdadeira intenção. Kariel irritou-se com a inutilidade de tal procedimento.

     "Será que não prestaram atenção ao que Lorde Galaeron comunicou a respeito de Melegaunt? Ele também fez o mesmo e não conseguiu descobrir a sua natureza. Por isso não podemos descobrir sua farsa!"

     Os Anciões se entreolharam. Magnus então manifestou-se.

     "Posso detectar com minhas dádivas divinas a natureza destes seres! Deixem-me tentar."

     Os Anciões não demonstraram oposição e apenas olharam para o paladino, esperando por uma resposta. O humano então concentrou-se e abriu a mão espalmada na direção dos embaixadores de Obscura e disse em seguida:

     "Sinto escuridão em seus corações, assim como em Melegaunt. Estes são seres malignos!"

     Houve um pequeno burburinho. Hadrhune então manifestou-se em desagrado.

     "Que armadilha é esta? Os senhores irão acreditar neste humano? Usaram seus grandes conhecimentos arcanos e nada de errado encontraram. Será que este humano pode saber mais do que vocês?"
     "Eu não duvidaria de Magnus. Não subestime nosso amigo!", disse Arthos.
     "Galaeron.", falou Amrod, "Você pode atestar os poderes deste humano?"
     Antes que Galaeron respondesse, Mikhail se pronunciou:
     "Senhores... também sou de Evereska e andei por mais tempo nesta Comitiva. Posso atestar os poderes deste homem. Ele serve ao deus Helm e seu panteão tem poderes. Eu próprio, durante minha missão, abracei a devoção da deusa Mystra..."
     "Quer dizer que se prostrou diante de um deus humano?", falou a elfa Lessien.
     "Sim, e assim como amo Corellon, também represento a Deusa da Magia."
     "Não fiquem cegos aos outros panteões. Eles também possuem poderes.", completou Kariel, que era um dos Escolhidos de Mystra.

     Os Anciões conversaram rapidamente e Amrod novamente se pronunciou.

     "Isto é uma novidade para nós. Diante de tais afirmações, o que tem a nos dizer, senhor Hadrhune?"
     "Eu não quero perder meu tempo fazendo comparações entre crenças e poderes. Mas devo-lhes dizer algo extremamente simples: temos os poderes necessários para derrotar os phaerimns e evitar que sua raça seja extinta. Pensem com lógica no que é o certo no momento, independente de nossa natureza."
     "E o que vocês ganham com isto?", perguntou Arthos
     "Somos recém-chegados ao seu mundo. Precisamos de informações sobre este novo lugar e esperamos tê-las de vocês e assim poder evitar eventuais ameaças."
     "Se me permitirem, gostaria de algumas informações sobre Obscura.", pediu Arthos.
     "Estamos nesta sala para prestá-las, elfo."
     "Vocês são eram um enclave de Netheril, certo?"
     "Está bem informado. Sua afirmação está correta."
     "Então porque partiram para outro plano?"
     "Esta resposta não está clara para nós, pois nossa passagem para o Plano das Sombras conta milhares de anos e os registros daquela época não foram completamente decifrados."
     "E vocês não deveriam ser humanos, já que eram de Netheril?", perguntou Kariel.
     "Nossos antepassados eram, mas com o passar dos anos, o Plano das Sombras mudou nossa fisiologia."
     Amrod então levantou-se e fez-se silêncio. Em seguida comunicou:
     "Para os Anciões, as informações prestadas já são suficientes. Iremos nos reunir para decidir se aceitaremos ou não a ajuda de Obscura nesta questão dos phaerimns."
     "Decidir?!", bradou Arthos, "O que há para decidir? Será que não aprenderam a lição. Será que todos os elfos mortos não lhes mostraram nossa situação? Vocês estão cegos!"
     Amrod apontou o indicador para Arthos e bradou com firmeza.
     "Elfo, caso se manifeste desta forma mais uma vez será preso!"

     Mikhail e Kariel então seguraram os braços de Arthos e acalmaram os ânimos do amigo, antes que algo pior acontecesse. Retornaram junto com os vultos para a ante-sala. Lá aguardariam a decisão dos Anciões. Porém, ao chegarem, perceberam a presença do elfo Enesyus, auxiliar do Coronal Eltargrim que, assim que os viu, aproximou-se dizendo:

     "Venham, membros da Comitiva da Fé. O Coronal os espera agora!"

     Enesyus os levou até a sala onde os heróis e o Coronal haviam se reunido, há dois dias atrás. Entraram e lá estava Eltargrim. Enesyus ajoelhou-se perante seu soberano e a Comitiva fez uma respeitosa saudação. Em seguida, Enesyus se retirou e Eltargrim então pediu para que os aventureiros se aproximassem dele.

     "Então, Comitiva. O que acharam da reunião?"
     "Acho que os Anciões não têm escolha e aceitarão a ajuda dos vultos de Obscura.", concluiu Kariel.
     "Já eu acho que o os Anciões estão senis!", disse Arthos, ainda muito irritado.
     "Quanto a mim, tenho dúvidas quanto a decisão que irão tomar. Temo que o excesso de orgulho possa fazê-los decidir de forma errada!".
     "Se eles negarem a ajuda, diante de tantas tragédias nos últimos dias, será uma surpresa para mim, Mikhail.", Kariel disse, marcando sua posição.
     "Nosso amigo Kariel está certo.", concordou Eltargrim. "É improvável que eles não aceitem. Mas estou preocupado com estes seres que chegaram. Não conheço nada sobre eles."
     "O que sabemos é que Obscura era um enclave de Netheril.", informou Arthos.
     "Mas eles não são mais o que eram naquela época. O que são agora, nós não sabemos ao certo.", completou Kariel.
     "Eles também não sabem de nós, já que partiram deste mundo a milhares de anos. Também devem estar com a mesma desvantagem."
     "Sim, Arthos. Talvez este contato com Evereska seja uma forma de obterem informações.", falou Mikhail.
     "Informação é vital em uma guerra. Quanto menos sabemos, mas frágeis somos.", colocou Eltargrim, "Só sei que parece bastante oportuno estes seres aparecerem logo após o ataque nos oferecendo ajuda e ao mesmo tempo nos ocultando algo."
     "Os poderes dos arquimagos elfos não conseguiram revelar nada!", disse Sirius, que estava calado até então.
     "Isto deve ser porque eles utilizam dos poderes da Ondulação Negra, que não pode ser detectada pela nossa magia. Entretanto pensava que somente os servos da deusa Shar tinham tais poderes. Não sei se vocês conhecem um pouco sobre um dos mitos sobre a criação deste mundo, mas dizem que o deus Ao criou no início de tudo, duas forças: uma da luz e outra das trevas. A luz representada por uma divindade chamada Selune e as trevas representadas pela deusa Shar. Incontáveis eras depois, com o resíduo da energia liberada durante uma batalha entre as duas deusas, Selûne teria criado a deusa Mystril e com ela a Ondulação. Em resposta a Selune, Shar criou algo chamado Ondulação Negra. Esta energia é diversa da magia normal e por isto não podemos identificá-la."
     Enesyus retornou a sala do Coronal.
     "Meu Senhor, os Anciões têm uma decisão. A presença da Comitiva está sendo requisitada para ouvir o veredicto."
     "Vão, mas estou aguardando o retorno de Khelben e dentro de um ou dois dias os chamarei novamente. Estejam preparados!"

     A Comitiva partiu para o grande salão novamente. Arthos era o mais impaciente.

     "Espero que estes Anciões aceitem a ajuda, ou então serei preso hoje!"
     "Arthos, por favor. Não cause um incidente maior neste momento de crise.", pediu Kariel.
     "E você não gostaria de freqüentar nossas masmorras.", advertiu Mikhail. "Portanto, fique calmo!"

     A Comitiva chegou e o Ancião Amrod estava de pé. O antigo elfo, diante dos diplomatas de Obscura, deu seu parecer.

     "Os Anciões da Colina, decidiram que Evereska manterá relações diplomáticas temporárias com o povo representado pelo diplomata Hadrhune."
     "Ótimo. Como prova de boa vontade, enviaremos dentro de dois dias, três de nossos magos, para mostrar-lhes nossas capacidades. Agora, com a sua licença, peço para me retirar."

     A audiência foi então encerrada e os vultos e a Comitiva da Fé deixaram a sala e caminharam lado a lado pelos corredores, em direção a saída do edifício do Parlamento Élfico. Arthos aproveitou para novamente dialogar com os diplomatas e encontrar um meio de obter mais informações sobre aquele misterioso povo:

     "Se vocês podem trazer uma delegação à Evereska, poderíamos levar uma até Obscura?" Perguntou Arthos.
     "Claro que sim, elfo. Mas vocês teriam que conseguir a autorização dos governantes desta cidade. Notei que não é bem visto por eles e não quero criar atritos para Obscura."
     "Gothyl, a feiticeira que trouxe sua cidade de volta, pode estar escondida por lá.", supôs Mikhail.
     "Isso é impossível. Qualquer intruso seria descoberto. Disseram que esta tal Gothyl usou o poder do mythalar para trazer Obscura, porém achei que não existissem mais mythalares."
     "Agora não existem. Aquele era o último.", Arthos fez uma pausa e lembrou-se de algo que havia chamado sua atenção. "Mudando de assunto... achei estranho não terem se surpreendido muito com a notícia da morte de Melegaunt."
     "Nós já havíamos suposto sua morte, visto que tantos ciclos se passaram do seu desaparecimento. Talvez seja por isso que não nos surpreendemos tanto como esperava.", disse Hadrhune, que junto com seus acompanhantes e a Comitiva, chegavam a escadaria do lado de fora do edifício. "Agora devemos nos apressar. Nos veremos daqui há dois dias."

     Os vultos então tomaram uma direção entre as construções e logo depois pôde-se ver subir aos céus sua nau voadora. Nas escadas, Galaeron interrompeu o silêncio e desviou o olhar daqueles que observavam o barco sumir ao longe. Pediu o Lorde, que a Comitiva o acompanhasse até a sua casa. Os aventureiros assim o fizeram. Chegaram em pouco tempo à grande propriedade. Sentados em uma luxuosa sala de estar, ouviram o anfitrião perguntar:

     "Trouxe-os aqui pois precisava saber de algo que me intriga. Tenho notado que o Coronal Eltargrim freqüentemente requisita a presença de vocês. O que fizeram para merecer a atenção de alguém tão ilustre? Conseguir uma audiência com o Coronal é algo muito difícil."
     "Nós trouxemos sua Ar´Cor´Querin, a Espada do Rei, em segurança à Evereska. Acho que ele nos é grato por isto.", explicou Arthos.

     "Já que falamos do Coronal, Lorde Galaeron, aproveito para perguntar-lhe: que autoridade ele exerce sobre os Anciões da Colina? Eu o vi desafiar abertamente a decisão do Conselho e, no entanto, nenhuma represália foi feita contra ele. Se isto fosse feito em meu reino, provavelmente ele seria expulso."
     Galaeron parou por um instante antes de responder. Coçou com as mãos o queixo e disse em resposta ao elfo mago de cabelos azuis.
     "Bem, Comitiva. Não falamos muito sobre este assunto, mas muitos de nós acreditamos que o Coronal Eltargrim é um messias. Ele foi um dos fundadores de Myth Drannor e dizem      que desapareceu naquela época, sendo levado pelo próprio Corellon para Arvandor e que permaneceu lá até pouco tempo, quando retornou para este mundo. O Coronal já negou esta história várias vezes, mas a devoção a ele é tanta que se Eltargrim andasse nas ruas, em breve haveria uma legião de pessoas ao seu redor. Os Anciões da Colina temem confrontar esta fé do povo. Ele sempre incentivou os elfos a lutarem por seu lugar na terra e não partirem para Encontro Eterno, ao contrário da Rainha Amlaruil, que afirma que os elfos não tem mais espaço nesse mundo dos humanos."
     "Não sabíamos da existência de Eltargrim até ele aparecer no campo de batalha. Isto é estranho.... quando recebemos a espada para ser desmontada foi-nos dito que ela não tinha dono."
     "Isto ocorreu porque muitos elfos que deixaram a floresta acham que Cormanthor não é mais habitada por nosso povo e desconheciam o retorno de Eltargrim. Mas o Coronal, desde a sua volta, unificou os reinos élficos da floresta e todos voltaram a ser habitados novamente. Mas isto ainda corre em segredo entre nós e espero que vocês preservem isto assim, para que sejam evitadas ameaças a Arcorar, ou Cormanthor, como dizem os humanos."
     "Não tema por isto.", garantiu Mikhail, que em seguida manifestou uma de suas preocupações: "Mas... aqueles vultos... não consigo confiar neles!"
     "Mikhail, na minha opinião tudo o que eles disseram é uma farsa, um embuste. Eles ganharão alguma coisa em nos ajudar, mas não sei ainda o que é."
     "Concordo com Kariel, mas sabemos que o importante é que, com os poderes destes seres, podemos derrotar os phaerimns e muitas vidas serão salvas.", disse Magnus.
     "Mas se estes indivíduos são tão poderosos, o que os impedem de atacar Evereska?"
     "É simples, Mikhail, se quisessem atacar Evereska, já teriam feito com sucesso. Querem outra coisa.", insistiu o Escolhido de Mystra.
     "Eles também podem estar formando alianças. Muitos, como os Magos Vermelhos ou o Zentharim, podem descobri-los e cobiçar seus poderes.", supôs Arthos.
     "Espero que Khelben possa trazer alguma novidade.", desejou Kariel.

     Ficaram mais um pouco na casa de Galaeron e depois saíram para cuidar de outros assuntos. Magnus e Mikhail foram ajudar alguns feridos, Kariel encaminhou-se ao Templo de Corellon, onde orou pelos elfos mortos e feridos e os outros membros da Comitiva, que ainda estavam com seqüelas do combate, resolveram descansar. Passaram-se dois dias, até receberam um comunicado do Coronal, que pedia para a Comitiva comparecer do lado de fora das muralhas de Evereska. Então, os heróis prepararam seus cavalos e saíram equipados da casa de Mikhail em direção aos portões.

A Chegada de Reforços

     No caminho até os portões, a devastação da guerra: casas destruídas, destroços e manchas de sangue sobre as pedras de calçamento das ruas. Próximo aos portões, barricadas e bloqueios estavam sendo erguidos. A Comitiva passou por eles e deixou a Fortaleza Élfica, mas não estava só. Vários soldados faziam o mesmo percurso. Era óbvio que algo estava para acontecer. Cavalgaram até uma clareira, a cerca de duzentos metros de distância dos portões, seguindo o caminho feito pelos guerreiros evereskanos. Viram então que havia um grande contingente mobilizado. Eram cerca de três mil soldados. Também haviam várias tendas armadas. Procuraram com o olhar e encontraram Galaeron e seu irmão Aubric, líder dos Espadas de Evereska, o Coronal Eltargrim e seu ajudante de ordens, Enesyus. Então aproximaram-se e os cumprimentaram.
     "Salve. Coronal Eltargrim, estamos aqui atendendo seu chamado.", falou Arthos.
     "Gostaria que acompanhassem a chegada dos guerreiros de Águas Profundas. Estejam a postos para impedir qualquer tipo de contratempo."
     "Creio que o exército venha por meios mágicos, estou certo?", supôs Kariel.
     "Vocês verão!"

     A Comitiva então aguardou. Logo surgiu um pequeno portal místico e dele saiu um homem conhecido de alguns, o mago Khelben 'Cajado Negro' Arunsun. O humano então dirigiu-se à Eltargrim:

     "Estou pronto, Coronal"
     "Então pode iniciar o rito.", respondeu o rei élfico.

     Khelben proferiu antigas palavras místicas e gestos arcanos, enquanto mirava uma área da clareira que havia sido previamente evacuada pelos soldados. Lá, uma luz forte começou a se formar e um amplo portal luminoso surgiu. Segundos depois, o primeiro cavaleiro saiu de dentro dele, seguido de milhares. Era um destacamento do exército de Águas Profundas, cedido por Piergeiron, governante da cidade, à Khelben. Contava, no total, de cinco mil homens. Após o último soldado passar, saiu do portal uma última pessoa. Uma mulher de bela figura, que segurava um cajado. Ela caminhou em direção a Khelben e tomou sua mão. O mago então anunciou:

     "Para aqueles que não a conhecem, esta é Laeral Mão Argêntea, minha esposa. Ela nos auxiliará também neste conflito."
     "É um prazer conhecê-los.", Laeral voltou-se para o grupo de aventureiros que estava ao seu lado e continuou. "Vocês são os membros da Comitiva da Fé? Faz muito tempo que desejava conhecê-los."
     "Somos sim! Como sabia sobre nós?", perguntou Arthos.
     "Meu marido me falou a respeito de vocês."
     "É mesmo! Não sabia que Khelben falava sobre nós.", espantou-se o elfo.
     "Err... vamos deixar esta conversa para depois.", desconversou Khelben, como se não quisesse que soubessem que poderia nutrir alguma admiração por aquele grupo. "Vamos a tenda do Coronal debater sobre os últimos acontecimentos e armar nossa estratégia."

     Então foram para a grande tenda, a Comitiva, o 'Cajado Negro' e sua esposa Laeral, Galaeron, o Coronal Eltargrim e seu assistente Enesyus. Lá o comandante dos exércitos de Águas Profundas, que se apresentou como Brian Mestre das Espadas, uniu-se ao grupo. Contaram as novas dos últimos dias e debateram sobre a natureza dos vultos de Obscura:

     
"Segundo Khelben, estes vultos manipulam a Ondulação Negra. Eles deram alguma demonstração deste poder?", quis saber Laeral.
     "O que posso assegurar é que Melegaunt utilizou encantos poderosíssimos e que eles escapam as detecções feitas por meio de magia arcana.", disse Kariel.
     "Mas eu consegui sondá-los.", revelou Magnus.
     "Mas seu poder é a fé. Os poderes dos magos e dos clérigos vem ambos da Ondulação, mas são de natureza e vibração diferentes. Um é o que chamamos Arte e outro é o Poder da Fé. Talvez o Poder da Fé tenha mais efeito que nossos encantos arcanos contra a Ondulação Negra.", explicou Laeral.
     "Poderíamos ir investigar Obscura.", sugeriu Arthos.
     "Não acho sua idéia muito sábia. Se eles vieram aqui buscando um aproximação, já deve ter se preparado para qualquer investigação. Além do mais, se forem, podem ser descobertos e dizimados.", disse o Coronal.
     "Podemos ir com a autorização de Obscura. Conversei com Hadrhune e ele nos autorizaria uma visita, caso os Anciões dêem-nos também sua chancela. Talvez o senhor possa consegui-la, Coronal."
     "Vamos esperar um pouco. Não gostaria que fossem eliminados neste trabalho de espionagem. Se o tal Melegaunt tinha grandes poderes, como relatou Kariel, imaginem uma cidade de seres como ele. A propósito, quando eles anunciaram que iriam retornar?"
     "Hoje, Coronal.", respondeu Arthos, enquanto inoportunamente coçava as costas.
     "Uma feliz coincidência. Espero poder falar com eles.", disse Khelben.
     "Desejo sondá-los.", colocou Laeral.
     "Mas sua sondagem não falhará também?"
     "Pode ser, Kariel. Mas ás vezes a ausência de magia em uma detecção também pode ser uma forma de se descobrir alguma coisa. Podemos fazer algumas experiências."
     "É melhor montarmos a guarda. Enviamos alguns animais para investigar e estamos procurando por sinais destes phaerimns. Eles podem voltar a qualquer momento.", disse Eltargrim, mencionado levantar-se, mas Arthos o interrompeu.
     "Antes gostaria de saber se Khelben soube de outros lugares ameaçados. Existem outros locais com mythais que podem ser atacados?"
     "Sim, existem, mas eu saberia se algum ataque ocorresse."
     "Em Arcorar temos alguns mythais, mas não parece haver nenhuma ameaça nas proximidades."
     Khelben ouviu a revelação e espantou-se.
     "Eltargrim, acha seguro que eles saibam dos mythais?"
     "Sim, Khelben. Não se preocupe. Posso revelar isto a Comitiva, eles merecem saber. Além do mais, Arthos, se os phaerimns se dirigissem para aquela região acabariam indo atrás dos mythais perdidos nas ruínas de Myth Drannor e iam ter que se degladiar contra os demônios de lá. Resolveríamos dois problemas em de uma só vez!. Bem... agora vamos preparar nossa defesa. Vocês têm que impedir a qualquer custo que estes monstros entrem novamente na cidade. Qualquer batalha deverá ser travada aqui. Isto é muito importante, pois amanhã iniciarei os preparativos para o ritual de renovação do mythal. Conto com a ajuda de vocês.", disse Eltargrim, deixando a tenda. Momentos depois, Khelben e Laeral também levantam-se. Porém, antes de sair, 'Cajado Negro' chamou por Kariel e os três deixam a tenda juntos.

Os Escolhidos se Reúnem

     O mago de Águas Profundas, sua esposa e o elfo mago de cabelos azuis da Comitiva caminharam até um local mais reservado. Khelben então começou:
     "Kariel... sei que você está a par das capacidades que têm em ser um dos Escolhidos de Mystra."
     "Sim. Fui informado de muitas delas através de um sonho que tive com a própria deusa."
     "Todos nós passamos por isto. Mas existe algo que temos que lhe explicar sobre a natureza do Fogo Prateado. Ele, além de produzir um feixe de energia, também pode ser canalizado de outras formas e uma delas é bastante perigosa e somente deve ser usada em motivos críticos. Talvez nem mesmo o risco de perder a vida seja motivo necessário para fazê-lo. Você também pode criar com o fogo zonas de magia morta. Claro que isto é considerado um crime contra a magia, mas por isto mesmo seu uso deve ser tão restrito. Porém eu e minha esposa pensamos que poderá haver um momento em que precisaremos usar esta habilidade e você também deve estar preparado."
     "Uma outra pessoa virá unir-se a nós, Kariel. Minha irmã, Storm Mão Argentêa, deverá nos ajudar nesta crise."
     "Farei como me orientarem e gostaria que pudessem me explicar mais sobre minhas dádivas, já que são Escolhidos a mais tempo que eu. Gostaria de saber quantos mais de nós existem."
     "Além de você, somente eu, Khelben, minhas irmãs, Elminster e um outro, que não suportou o poder da deusa e aparentemente enlouqueceu. Seu nome é Sammaster, fundador do Culto do Dragão, mas não sabemos o paradeiro dele.", explicou Laeral.
     "Khelben... tenho uma pergunta que há muito queria fazer e devo aproveitar esta oportunidade. Estive com Storm, alguns dias atrás e ela me revelou que você deixou os Harpistas. O que aconteceu?"
     "Digamos que eu acho que os Harpistas com o decorrer dos anos ficaram relapsos, perdidos em seus princípios e não sabem mais o que fazer. Eu prefiro resultados mais rápidos. Não gosto de muita política. Evitei algumas chacinas cometidas pelo Zentharim e para isto tive que contactar o líder deles e fazer um acordo."
     "Um acordo como Zentharim? Como pôde fazer isto!?"
     "Me surpreende que você não entenda. Viveu no Mar da Lua por anos. Sabe como são as coisas por lá. Nem sempre o aço e a magia podem dobrá-los. Apenas propus que nós cessássemos algumas atividades contra eles e eles contra nós. Mas alguns Harpistas conservadores não gostaram disto. Porém talvez tenha sido melhor, afinal. Tenho outros meios de agir."
     "Criou uma nova organização?"
     "Sim. Muitos que acreditaram em mim nos acompanharam. Mas não irei me aprofundar neste assunto. Se um dia desejar ingressar em nossas fileiras vai ter que nos provar que realmente deseja isto."
     "No momento não irei me desfazer da Harpa, pois acredito em seus princípios."
     "Muito bem, esperava por isto. Se mudasse tão rápido o consideraria volúvel. Agora vamos discutir sobre o efeito do Fogo Prateado."

     E então ficaram os três Escolhidos de Mystra, confabulando e conversando sobre seus poderes e sobre a melhor maneira de utilizá-los.

O Inimigo Oculto

     Arthos, Mikhail, Magnus, Sirius e Limiekli, acompanhados do comandante Brian Mestre das Espadas andavam pelo acampamento, olhando os preparativos. O paladino de Helm perguntou ao cavaleiro de Águas Profundas.

     "Estive com a Comitiva no evento envolvendo Bane, meses atrás. Como está o exército de Águas Profundas depois daquele episódio?"
     "Perdemos um grande contigente, mas estamos recuperando nossos quadros. Eles foram heróis e cumpriram o seu dever. Mas, digam-me, o que está ocorrendo aqui. O que são estes monstros?"
     Limiekli olhou para Brian e começou a fazer uma descrição, com palavras e gestos.
     "São monstros voadores, com quatro braços e garras afiadas, com uma boca circular capaz de decapitar um homem e uma cauda com um ferrão afiado como uma espada!"
Brian franziu as sobrancelhas em surpresa, mas, por ser experiente, não assustou-se ou amedrontou-se.
     "Não espere facilidades, Brian. Estes bichos são bem difíceis de derrotar!", advertiu Arthos.
     "Me interessa saber só uma coisa: o aço mata estas criaturas?"
     "Sim", respondeu Mikhail. "Elas podem morrer."
     "Então isto me deixa tranqüilo. Já enfrentei o Deus da Destruição. Isto não deve ser um desafio maior.", concluiu o corajoso homem da Cidade dos Esplendores.

     Sirius chamou a atenção de Arthos e os dois ficaram um pouco para trás. Queria sussurrar-lhe algo.
     "Arthos... é o seguinte.... naquele lugar onde o ferrão do phaerimm me acertou... tá coçando e começando a doer pra burro!". Ele então puxou o pano de sua calça para cima e mostrou ao amigo uma grande bolha vermelha que havia se formado em sua perna.
     "Caramba... estou sentindo também a mesma coisa nas minhas costas."
     Arthos então retirou sua armadura e camisa e pediu para seu amigo inspecionar.
     "Ih... Tem uma bolha igual a minha aqui!"
     "Pode ser alguma doença deixada por estes phaerimns. Vamos falar com Mikhail. Ele entende de curas!"

     Chamaram Mikhail, que estava a frente e o clérigo de Mystra aproximou-se.
     "O que querem amigos?"
     "Sabe, Mikhail... os phaerimns atingiram a mim e a Sirius com seus ferrões e agora apareceram umas bolhas enormes nos locais dos ferimentos. Será que você podia dar um jeito?"
     "Vamos ver...", disse Mikhail, enquanto os dois lhes mostravam aquela estranha pústula.

     Os três se sentaram na grama. Mikhail examinou os dois e depois correu a mão em sua mochila. Retirou uma pontiaguda faca de prata, que estava enrolada em um tecido branco, e voltou-se para o elfo.
     "Você autoriza que eu abra esta bolha, Arthos? Isto pode doer."
     "Eu agüento! Mas tire esse negócio de mim,. Isto está começando a doer... m-mas vá com calma com esta faca, ok?"
     Mikhail então fez a incisão. Arthos soltou um grito que chamou a atenção dos elfos mais próximos. O clérigo de Mystra , com a ponta de sua faca cirúrgica abriu a carne e espantou-se.
     "Tem alguma coisa errada. Existe algo se mexendo."
     "Tira logo esse bicho daí!"
     Mikhail então arranca a criatura de dentro do ferimento de Arthos, joga-a no chão e a esmaga com sua bota.
     "Uma larva de phaerimm. Ela estava lhe devorando por dentro, Arthos. Sirius, venha. Depressa!"
     O Sirius foi o próximo. Após outro grito de dor e outra larva morta, Mikhail fez um rápido curativo nos amigos e levantou-se.
     "Tenho que avisar os outros com urgência. Devem haver soldados servindo de hospedeiros para estas coisas!"

     Falou então com Galaeron, que alertou seus companheiros. Assim, os elfos trataram os feridos pelo ferrão dos phaerimns, retirando as larvas de seus corpos e as destruindo.

O Poder da Escuridão

     Era início da tarde e a Comitiva estava toda reunida, dentro da tenda de guerra do Coronal Eltargrim. Com ela estava, além do Coronal, Galaeron Nihmedu e Brian Mestre das Espadas. Terminavam uma pequena refeição, quando Enesyus, o auxiliar de Eltargrim, entrou pela porta.

     "Senhor. Uma nau voadora se aproxima."
     "Os vultos... eles retornaram!"

     Saíram então todos e aproximaram-se do local onde o barco negro descia. Haviam três vultos neles, mas apenas um era conhecido, o que se apresentou como sendo o príncipe Aglarel. A nave pousou e seus passageiros desembarcaram. Aglarel e seus dois companheiros foram em direção do Coronal:

     "Coronal... Estes são, como eu, magos. Viemos em auxílio como prometemos e aguardamos suas instruções."
     "Enviamos alguns animais para buscar por informações pela floresta. Estamos aguardando o retorno deles para saber se existe algum sinal dos phaerimns nas proximidades."

     Nisto, se aproximou do Coronal, Aubric Nihmedu, que parecia apressado. Disse o guerreiro de Evereska:
     "Preparem-se. Os animais indicaram uma aproximação de criaturas em nossa direção. O combate deverá acontecer em pouco tempo!"

     Após este anúncio, o acampamento militar agitou-se. Os elfos formaram fileiras com seus arcos, enquanto os guerreiros de Águas Profundas sacaram suas espadas e ficaram alertas. Khelben e Laeral, tomaram uma posição mais ao fundo, após os arqueiros. A Comitiva espalhou-se e ficou de prontidão. Kariel tornou, através de um encanto sua pele dura como pedra, para resistir ao que viria. Arthos e Magnus sacaram suas espadas encantadas, elas que tanto salvaram os heróis. Limiekli, Sirius e Brian aguardaram tensos pela vinda dos monstros. Bingo, como de costume, preparou seu pequeno arco visando acertar as criaturas com suas setas certeiras, e Mikhail fez preces a Mystra de modo que fosse vitoriosa a batalha.

     Logo começaram todos a ouvir o ruído de árvores sendo derrubadas e sentiram o chão tremer. Avistaram então as figuras que abriam caminho pela floresta, deixando um rastro de destruição. Não eram phaerimns, mas dezenas de gigantes e ciclopes. E a medida em que vinham, pôde-se observar também que com eles haviam centenas de orcs e outros goblinóides. Aubric deu um sinal com sua espada e ordenou o disparo dos arqueiros. Milhares de flechas voaram e encontraram o corpo dos inimigos. Os gigantes e ciclopes carregaram enormes pedras, pesando toneladas e revidaram, arremessando-as em direção dos guerreiros. Mikhail utilizou uma de suas graças divinas para aumentar a proteção e a força da Comitiva, enquanto Kariel usou sobre si um encanto e seus amigos o viram dobrar de tamanho, pegar seu arco e atingir um gigante com uma flecha que agora tinha o tamanho de uma lança. Khelben conjurou um poderoso feitiço e quatro esferas de magma surgiram nos céus para depois se abaterem e fulminarem alguns gigantes em uma explosão de fogo. Laeral e Galaeron conjuraram bolas de fogo que partiram de suas mãos e caíram sobre a onda de inimigos, causando diversas baixas. Apenas os vultos, flutuando acima do combate, estavam impassíveis, como se esperassem um momento preciso para agir.

     Os monstros se aproximavam. Antes do combate corpo-a-corpo ser inevitável, Mikhail e Kariel lançaram mais encantos. O primeiro usou seus poderes divinos e as armaduras de um contigente de inimigos esquentaram, os obrigando a desesperadamente se livrarem do metal incandescente. Já Kariel conjurou um repentino vento gélido, que congelou o solo, fazendo vários adversários escorregarem e tornarem-se alvos fáceis.
     Os inimigos chegaram. Agora o combate era franco: os arcos foram guardados e as espadas sacadas. Eltargrim foi o primeiro a avançar e partiu contra um ciclope. Seu ataque foi tão impressionante quanto mortal: correu, deu um salto e, em três golpes rápidos, abriu o ventre do monstro e cortou-lhe a cabeça. Toda a Comitiva batalhou contra orcs, gigantes e ciclopes. Arthos combateu um ciclope e foi duramente atingido por um golpe da gigantesca clava feita com um tronco de árvore. O elfo de cabelos vermelhos foi arremessado a alguns metros, mas levantou-se, recuperou-se de uma ligeira tontura, e voltou a carga. Mikhail combateu um gigante e tentava acertar-lhe a perna e fazê-lo cair. Magnus trocou golpes avassaladores com um ciclope e Kariel, que estava tão grande quando o gigante que golpeava, usava sua espada Goliath. Limiekli, Sirius e Bingo se bateram contra vários orcs e goblins.

     A luta foi intensa e dura, principalmente para Arthos e Mikhail, que receberam vários golpes de seus adversários, antes de derrotá-los. O número de inimigos tinha se reduzido bastante naquele momento, apesar das baixas entre elfos e homens. Foi quando ouviu-se um ruído familiar aproximando-se: era o rugido monstruoso dos phaerimns. Khelbem, Laeral e Galaeron, passaram por todo o campo de batalha, foram a frente e conjuraram algo que haviam combinado: ergueram três muralhas feitas com energias místicas que exibiam as cores de um arco-íris. Os phaerimns, de onde estavam, lançaram muitos encantos contra os defensores de Evereska, mas eles não conseguiram ultrapassar as barreiras místicas. Então, os monstros resolveram aproximarem-se, voando em alta velocidade, na intenção de usar suas habilidades inatas e absorver a magia dos muros e desativá-los. Neste momento, surgiram flutuando neste cenário, os três vultos de Obscura. Eles invocaram cada um o poderoso encanto, que muitos já haviam se acostumado a ver nas últimas batalhas. Esferas de magma caíram então dos céus contra os phaerimns. As criaturas então concentraram suas bocas de verme para sugar a energia mística e neutralizar o feitiço, mas tiveram uma grande surpresa: aquele tipo de energia não podia ser eliminada por eles. Então, monstros foram vítimas de grandes explosões de fogo, que fizeram em pedaços grande parte das criaturas. Após isto, os poucos phaerimns sobreviventes fugiram. Neste mesmo momento, na luta que ainda se desenrolava atrás das muralhas de energia colorida, algo acontecia. Subitamente, os inimigos abaixaram suas armas e se entreolharam, como se tivessem acordado agora de um longo sonho e não soubessem onde estavam. Eles começaram a recuar e fugir. O Coronal pediu para que os deixassem partir, pois estavam lutando sob o controle mental dos phaerimns.

Arthos Sucumbe a Tentação

     Assim que a luta terminou, começou o trabalho de recolher os corpos e curar os feridos. Passaram a tarde e a noite fazendo este serviço. Pela manhã, o campo de batalha estava relativamente limpo. Os elfos mortos haviam sidos levados para serem sepultados em Evereska, enquanto os humanos foram enterrados em outro lugar, fora das muralhas. O corpos dos phaerimns, gigantes, ciclopes, orcs e goblins foram queimados em uma grande pilha. O acampamento militar ficou sendo o lar temporário dos humanos, pois os Anciões da Colina e os nobres de Evereska não permitiram que os milhares de homens entrassem em sua cidade. Apesar desta decisão ter contrariado muitos deles, não lhes faltou apoio médico e nem alimentação, fornecida pelo reino élfico. Após a refeição do meio dia, ainda feita no campo, a Comitiva foi novamente chamada a ir à tenda feita de sala de guerra para o Coronal. Chegando lá encontraram o Coronal Eltargrim, Galaeron, Khelben e Laeral , Brian Mestre das Espadas e os três vultos de Obscura. O príncipe Aglarel de Obscura estava falando quando entraram:

     "... e se não fosse a nossa presença, creio que haveria um novo massacre aqui. Espero que vocês instruam seus governos que nós estamos dispostos a ajudar, mas é claro que queremos cooperação. Meu governo está debatendo e veremos o que os humanos podem fazer por nós. Agora peço licença para nos retirarmos."

     Os vultos então saíram. Porém, o último deles fez um sinal discreto para Arthos, o chamando para fora da tenda. O elfo espadachim atendeu o pedido.
     "Elfo", disse um dos vultos, "O príncipe Aglarel quer falar com você!"
     "Comigo?!", espantou-se.
     "Sim. Siga-nos"

     Arthos seguiu os vultos até um lugar longe dos ouvidos dos outros. Os vultos pareciam querer discrição. Em um determinado ponto, os três pararam e Arthos fez o mesmo. O príncipe Aglarel então olhou para o elfo e disse.

     "Percebi que você não aprecia muito os governantes desta cidade, não é mesmo? Pelo que vi, não parece concordar muito com eles"
     "Não concordo. São muito orgulhosos e arrogantes," respondeu o elfo.
     "O que prefere, Arthos? Soluções rápidas e garantidas ou outras mais demoradas e incertas?"
     "Óbvio que gosto de soluções rápidas. Os Anciões, por exemplo, hesitam muito e deixam de tomar decisões quando as respostas estão bem na sua frente."
     "Acho então que podemos fazer um pequeno acordo."
     "Que tipo de acordo?"
     "Eu tenho uma curiosidade que quero ver saciada. Será que você, sendo elfo e podendo entrar nesta cidade quando quiser, pode me revelar os segredos da magia élfica?"
     "Segredos? Que segredos?"
     "Eles têm algo chamado mythal, semelhante ao mythalar. Gostaria de saber como esta energia funciona"
     "Chamou o cara errado. Não sou mago."
     "Acho que você tem o conhecimento que preciso. Será que você poderia fazer uma investigação para mim e me trazer algo substancial, com o que poderia desenvolver um estudo."
     "E o que eu ganharia em troca?"
     "Eu posso conceder a você praticamente tudo o que quiser. O que quer? O amor da elfa mais bela deste Reino? Uma arma dez vezes mais poderosa do que a que tem na cintura? Quer que eu o faça voar?"
     "Pode fazer os mortos voltarem a vida?", perguntou Arthos com um olhar ansioso e com o coração disparado. Lembrou-se de sua amada Diana, cuja vida e o amor foram arrancados dele, meses atrás por um engano trágico. De repente, encheu-se de esperança.
     "Mas é claro, o Hades não é um obstáculo para nós. Se for este o seu desejo e se aceitar o acordo. Isto seria simples. Pensei que pediria algo mais complexo."
     "Se são tão poderosos, porque vocês mesmos não vão investigar o mythal?"
     "E arriscar a destruir uma boa relação diplomática? Para nós é melhor que você vá. Não podemos correr riscos. Mas não se preocupe. Não queremos destruir nada, somente estudar. Quero que traga um objeto que irradie a Alta Magia élfica. Acredito que haja um dentro daquela torre enorme no centro da cidade..."
     "... o Templo de Corellon."
     "Sim, deve ser... Acredito que deva haver um objeto assim por lá. Quero que o traga para mim. Você concorda ou não?"
     "Deve me prometer que não vai usar este objeto contra Evereska."
     "De acordo. Nunca foi esta a minha intenção. E então? Aceita?"
     Arthos pensou e decidiu
     "Aceito!"
     "Ótimo!", disse Aglarel, que em seguida retirou de seu robe um colar que ostentava uma grande jóia negra. "Use este colar!"
     "O que é isto?"
     "Não se preocupe! Não lhe fará mal. Este colar me permitirá acompanhar seus passos, ver as coisas que você vir e ouvir as coisas que você ouvir. É uma medida de segurança. Também poderei entrar em contato com você e indicar o objeto que desejo, quando encontrá-lo."
     "Como terei certeza de que cumprirá o acordo?"
     "Cumpri os meus acordos com Evereska, não? Infelizmente, um acordo tem esta natureza. Temos que confiar um no outro. Eu já dei mostras de confiança."
     "Está certo!", Arthos então pegou o colar e colocou no pescoço. "Vou ao templo agora. Aproveitarei que a cidade ainda está se recuperando da batalha!"

     Então Arthos, pega seu cavalo e vai apressado em direção dos portões de Evereska e ao Templo de Corellon. Por coincidência, encontrou Sirius andando pelo acampamento e ele o viu.
     "Arthos... pra onde vai?"
     "Vou à cidade, Sirius... Preciso de um pouco de tranqüilidade!"

     Sirius deixou seu amigo em paz e em pouco tempo, já estava Arthos no grande portão da torre do Templo. Ele entrou e viu no magnífico salão elfos que oravam pedindo proteção e descanso para seus mortos. Notou um corredor ao fundo da sala. Havia um sacerdote na entrada. Arthos aproximou-se e fez menção de entrar. O religioso então disse:

     "Este local é vedado aos fiéis."
     "Porquê?"
     "É particular. Apenas as autoridades podem entrar. Por favor, una-se aos outros."

     Arthos então correu os olhos pela igreja, procurando por uma alternativa. Viu algumas sacadas ao alto, de onde, provavelmente, as autoridades assistiam alguns dos ritos. Arthos então maquinou uma maneira de entrar pelo alto. Descobriu uma coluna, que ficava em um local de menor iluminação. Com habilidade e um pouco de sorte, poderia escalá-la e pular para a sacada acima sem ser notado. Arthos então esperou escondido e subiu na coluna. Em uma acrobacia, saltou para a sacada. Da sacada passou para um corredor. Arthos prosseguiu com muito cuidado. Caminhou em direção do centro da torre. A medida que avançava, percebeu que os ornamentos tornavam-se mais ricos, com belíssimos quadros retratando mitos élficos e estátuas de deuses. Deduziu que, quanto mais rico era o aposento, era porque mais valioso deveria ser o seu conteúdo e que talvez estivesse mesmo na direção correta. Encontrou uma porta, vigiada por dois guardas. Um deles saiu de seu posto, e caminhou ao lado contrário de onde Arthos se escondia. O elfo então pensou em distrair o que sobrou. Esperou um pouco, ocultou-se ainda mais atrás de uma grande estátua de Corellon, pegou um castiçal que encontrou e arremessou na direção no fim do corredor onde estava. O elfo que fazia a guarda da porta ouviu o barulho metálico e correu para investigar, passando apressado pela estátua, sem notar o invasor escondido que, logo após sua passagem foi em direção da porta e usou uma antiga habilidade que aprendeu quando era um ladrão em Portal de Baldur. Conseguiu destrancar a porta, entrou e novamente a fechou.
     Era uma sala muito bela, com o chão decorado com mosaicos, mais estátuas e pinturas nas paredes e no teto e com lanternas douradas, que emanavam uma iluminação suave. Havia uma escada que descia e Arthos, então , foi por ela. Desceu os degraus e chegou a uma grande câmara circular, com colunas e estátuas e um teto bastante alto. Em seu centro havia um anel formado de obeliscos cristalinos e no meio dele um cristal em um altar de pedra branca. Não havia ninguém e ele desceu.

     "O cristal ao centro, Arthos! Aproxime-se para que eu possa sondar a energia!", disse a voz de Aglarel na cabeça do elfo.
     "O que quer mais saber? Já viu o que queria. Este deve ser o mythal!"
     "Você não saberia dizer com certeza. Preciso examinar. Aproxime-se mais. Estamos perdendo tempo. O guarda poderá voltar!"
     Arthos se aproximou do anel de obeliscos, mas hesitou em prosseguir.
     "Se houver algum alarme?"
     "Não há alarmes, elfo. Ou então já teria sido dado. Não vê que os elfos estão ocupados demais hoje! Ande logo."

     Arthos então tentou pisar na área interna do círculo de obeliscos, entretanto, um campo de força se formou ao seu redor impedindo-o de passar. No alto, um rasgo pareceu se formar na própria existência e dele saiu uma figura alada. Parecia-se com uma enorme elfa, bastante forte e trajando vestes de batalha. Seus olhos eram completamente amarelos e brilhantes como se preenchidos por energia. A deva élfica celestial então desceu do alto teto em direção de Arthos. A pedra negra do colar que o elfo carregava começou a brilhar e de repente os olhos de Arthos também ficaram negros. Agora ele perdia completamente o domínio de seus atos e sua mente estava controlada. Pulou tentando esquivar-se da deva e fugir, mas o campo de energia o impediu. A criatura celestial então o segurou e o ergueu com uma das mãos. Pouco depois, a sala estava cheia de elfos e guardas armados. A deva então entregou Arthos a um dos guardas. Em seguida, voou e um rasgo no espaço novamente se abriu e ela entrou, voltando aos seus domínios nos planos superiores.
     Assim que foi entregue, o colar que Arthos usava desapareceu e seus olhos voltaram ao normal, assim como a sua consciência. Se viu então preso e cercados de elfos armados.

     "Quem será este elfo capaz de cometer tamanho crime? Tamanha blasfêmia!?", disse indignado um padre de Corellon ."Leve-no daqui!", ordenou em seguida.

     E assim Arthos foi retirado da sala pelos guardas. Somente os deuses, que tanto desprezava, poderiam prever seu destino agora.


Esta história é uma descrição em teor literário dos resumos de aventuras jogadas pelo grupo Comitiva da Fé em Salvador sob o sistema de RPG Advanced Dungeons & Dragons.

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