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O Lorde Supremo

Descrita por Ricardo Costa e Ivan Lira.
Baseada no jogo mestrado por Ivan Lira.


Personagens principais da aventura:

Os Humanos: Magnus de Helm; Sirius Lusbel; Sigel O'Blound (Limiekli), Sir Galtan de Águas Profundas, Brian Mestre das Espadas. Os Elfos: Mikhail Velian; Kariel Elkandor. O Halfling: Bingo Playamundo. Participação Especial: Khelben "Cajado Negro" Arunsun, Laeral Mão Argentêa, Storm Mâo Argentêa, Florin e Dove Garra da Falcão.


O Lorde Supremo
     

     A Comitiva da Fé dividiu-se em dois grupos, em missões diferentes para tentar salvar Evereska e o restante de Faerûn das ameaças dos phaerimns e dos vultos de Obscura.

      Um dos grupos era formado por Florin e Dove Garra de Falcão, Limiekli, Sirius e o halfling Bingo. Eles haviam partido para o norte, cruzando florestas, no intuito de investigar o súbito decréscimo do nível do rio Estrela Crescente, que abastecia Evereska. Encontraram uma represa, soldados orcs, armas e um dos terríveis phaerimns, tudo parte de um ardil, enfraquecer a fortaleza élfica e atacá-la. Naquele momento planejaram uma investida para evitar que o plano dos inimigos fosse levado a cabo.

      A outra equipe, composta pelos aventureiros Storm Mão Argêntea, Brian Mestre das Espadas, Sir Galtan, Magnus, Kariel e Mikhail foram ao sul, atravessando uma região montanhosa, em busca de pistas sobre os vultos. Encontraram uma emboscada montada por homens-lagartos em um desfiladeiro e fizeram um prisioneiro, mas não haviam descoberto nada de novo e prosseguiam a jornada em meio trilha pedregosa.

      Além destes esforços, havia o de Khelben. O arquimago de Águas Profundas penetrou em um dos mais perigosos (senão o mais perigoso) covis dos Reinos para obter informações preciosas. Mesmo deuses temeriam ao empreender tal tarefa que no momento era realizado pelo poderoso arcano.

Em Algum Lugar na Costa da Espada

      Existência, um conceito extraordinário, é ainda um mistério para os seres viventes, presenteia aqueles considerados amantes da vida, e amaldiçoa outros, encarcerados em destinos terríveis. Khelben Arunsun, apesar de viver por muitos séculos, ainda não sabia qual era sua posição no esquema cósmico, mas descobriu que ainda estava vivo quando despertou. Percebeu algo estranho, enxergava apenas com sua vista direita. Tentou abrir o olho esquerdo, foi inútil. A parte esquerda de sua face estava um tanto dormente, mas foi suficiente para que ele sentisse um pouco de sangue escorrendo da sua órbita ocular esquerda. Foi então que deduziu que não possuía mais o olho esquerdo, provavelmente deve ter saltado para fora com o golpe devastador do golem. Receber um soco de alguém feito de aço não foi uma experiência agradável.

      A questão mais intrigante era o porquê de ainda estar vivo. Tentou mover a cabeça. Em vão. Estava preso por um encantamento, num trono feito em rocha. O ambiente estava escuro, exceto por uma luz que iluminava a área do trono num raio de quatro metros. O arquimago esboçou um sorriso, pensou ele ter conquistado a atenção do anfitrião. Talvez suas preces estivessem atendidas, pois naquele momento ele ouviu passos de alguém que se aproximava lentamente. Chegou aos limites da luminosidade de modo que Khelben só conseguia ver botas e o final de uma capa negra por trás delas.

      "Acha que eu devo me surpreender com sua perseverança? Se sim, então é um tolo, sua existência nada significa para mim." Disse uma poderosa voz.
      "Não, não imaginei esta reação, mas resolvi explorar esta pequena possibilidade. Deve admitir que existe um motivo para eu estar vivo ainda, não é mesmo, Larloch?"

O Veneno do Xamã

      O grupo do norte estava reunido ainda no alto do morro e planejava. Sabiam que tinham pouco tempo. A presença de um general orc e a quantidade de armas avistadas por Florin e Limiekli davam a entender que um outro batalhão se juntaria aos trezentos goblinóides que guardavam e trabalhavam naquele local.

      "Podíamos atear fogo nos galpões dos orcs. Isto criaria uma distração para que alguns de nós pudesse destruir a represa.", sugeriu Sirius.
      "Pode ser uma boa idéia.", opinou Florin.
      "Minha preocupação é sobre como vamos fugir. Se não fosse a forte correnteza e o fluxo de água que será liberado da represa poderíamos escapar pelo rio..."

      O debate foi interrompido, pois uma movimentação ocorreu no acampamento abaixo. Novos orcs, seis deles, montados em cavalos, chegaram da estrada nas montanhas. Eles desmontaram e, mesmo ao longe, foi possível para os aventureiros identificarem pelas vestes de um deles, que se tratava de um xamã, um goblinóide com artes de feitiçaria. Coisa boa não deveria ser. Logo que estes chegaram, os orcs que estavam no acampamento se movimentaram. Entraram em galpões e retiraram grandes caldeirões de cobre enegrecidos. Os colocaram em cima de pilhas de lenha, encheram com água e ingredientes exóticos e começaram uma fogueira. Os heróis olharam de seu esconderijo elevado.

      "Dove. Você que conhece magia, sabe que diabos estes orcs estão fazendo?", perguntou Limiekli.
      "Espere.", Florin retirou da bainha a sua espada, apontou em direção aos caldeirões e concentrou-se. A magia de sua lâmina agiu e em seguida ele anunciou.
      "Não tenho muita certeza, mas aquilo que estão produzindo me parece veneno. Litros e litros de veneno."
      "Eles vão envenenar o rio e a cidade! Temos que ser ainda mais rápidos.", constatou Limiekli.
      "Minha sugestão é a seguinte: Florin, Bingo e Limiekli, que são os mais furtivos entre nós, podem descer e atear fogo nos arsenais. Eu me encarrego de destruir a represa, e Sirius pode nos dar cobertura disparando flechas daqui mesmo. Vamos deixar nossos cavalos em locais estratégicos para a fuga.", arquitetou Dove.
      "Tem certeza que pode destruir a represa sozinha?"
      "Sim Sirius, não se preocupem quanto a isso. Apenas não fiquem perto dela."
      "E enquanto aos generais? E o veneno?"
      "Limiekli, não sei se haverá tempo para tudo isso. Vamos fazer o que pudermos", disse Florin.
      "Talvez consigamos derrubar os caldeirões na fuga.", colocou Sirius.
      "Mas somos cinco. Já teremos feito muito se conseguirmos colocar em prática este plano."
      "Bom. Então vamos atacar estes orcs!", falou Limiekli, retirando da bainha sua espada.

Uma Caverna nas Montanhas

      Storm, Brian, Galtan, Magnus, Kariel e Mikhail, que formavam o grupo que percorria as montanhas em busca de vestígios dos vultos seguiam pela trilha encravada entre paredões rochosos. Levavam um prisioneiro, um homem-lagarto do qual não conseguiram extrair nenhuma informação. O dia estava muito quente e o sol castigava especialmente aqueles que usavam armaduras.

      O caminho terminou na entrada de uma caverna ao pé de uma imensa montanha, o que deixou os heróis com duas possibilidades para continuarem o seu percurso em direção ao norte: entrar naquele lugar, ou realizar uma escalada longa e muito difícil na íngreme rocha.

      "Será que dentro desta caverna existe uma passagem para o outro lado da montanha?", perguntou aos demais Sir Galtan.
      "Devemos investigar!", disse Magnus.
      "Confesso que estou cansado de entrar em cavernas. Entramos em uma delas na Floresta das Aranhas, no Vale da Adaga e na Floresta Alta. Desta maneira, acabarei me transformando em um drow!", comentou Kariel.
      "Fico imaginando o que pode sair deste buraco.", Mikhail refletiu.
      "Vamos fazer um reconhecimento", falou Storm, a primeira a entrar.

      Storm acendeu sua lanterna e afastou parte das trevas que envolviam aquele ambiente. Agachou-se e analisou o terreno. Em seguida, levantou-se e retirou do bolso um pequeno pedaço de tecido. Levantou a proteção de vidro da lanterna, jogou o trapo no fogo e observou a direção tomada pela fumaça. Em seguida fechou novamente a lanterna e foi falar com os demais que aguardavam na entrada.

      "Podemos ir, mas os cavalos não poderão seguir. O terreno é muito acidentado."
      "Vamos deixá-los aqui. Burgos poderá tomar conta deles.", disse Kariel, se referindo a montaria encantada de Mikhail.
      "Sim. Burgos, cuide dos cavalos. Em caso de algum ataque, conduza-os para um lugar seguro."
      "O que está fazendo? Está falando com o cavalo? Seu cavalo pode compreendê-lo?", perguntou Storm espantada.
      "Pergunte ao próprio Burgos, Storm.", brincou Kariel com a situação.
      "Digamos que este é um cavalo especial, Storm."
      "Ainda bem que sabe disso, Mikhail!", falou Burgos sarcasticamente com sua voz grave para o olhar ainda mais supresso de Storm.
      "Bem... err... então Burgos... tome conta dos cavalos.", pediu uma Storm encabulada, que nunca havia falado com um cavalo antes. Entretanto fez um carinho no animal como gratidão.
      "Ainda bem que não trouxe meu unicórnio. Detestaria tê-lo que deixar aqui.", disse Magnus.
      "Um tem um cavalo falante, outro um unicórnio? Como é intrigante essa Comitiva! Cheia de segredos!"
      "Não somos um grupo comum de aventureiros, Storm."
      "Estou percebendo isto, Kariel. Queria ter estado com vocês durante a batalha contra Bane."
      "Não deveria querer. Aqui foi uma luta terrível."
      "Eu sei, mas já enfrentei o filho de Bane, Xvim, tempos atrás, quando ele não tinha status divino. Soube que foram vocês que o aniquilaram. É verdade?"
      "Sim. Graças a espada Hadryllis, que infelizmente foi destruída.", respondeu Kariel.
      "Vocês derrotaram Xvim, a divindade? A cada dia esta Comitiva me surpreende mais!", disse Sir Galtan, impressionado.

      Terminada a conversa, entraram na caverna. O ambiente era iluminado pela lanterna de Storm, que havia sido passada para as mãos de Galtan, e pelo brilho esverdeado da espada de Kariel. Seguiam pelo corredor principal, que era inclinado e lentamente descia.

      "Será que este corredor não nos levará a um lugar sem saída?", perguntou Kariel.
      "Já fiz uma verificação e existe uma corrente de ar vindo do interior da caverna, o que significa que existe uma passagem em algum lugar", disse Storm.
      "Então, prossigamos!"

      Desceram o corredor e encontraram uma ampla câmara de formato mais ou menos circular. Havia, no nível dos exploradores, uma fenda no chão que separava parte do salão de outra passagem. Nesta falha havia uma rústica ponte feita de madeira e cordas. Mas as paredes do salão também chamavam atenção. Eram altas e cheias de buracos e níveis.

      "Que Helm nos julgue! Isto aqui é um labirinto!"
      "Se não nos cuidarmos nos perderemos. Vamos marcar a nossa passagem nas rochas, assim poderemos encontrar novamente a saída!"

      Mikhail retirou um pino metálico de escalada e, com golpes de seu martelo, gravou em uma rocha próxima ao corredor de onde vieram, uma seta e um caracter élfico, que simbolizava a saída. Havia então a ponte e os heróis puseram-se diante dela. Existia o receio de que as madeiras e cordas não suportassem o peso daqueles que trajavam armaduras, principalmente a ostentada por Sir Galtan, feita com pesadas placas de metal. Mikhail e Kariel, elfos que eram e portanto mais leves que os seus companheiros humanos, foram os primeiros a passar e certificaram que o caminho oferecia segurança. Em seguida, atravessaram os humanos. Foram pela passagem logo após a ponte e percorreram mais uns doze metros de corredor, até chegarem em outra câmara, bem semelhante a anterior.

      Haviam muitas passagens e de pronto uma dúvida surgiu sobre que direção seguir. Porém, não houve tempo de se tomar uma decisão. Kariel, por sorte, olhava para o alto quando percebeu uma enorme pedra cair do alto na direção de Sir Galtan de Águas Profundas. O elfo de cabelos azuis então deu um salto sobre o humano. O impulso foi suficiente para deslocá-lo da trajetória mortal da rocha e para fazê-los cair a salvo do impacto. Mas outras pedras foram arremessadas do alto. Homens-lagartos se posicionavam nos níveis superiores da câmara, em nichos escavados nas rochas, e atacavam os heróis. Uma verdadeira avalanche se precipitava sobre a Comitiva. Mikhail, percebeu a pedra que foi arremessada contra ele e conseguiu se desviar, mas a mesma sorte não teve Magnus, que foi salvo no último segundo por Storm que, em uma atitude desesperada, atirou-se na frente do paladino e recebeu o impacto do pedregulho. Kariel, Galtan e Mikhail, que agora procuravam ficar encostados na parede para evitar serem atingidos, puderam ouvir o som de alguns ossos de Storm se partirem. Brian Mestre das Batalhas, o comandante das forças de Águas Profundas, também desapareceu em meio aquele desabamento. Os três companheiros que se salvaram das pedras não puderam acudir os amigos, pois as rochas permaneciam caindo e, fatalmente, também seriam atingidos.

      Como se não bastasse a armadilha covarde dos inimigos, passos eram ouvidos nas passagens e, pouco tempo depois, uma multidão de homens-lagartos começou a invadir a câmara. Kariel, Galtan e Mikhail tiveram que tomar uma difícil decisão: como não poderiam lutar contra todo aquele contingente, teriam que fugir e abandonar seus amigos. Então entraram em uma das passagens e correram. Seus corações eram oprimidos pela dor de deixar seus companheiros naquela situação incerta, mas era claro que, caso ficassem, morreriam. Restava-lhes a esperança de que eles, no último instante, tivessem conseguido se esgueirar por algumas daquelas passagens e que estivessem vivos em algum lugar.

      Enquanto fugiam por um estreito corredor, eram perseguidos pelos homens-lagartos, que arremessavam lanças. Algumas delas atingiram Mikhail e Galtan, causando-lhes ferimentos. Kariel também foi atingido, mas sob a proteção de um sortilégio, não chegou a se ferir. Ele pediu para que seus companheiros continuassem correndo, enquanto invocava um encanto. O elfo Escolhido de Mystra então voltou-se para trás, recitou algumas palavras arcanas, gesticulou e apontou para o início do corredor. De suas mãos partiu uma poderosa rama de eletricidade que atingiu seis oponentes. Quatro deles morreram carbonizados e outros dois saíram com ferimentos. Porém, além dos dois sobreviventes, haviam outros e cada vez mais homens-lagartos entravam no corredor.

      "Kariel !, chamou Galtan." Não posso correr com esta armadura e tirá-la requer tempo. Este corredor nos dá vantagem. Vamos lutar e ver se o inimigo desiste."
      "Vamos resistir. Se conseguirmos, poderemos voltar e procurar pelos outros."
      "Podemos tentar, Mikhail!", disse o elfo aproximando-se de seus companheiros.

      Então sacaram suas armas. Haviam cinco inimigos armados com alabardas que vinham na direção dos heróis, e em seguida, mais cinco despontaram do corredor. Entre os primeiros, um bateu-se contra Kariel, dois atacaram Mikhail e os dois restantes investiram contra Galtan. O primeiro réptil desceu sua arma contra Kariel, que além de magia entendia um pouco da arte dos combates. O Escolhido de Mystra desviou-se do golpe do adversário e com sua espada Goliath atingiu o flanco da criatura que, já ferida pelo feitiço lançado anteriormente, não suportou o ataque e tombou. Mikhail tentava utilizar seu martelo para aparar os golpes que recebia dos adversários. Aproveitou o clérigo da natural dificuldade dos homens-lagartos no manejo de suas armas de grande tamanho em um espaço tão exíguo, e revidou bem os golpes. Foi ferido, mas conseguiu abater os dois oponentes. Galtan também venceu o seu combate. Matou o outro homem-lagarto sobrevivente da magia de Kariel e usou seu corpo como escudo improvisado. Defendeu alguns golpes desta forma, conseguindo o revide e a derrota do adversário.

      Os cinco estavam mortos, mas vinham mais seis. E agora, no início do corredor, apontavam mais dez criaturas. Mikhail usou de um de seus encantos divinos e dois homens-lagartos foram imobilizados. Dois foram abatidos pela espada de Galtan, um pela Kariel e outro pelo martelo de Mikhail. Os outros dez oponentes que se aproximavam de repente pararam e encostaram-se nas paredes do corredor rochoso. Eles abriram passagem para uma criatura que acabava de entrar: um grande lagarto, avermelhado, com cerca de sete metros de comprimento, que preenchia a largura do corredor e rastejava na direção dos três aventureiros.

      "Que coisa é aquela!?"
      "Não sei, Mikhail, mas acho que vamos descobrir."

      Kariel lançou um outro encanto. Desta vez, o ar no corredor tornou-se frio e o teto na área onde estavam os homens-lagartos e o monstro enviado por eles tornou-se coberto de uma neblina densa. Em seguida, despencaram violentamente sobre os répteis grandes pedras de granizo, causando-lhes traumatismos que mataram sete inimigos. Três escaparam e avançavam juntamente com o lagarto titânico.

      O grande réptil então mostrou seu poder. Abriu sua bocarra cheia de dentes pontiagudos e de suas entranhas saiu um jato de fogo em direção aos desafortunados aventureiros. Galtan conseguiu esquivar do jato de chamas, mas o mesmo não ocorreu com seus companheiros. Kariel e Mikhail foram atingidos e este último foi quem mais sofreu ferimentos. Após o ataque, mais cinco homens-lagartos entravam pelo corredor. Os heróis, com o acumular da injúrias sofridas pelos seus corpos e com os incessantes reforços dos inimigos, começavam a achar que aquela batalha talvez não pudesse ser vencida. Esperavam que, talvez morto o lagarto, os inimigos se acovardassem e enfim recuassem e por isto decidiram investir contra a criatura gigante, porém antes tinham que vencer os três homens-lagartos que estavam próximos. Cada um lutou contra um adversário e levaram relativa vantagem, pois os répteis estavam já consideravelmente feridos, devido a tempestade de gelo invocada poucos minutos atrás por Kariel. Conseguiram derrotá-los, mas o grande lagarto lançou-lhes outra rajada de fogo. Desta vez, Kariel e Galtan foram os mais atingidos. O cavaleiro não suportou o ataque e caiu ao solo, a beira do fim. A situação era desesperadora e não iria demorar muito até que as garras da morte alcançassem aqueles membros da Comitiva da Fé. Sabiam que havia o momento de lutar, mas também o de recuar. Este último era o que se apresentava para eles e então planejaram rapidamente.

      Mikhail invocou uma das propriedades de seu martelo encantado e um raio fulgurante de luz deixou a arma e preencheu o corredor na direção dos inimigos. Os répteis ficaram temporariamente cegos devido a intensidade daquela luminosidade. Foi então que o clérigo de Mystra aproximou-se de Galtan e usou uma oração que fechou alguns ferimentos e o fez recobrar a consciência. Ao mesmo tempo que o amigo curava o cavaleiro de Águas Profundas, Kariel fez surgir magicamente no corredor um dos cavalo que estava do lado de fora da caverna. Subiram os três na montariam e partiram a todo galope em fuga pela estreita passagem.

Uma Imortal à Beira da Morte

      No momento do desmoronar de pedras, apesar de Storm ter salvo Magnus, o paladino não ficou isento do perigo, uma segunda rocha o atingira na cabeça e outra na face machucando-o bastante. Ambos, com o violento impacto, foram jogados em um dos inúmeros buracos que ali haviam, dali desceram rolando por estreitos túneis verticais.

      Minutos depois, havia apenas escuridão, Magnus lentamente acordou, levou a mão a face e logo tirou, pois sentira uma dor lancinante. Isso ao mesmo tempo estava sentindo o sabor de seu sangue nos lábios, começou a tatear ao redor e disse "Storm! Storm! Você está aí?". Uma voz muita baixa e engasgada respondeu "Aq... aqui."
      "Storm! Você está bem? Mal consigo ouvi-la."

      Não sabia o paladino mas Storm estava a poucos metros dele. Ela não conseguia se mover, com exceção de sua mão direita. Em desespero, fez um esforço tremendo e conseguiu pronunciar algumas palavras arcanas e então surgiu uma luz no ambiente. Magnus agora podia enxergar, no entanto, ver era um recurso doloroso naquele momento, pois quando surgiu a luz, o paladino viu o corpo de Storm. A guerreira e harpista se encontrava com o corpo quase todo quebrado. Era perceptível ver ossos saindo de suas pernas, o mesmo ocorria com seu braço esquerdo. A face dela estava quase que completamente desfigurada com a pouca carne que tinha.
      "Por Helm! Storm!" Espantou-se o paladino aproximando-se dela, "Tenho que fazer alguma coisa o quanto antes."

      Queria a harpista poder falar naquele momento, mas seu último esforço a impedira, sua mandíbula estava partida. Ia dizer a Magnus que não fizesse nada, pois era favorecida de Mystra e uma de suas dádivas era recuperar-se de uma forma incrível, contudo existiam limites até mesmo para os Escolhidos. Seus ferimentos pioravam mais rápido do que se recuperavam. Tentou ela dizer mais alguma coisa, mas seu esforço piorou a situação, vomitou uma grande quantidade de sangue. Seus pulmões estavam perfurados por suas próprias costelas. Ao ver isso, Magnus ficou apavorado. Ela mais ainda, naquele momento muita coisa passava em sua mente. Lembrou-se de sua mãe antes de partir, absorveu recordações de quando recebeu seus primeiros ensinamentos arcanos e da época em que resolveu ostentar o símbolo dos Harpistas, depois de tanto desespero, começara a aceitar a morte. Mas foi naquele instante que o Paladino colocou a mão no tórax dela e disse:
      "Helm! Peço clemência! Não leve esta jovem para os portões da morte! Era a mim que a morte queria! Ó Vigilante, cura as enfermidades desta donzela e devolve sua beleza."

      Como um guerreiro sagrado, Magnus usou seu dom divino mais uma vez, dom este que sempre salvou a ele e seus companheiros, e naquela circunstância era a única coisa a se fazer. Uma luz irradiou de sua mão e de forma fantástica, as mazelas de Storm começaram a se fechar, se renderam a fé do paladino. Os ossos voltaram para seus lugares, a carne se prendia novamente e sua pele se fechava. No fim, apenas contusões e pequenos hematomas ficaram, embora incomodassem pouco diante da situação.

      O esforço fora brutal para Magnus, pois ele também estava ferido, havia usado suas últimas energias, portanto caiu de lado. Storm, ainda assustada com tudo, disse angustiada "Não! Não pode ser!" Se lembrara que ainda tinha uma poção mágica de cura, então não pestanejou em derramá-la na boca de Magnus. Ela o apoiou abraçando-o e despejou o recipiente, um milagre acontecera, o ferimento na face e na cabeça do paladino sumira, sortilégio dos alquimistas. Apesar disso ele permaneceu inconsciente e com alguns ferimentos pelo corpo. Storm levou a cabeça do guerreiro ao seu colo e ali o deixou adormecido. Por um momento ficou apreciando sua beleza, fez um carinho nos seus cabelos e ali ficou.

O Ataque ao Acampamento

      Os últimos raios de sol abandonavam aquele dia na floresta. O ataque estava planejado e agora era o momento de agir. Limiekli, Florin e Bingo iam atear fogo aos arsenais dos goblinóides no acampamento, enquanto Dove destruiria a represa e Sirius ofereceria distração e cobertura com suas flechas. Antes que os três descessem morro rumo o acampamento, Dove os chamou.

      "Posso usar encantos que farão dois de vocês invisíveis. Mas um deverá ir sem esta ajuda."
      "Pode usar neles, Dove. Eu posso me virar!!", respondeu Florin à esposa.

      Dove então executou alguns gestos e Limiekli e Bingo desapareceram. Em seguida, os três começaram a descer o morro em direção as cabanas de madeira montadas pelos goblinóides.

      Limiekli chegou próximo a um galpão de madeira, cuja porta era guardada por um goblin. Aguardou até que o sentinela, por poucos minutos, se ausentasse de seu posto. Entrou e fechou a porta novamente. Haviam dentro do depósito vários sacos com mantimentos e armas, acomodados sobre um forro de palha que cobria o chão e protegia contra a umidade do solo. Limiekli então agachou-se e retirou do cinto suas pederneiras. Bateu as pedras e uma fagulha saltou em direção a palha seca. Com um sopro do ranger, a pequena fagulha cresceu e tornou-se chama. O incêndio então começou. Limiekli pôs-se a fugir por uma janela que havia. Do lado de fora pôde observar que haviam outras duas cabanas que começavam a se iluminar pelas labaredas. Seus amigos Florin e Bingo também haviam conseguido levar a cabo a missão.

      Logo o acampamento se alvoroçou. Orcs e goblins gritavam e corriam. Também viram riscar no céu flechas incendiárias, que atingiam as construções e matavam alguns inimigos. Era Sirius, que do alto do morro disparava o seu arco, aumentando a balbúrdia. Em meio a confusão, Limiekli pôde ver que um contigente de guerreiros orcs se aglomerava em um determinado ponto do acampamento. Aproximando-se, observou que os inimigos lutavam contra Florin e Bingo, que já estava novamente visível. Tirou então a besta que carregava nas costas, armou-lhe flechas e pôs-se a dispará-las contra as criaturas, tornando-se, ao primeiro ataque, também visível.

      No alto do morro, Dove havia desaparecido para surgir bem próximo a represa que estava sendo construída. A aventureira aproximou-se da estrutura de madeira e cordas e tocou em um grande tronco, que servia de sustentação para a construção e afastou-se. Em seguida, sem motivo aparente, a madeira desapareceu e sua ausência fez arruinar o restante da obra, que foi levada pela força das águas represadas. Dove observava a represa sendo destruída quando aproximou-se pela suas costas o phaerimm, que havia sido visto no acampamento na noite passada. Pretendia a maléfica criatura mágica um ataque furtivo. Dove percebeu e magicamente desapareceu para surgir em seguida no alto, acima do inimigo e, com o efeito de outro encanto, acertar-lhe seis golpes certeiros com sua espada bastarda, em uma velocidade impossível de ser atingida por meios comuns. O orc xamã, vendo a situação, também tentou acertar a ranger com um feitiço, mas esta, muito experiente, deu um salto acrobático esquivando-se e o feitiço direcionou-se ao phaerimm, que por sua vez o ignorou. Dove aproveitou o impulso e aplicou dois potentes golpes fazendo o monstro cair inerte ao chão, inerte para sempre. Foi em direção ao xamã e o impalou, jogou seu corpo ao lado como uma carcaça velha. Em seguida, a aventureira correu, ainda sob o efeito da velocidade invocada pela magia, para o centro do acampamento. Estava preocupada com o marido e com os outros e queria ajudá-los.

      Os goblinóides perceberam de onde vinham as flechas incendiárias que se abatiam sobre eles e cerca de vinte deles rumaram na direção onde Sirius estava. O aventureiro então direcionou seu arco para os novos alvos: orcs e goblins que corriam a toda velocidade, morro acima, para alcançá-lo. As flechas de Sirius eram rapidamente disparadas e quase sempre eram certeiras. Os corpos iam caindo, mas os sobreviventes chegavam cada vez mais perto. Até que dois goblins e um orc restantes chegaram a distância curta, onde o arco era inútil. Sirius então trocou de arma e sacou sua espada para enfrentar os adversários. Esquivou-se do ataque de um machado e aproveitou o movimento para atingir as costas do seu agressor, um robusto orc. A lâmina penetrou fundo e logo foi retirada para ser usada contra os goblins. O orc, que já possuía algumas flechas espetadas no corpo tombou. Sirius lutou contra os goblins e após alguns poucos minutos de combate, conseguiu também derrotá-los. Sem demora, olhou para o campo do alto de sua posição privilegiada, procurando seus amigos. Viu a multidão de orcs em torno de Florin e Bingo. E mais. Viu também quando o general orc que chamava-se Numoz afastou-se da luta, subiu em um cavalo, seguido por alguns soldados e quando um deles capturou o pequeno Bingo, levando-o embora na garupa de sua montaria. Dezenas de outros orcs e goblins seguiram seu líder e deixaram o acampamento cavalgando, reduzindo consideravelmente o número de adversários. Desceu então o morro Sirius, espada em punho, pois seus olhos não encontraram Limiekli e temia que ele não estivesse mais vivo.

      Porém, o ranger vivia. Não usava mais a besta, e valia-se agora de sua espada. Combatia corpo-a-corpo contra três inimigos. Sua habilidade na arma, fruto de seus anos de combate no exército de Zenthil, fizeram a diferença e os goblinóides tombaram, ainda que tivessem conseguido provocar alguns ferimentos. Limiekli não via mais Bingo. Não sabia o que tinha acontecido com o pequenino, mas sabia que ele era esperto e podia ter se ocultado em algum lugar. Entrou em uma cabana, próxima ao combate. Reconheceu o lugar em que ouvira, na noite passada, a conversa entre os generais orcs. Não achou Bingo, mas encontrou algo: o cadáver de Ortz, o general que liderava o acampamento, jazendo em seu leito. Não havia marcas nem cortes, o que fez Limiekli suspeitar de magia ou veneno. Havia um prato de comida e Limiekli procurou sentir algum odor conhecido. Reconheceu um tipo de veneno, retirado de uma erva que tinha familiaridade em sua vida na floresta. Os orcs eram traiçoeiros e, de vez em quando, provavam eles próprios de sua maldade. Limiekli então subiu no parapeito da janela e de lá escalou até o telhado, conseguindo assim um bom posicionamento para atirar com sua besta nos inimigos que enfrentavam Florin.

      A ajuda era bem vinda, mas Florin saía-se bem, condizente com sua fama e experiência de herói conhecido e membro dos Cavaleiros de Myth Drannor. Lutava em grande desvantagem, mas aos seus pés jaziam dezenas de corpos de orcs. Dove também vinha a seu socorro e conjurou um encanto poderoso. Uma bola de fogo surgiu em suas mãos e voou em direção de um grupo de inimigos, incinerando-os. Em seguida, sacou sua espada e começou a lutar.

      Com a debandada dos soldados de Numoz, a fuga de outros tantos e as baixas proporcionadas pelos heróis, especialmente Florin e Dove, existiam agora pouco mais de uma dezena de orcs. Destes, os que não foram abatidos correram em direção a floresta. Os vitoriosos então puderam abaixar suas espadas e respirarem.

      "E agora. O que faremos com veneno?", perguntou Sirius, apontando para os caldeirões colocados a céu aberto.
      "Podem derramá-los no chão!", respondeu Florin, sendo atendido por Sirius, que com forte pontapé, virou a gigantesca panela de cobre.
      "Eu encontrei o tal de Ortz, o general orc. Ele está morto naquela cabana.", disse Limiekli apontando, "Parece que foi envenenado!"

      Então foram todos a cabana do desafortunado general e viram seu corpo. Também coletaram alguns papéis que estavam em um móvel do quarto.

      "Havia uma proteção mágica agindo sobre esta área. Quando chegamos ela foi ativada e nossa presença foi revelada. Por isto eu e Bingo fomos cercados. Mas antes disto, Numoz envenenou Ortz.", disse Florin
      "Talvez ele quisesse ficar com o controle de todos os orcs e atacar Evereska!", sugeriu Limiekli.
      "Não creio. Numoz foi claro. Ele quer levar seus soldados para se unir a Aris."
      "E Bingo!? Para onde foi levado?"
      "Existe um lugar onde podemos procurá-lo. Ouvi Numoz mencionar quando passei por perto da barraca... chama-se Urgithor. É uma nação de orcs no norte daqui. Devem ter rumado para lá. Temos que partir o quanto antes."
      "Certo, Florin! Vou pegar os cavalos. Talvez consigamos alcançá-los.", disse Limiekli.
      "Eles estão a nossa frente e não sabemos que caminho tomaram. Não iremos encontrá-los facilmente. Teremos que nos infiltrar em Urgithor e encontrar Bingo."
      "Entrarmos em uma cidade de orcs não será uma tarefa fácil!". "Mas teremos que tentar, Sirius. Florin está certo.", disse Dove, "Mas alguns de nós precisam de cuidados antes de continuar!"

      De fato, todos a exceção de Sirius tinham ferimentos de batalha. Dove então ministrou algumas curas e alguns minutos depois, ainda que não completamente refeitos, pegaram seus cavalos, alguns mantimentos dos depósitos dos orcs e partiram. Deixaram o campo que ainda ardia em chamas e seguiram um caminho indicado por Florin.

Um Objetivo Alcançado

      Na parte ocidental dos reinos, Khelben, o arquimago de Águas Profundas, enfrentava provavelmente seu maior desafio. Ainda tinha dúvidas se sobreviveria a isso. Seu único refúgio era permanecer veemente.

      "Sim, há um motivo para você não ter atravessado o Tênue Véu ainda. Eu chamaria isso de uma probabilidade feliz, vocês mortais a chamam de sorte." Continuou o esqueleto, trajado em uma roupa ornada com jóias e feito do material mais fino, embora Khelben pudesse apenas ver suas botas.
      "Neste caso você provavelmente sabe porque eu vim aqui."
      "Correto, existem poucas coisas neste e em outros mundos que eu não saiba. Você está aqui compelido pela ameaça dos phaerimns e pelo retorno de Obscura. Logicamente deduziu que alguém da época de Netheril teria algum tipo de informação e então adentrou meus portões." Respondeu a figura circundando o trono.
      "Larloch, escute. Independente do que representamos, os phaerimns são uma ameaça iminente a todos os seres de Toril. Se não nos unirmos agora, poderemos estar presenciando o início da extinção dos povos deste mundo."
      "Você disse duas inverdades. Primeiro, os phaerimns não representam nenhuma ameaça para mim. Segundo, não há porque eu me aliar a você, suas capacidades são inócuas comparadas a uma possível retaliação minha."
      "Como pode ser tão arrogante numa situação como essa? Não entende que estou procurando uma solução cabível para o problema?"
      "Não me ofenda com estas comparações mundanas. Estou além destas fraquezas mortais. E não precisa entrar em desespero, favorecido pela deusa. Eu irei ajudá-lo. Fornecerei as informações adequadas para derrotar os phaerimns." Continuou Larloch a circundar o arquimago.
      "Será que devo ficar feliz com isso? A tentação é uma das piores ruínas para a alma."

      "Os phaerimns não são ameaça para mim ou meu reduto, contudo, não posso ignorar o mundo exterior. Em suma, não quero vê-lo destruído. Se algum dia eu decidir controlá-lo, não almejarei um reino de cinzas e desolação. Por isso, Khelben de Águas Profundas, eu o usarei para resolver esta questão para mim. Apenas escute. Os seres conhecidos por phaerimns surgiram milênios atrás no império de Netheril. Por algum tempo causaram grandes problemas. Foi então que apareceram os sharn, seres que aprisionaram os phaerimns numa imensa barreira que não mais existe. Pensaram alguns que os sharn foram uma espécie de transformação sofrida pelos arquimagos de Netheril. Isso não é verdade, os tolos pereceram na busca de um solução. Tolos como Karsus, que tinha um grande poder mas nenhuma sabedoria. Ambos, phaerimm e sharn, vieram de uma outra dimensão. Lá, eles representam duas forças opostas da natureza, como o caos e a ordem, por isso, através de um acidente mágico provocado pelos arquimagos de Netheril, ambas as raças foram jogadas ao nosso plano."
      "Suponho então que deveríamos atrair estes nêmesis dos phaerimns para que eles se destruam?" Opinou Khelben se esforçando muito para falar.
      "Não, correria o risco de atrairmos mais phaerimns. Eles são seres de extrema inteligência. Após conhecer nosso plano eles desejam dominá-lo, portanto, esperam uma forma de invadi-lo mais uma vez. Acredito que nesta nova tentativa virá um contingente maior deles. Você não percebeu porque eles querem tanto o mythal élfico de Evereska?"
      "Eu imaginava que isso fazia parte da cadeia alimentar deles."
      "Eles querem descobrir o segredo do mythal, pois esse artifício é uma boa alternativa em relação a falta de um mythalar. Eles precisam de um excelente conduíte mágico que possibilite criar uma fenda entre os dois mundos."
      "Por Mystra, não podemos esperar mais. Diga, o que posso fazer para evitar este desastre?"
      "Eu construí algo que pode aprisionar todos os phaerimns num determinado local", disse Larloch mostrando a Khelben um cristal, "Este é o Dodecaedro Definitivo. É um artefato mythalar que possui energia suficiente para criar um campo de aprisionamento para os pherimns, basta que ele seja acionado de uma forma muito simples. Você deve conhecer o ritual de enclausuramento. Qualquer arquimago sabe disso."
      "Sim, eu conheço. Então é assim? Simples?"
      "Seria, se o artefato não retirasse a vida do conjurador. Isso mesmo. Para que ele seja acionado é necessário a vida do conjurador. É uma viagem ao mundo dos mortos sem retorno, Khelben. Imagino que para você seja um sacrifício justo."

      Khelben não disse nada, prefiria não acreditar naquela afirmação.

      "Depois do Dodecaedro ser acionado, os phaerimns serão aprisionados num grande campo de energia, área suficiente para que os seres sejam eliminados pois, se não forem destruídos, podem descobrir como criar a fenda dimensional. Não se preocupe, a fenda só aprisiona os phaerimns, qualquer outro ser pode sair e entrar livremente nela, e lá os criaturas não poderão conjurar feitiços, embora mantenham suas defesas naturais. E por último, só direi uma coisa em relação a Obscura, seu rei, o Lorde das Sombras, voltou para dominar os reinos. Ele não é tão poderoso e tão paciente como eu, mesmo assim pode representar um grande problema para você."
      "Larloch, eu gostaria de fazer outras perguntas..."
      "Não, seu tempo acabou. Vá, favorecido pela deusa. Salve os reinos novamente, e depois leve consigo a lembrança de que um dia esteve na presença do Lorde Supremo, leve esta recordação para o túmulo."

      Antes que Khelben pudesse dizer alguma coisa, Larloch fez apenas um pequeno gesto com a mão e o arquimago de Águas Profundas surgiu dentro da barraca designada para ele e sua amada Laeral no acampamento nos arredores de Evereska. Logo que chegou, exausto e bastante ferido, tombou fazendo barulho, o que atraiu a atenção de Laeral e Galaeron, que conversavam fora da tenda. Ambos entraram e acudiram Khelben. Ministraram um elixir mágico que melhorou suas condições.

Por Um Calor Humano

      Magnus dormira por algumas horas. Ao despertar percebeu o lindo corpo de Storm Mão Argêntea abraçado ao seu. Olhou ao redor. Estavam no mesmo lugar de antes. Olhou para a guerreira para ver se ainda estava ferida. Storm então também acordou, afastou-se lentamente dele dizendo "Você estava muito ferido, precisava se manter aquecido, por isso ..."
      "Eu entendo, muito obrigado Storm."
      "Não, eu é que devo agradecer, não fosse sua benção divina, talvez estaria ao lado de minha falecida irmã Syluné. Eu jamais esquecerei isso. Mas por ora, vamos ver seus ferimentos. Tire a armadura por favor."

      Magnus aos poucos foi tirando as placas de sua esplendorosa armadura, Storm o ajudou. Ficou ele apenas de calça, portanto a harpista o examinou e viu alguns talhos abertos. Teve de passar as mãos no corpo viril do paladino para identificar as partes doloridas, suas mãos foram percorrendo seu grande tórax até chegar aos ombros quando sua face ficou junto com a dele, seus olhares se cruzaram e num ímpeto, se beijaram calorosamente com um abraço forte e confortante que durou bastante tempo. Magnus ignorou completamente as dores que sentia com o abraço, sentiu apenas prazer. Foi então que depois de alguns minutos voltaram a si e Storm pegou linha e agulha de sua sacola e fechou os cortes dele. Resolveram descansar para decidir que rumo tomariam.

Nos Labirintos da Caverna

      Kariel conduzia velozmente a montaria onde também estavam Mikhail e Galtan. Fugiam dos homens-lagartos e já haviam aberto boa distância de seus perseguidores, que não mais podiam ser vistos. Repentinamente, apresentou-se no corredor rochoso um grande buraco que interrompia o caminho. Desmontaram e começaram a analisar a situação. O fosso não era profundo, devia ter uns três metros, mas sua largura era considerável, cerca de quatro metros. No fundo do buraco passava um outro caminho, que fazia parte do labirinto que era o interior daquela montanha. Haviam então duas possibilidades: tentar um perigoso salto sobre o fosso e prosseguir no caminho em que estavam ou descer e continuar por baixo. A última opção foi descartada por conta do animal. Descer o cavalo poderia se tornar uma tarefa difícil. Então decidiu-se pelo salto, mesmo que parecesse arriscado com um corredor tão apertado.

      Kariel, que era o mais leve, iria conduzir o cavalo, que ia sem equipamentos ou mesmo sela, para ficar mais leve. Além de seus pertences o elfo levava uma corda que seria jogada para os seus companheiros, a fim de que pudessem alcançá-lo do outro lado. Então subiu no cavalo, tomou distância e saltou. O animal desequilibrou-se e acabou caindo no fosso, junto com seu cavaleiro. O mago não sofreu nada de sério, mas o animal havia quebrado a pata, uma sentença de morte para os da sua espécie. Kariel então levantou-se e chamou pelos amigos que estavam acima.

      "Desçam! Mikhail... o cavalo quebrou a pata. Precisa ajudá-lo", disse jogando o rolo de corda.
      "Já vamos até aí!", disse o elfo de Evereska.

      Mikhail e Galtan desceram. O clérigo de Mystra então usou uma de suas orações que proporcionavam cura e a pata do animal se recuperou. Também aproveitou para curar alguns ferimentos ainda abertos de Galtan.

      "E agora? Prosseguimos por este caminho aqui em baixo?", perguntou Galtan.
      "Sim. Estávamos perdidos antes. Pior do que isto não ficaremos. Mas o cavalo não poderá prosseguir. O terreno é muito acidentado. Porém minha magia somente dispersará daqui a várias horas."
      "Posso tentar dissipar o seu encanto e mandá-lo de volta.", sugeriu Mikhail.
      "Ótimo. Então faça isto, meu amigo."

      Mikhail recitou algumas palavras divinas e concentrou-se. Sua prece deu resultado: o encanto de Kariel se desfez e o animal voltou para o local de onde viera.

      "Precisamos descansar e refazer nossas forças."
      "Sim, Kariel, mas não aqui. É muito perigoso. Vamos prosseguir e tentar encontrar um local mais seguro.", sugeriu Mikhail.

      Então os três puseram-se a andar pelo estreito corredor rochoso, iluminados por uma lanterna carregada por Mikhail e pela brilho azulado emanado da espada de Kariel. Quarenta minutos depois encontraram a frente quatro passagens. Escolheram uma cujo caminho levava para o alto, pois não desejavam descer às profundezas da montanha. Caminharam por seis horas, procurando por algum abrigo, um nicho entre as rochas onde pudessem repousar, mas foi em vão. Sendo assim resolveram parar no meio do caminho para recobrar suas energias. Sentaram no chão e recostaram-se na parede de pedra. Mikhail recitou outra de suas orações e um encanto divino agiu, fazendo-os dormir. Repousaram por uma hora, mas era como se houvessem deitado por oito. Em seguida levantaram e recomeçaram a caminhada.

      Andavam com a mente preocupada em achar uma saída e no destino de seus companheiros Magnus, Storm e Brian. Kariel, que sabia ser Storm Escolhida de Mystra como ele era, tentou comunicar-se pronunciando o nome da guerreira, mas não obteve resposta. O elfo então quis acreditar que a aventureira havia apenas desativado este dom, coisa que um Escolhido podia fazer para não interferir na concentração. Era um pensamento mais reconfortante do que julgar que Storm havia morrido no desabamento.

      Caminharam por mais três horas até Galtan observar algo para os seus companheiros.

      "Amigos... notaram que o chão deste caminho é bastante liso e tem pouca poeira acumulada? Esta trilha deve ser bastante usada. Devemos ter cuidado."
      "Ativarei o encanto de meu elmo e irei a frente como batedor."

      Kariel tocou o seu elmo e desapareceu. Seguiu a frente de seus companheiros e logo ouviu passos. Haviam criaturas caminhando e o ruído estava cada vez mais forte. Por um instante, o elfo de cabelos azuis tornou-se visível e com um gesto pediu que os companheiros tentassem se ocultar nas paredes. Com as fontes de luz apagadas apenas os elfos puderam, com sua visão superior, notar as formas que se aproximavam. Eram as silhuetas de cinco homens lagartos e uma outra mais alta, de um ser diferente que, ao invés de pernas, arrastava-se sobre uma cauda de serpente. Kariel não esperou muito e assim que o grupo passou por ele, conjurou uma bola de fogo que explodiu, matando dois homens-lagartos e ferindo os outros inimigos. O clarão do fogo iluminou a caverna e revelou Galtan e Mikhail. Haviam agora três homens lagartos e a criatura serpente, cujos mais sábios ou experientes conhecem pelo nome de yuan-ti. Dois homens-lagartos atacaram Mikhail, outro Galtan e o yuan-ti partiu em direção a Kariel. O fogo mágico invocado desapareceu e a escuridão era agora afastada somente pelo brilho azulado de Goliath, a espada de Kariel.

      Galtan conseguiu desviar de um golpe da alabarda do homem-lagarto que combatia contra ele. O cavaleiro de Águas Profundas, aproveitou bem a falha do oponente e desferiu-lhe um ataque fulminante com sua espada. Mikhail também teve sorte, coisa que em muitas ocasiões costumava faltar nas suas lutas. Esquivou-se das investidas dos dois monstros e com seu martelo, rachou o crânio de um deles. Kariel invocou um encanto que o fez dobrar de tamanho e correu contra o homem-serpente. Galtan, que havia se livrado do inimigo, investiu também contra o yuan-ti. O cavaleiro chegou primeiro e desferiu o primeiro golpe. O monstro mostrou sua agilidade e inclinou seu corpo para trás, escapando da espada. Em seguida, com a lâmina de formato curvo que empunhava, tirou um pouco de sangue do aventureiro. Kariel, usou sua Goliath, que agora estava do tamanho de uma lança, e provocou um ferimento no ser rastejante, abrindo-lhe um rasgo diagonal no peito. O yuan-ti revidou, mas seu ataque foi anulado por uma proteção mística que agia sobre o elfo. Neste momento, Galtan tentou outro golpe e desta vez atingiu o coração da criatura, que tombou inerte. Quase neste mesmo instante, Mikhail terminava o combate derrotando o inimigo que restava. Arrastaram os corpos e os ocultaram nas paredes rochosas.

      "Que criatura era aquela?", perguntou Galtan.
      "Não conheço este homem serpente.", respondeu Kariel.
      "O ar parece mais fresco vindo da frente.", analisou Mikhail. "Talvez haja uma saída!".
      "Vou à frente novamente. Se houver um perigo eminente, acenderei minha espada duas vezes! Aguardem aqui."

      Kariel foi como batedor e, novamente invisível e de volta ao seu tamanho normal, percorreu alguns metros a frente. A medida que avançava viu o final do corredor. A saída levava para uma câmara maior e uma iluminação vinha de lá. Kariel aproximou-se e pôde ver uma imenso salão rochoso, tão grande que serviu para que os homens-lagartos construíssem nele uma aldeia. Haviam casas rústicas, feitas com amontados de pedra, iluminadas por tochas e dezenas de habitantes, de todos os tamanhos. Do outro lado da aldeia podia se avistar outra passagem, que iniciava outro corredor. Kariel então retornou e foi contar o que viu aos amigos.

      "Existe uma aldeia de homens-lagartos a frente e além dela existe uma passagem."
      "Uma aldeia! De quantas criaturas estamos falando?"¸ quis saber Mikhail.
      "Vi cerca de setenta!"
      "Não podemos enfrentar todos eles! Você, com seus artifícios de mago, poderia promover uma distração para permitir que passemos sem sermos notados?", perguntou Galtan.
      "Poderia criar uma distração, mas mesmo assim eles são muitos. Com certeza algum deles iria percebê-los.. Farei o seguinte: continuarei invisível e prosseguirei no próximo corredor.       Quando perceber um local seguro, conjurarei um portal. Vocês poderão atravessá-lo e me encontrarão do outro lado."
      "Está certo. Mas tenha cuidado!", alertou Mikhail.

      Kariel então prosseguiu. Andou com muito cuidado para evitar ruídos e procurou caminhos onde não precisasse cruzar com os habitantes da aldeia. Chegou a entrada do novo corredor, onde pôde respirar profundamente. Prosseguiu por mais vinte minutos no túnel rochoso e chegou a outra câmara, um pouco menor que a anterior. Para a sua surpresa, havia nela também uma vila e outro corredor. O elfo então novamente encheu-se de cuidado e percorreu os caminhos entre as rústicas casas. Alcançou a passagem após a nova vila. Desta vez, o corredor parecia muito mais escuro e profundo. Andou um pouco mais e não encontrou sinal de que existisse outra vila próxima. Então concentrou-se, tentou calcular a distância que havia percorrido e conjurou seu encanto. Um brilhante portal circular de energia mágica se abriu e, segundos depois, passaram por ele Mikhail e Galtan.

A Comitiva de Orcs

      Florin, Dove, Limiekli e Sirius cavalgaram durante um dia em direção ao norte e agora faziam uma refeição. Estavam em uma colina e, sentados ao redor de uma pequena fogueira, conversavam.

      "Sinto que falhei com vocês ao não proteger Bingo. Deixei que ele fosse levado. Se desejarem, posso seguir sozinho. Não precisam se arriscar!", falou Florin, sentindo-se culpado.
      "Não. Viemos todos juntos e assim vamos ficar!", colocou Sirius.
      "Um daqueles documentos que estavam no quarto de Ortz era um mapa de Urgithor. Segundo ele, poderemos encontrar várias patrulhas antes de chegarmos a cidade.", continuou Florin, segurando o documento.
      "Então precisaremos de um disfarce."
      "Sim, Limiekli. Tenho um encanto especial que poderá nos auxiliar.", revelou Dove.
      "Posso tornar nossas aparências a semelhança dos orcs. Assim poderemos passar pelas patrulhas sem que sejamos descobertos. O feitiço ainda nos dará a possibilidade de entender a língua orc."
      "Ótimo. Mas ainda me intriga o porquê de Numoz ter envenenado Ortz. É certo que os dois divergiam, mas se Ortz tivesse êxito em Evereska ainda assim seria boa coisa para os orcs."
      "Não sei, Florin.", disse a esposa Dove, "Mas talvez possamos encontrar as respostas em Urgithor."

      Dove então levantou-se, e seus companheiros fizeram o mesmo. A bela heroína começou o seu encanto e recitou algumas palavras arcanas. Aos poucos, os corpos de humanos dos aventureiros foram se transformando: a pele se tornou esverdeada e suja, seus rostos se projetaram para frente e duas enormes presas cresceram na mandíbula, seus braços tornaram-se mais longos e seus cabelos ficaram grossos como pêlos de animais. Suas posses também mudaram: as vestes se tornaram rústicas e de tons escuros, armas de metal reluzente ficaram foscas e perderam toda a beleza. E agora exalavam também desagradáveis odores. Após a transformação ser completada, Sirius fez uma observação sobre esta característica: levantou os braços e com suas novas e grandes narinas tentou sentir algo.

      "A transformação foi perfeita, mas não estamos fedendo como orcs!"
      "Devemos estar", disse Limiekli, "Mas com estes narizes de orcs não iremos nos incomodar com nosso próprio cheiro."
      "E então meus amigos? Estão prontos!?"
      "Sim, Florin!", respondeu Limiekli.
      "Então vamos! Vamos salvar Bingo!"

      E assim, apagaram a fogueira e subiram nos cavalos rumo a estrada. Em direção a Urgithor.

Esta história é uma descrição em teor literário dos resumos de aventuras jogadas pelo grupo Comitiva da Fé em Salvador sob o sistema de RPG Advanced Dungeons & Dragons.

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