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Por Caminhos Diferentes

Descrita por Ricardo Costa e Ivan Lira.
baseada no jogo mestrado por Ivan Lira



Personagens principais da aventura:

Os Humanos: Magnus de Helm; Sirius Lusbel; Sigel O'Blound (Limiekli), Sir Galtan de Águas Profundas, Brian Mestre das Espadas, Florin e Dove Garra de Falcão. O vulto: Príncipe Aglarel. Os Elfos: Arthos Fogo Negro; Mikhail Velian; Kariel Elkandor. O Halfling: Bingo Playamundo. Participação Especial: o Coronal Eltargrim Irithyl, Khelben "Cajado Negro" Arunsun, Laeral Mão Argentêa, Storm Mâo Argentêa, Florin e Dove Garra da Falcão.


Por Caminhos Diferentes
     

     Uma besta vinda das profundezas do Abismo, era o que estava diante dos bravos aventureiros que acampavam fora das muralhas brancas de Evereska. Vermelho, com labaredas dançando pelo seu horrendo corpo, asas incandescentes e duas vezes maior que um homem. Não sabiam ainda os heróis, mas seu nome era Verithor, tanar’ri invocado de sua sinistra morada pelas artes místicas do príncipe Aglarel de Obscura, pretenso diplomata que revelou-se um traiçoeiro inimigo. Tal visão fez tremer alguns dos presentes. Os soldados mais inexperientes simplesmente fugiram, mas não se poderia culpá-los. Um demônio dos infernos não é coisa fácil de se ver.

     Na linha de frente daquela batalha estavam os membros da companhia de aventureiros conhecida como a Comitiva da Fé, desfalcada de Arthos Fogo Negro, que continuava preso em uma cela no edifício do Parlamento Élfico. Também estavam na luta o arquimago da cidade de Águas Profundas chamado Khelben “Cajado Negro” Arunsun e sua esposa Laeral Mão Argêntea, Storm, irmã de Laeral, os heróis Florin Garra de Falcão e sua esposa Dove e o cavaleiro Sir Galtan. Olhavam para a figura do demônio enquanto suas cabeças pensavam na melhor estratégia para superar aquele mal. A Besta, com sua voz gutural, pronunciou-se.

     “Torilianos! Fiz um pacto com o vulto Aglarel, contudo se conseguirem oferecer uma barganha melhor, não cortarei suas cabeças!”
     “Que oferta poderemos fazer!?”, disse Sirius, dando alguns passos temerosos para trás.
     “Ajoelhem-se e adorem a mim e a Juiblex, senhor dos demônios!”
     “Demônio! Nunca nos renderemos às forças do mal!”, bradou Sir Galtan, eloqüente . “Prepare-se para morrer!”
     “Não perca seu tempo conosco, demônio.”, completou Storm Mão Argêntea. “Não é de nosso feitio agradar bestas do inferno.”
     “Que assim seja, humanos! Em breve estarão beijando os meus pés!”

     O balor gesticulou e do nada surgiu uma fenda de luz, um novo portal que se abriu a uma certa distância, do qual saiu outro ser infernal. Khelben, de forma perspicaz, aproveitou a distração do tanar’ri e invocou um poderoso feitiço, um pequeno raio azulado saiu da ponta de seu dedo e atingiu Verithor, a energia percorreu seu corpo, mas aparentemente não houve efeito algum, no entanto, aqueles que eram arcanos perceberam a intenção do arquimago, ele reduziu o abascanto do monstro tornando-o mais suscetível à magia. Ao fazer isso ele o irritou bastante, e Verithor fixou os olhos em Khelben, já determinando-o como vítima. Do portal um novo demônio surgiu, possuía mais de dois metros de altura e era uma sinistra mistura de mulher e serpente. Da cintura para baixo, seu corpo era de cobra. Sua outra metade era de uma mulher de seios a mostra. Ao invés de dois, possuía seis braços e cada um deles segurava uma lâmina mortal. Em seu lar, seu tipo era conhecido como marilith.

     Haviam agora dois inimigos e os heróicos combatentes se dividiram. Kariel aproveitou o sortilégio de Khelben e lançou um relâmpago que partiu de suas mãos ao encontro do gigantesco oponente, mas ainda assim, não surtiu efeito. Sirius se afastou do contato com os inimigos e valeu-se de seu arco para disparar setas, mas os projéteis de nada adiantavam. Limiekli e Bingo também disparavam em vão. Decidiu o primeiro então que era um inútil naquele combate e pensava em deixar o trabalho para aqueles que tivessem mais sorte ou mais poder. Foi quando Florin, ao ver seu desalento, jogou-lhe uma adaga de prata e disse-lhe.

     “Tente com isto. Poderá lutar com esta arma!”

     O ranger então reconsiderou sua decisão e, empunhando sua nova arma, correu em direção ao marilith. Já o pequeno Bingo, diga-se que por esperteza e não por covardia, ficou distante e observou atento. Conhecia seus limites e sabia que atrapalharia mais do que ajudaria contra aqueles demônios, imunes contra setas. Mikhail havia lançado um encantamento divino, com vistas a que sua deusa oferecesse proteção aos seus amigos, porém ele próprio encontrava-se fraco e ferido, conseqüência da luta contra os elementais do vento, invocados pelos vultos a alguns minutos atrás. Storm viu Mikhail abatido e distante. Chamou-lhe e arremessou uma garrafa pequenina de vidro, que foi aparada ainda no ar pelo clérigo. Pediu a mulher que o elfo bebesse a poção e assim Mikhail o fez. Suas forças se recobraram e alguns de seus ferimentos milagrosamente se fecharam. Magnus e Sir Galtan correram com todas as forças em direção a Verithor, mas este olhava fixamente apenas para Khelben. O feiticeiro lançou outro encanto semelhante ao anterior, desta vez aumentando as fraquezas naturais de Verithor. Porém, o demônio usou de suas poderosas asas e alçou vôo, apenas para mergulhar e desferir rápidos golpes com uma enorme espada flamejante, que surgiu instantaneamente, contra o mago. Mas o humano tinha suas precauções e os golpes do monstro não surtiram efeito. Laeral viu seu marido sob ataque e conjurou uma nova magia. Invocou um elemental do vento, semelhante aos seres enfrentados pela Comitiva minutos atrás, para atacar o demônio. Infelizmente o elemental foi apenas vítima, pois com apenas dois golpes, o balor o desfez.

     Mais próximo do marilith, Sirius se desesperava. Já havia disparado muitas setas e mesmo com boa pontaria, o alvo parecia nada sofrer. Viu Kariel a sua frente e foi lá aconselhar-se com o mago.

     “Kariel! Minhas flechas de nada adiantam contra este bicho! Que devo fazer? Gritar palavrões?”
     “Suas armas não farão efeito. Precisariam ser encantadas . Fique atento e tente ajudar aqueles que caírem!”
     “É isto que vou fazer então. Ajudarei os que caírem!”

     Khelben, sempre atento, aproveitou a oportunidade proporcionada por sua esposa e preparou um feitiço definitivo, em palavras arcanas, ordenou a morte do demônio. Parecia que o artifício havia falhado, pois nada de imediato aconteceu. Instantes após, no entanto, o gigante do Abismo se contorceu e emitiu um grito medonho. Em seguida seu corpo explodiu em chamas. O mago de Águas Profundas então sorriu discretamente. Seu feitiço fatal tinha apenas uma pequena chance de funcionar, mas Tymora, a Deusa da Sorte e dos Aventureiros, abençoou sua iniciativa e o balor fora devolvido para as profundezas dos planos inferiores.

     Mas havia outro tanar’ri e ele lutava com seus vários braços. Os golpes rápidos da criatura acertaram Storm e Florin, sendo que o último, além de ferido, foi imobilizado pela cauda de ofídio da marilith. O monstro começou a apertar o corpo do herói. Queria esmagar-lhe os ossos, tal cobra constritora. Dove viu o marido em apuros e investiu com sua espada, mas errou o alvo. Da Comitiva, Limiekli e Mikhail eram os únicos que combatiam corpo a corpo contra o inimigo do inferno. Kariel estava afastado, planejando uma magia que fosse útil e que, ao mesmo tempo, não atingisse seus amigos em combate corpo-a-corpo. Magnus, juntamente com Sir Galtan, vinham apressados para ajudar os companheiros, visto que o balor que escolheram como oponente havia tombado pelas artes místicas de Khelben “Cajado Negro” Arunsun.

     A cauda apertava e Florin lutava para manter seu fôlego. A marilith, mesmo esmagando o herói, não perdia a concentração e desferia seus ataques mortais. Mikhail, apesar de ajuda dispensada por Storm, não estava em boas condições. Afastou-se do combate e entregou seu martelo encantado para Sirius, que estava por perto. O guerreiro não era muito afeito a armas encantadas, mas vendo ser esta a única solução no combate, segurou o Destruidor de Tempestades com firmeza e desferiu um golpe contra a cauda que prendia Florin. Assim também fez Storm, aplicando um corte profundo com sua bela espada longa no bestial adversário. Naquele momento, chegaram Magnus e Galtan. O primeiro foi recepcionado com um golpe tão forte que o empurrou para trás e o segundo conseguiu atingir com sua lâmina a pele reptiliana do demônio, mas não sabia o valoroso cavaleiro que sua arma, que não era imbuída de magia, de nada adiantaria com a criatura do inferno.

     Limiekli e Dove concentraram seus ataques na cauda, afim de libertar Florin, que a cada minuto parecia mais pálido e sem energias. Foi quando Sirius usou a força de seus grandes braços e, depois de muito esforço, conseguiu libertar o companheiro e retirá-lo da zona de combate, levando-o para seu amigo Mikhail, que conhecia as artes da cura, afim de aliviá-lo de seus ferimentos. Aproveitando que o monstro não mais segurava Florin, Kariel correu e se aproximou do marilith. O mago da Comitiva espalmou a mão em direção ao rosto do demônio e dela partiu um relâmpago, que fez a criatura tremer e gritar. Khelben, que ainda estava bastante distante, lançou também um encanto, mas desta vez o mago de Águas Profundas teve menos sorte e o sortilégio falhou. Porém, a batalha aproximava-se do fim. Storm Mão Argêntea, com um salto, investiu mortalmente contra o demônio e rasgou-lhe o peito. O marilith enfim tombou inerte, deixando cair ao chão suas armas tingidas de sangue. Magnus olhou perplexo, mas com admiração, para aquela mulher na bonita cota de malha élfica. Não se sabe o que mais o surpreendeu, se foi sua habilidade soberba no combate ou sua beleza inigualável.

     Então chegou o mago de Águas Profundas e avisou:

     “Não toquem nestas armas. São malditas.”
     “Nem pensaria nisto. São armas de demônios e devem ser destruídas.”, respondeu Galtan, o cavaleiro.
     “Estes demônios foram só uma distração. Os vultos podem fazer mais do que isto.”.
     “Sim, Khelben. Agora podem atacar Evereska e não terão nada a perder!”
     “Mas também sabem que não será uma tarefa tão fácil, Kariel! Temos dois problemas agora: os phaerimns e os vultos. Sinceramente não sei qual deles é o pior. Por hora não deveremos ser atacados. Vamos cuidar dos feridos e descansar como for possível. Depois trataremos deste assunto.”

     Florin chegou até Limiekli. O ranger da Comitiva estava com a adaga que o veterano aventureiro havia lhe emprestado e neste momento a devolvia. Florin, no entanto, ergueu a mão, recusando a arma.

     “Lutou bem, Limiekli. Esta adaga será de melhor serventia para você. Tenho minha espada.”
     “Obrigado, Florin.”, disse o aventureiro agradecido pelo presente.

     A Comitiva e seus aliados ainda tinham o resto da noite pela frente. Foram curados de seus ferimentos por alguns clérigos de Evereska, que chegaram alguns minutos após o fim dos combates e por algumas poções administradas por Storm. Então descansaram e dormiram. Amanhã teriam um importante compromisso. Uma audiência com o conselho dos Anciões da Colina. Esperavam que os acontecimentos recentes envolvendo os vultos atenuassem a pena capital imposta a Arthos.

A Audiência

     A manhã apresentou-se sobre o grande vale onde se situava Evereska. Os membros da Comitiva, ainda que não estivessem completamente recuperados da batalha do dia anterior, não se atrasaram e todos compareceram ao Parlamento Élfico, para a sessão do conselho. Seria o momento de tentar provar a verdade das palavras do depoimento de Arthos, através do encanto divino pesquisado por Mikhail, que permitia que fossem lidas as últimas memórias do elfo acusado e assim vivenciar os fatos daquele infeliz episódio. Com eles foram Khelben e Laeral , além do humano Brian Mestre das Espadas.

     Já estavam na sala do conselho, lugar que já lhes era bastante familiar. Tão quanto os rostos daqueles elfos diante deles: os sete Anciões, o diretor do Parlamento Anskalar Duorsena, e o réu Arthos Fogo Negro. Depois do cerimonial de abertura da sessão, feito pelo diretor, o Ancião mais idoso, Amrod Miyeritar pronunciou-se.

     “Agora, com as novas informações, será feito um novo julgamento. Advirto que não tolerarei interrupções não autorizadas nesta sessão. Convoco o alto clérigo Virmanon Calidor para pronunciar sobre as novidades neste caso.”
     O clérigo, que encontrava-se na platéia, veio e sentou-se em uma cadeira ao lado dos Anciões.
     “Fui procurado por Mikhail Velian que me indicou um encanto divino que poderia ser usado para conhecermos a verdade sobre as afirmações do elfo Arthos Fogo Negro, através da leitura de suas memórias. Não cogitávamos usá-lo pois não apreciamos invadir mentes alheias, mas diante da face revelada pelos vultos na noite passada, penso ser esta a sugestão mais correta.”, o elfo levantou-se da cadeira e virou-se para Arthos. “Permite-me ler as suas memórias?”
     “Claro. Não tenho nada a perder!”

     Então Virmanon levou sua cadeira para frente do assento de Arthos, fechou os olhos e proferiu uma oração. Em seguida sua mente sintonizou-se com a de Arthos. O alto clérigo ouviu, viu e sentiu, em rápidos segundos, todas as sensações experimentadas por Arthos nos últimos dias. Sua face se contraiu e relaxou várias vezes. Até que por fim cessou os movimentos e ele novamente abriu os olhos.

     “E então, Virmanon? O processo está encerrado? O que tem a afirmar?”
     “O elfo Arthos Fogo Negro diz a verdade. Ele foi mentalmente controlado. Contudo ele aceitou a proposta do vulto por sua própria vontade e motivos particulares.”
     “Isto é o suficiente. Faremos um recesso e anunciaremos nossa decisão!”

     Os Anciões se retiraram e Arthos foi levado dali. Em seguida os demais presentes foram a uma ante sala. Esperaram cerca de quarenta minutos, quando o diretor recebeu o aviso de que o novo veredicto estava pronto e reconduziu todos novamente a sala principal. A sessão foi reiniciada e a palavra era novamente do Ancião mais antigo, Amrod Miyeritar.

     “Consideramos Arthos culpado da invasão a câmara do mythal, mas graças as novas informações sua pena não será mais a morte. O castigo adequado será definido ao fim do conflito pelo qual passa Evereska. Até lá, o réu continuará detido. A sessão está encerrada.”

     Arthos foi novamente levado e o grande salão novamente esvaziado. Seus companheiros estavam ainda muito apreensivos com a situação do companheiro, mas havia também algum alívio por ele estar livre da pena capital. Suas mentes estariam agora completamente voltadas para a resolução dos problemas com os phaerimns e os vultos, afinal.

A Comitiva se Divide

     Na saída do salão, Enesyus abordou a Comitiva. Transmitiu-lhes o recado do Coronal Eltargrim: a Comitiva era esperada para uma nova reunião. E assim foram os heróis, em direção ao acampamento humano fora da cidade e para a bela tenda destinada ao monarca de Cormanthyr. Entraram e viram que o mago Khelben também estava presente. Fizeram uma rápida saudação e o Coronal começou:

     “Comitiva. Espero que a colaboração que ofereceram a mim ainda esteja de pé.”
     “Sim. Esta foi a nossa palavra.”, respondeu Mikhail.
     “Como sabem, os phaerimns macularam nosso mythal. Para repará-lo precisarei executar um ritual da Alta Magia élfica e por isto terei que me ausentar. Espero que quando eu retornar vocês ainda estejam aqui. Despeço-me desejando que Corellon abençoe a todos.. Os deixarei com Khelben, que tem mais a falar.” Eltargrim então deixou a tenda, depois de uma rápida troca de cumprimentos. Antes que o mago de Águas Profundas começasse qualquer coisa, Sirius falou o que passava por sua cabeça.

     “Khelben... Sei que não fomos chamados aqui para discutir isto, mas estive pensando. Muitas vezes salvamos vidas e Reinos e fomos recompensados com ouro, armas, honrarias e outros presentes. Será que Evereska não poderia nos recompensar de outra forma?”
     “Acho que sei o que quer dizer! Estive pensando a mesma coisa.”, disse Kariel.
     “Querem libertar Arthos? Mas devem saber da gravidade da profanação que ele causou...”
     “Ora, Mikhail. Lembro de todas as vezes que ele arriscou a pele para salvar-nos de enrascadas e para mim isto conta muito!”
     “Sei da gravidade do problema Mikhail, mas se pedirmos isto aos Anciões e eles concederem este perdão seria um ato dentro das leis de Evereska e ajudaríamos nosso amigo. Não vou negar que se um estranho fizesse o que ele fez no meu reino, provavelmente indicaria que meu pai aplicasse uma pena bem severa, mas Arthos não é um estranho, é meu amigo e farei de tudo para ajudá-lo a sair desta.”
     “Não será fácil, Kariel.”, colocou Khelben. “Os Anciões não costumam concordar com barganhas e não vêem nossa ajuda desta forma. Mas infelizmente, devemos deixar este assunto para outra hora. Tenho algo a falar. A partir de hoje, se desejarem permanecer na batalha, passarão a receber instruções de minha esposa Laeral, pois assim como o Coronal, também me ausentarei. Procurarei por respostas. Espero que não tenham problemas em segui-la.”
     “Não. Não há problemas.”, respondeu pelo grupo Magnus.
     “Ótimo. Conversei com o Coronal e temos novas informações. O volume do rio que abastece Evereska reduziu drasticamente. Acreditamos que ele pode ter sido bloqueado ao norte. E uma outra notícia, nos dada por uma elfa druida que nos auxilia, é que estranhos eventos climáticos estão acontecendo no leste. Gostaria que a Comitiva se dividisse em dois grupos e investigasse estes eventos. Não acho que isto seja uma coincidência. Florin deverá dar-lhes mais detalhes. Agora preciso partir.”

     Os aventureiros da Comitiva fizeram votos de boa sorte ao veterano mago, e os mais religiosos desejaram que os deuses o protegessem. Khelben deixou a tenda e Storm e Florin entraram pouco tempo depois. O homem loiro, herói já afamado nas Terras Centrais, não perdeu muito tempo e pôs-se rápido a falar.

     “Olá Comitiva. Khelben já explicou-lhe a idéia. O grupo que partirá para o norte encontrará florestas e um grupo de pessoas com facilidade para se ocultar será de boa ajuda. Eu conduzirei esta equipe e Dove irá comigo. O outro irá para uma região montanhosa ao leste.”
     “Irei com você. A floresta é meu ambiente.”, ofereceu-se Limiekli.
     “Também irei com vocês”, colocou Sirius.
     “Então podemos fechar este grupo...”
     “Não.... eu também vou!”, disse o pequeno Bingo para Florin.
     “Bem. Então iremos nós cinco.”
     “O restante pode vir comigo para o leste, eu liderarei o grupo. Sir Galtan e Brian Mestre das Espadas também irão conosco.”, disse Storm.
     “Quando partiremos, Storm?”, perguntou Kariel.
     “Assim que todos estiverem prontos.”

     Quando todos saíram da tenda, Magnus chegou próximo a Kariel e falou-lhe. Queria saber mais sobre aquelas pessoas.

     “Kariel... você que parece saber mais a respeito do que eu, quem são estas pessoas que irão nos liderar? Não conheço este Florin e nem Storm.”
     “Não se preocupe, Magnus. Florin, assim como Dove, são membros do grupo de heróis conhecido como Os Cavaleiros de Myth Drannor. Têm muita experiência e são bastante famosos. Já Storm é irmã de Laeral e é também uma Harpista.”
     “Harpista? É daquela organização de que você faz parte? Pensei que as informações sobre os Harpistas fossem secretas. Você deveria estar me contando isto?”
     “Você é a única pessoa a quem contaria isto, meu amigo. É o seguidor mais valoroso do Deus Guardião e de certo, sabe guardar um segredo como ninguém nestes Reinos.”
     “Fico feliz com sua confiança.”

     Mais afastados estavam Khelben e Laeral, o arquimago se despedia de sua esposa. Ela, estava abatida e isto era raro, pois as Sete Irmãs sempre se comportaram de maneira bastante fleumática.
     “Querido, tem certeza que precisa fazer isso?”
     “Minha amada, é o único lugar deste mundo onde posso obter a informação que precisamos. Eu preciso ir para lá.”
     “Então, que os deuses o protejam. O aguardarei .”, disse Laeral tristonha. O marido deu um beijo em sua face, a tocou no ombro de forma carinhosa e se afastou. Ela apenas voltou a sua tenda.

     Assim a Comitiva iniciou os preparativos. Arrumaram seus pertences, conseguiram provisões e armas e outros itens de valor em uma expedição. Fizeram uma refeição e logo no início da tarde, despediram-se um dos outros e tomaram caminhos diversos, afastando-se das proximidades da Fortaleza Élfica..

Os Preparativos para o Ritual

     O Templo de Corellon é o lugar mais sagrado de Evereska, e poucos eram o que livre tinham acesso às suas dependências mais profundas. Um destes era o Coronal Eltargrim Irithyl. Poucos dias atrás, após o ataque phaerimn, ele havia feito uma petição para que conduzisse um ritual de alta magia para reparar os danos causados pelos monstros ao sagrado mythal, que já não funcionava em sua plenitude. Eltargrim não era um elfo comum, fez parte de vários eventos históricos de sua raça. E uma de suas características sempre foi a luta pela sobrevivência e harmonia entre os povos, não poderia ele abandonar seus semelhantes.

     Chegando no templo, foi recebido por Calidor que o conduziu ao Patriarca Hyatos Venseler que lhe deu a benção de Corellon para que ele fosse o condutor do ritual. Então alguns preparativos foram feitos, e Eltargrim, junto com os elfos previamente selecionados, desceram a grande câmara. Lá, piras de fogo com uma estranha substância queimavam pelo ambiente. Sete foi o número estabelecido para os participantes da Alta Magia, um deles era o Coronal. Foram preparadas vestes cerimoniais para os participantes. Após algum tempo, Eltargrim e os magos fizeram um pequeno rito apenas para identificarem o estrago causado ao mythal e então avaliarem as soluções necessárias.

No Caminho das Trevas

     Em algum ponto da Costa da Espada, há um lugar do qual dizem as lendas ser um reduto das trevas. Um lugar onde não há dia, onde a luz não consegue alcançar, mesmo o ambiente não sendo um subterrâneo. Um lugar onde poucos teriam a audácia de visitar ou mesmo olhar. Uma vegetação esmaecida era presente, seu verde não era poderoso como nas demais plantas. O céu noturno, apesar de escuro, não era negro e sim de um azul profundo que passava tristeza e melancolia. Um vento gélido soprava como uma alma perdida condenada a danação eterna, vento este que gritava por misericórdia. Uma luz intrusa surgiu, ela aumentou de tamanho formando um portal, dele saiu um homem agraciado pelos deuses. Saiu Khelben Arunsun, ser dotado de conhecimento invejável das artes místicas.

     Ao chegar, percebeu estar no local determinado, pois sentiu uma natureza negativa que lhe incomodava a alma. O arquimago olhou ao redor e viu uma grande estrutura à frente, numa vista mais ampla podia-se perceber que na verdade era uma pequena cidade imersa numa tênue escuridão. Por isso, lembrou-se da primeira vez que visitara este lugar, quando teve medo, recuou, não teve a petulância de adentrar. Sabia ele que atrás daquelas grandes muralhas havia algo que até mesmo alguns deuses temiam, por isso o ignoravam. Pensou em recuar como no passado, mas logo percebeu que sua vida poderia ser um preço justo para sanar as ameaças atuais, então deu seu primeiro passo e assim continuou.

     Seguiu uma pequena estrada que terminava num grande portão, no topo das colunas que o sustentavam haviam dois gárgulas. Ambos rochosos com uma superfície um pouco gasta. O mago os ignorou e foi em direção ao portão velho feito de aço com grades. Quando tentou abri-lo, ele ouviu:

     “Quem, entre os mortais, invade os domínios do Lorde Supremo?” Perguntou o gárgula da direita.
     O mago recuou dizendo “Khelben de Águas Profundas. Vim em paz.”
     “Em paz você vai ficar, depois de sua carne eu trucidar.” Ameaçou o gárgula da esquerda já descendo num rasante tentando fincar suas presas no peito do mago. Mas este, de longas datas não era alvo fácil. Esquivou-se do golpe e fez posição defensiva. O outro tentou o mesmo método e não conseguiu. Depois ambos atacaram juntos, essa foi a oportunidade de Khelben: apontou seu Cajado Negro para os dois e disparou um relâmpago que os fez em pedaços.      Aquele foi apenas o primeiro obstáculo dos muitos que viriam.

     Abriu o portão e continuou. Começou a caminhar por uma grande praça e lá percebeu como era o lugar, parecia uma cidade abandonada, esquecida pelo tempo. Algumas estruturas eram visíveis, tudo com uma arquitetura antiga. Khelben achou um pouco familiar, mas respostas não vieram em sua mente. Continuou andando, até ouvir um ruído, algo se arrastando. Quando olhou para trás viu inúmeros humanóides andando em sua direção. Ao ver suas faces pútridas Khelben percebeu que se tratavam de seres mortos, portanto não hesitou em aplicar o poderio de seus feitiços. Lançou uma esfera em chamas que dizimou alguns, outros tentaram agarrá-lo, mas os encantamentos de proteção funcionaram bem, dando tempo suficiente do mago eliminar os restantes.

A Represa

     Eram cinco os aventureiros rumando para o norte: Florin, Dove, Limiekli, Sirius e o halfling Bingo. Deixaram o vale e se embrenharam por uma floresta densa, seguindo o curso do rio. Era visível agora o que Khelben havia relatado. A fluxo estava baixo e em certos trechos não havia água nem para molhar os joelhos dos viajantes.

     Já havia um dia e meio de cavalgada. As árvores agora eram mais esparsas e o terreno tornou-se mais pedregoso e difícil. Estavam acampados e, como de costume em tempos de incertezas, um montava guarda e vigiava movimentos estranhos, enquanto os outros descansavam após uma refeição vespertina. Limiekli fazia este papel no momento. O homem, acostumado a vida na floresta, ouviu algo metálico, um ruído não muito comum na natureza. Ele então avançou silenciosamente e procurou a fonte do ruído. A alguns metros, havia um goblin armado. Aparentemente era também um vigia. Limiekli então retornou para contar a notícia. Chamou os colegas que dormiam.

     “Amigos... temos companhia! Encontrei um batedor goblin à frente. Pode haver um acampamento ou covil deles por perto.”
     “Quantos você viu?”, quis saber Florin.
     “Apenas um.”
     “Mas estes monstros costumam atuar em bando. Devem haver mais. Os demais fiquem aqui. Eu e Limiekli vamos observar melhor estes goblins.”

     E assim partiram Florin e Limiekli. Seguiram o caminho anterior e viram o sentinela e um outro, que parecia ter vindo para troca de turno. Seguiram pelo mato o goblinóide até onde puderam. O viram sumir ao longe em direção de um acampamento, mas, não tendo a visão aguda dos elfos, não sabiam mais detalhes daquele lugar. Foi então que Florin sacou sua espada, apontou para as casinhas ao longe e concentrou-se. Limiekli olhou o companheiro com curiosidade, até que então Florin anunciou.

     “Minha espada mostrou-me que é um acampamento. Existe um exército. Vários orcs e goblins e parecem estar construindo algo. Mas precisaremos estar mais próximos para ver os detalhes. Vamos voltar agora e preparar nossa estratégia.”

     Florin e Limiekli encontraram os demais, deram mais informações. Juntos decidiram esconder os cavalos e escalarem até o alto de um morro, de onde poderiam ter uma visão melhor do acampamento, sem que pudessem ser vistos com facilidade.

     “Florin...”, iniciou Sirius uma conversa enquanto caminhavam. “Você disse ter visto um exército. De quantos goblinóides estamos falando?”
     “Cerca de trezentos.”
     “Trezentos? Acha que poderemos dar cabo de trezentos goblinóides?”
     “Não precisamos lutar. Vamos investigar, identificar as figuras chaves e os propósitos destas criaturas.”

     Chegaram ao sopé do morro e começaram a escalada. Subiram até o topo e andaram por um platô plano até que fosse possível avistar o acampamento. Deitaram na montanha para não serem vistos e aguçaram o olhar. Puderam ver com maior clareza. Não era um simples acampamento, mas um pequeno forte que estava sendo construído. E identificaram também a causa da diminuição da vazão do rio: havia uma represa de troncos de madeira, criando um lago e impedindo a passagem da água. Os orcs e goblins trabalhavam também em armas. Haviam pilhas de espadas e machados. Alguns faziam flechas e outros batiam malhos, forjando lâminas. Uma criatura em especial chamou bastante a atenção dos aventureiros. Existia um phaerimn que flutuava livremente pelo lugar.

     “Que criatura é aquela?”, perguntou Dove.
     “É um phaerimn!”, respondeu Limiekli.
     “Eles represaram o rio. Pretendem certamente enfraquecer Evereska com isto. Irão erguer um forte para impedir os elfos de destruir a represa e, enquanto isto, os phaerimns entram em ação atacando a cidade. Já fizeram isto sem usar nenhuma estratégia elaborada. Agora parecem que irão se organizar melhor.”, deduziu Sirius.
     “Provavelmente. Acho estranho que estejam preparando tantas armas. Existem mais do que poderiam usar. Será que outro exército irá juntar-se a este?”, perguntou Dove.
     “É possível. Mas isto não importa. Temos que fazer algo. Pelo menos destruir esta represa antes que esta tarefa se torne ainda mais difícil.”
     “E quais os subterfúgios que possuem para realizar esta empreitada?”, quis saber Sirius.
     “Bem... eu e minha esposa entendemos um pouco sobre magia.”, disse Florin.
     “Então acho que poderíamos destruir a represa e na confusão matar aquele phaerimn, que deve controlar este bando. Sem ele, estas criaturas perderão sua vontade de lutar.”
     “Será mesmo que estes goblinóides estão sendo controlados por este monstro. Será que não estão fazendo isto por livre e espontânea vontade? Como disse, conheço um pouco de magia e não conheço um encanto que consiga fazer um único ser dominar tantas mentes.” Explicou Dove.
     “Eles também podem ter feito uma barganha. Tentaram fazer conosco.”
     “Sim, Sirius. E estes orcs são facilmente atraídos por um acordo. Para eles, destruir Evereska seria uma oferta tentadora.”, completou Limiekli.
     Bingo, irrequieto, cansou de ouvir aquelas conversas e foi direto ao ponto.
     “Sim, sim... a gente vai destruir a represa quando? Com cordas?”
     “Florin... tem algum sortilégio que possa nos ajudar?”, perguntou Limiekli.
     “Não, mas minha esposa talvez.”, disse olhando para Dove.
     “Dove... já vi meu amigo Kariel usar um encanto para reduzir ou expandir as coisas.. Pode usá-lo para fragilizar a represa?”
     “Este encantamento não funcionaria, mas eu já estou pensando em algo.”
     “Esperem!”, interrompeu Florin. “Vejam!”

     Na entrada do acampamento surgiram alguns cavalos, vindo de algum caminho por entre os montes. Havia um orc maior, que ostentava uma armadura bastante trabalhada em entalhes sinistros. Tinha um tapa-olho e uma enorme espada embainhada na cintura. Pelo modo como os demais o saudaram, ficou claro que não era este um simples soldado. Ele desmontou e seguiu até uma das construções de madeira.

     “Retiro o que disse sobre o phaerimn. Este deve ser o líder!”, intuiu Sirius.
     “Bem... como vamos destruir a represa sem ser vistos?”
     “Posso usar um de meus encantos, Limiekli.”, disse Dove.
     “Não acho uma boa idéia. Aquele phaerimn ali pode detectar magia.”, avisou Sirius.
     “Ele não vai ficar ali o tempo todo. Mas antes de destruirmos a represa, talvez seja melhor conseguirmos algumas informações. Precisamos saber quem é aquele general.” Insistiu a guerreira.
     “Como pretende descobrir isto?”
     “Tenho um plano.”, disse a bela mulher.

Um Mistério nas Montanhas

     Dois dias se passaram para o grupo que ia para o leste. Storm, Brian, Galtan, Magnus, Kariel e Mikhail seguiam pelo terreno montanhoso. Apesar do grande calor da tarde que terminava, a viagem prosseguiu tranqüila e havia espaço para conversas amenas. Durante a caminhada, Magnus de vez em quando olhava para a única mulher que estava no grupo. A beleza de Storm parecia ainda maior estando ela naquela esplendorosa armadura e isto atraia seu olhar., Como era um rapaz inexperiente nos assuntos amorosos, foi flagrado uma ou duas vezes. Ficou imensamente envergonhado. Storm, ao perceber, deu um sorriso discreto, e desejando brincar com ele, perguntou-lhe abruptamente, desconcertando-o o paladino:

     “Magnus. Deve ser você o paladino de Helm que habita o Vale das Sombras, soube que está construindo uma catedral ao Deus Vigilante. Como espera concluí-la? É somente um homem!”
     O paladino levou alguns instantes para compreender a pergunta, pois não esperava encarar Storm naquele momento. Recompondo-se, respondeu:
     “Sei que parece um sonho impossível, mas alguém tem que começar. Se eu conseguir atrair outras pessoas a lutar pela mesma causa então este sonho pode virar realidade. Daqui há alguns anos, mesmo que seja depois da minha morte, a catedral pode ser construída.”
     “Uma catedral a Helm? Como seria tal coisa? Uma fortaleza?”, inquiriu Galtan.
     “Pretendo construir uma grande estrutura suficiente para abrigar a população do Vale das Sombras em caso de ataques e com acessos subterrâneos para outros pontos, a fim de conduzir as pessoas em segurança. Quero evitar tragédias, como a devastação de cidades de Cormyr pelos orcs de Aris. Apesar de Lorde Mourngrym estar construindo muralhas, não sei se elas serão proteção suficiente.”
     “É um intento audacioso, mas bastante louvável de sua parte.”, respondeu Storm admirada pela sensibilidade de Magnus. A provocação da barda do Vale das Sombras tinha gerado frutos. Havia ela conhecido um pouco mais sobre o paladino.
     “Desejo-lhe boa sorte neste seu sonho, Magnus.”, disse Mikhail, impressionado com a determinação do paladino.
     “Eu também. Ajudarei no que for possível.”, completou Kariel.

     Sir Galtan emparelhou seu cavalo ao do comandante Brian e aproveitou para travar uma conversa, enquanto subiam uma íngreme colina.

     “Soube que foi voluntário nesta missão. Porque resolveu vir lutar aqui?”
     “Sei que podemos um dia sermos atacados por forças do norte, de Luskan talvez. Não quero me enferrujar.”
     “A luta contra os phaerimns já me desenferrujou.”
     “Sim, mas ainda prefiro lutar contra homens. Sei que eles podem morrer.”
     “Os phaerimns também, mas são muito difíceis de vencer.”, acrescentou Kariel que estava próximo.
     “Sim, mas eles usam magia e isto não consigo revidar. Sei que não é adequado dizer isto, mas fico feliz que estes phaerimns não estão atacando Águas Profundas. Não sei se agüentaríamos tanto tempo. Se bem que nos últimos anos, não sei se vocês da Comitiva da Fé sabem, enfrentamos muitas catástrofes.”
     “A Comitiva esteve na mais recente delas.”, lembrou Kariel do episódio da Orbe de Orgor e da luta contra Bane.
     “Há mais ou menos dezesseis anos atrás houve algo pior. Dizem alguns que as deusas Shar e Selûne lutaram e sua batalha destruiu parte do porto.”
     “Sei disto. Foi o Tempo das Perturbações.”
     “Tempo das Perturbações? Poderia me explicar melhor, Kariel!”, perguntou Brian, que não conhecia o termo.
     “Assim era chamado o conflito, onde os deuses desceram ao nosso plano e travaram batalhas.”
     “Você acredita mesmo nisto?”
     “Tenho que acreditar. Alguns de meus amigos presenciaram estes acontecimentos.”
     “Quer dizer que os deuses fazem isto? Descem a Toril para promover catástrofes?”
     “Não é sempre assim, Brian. Aquele foi um evento isolado e não acredito que se repita novamente.”
     “Amo a Tyr, mas acho que os deuses deveriam ficar em seus lugares e deixar-nos resolver as coisas e não usar nosso mundo como campo de guerra.”
     “Mas os deuses são como nós. Alguns são bondosos, outros malignos. Uns têm bom senso, outros cobiçam o poder a qualquer custo. Mas concordo com sua afirmação e acho que os deuses devem influir com cuidado para não causar conseqüências desastrosas para nós, mortais.”, concluiu Kariel.

     Após aquelas conversas, os heróis chegaram ao fim da colina e viram um pequeno acampamento a sua frente, com cerca de cinco barracas. Se tranqüilizaram ao ver que a arquitetura das tendas exibiam a bela arte élfica de Evereska. Um sentinela aproximou-se:

     “Quem são?”
     “Viemos de Evereska. Desejo ver Selenil.”, disse Storm, entregando ao elfo uma carta, selada com o brasão de uma casa nobre evereskana. O soldado então foi até uma tenda e voltou com uma elfa de cabelos dourados e roupas de sacerdotisa.
     “Por favor. Desmontem e venham até minha tenda.”

     Os aventureiros então acataram o pedido da elfa e foram com ela até a bela barraca branca e dourada. Ao entrar, depararam-se com símbolos religiosos e muitas plantas, que decoravam o interior. Os símbolos foram identificados por Kariel e Mikhail, elfos civilizados que conheciam Rillifane Rallathil , o Senhor das Folhas e protetor élfico dos bosques e druidas.

     “Que problema está havendo aqui?”, perguntou Storm.
     “O clima está se modificando de maneira incomum. Devem ter percebido o calor de hoje. Mas repentinamente a temperatura cai, ou então ocorrem chuvas torrenciais. Fiz orações a Rillifane, mas não consegui descobrir a origem deste problema.”
     “Há quantos dias isto ocorre?”, quis saber Kariel, tentando montar em sua mente um paralelo com a chegada dos vultos.
     “Há uns seis dias. Também foi avistado algo de muito estranho. Parecia ser uma gigantesca pedra branca que flutuava. Ela foi diminuindo a altitude e desapareceu após a cadeia de montanhas próximas.”
     “E enquanto aos phaerimns e aos vultos? Algum deles foi avistado?”, disse Mikhail para Selenil.
     “Não.”
     “Devemos investigar então as montanhas, porém a noite se aproxima. Vamos esperar até o amanhecer e então partiremos.”, decidiu Storm. "Agradeço suas informações.”

     A Comitiva então deixou a tenda da druida e já havia outra armada, que lhes serviria de abrigo por aquela noite. Pela manhã entrariam na cadeia montanhosa para investigar o mistério da pedra branca narrado por Selenil. Era forte a crença entre os heróis que os vultos, que viviam em uma cidade apoiada sobre uma rocha flutuante, tinham algo a ver com esta história.

A Espionagem

     No grupo que partiu para o norte, Dove explicou seu plano. Podia fazer dois dos aventureiros invisíveis. A idéia era descer a colina e espionar os orcs. Florin e Limiekli, considerados os mais furtivos, foram os escolhidos para a missão. Então Dove recitou algumas palavras de comando e articulou alguns gestos e os dois desapareceram. Os invisíveis desceram então a elevação e penetraram sem dificuldades no acampamento. Andaram pelo grande campo, que começava a se iluminar naquele começo de noite com o fogo de tochas acesas pelos soldados. Os heróis olharam a represa com atenção. Haviam muitos orcs trabalhando nela e pelo ritmo, parecia que entrariam noite adentro com o serviço. O fabrico de armas continuava e o martelar dos ferreiros preenchiam o crepúsculo com sons metálicos. Em um pátio, uma catapulta era construída. Foram ao outro ponto de interesse, uma cabana bem guardada onde o general orc de tapa-olho havia entrado. Se colocaram em uma janela e avistaram o goblinóide conversando com outro, bastante grande e forte, que também aparentava pelas vestes e postura, uma posição de destaque. Ouviram a seguinte conversa.

     “Não seja teimoso, Ortz. Não está vendo que está dando resultado!”, falou o do tapa-olho.      ”Junte-se a nós e podemos formar nosso império. Esqueça este lugar!”
     “Numoz, eu não conseguiria ser liderado por um humano. Não podemos.”
     “Não seja tolo. Essa liderança é temporária. Não vamos obedecê-lo para sempre!”
     “Mesmo assim. Veja lá fora. Temos outras oportunidades. Sempre quis atacar Evereska e este é o momento! Estes monstros podem nos ajudar. Você é quem devia trazer seu destacamento para cá ao invés de perder tempo com aqueles humanos!”
     “Sua vitória não está assegurada, Ortz. Pelo que me disse, estes monstros não conseguiram penetrar na Fortaleza Élfica. Esqueceu que ela é protegida pelos deuses dos elfos? Além do mais, trago boas novas. Vorik proclamou independência do território que conquistou em Cormyr. Chama-se agora Nova Gondyr. Ele proclamou-se rei e oficializou seu casamento com Tanatha, a sacerdotisa de Talos que o acompanha. Dizem que ele se converteu ao deus. E vários mercenários estão se unindo a nós. Depois disto tudo você ainda se recusará a vir conosco? Estes monstros irão se livrar de vocês assim que conseguirem o que querem! E esta represa que estão construindo? Que desperdício de força é este?”
     “É um plano, Numoz. Os elfos já devem estar sentindo a falta de água. Em quatro ou cinco dias a represa e a fortificação devem estar concluídas e em mais quatro chegarão mais phaerimns e reforços e podemos fazer um ataque. Eles nos prometeram que, depois de destruírem Evereska, removerão o objeto sagrado que protegem os elfos e poderemos matá-los. A Fortaleza Élfica passará a ser a nossa fortaleza. Acho a proposta deles mais interessante que esta tal Nova Gondyr de que você fala.”
     Numoz então deu de ombros e bocejou, abrindo a bocarra de dentes agudos.
     “Vou dormir agora e deixar você pensar. Quem sabe amanhã você não tenha outra decisão!”

     Como já haviam visto e ouvido o suficiente, Florin e Limiekli resolveram retornar ao topo da colina. Encontraram os companheiros apreensivos, em especial Sirius, que portava o arco e tinha várias flechas fincadas no solo, preparadas para um uso rápido, e que mantinha os olhos fixos no acampamento. Limiekli, aproveitou-se da invisibilidade e deu um leve tapa nas costas do amigo.

     “Sirius!”
     “Uai! Limiekli! Não faça mais isto!”
     “Desculpe. Não resisti.”, disse o ranger, que tornou a ficar visível. “Também queria testar o que Kariel me disse. Que voltaria a ficar visível caso atacasse alguém de alguma forma. Ele estava certo!”
     Dove cancelou o encantamento que ainda agia sobre Florin e perguntou ao marido.
     “E então, querido. Descobriram alguma coisa?”

     Florin contou-lhes tudo o que conseguiram descobrir no acampamento, sendo auxiliado por Limiekli. As revelações surpreenderam os aventureiros e uma atitude teria que ser tomada com urgência, antes que os planos dos orcs e phaerimns fossem levados a cabo. Esta noite seria de preparação e no novo dia, entrariam em ação.

Uma Emboscada no Desfiladeiro

     A manhã raiou para a equipe que acampava no montanhoso leste e os seis companheiros já estavam prontos para penetrar na cadeia de montanhas. Cavalgavam em direção a uma trilha, encravada em um pequeno desfiladeiro. Antes de chegarem ao destino, porém, Kariel usou um de seus sortilégios. Concentrou-se e tentou enxergar o panorama visto do alto de uma das montanhas. Sua magia surtiu efeito, mas em suas visões não notou nada de estranho. A exploração seria mesmo pelo método mais tradicional.

     Duas horas depois, seguiam o estreito caminho encravado entre as paredes de cerca de sete metros de altura. Estavam preocupados. O terreno era muito propício a emboscadas, ou ataques de feras. Para aumentar ainda mais a tensão daquela viagem, os ouvidos mais acurados dos elfos ouviram ruídos vindos do alto.

     “Ouvi algo lá em cima. Parecem o som de muitos passos.”, disse Mikhail.
     “Também ouvi. Farei uma verificação.”, disse Kariel.

     Antes que o elfo mago de cabelos azuis tomasse qualquer atitude, um pedregulho enorme despencou do alto, estava para atingir Storm. Magnus que olhava para cima, saltou do seu cavalo projetando seu corpo contra o dela e ambos caíram ao chão. O cavalo de Storm não teve a mesma sorte e foi esmagado pela pedra. “Agradeço pela ajuda Magnus, embora já tivesse visto a pedra.” Disse ela mentindo, pois como era uma dileta e filha de Mystra não queria parecer frágil diante de uma situação como aquela. Magnus, que estava em cima dela, saiu, embora em seu íntimo não quisesse.

     Kariel imediatamente desmontou, tocou em seu elmo encantado e ficou invisível. Em seguida aplicou sobre si um feitiço e lentamente começou a levitar e transpor a altura das paredes. O elfo então pairou acima do desfiladeiro e encontrou os agressores. Na parede esquerda haviam oito homens-lagarto, répteis humanóides, que tencionavam empurrar mais uma rocha. Então Kariel conjurou uma nova magia e uma parede de chamas surgiu, isolando o grupo de inimigos, deixando sem possibilidade de fuga, ao não ser que quisessem sofrer com o calor ou a altura da queda. Após lançar o encanto, o mago da Comitiva ficou visível novamente e recebeu pelas costas o ataque de três lanças. Porém, precavido que era, estava protegido por um sortilégio e nada sofreu. Virou-se e viu que na margem direita do desfiladeiro haviam mais sete homens-lagarto. Kariel revidou com outro feitiço e uma bola de fogo surgiu entre suas mãos e foi arremessada contra os répteis. O projétil flamejante explodiu e quatro das criaturas tombaram incineradas e as restantes foram feridas.

     Abaixo não havia muito o que fazer, já que uma escalada poderia demorar e deixar ainda mais vulnerável aquele que a tentasse. Porém Mikhail possuía um recurso. Seu cavalo inteligente Burgos. A montaria possuía, entre outras capacidades fantásticas, a de dar grandes saltos. Então Mikhail pediu e Burgos saltou. O elfo de Evereska e seu corcel branco aterrissaram no alto da parede direita do desfiladeiro e então brandiu seu martelo sagrado para bater-se com os três homens–lagarto que restavam.

     Kariel viu que Mikhail atacava os monstros da margem direita e voltou novamente sua atenção para aqueles rodeados pela parede de chamas do seu encanto. Lançou-lhes mais um de seus ataques mágicos e cinco esferas luminosas partiram das mãos do mago e explodiram nos oponentes, que não morreram, mas ficaram feridos. Resolveram seis dos monstros pegar suas armas e pular do alto da parede. Decidiram enfrentar a queda e os inimigos que estavam abaixo do que ficarem ali e serem alvos fáceis daquele oponente que flutuava e que fazia tantas outras coisas para quais não estavam preparados e nem compreendiam. Alguns se machucaram ao cair, mas em seguida se recompuseram e empunharam suas armas. Dois oponentes foram ao encontro de Galtan e dois contra Magnus. Storm e Brian enfrentavam um cada. Storm defendeu-se de uma investida da lança do réptil, e em um rápido golpe, fincou sua espada no coração da criatura. Magnus e Galtan também conseguiram evitar os ataques e desfiram potentes golpes, derrubando um inimigo cada. Brian, apesar de sua habilidade, encontrou maiores dificuldades, pois o homem-lagarto que o atacava não estava muito ferido e desviava com maestria da lâmina de sua espada.

     Kariel, ainda flutuando, retirou seu arco das costas e disparou setas, matando os inimigos que ainda haviam na parede esquerda, enquanto Mikhail acabava de derrotar seus três oponentes. Ambos então desceram para auxiliar os outros, mas já não havia nada para fazer. Galtan e Magnus haviam eliminado seus oponentes e o que lutava com Brian, largou sua arma e rendeu-se.

     “Esta criatura pode saber de alguma coisa! Alguém sabe a linguagem destes seres?”, perguntou Brian. A resposta foi negativa.
     “O que vamos fazer com ele?”, quis saber Galtan.
     “Vamos levá-lo preso, não quero sofrer uma nova emboscada.”
     “Amarrem-no e vamos prosseguir.”, decidiu Storm.

     Então a companhia continuou o seu rumo, em meio ao vale pedregoso. Em busca da solução dos misteriosos acontecimentos que poderiam, quem sabe, serem a chave para salvar Evereska e Faerûn das terríveis ameaças que se abateram nos últimos tempos.

Forças Sinistras

     Khelben continuava sua jornada por entre aquela cidade esquecida, no percurso, enfrentou outra série de mortos vivos. Em seguida, combateu um pequeno contingente de esqueletos em armadura. Neste combate, os sortilégios do arquimago invocaram alguns seres bestiais que o auxiliaram na vitória contra os adversários. Depois enfrentou algumas sombras e almas perdidas enviando-as para os portões de Hades, até que finalmente chegou a uma estrutura que chamava a atenção. Era um pequeno prédio, assemelhava-se a um templo, detalhe que deixou Khelben receoso, embora não pensasse ainda em recuar. Empurrou o portão e entrou. Escuridão foi apenas o que presenciou, mas aquilo não representava problema, pois com um pensamento, o mago fez surgir na ponta de seu cajado uma luz. Revelou-se uma ante sala, suja e cheia de poeira, como se ninguém estivesse lá por milhares de anos. Passou por ela, chegando a um enorme corredor, lá defrontou-se com novos seres das trevas. Um bando deles, homens e mulheres, todos bem vestidos e com uma característica em comum, enormes dentes caninos e olhos vermelhos. Atacaram com uma fúria incrível. Estavam insaciáveis, queriam sangue. Khelben conjurou um vento gélido que paralisou alguns e logo em seguida usou o fogo sob a forma de uma esfera em chamas que explodiu ceifando a vida da maioria, outros pereceram de outras formas. O caminho estava livre.

     Desceu ele uma grande escadaria que o levou numa ampla sala. Um ambiente ornado com pinturas, tapetes e esculturas esboçando uma cultura milenar da qual Khelben começava a suspeitar da qual se tratava. Resolveu ele investigar o lugar para determinar sua origem, poria em prática seus conhecimentos históricos. No entanto, as ameaças ainda não haviam terminado. Enquanto vislumbrava uma pintura na sala, num outro extremo do cômodo, duas figuras surgiram. Ambos trajados com roupas finas enfeitadas com jóias, embora se apresentassem velhas. Nas suas faces pouca carne tinha. Por trás de suas órbitas vazias podiam ser vistos, ao invés de olhos, pontos luminosos. Suas mãos eram apenas ossos.

     “É muito tolo ou muito corajoso ao vir aqui Khelben de Águas Profundas.”, disse um deles.
     Ele olhou de espanto dizendo:
     “Levem-me até seu mestre. Desejo falar-lhe apenas, não há motivo para confrontos.”
     “Ha, ha, ha! Ora, você achou que o receberíamos de braços abertos? Acabou de selar seu destino mortal”, falou o outro ser gesticulando, a dizer palavras arcanas.

     Com a luz do cajado de Khelben foi possível distinguir de que se tratavam de liches, seres nefastos do mal que dominam a magia com maestria. Era hora do mago lutar de verdade. Com uma palavra chave acionou alguns feitiços que o protegeriam de ataques mágicos. E medida foi providencial, pois um raio vermelho o mataria se Khelben não o rebatesse de volta para o atacante, que, porém, nada sofreu. O outro aproveitou a deixa e tentou prendê-lo numa jaula de energia, mas o arquimago era favorecido por Mystra e aquele feitiço nada faz a ele. Entre os dois liches atacantes surgiu um novo adversário, um ser de três metros de altura, era sem vida e todo feito em aço. Os arcanos o conheciam por golem. O gigante seguiu em direção a Khelben, enquanto os liches fizeram um sinal para o outro. Um deles disparou um encantamento visando quebrar as proteções de Khelben, mas este, muito habilidoso, teletransportou-se para outra extremidade da sala escapando. Porém, malditas eram as artimanhas meticulosas dos liches, ao escapar de um feitiço, o outro lich esperou o arquimago aparecer em outro ponto e disparou seu encanto. As proteções mágicas de Khelben cessaram. Tentou ele se recompor, mas novos encantamentos foram realizados. Um deles jogou Khelben de encontro ao golem, que impiedosamente deu-lhe alguns socos poderosos, deixando Khelben desfigurado. O punho devastador do golem foi a última coisa que Khelben viu, antes que tudo escurecesse


Esta história é uma descrição em teor literário dos resumos de aventuras jogadas pelo grupo Comitiva da Fé em Salvador sob o sistema de RPG Advanced Dungeons & Dragons.

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