|

O Lorde Supremo
Descrita por Ricardo Costa e Ivan Lira.
Baseada no jogo mestrado por Ivan Lira.
Personagens principais da aventura:
Os
Humanos: Magnus de Helm; Sirius Lusbel; Sigel O'Blound (Limiekli),
Sir Galtan de Águas Profundas, Brian Mestre das Espadas.
Os Elfos: Mikhail Velian; Kariel Elkandor. O Halfling:
Bingo Playamundo. Participação Especial: Khelben
"Cajado Negro" Arunsun, Laeral Mão Argentêa,
Storm Mâo Argentêa, Florin e Dove Garra da Falcão.
O Lorde Supremo
A
Comitiva da Fé dividiu-se em dois grupos, em missões diferentes
para tentar salvar Evereska e o restante de Faerûn das ameaças dos
phaerimns e dos vultos de Obscura.
Um dos grupos era formado por
Florin e Dove Garra de Falcão, Limiekli, Sirius e o halfling Bingo.
Eles haviam partido para o norte, cruzando florestas, no intuito
de investigar o súbito decréscimo do nível do rio Estrela Crescente,
que abastecia Evereska. Encontraram uma represa, soldados orcs,
armas e um dos terríveis phaerimns, tudo parte de um ardil, enfraquecer
a fortaleza élfica e atacá-la. Naquele momento planejaram uma investida
para evitar que o plano dos inimigos fosse levado a cabo.
A outra equipe, composta pelos
aventureiros Storm Mão Argêntea, Brian Mestre das Espadas, Sir Galtan,
Magnus, Kariel e Mikhail foram ao sul, atravessando uma região montanhosa,
em busca de pistas sobre os vultos. Encontraram uma emboscada montada
por homens-lagartos em um desfiladeiro e fizeram um prisioneiro,
mas não haviam descoberto nada de novo e prosseguiam a jornada em
meio trilha pedregosa.
Além destes esforços, havia
o de Khelben. O arquimago de Águas Profundas penetrou em um dos
mais perigosos (senão o mais perigoso) covis dos Reinos para obter
informações preciosas. Mesmo deuses temeriam ao empreender tal tarefa
que no momento era realizado pelo poderoso arcano.
Em Algum Lugar na Costa da
Espada
Existência,
um conceito extraordinário, é ainda um mistério para os seres viventes,
presenteia aqueles considerados amantes da vida, e amaldiçoa outros,
encarcerados em destinos terríveis. Khelben Arunsun, apesar de viver
por muitos séculos, ainda não sabia qual era sua posição no esquema
cósmico, mas descobriu que ainda estava vivo quando despertou. Percebeu
algo estranho, enxergava apenas com sua vista direita. Tentou abrir
o olho esquerdo, foi inútil. A parte esquerda de sua face estava
um tanto dormente, mas foi suficiente para que ele sentisse um pouco
de sangue escorrendo da sua órbita ocular esquerda. Foi então que
deduziu que não possuía mais o olho esquerdo, provavelmente
deve ter saltado para fora com o golpe devastador do golem. Receber
um soco de alguém feito de aço não foi uma experiência agradável.
A questão mais intrigante era
o porquê de ainda estar vivo. Tentou mover a cabeça. Em vão. Estava
preso por um encantamento, num trono feito em rocha. O ambiente
estava escuro, exceto por uma luz que iluminava a área do trono
num raio de quatro metros. O arquimago esboçou um sorriso, pensou
ele ter conquistado a atenção do anfitrião. Talvez suas preces estivessem
atendidas, pois naquele momento ele ouviu passos de alguém que se
aproximava lentamente. Chegou aos limites da luminosidade de modo
que Khelben só conseguia ver botas e o final de uma capa negra por
trás delas.
"Acha que eu devo me surpreender
com sua perseverança? Se sim, então é um tolo, sua existência nada
significa para mim." Disse uma poderosa voz.
"Não, não imaginei esta reação,
mas resolvi explorar esta pequena possibilidade. Deve admitir que
existe um motivo para eu estar vivo ainda, não é mesmo, Larloch?"
O Veneno do Xamã
O
grupo do norte estava reunido ainda no alto do morro e planejava.
Sabiam que tinham pouco tempo. A presença de um general orc e a
quantidade de armas avistadas por Florin e Limiekli davam a entender
que um outro batalhão se juntaria aos trezentos goblinóides que
guardavam e trabalhavam naquele local.
"Podíamos atear fogo nos galpões
dos orcs. Isto criaria uma distração para que alguns de nós pudesse
destruir a represa.", sugeriu Sirius.
"Pode ser uma boa idéia.", opinou
Florin.
"Minha preocupação é sobre como
vamos fugir. Se não fosse a forte correnteza e o fluxo de água que
será liberado da represa poderíamos escapar pelo rio..."
O debate foi interrompido, pois
uma movimentação ocorreu no acampamento abaixo. Novos orcs, seis
deles, montados em cavalos, chegaram da estrada nas montanhas. Eles
desmontaram e, mesmo ao longe, foi possível para os aventureiros
identificarem pelas vestes de um deles, que se tratava de um xamã,
um goblinóide com artes de feitiçaria. Coisa boa não deveria ser.
Logo que estes chegaram, os orcs que estavam no acampamento se movimentaram.
Entraram em galpões e retiraram grandes caldeirões de cobre enegrecidos.
Os colocaram em cima de pilhas de lenha, encheram com água e ingredientes
exóticos e começaram uma fogueira. Os heróis olharam de seu
esconderijo elevado.
"Dove. Você que conhece magia,
sabe que diabos estes orcs estão fazendo?", perguntou Limiekli.
"Espere.", Florin retirou da
bainha a sua espada, apontou em direção aos caldeirões e concentrou-se.
A magia de sua lâmina agiu e em seguida ele anunciou.
"Não tenho muita certeza, mas
aquilo que estão produzindo me parece veneno. Litros e litros de
veneno."
"Eles vão envenenar o rio e
a cidade! Temos que ser ainda mais rápidos.", constatou Limiekli.
"Minha sugestão é a seguinte:
Florin, Bingo e Limiekli, que são os mais furtivos entre nós, podem
descer e atear fogo nos arsenais. Eu me encarrego de destruir a
represa, e Sirius pode nos dar cobertura disparando flechas daqui
mesmo. Vamos deixar nossos cavalos em locais estratégicos para a
fuga.", arquitetou Dove.
"Tem certeza que pode destruir
a represa sozinha?"
"Sim Sirius, não se preocupem
quanto a isso. Apenas não fiquem perto dela."
"E enquanto aos generais? E
o veneno?"
"Limiekli, não sei se haverá
tempo para tudo isso. Vamos fazer o que pudermos", disse Florin.
"Talvez consigamos derrubar
os caldeirões na fuga.", colocou Sirius.
"Mas somos cinco. Já teremos
feito muito se conseguirmos colocar em prática este plano."
"Bom. Então vamos atacar estes
orcs!", falou Limiekli, retirando da bainha sua espada.
Uma Caverna nas Montanhas
Storm,
Brian, Galtan, Magnus, Kariel e Mikhail, que formavam o grupo que
percorria as montanhas em busca de vestígios dos vultos seguiam
pela trilha encravada entre paredões rochosos. Levavam um prisioneiro,
um homem-lagarto do qual não conseguiram extrair nenhuma informação.
O dia estava muito quente e o sol castigava especialmente aqueles
que usavam armaduras.
O caminho terminou na entrada
de uma caverna ao pé de uma imensa montanha, o que deixou os heróis
com duas possibilidades para continuarem o seu percurso em direção
ao norte: entrar naquele lugar, ou realizar uma escalada longa e
muito difícil na íngreme rocha.
"Será que dentro desta caverna
existe uma passagem para o outro lado da montanha?", perguntou aos
demais Sir Galtan.
"Devemos investigar!", disse
Magnus.
"Confesso que estou cansado
de entrar em cavernas. Entramos em uma delas na Floresta das Aranhas,
no Vale da Adaga e na Floresta Alta. Desta maneira, acabarei me
transformando em um drow!", comentou Kariel.
"Fico imaginando o que pode
sair deste buraco.", Mikhail refletiu.
"Vamos fazer um reconhecimento",
falou Storm, a primeira a entrar.
Storm acendeu sua lanterna e
afastou parte das trevas que envolviam aquele ambiente. Agachou-se
e analisou o terreno. Em seguida, levantou-se e retirou do bolso
um pequeno pedaço de tecido. Levantou a proteção de vidro da lanterna,
jogou o trapo no fogo e observou a direção tomada pela fumaça. Em
seguida fechou novamente a lanterna e foi falar com os demais que
aguardavam na entrada.
"Podemos ir, mas os cavalos
não poderão seguir. O terreno é muito acidentado."
"Vamos deixá-los aqui. Burgos
poderá tomar conta deles.", disse Kariel, se referindo a montaria
encantada de Mikhail.
"Sim. Burgos, cuide dos cavalos.
Em caso de algum ataque, conduza-os para um lugar seguro."
"O que está fazendo? Está falando
com o cavalo? Seu cavalo pode compreendê-lo?", perguntou Storm espantada.
"Pergunte ao próprio Burgos,
Storm.", brincou Kariel com a situação.
"Digamos que este é um cavalo
especial, Storm."
"Ainda bem que sabe disso, Mikhail!",
falou Burgos sarcasticamente com sua voz grave para o olhar ainda
mais supresso de Storm.
"Bem... err... então Burgos...
tome conta dos cavalos.", pediu uma Storm encabulada, que nunca
havia falado com um cavalo antes. Entretanto fez um carinho no animal
como gratidão.
"Ainda bem que não trouxe meu
unicórnio. Detestaria tê-lo que deixar aqui.", disse Magnus.
"Um tem um cavalo falante, outro
um unicórnio? Como é intrigante essa Comitiva! Cheia de segredos!"
"Não somos um grupo comum de
aventureiros, Storm."
"Estou percebendo isto, Kariel.
Queria ter estado com vocês durante a batalha contra Bane."
"Não deveria querer. Aqui foi
uma luta terrível."
"Eu sei, mas já enfrentei o
filho de Bane, Xvim, tempos atrás, quando ele não tinha status divino.
Soube que foram vocês que o aniquilaram. É verdade?"
"Sim. Graças a espada Hadryllis,
que infelizmente foi destruída.", respondeu Kariel.
"Vocês derrotaram Xvim, a divindade?
A cada dia esta Comitiva me surpreende mais!", disse Sir Galtan,
impressionado.
Terminada a conversa, entraram
na caverna. O ambiente era iluminado pela lanterna de Storm, que
havia sido passada para as mãos de Galtan, e pelo brilho esverdeado
da espada de Kariel. Seguiam pelo corredor principal, que era inclinado
e lentamente descia.
"Será que este corredor não
nos levará a um lugar sem saída?", perguntou Kariel.
"Já fiz uma verificação e existe
uma corrente de ar vindo do interior da caverna, o que significa
que existe uma passagem em algum lugar", disse Storm.
"Então, prossigamos!"
Desceram o corredor e encontraram
uma ampla câmara de formato mais ou menos circular. Havia, no nível
dos exploradores, uma fenda no chão que separava parte do salão
de outra passagem. Nesta falha havia uma rústica ponte feita de
madeira e cordas. Mas as paredes do salão também chamavam atenção.
Eram altas e cheias de buracos e níveis.
"Que Helm nos julgue! Isto aqui
é um labirinto!"
"Se não nos cuidarmos nos perderemos.
Vamos marcar a nossa passagem nas rochas, assim poderemos encontrar
novamente a saída!"
Mikhail retirou um pino metálico
de escalada e, com golpes de seu martelo, gravou em uma rocha próxima
ao corredor de onde vieram, uma seta e um caracter élfico, que simbolizava
a saída. Havia então a ponte e os heróis puseram-se diante dela.
Existia o receio de que as madeiras e cordas não suportassem o peso
daqueles que trajavam armaduras, principalmente a ostentada por
Sir Galtan, feita com pesadas placas de metal. Mikhail e Kariel,
elfos que eram e portanto mais leves que os seus companheiros humanos,
foram os primeiros a passar e certificaram que o caminho oferecia
segurança. Em seguida, atravessaram os humanos. Foram pela passagem
logo após a ponte e percorreram mais uns doze metros de corredor,
até chegarem em outra câmara, bem semelhante a anterior.
Haviam muitas passagens e de
pronto uma dúvida surgiu sobre que direção seguir. Porém, não houve
tempo de se tomar uma decisão. Kariel, por sorte, olhava para o
alto quando percebeu uma enorme pedra cair do alto na direção de
Sir Galtan de Águas Profundas. O elfo de cabelos azuis então deu
um salto sobre o humano. O impulso foi suficiente para deslocá-lo
da trajetória mortal da rocha e para fazê-los cair a salvo do impacto.
Mas outras pedras foram arremessadas do alto. Homens-lagartos se
posicionavam nos níveis superiores da câmara, em nichos escavados
nas rochas, e atacavam os heróis. Uma verdadeira avalanche se precipitava
sobre a Comitiva. Mikhail, percebeu a pedra que foi arremessada
contra ele e conseguiu se desviar, mas a mesma sorte não teve Magnus,
que foi salvo no último segundo por Storm que, em uma atitude desesperada,
atirou-se na frente do paladino e recebeu o impacto do pedregulho.
Kariel, Galtan e Mikhail, que agora procuravam ficar encostados
na parede para evitar serem atingidos, puderam ouvir o som de alguns
ossos de Storm se partirem. Brian Mestre das Batalhas, o comandante
das forças de Águas Profundas, também desapareceu em meio aquele
desabamento. Os três companheiros que se salvaram das pedras não
puderam acudir os amigos, pois as rochas permaneciam caindo e, fatalmente,
também seriam atingidos.
Como se não bastasse a armadilha
covarde dos inimigos, passos eram ouvidos nas passagens e, pouco
tempo depois, uma multidão de homens-lagartos começou a invadir
a câmara. Kariel, Galtan e Mikhail tiveram que tomar uma difícil
decisão: como não poderiam lutar contra todo aquele contingente,
teriam que fugir e abandonar seus amigos. Então entraram em uma
das passagens e correram. Seus corações eram oprimidos pela dor
de deixar seus companheiros naquela situação incerta, mas era claro
que, caso ficassem, morreriam. Restava-lhes a esperança de que eles,
no último instante, tivessem conseguido se esgueirar por algumas
daquelas passagens e que estivessem vivos em algum lugar.
Enquanto fugiam por um estreito
corredor, eram perseguidos pelos homens-lagartos, que arremessavam
lanças. Algumas delas atingiram Mikhail e Galtan, causando-lhes
ferimentos. Kariel também foi atingido, mas sob a proteção de um
sortilégio, não chegou a se ferir. Ele pediu para que seus companheiros
continuassem correndo, enquanto invocava um encanto. O elfo Escolhido
de Mystra então voltou-se para trás, recitou algumas palavras arcanas,
gesticulou e apontou para o início do corredor. De suas mãos partiu
uma poderosa rama de eletricidade que atingiu seis oponentes. Quatro
deles morreram carbonizados e outros dois saíram com ferimentos.
Porém, além dos dois sobreviventes, haviam outros e cada vez mais
homens-lagartos entravam no corredor.
"Kariel !, chamou Galtan." Não
posso correr com esta armadura e tirá-la requer tempo. Este corredor
nos dá vantagem. Vamos lutar e ver se o inimigo desiste."
"Vamos resistir. Se conseguirmos,
poderemos voltar e procurar pelos outros."
"Podemos tentar, Mikhail!",
disse o elfo aproximando-se de seus companheiros.
Então sacaram suas armas. Haviam
cinco inimigos armados com alabardas que vinham na direção dos heróis,
e em seguida, mais cinco despontaram do corredor. Entre os primeiros,
um bateu-se contra Kariel, dois atacaram Mikhail e os dois restantes
investiram contra Galtan. O primeiro réptil desceu sua arma contra
Kariel, que além de magia entendia um pouco da arte dos combates.
O Escolhido de Mystra desviou-se do golpe do adversário e com sua
espada Goliath atingiu o flanco da criatura que, já ferida pelo
feitiço lançado anteriormente, não suportou o ataque e tombou. Mikhail
tentava utilizar seu martelo para aparar os golpes que recebia dos
adversários. Aproveitou o clérigo da natural dificuldade dos homens-lagartos
no manejo de suas armas de grande tamanho em um espaço tão exíguo,
e revidou bem os golpes. Foi ferido, mas conseguiu abater os dois
oponentes. Galtan também venceu o seu combate. Matou o outro homem-lagarto
sobrevivente da magia de Kariel e usou seu corpo como escudo improvisado.
Defendeu alguns golpes desta forma, conseguindo o revide e a derrota
do adversário.
Os cinco estavam mortos, mas
vinham mais seis. E agora, no início do corredor, apontavam mais
dez criaturas. Mikhail usou de um de seus encantos divinos e dois
homens-lagartos foram imobilizados. Dois foram abatidos pela espada
de Galtan, um pela Kariel e outro pelo martelo de Mikhail. Os outros
dez oponentes que se aproximavam de repente pararam e encostaram-se
nas paredes do corredor rochoso. Eles abriram passagem para uma
criatura que acabava de entrar: um grande lagarto, avermelhado,
com cerca de sete metros de comprimento, que preenchia a largura
do corredor e rastejava na direção dos três aventureiros.
"Que coisa é aquela!?"
"Não sei, Mikhail, mas acho
que vamos descobrir."
Kariel lançou um outro encanto.
Desta vez, o ar no corredor tornou-se frio e o teto na área onde
estavam os homens-lagartos e o monstro enviado por eles tornou-se
coberto de uma neblina densa. Em seguida, despencaram violentamente
sobre os répteis grandes pedras de granizo, causando-lhes traumatismos
que mataram sete inimigos. Três escaparam e avançavam juntamente
com o lagarto titânico.
O grande réptil então mostrou
seu poder. Abriu sua bocarra cheia de dentes pontiagudos e de suas
entranhas saiu um jato de fogo em direção aos desafortunados aventureiros.
Galtan conseguiu esquivar do jato de chamas, mas o mesmo não ocorreu
com seus companheiros. Kariel e Mikhail foram atingidos e este último
foi quem mais sofreu ferimentos. Após o ataque, mais cinco homens-lagartos
entravam pelo corredor. Os heróis, com o acumular da injúrias sofridas
pelos seus corpos e com os incessantes reforços dos inimigos, começavam
a achar que aquela batalha talvez não pudesse ser vencida. Esperavam
que, talvez morto o lagarto, os inimigos se acovardassem e enfim
recuassem e por isto decidiram investir contra a criatura gigante,
porém antes tinham que vencer os três homens-lagartos que estavam
próximos. Cada um lutou contra um adversário e levaram relativa
vantagem, pois os répteis estavam já consideravelmente feridos,
devido a tempestade de gelo invocada poucos minutos atrás por Kariel.
Conseguiram derrotá-los, mas o grande lagarto lançou-lhes outra
rajada de fogo. Desta vez, Kariel e Galtan foram os mais atingidos.
O cavaleiro não suportou o ataque e caiu ao solo, a beira do fim.
A situação era desesperadora e não iria demorar muito até que as
garras da morte alcançassem aqueles membros da Comitiva da Fé. Sabiam
que havia o momento de lutar, mas também o de recuar. Este último
era o que se apresentava para eles e então planejaram rapidamente.
Mikhail invocou uma das propriedades
de seu martelo encantado e um raio fulgurante de luz deixou a arma
e preencheu o corredor na direção dos inimigos. Os répteis ficaram
temporariamente cegos devido a intensidade daquela luminosidade.
Foi então que o clérigo de Mystra aproximou-se de Galtan e usou
uma oração que fechou alguns ferimentos e o fez recobrar a consciência.
Ao mesmo tempo que o amigo curava o cavaleiro de Águas Profundas,
Kariel fez surgir magicamente no corredor um dos cavalo que estava
do lado de fora da caverna. Subiram os três na montariam e partiram
a todo galope em fuga pela estreita passagem.
Uma Imortal à Beira da Morte
No
momento do desmoronar de pedras, apesar de Storm ter salvo Magnus,
o paladino não ficou isento do perigo, uma segunda rocha o atingira
na cabeça e outra na face machucando-o bastante. Ambos, com o violento
impacto, foram jogados em um dos inúmeros buracos que ali haviam,
dali desceram rolando por estreitos túneis verticais.
Minutos depois, havia apenas
escuridão, Magnus lentamente acordou, levou a mão a face e logo
tirou, pois sentira uma dor lancinante. Isso ao mesmo tempo estava
sentindo o sabor de seu sangue nos lábios, começou a tatear ao redor
e disse "Storm! Storm! Você está aí?". Uma voz muita baixa e engasgada
respondeu "Aq... aqui."
"Storm! Você está bem? Mal consigo
ouvi-la."
Não sabia o paladino mas Storm
estava a poucos metros dele. Ela não conseguia se mover, com exceção
de sua mão direita. Em desespero, fez um esforço tremendo e conseguiu
pronunciar algumas palavras arcanas e então surgiu uma luz no ambiente.
Magnus agora podia enxergar, no entanto, ver era um recurso doloroso
naquele momento, pois quando surgiu a luz, o paladino viu o corpo
de Storm. A guerreira e harpista se encontrava com o corpo quase
todo quebrado. Era perceptível ver ossos saindo de suas pernas,
o mesmo ocorria com seu braço esquerdo. A face dela estava quase
que completamente desfigurada com a pouca carne que tinha.
"Por Helm! Storm!" Espantou-se
o paladino aproximando-se dela, "Tenho que fazer alguma coisa o
quanto antes."
Queria a harpista poder falar
naquele momento, mas seu último esforço a impedira, sua mandíbula
estava partida. Ia dizer a Magnus que não fizesse nada, pois era
favorecida de Mystra e uma de suas dádivas era recuperar-se de uma
forma incrível, contudo existiam limites até mesmo para os Escolhidos.
Seus ferimentos pioravam mais rápido do que se recuperavam. Tentou
ela dizer mais alguma coisa, mas seu esforço piorou a situação,
vomitou uma grande quantidade de sangue. Seus pulmões estavam perfurados
por suas próprias costelas. Ao ver isso, Magnus ficou apavorado.
Ela mais ainda, naquele momento muita coisa passava em sua mente.
Lembrou-se de sua mãe antes de partir, absorveu recordações de quando
recebeu seus primeiros ensinamentos arcanos e da época em que resolveu
ostentar o símbolo dos Harpistas, depois de tanto desespero, começara
a aceitar a morte. Mas foi naquele instante que o Paladino colocou
a mão no tórax dela e disse:
"Helm! Peço clemência! Não leve
esta jovem para os portões da morte! Era a mim que a morte queria!
Ó Vigilante, cura as enfermidades desta donzela e devolve sua beleza."
Como um guerreiro sagrado, Magnus
usou seu dom divino mais uma vez, dom este que sempre salvou a ele
e seus companheiros, e naquela circunstância era a única coisa a
se fazer. Uma luz irradiou de sua mão e de forma fantástica, as
mazelas de Storm começaram a se fechar, se renderam a fé do paladino.
Os ossos voltaram para seus lugares, a carne se prendia novamente
e sua pele se fechava. No fim, apenas contusões e pequenos hematomas
ficaram, embora incomodassem pouco diante da situação.
O esforço fora brutal para Magnus,
pois ele também estava ferido, havia usado suas últimas energias,
portanto caiu de lado. Storm, ainda assustada com tudo, disse angustiada
"Não! Não pode ser!" Se lembrara que ainda tinha uma poção mágica
de cura, então não pestanejou em derramá-la na boca de Magnus. Ela
o apoiou abraçando-o e despejou o recipiente, um milagre acontecera,
o ferimento na face e na cabeça do paladino sumira, sortilégio dos
alquimistas. Apesar disso ele permaneceu inconsciente e com alguns
ferimentos pelo corpo. Storm levou a cabeça do guerreiro ao seu
colo e ali o deixou adormecido. Por um momento ficou apreciando
sua beleza, fez um carinho nos seus cabelos e ali ficou.
O Ataque ao Acampamento
Os
últimos raios de sol abandonavam aquele dia na floresta. O ataque
estava planejado e agora era o momento de agir. Limiekli, Florin
e Bingo iam atear fogo aos arsenais dos goblinóides no acampamento,
enquanto Dove destruiria a represa e Sirius ofereceria distração
e cobertura com suas flechas. Antes que os três descessem morro
rumo o acampamento, Dove os chamou.
"Posso usar encantos que farão
dois de vocês invisíveis. Mas um deverá ir sem esta ajuda."
"Pode usar neles, Dove. Eu posso
me virar!!", respondeu Florin à esposa.
Dove então executou alguns gestos
e Limiekli e Bingo desapareceram. Em seguida, os três começaram
a descer o morro em direção as cabanas de madeira montadas pelos
goblinóides.
Limiekli chegou próximo a um
galpão de madeira, cuja porta era guardada por um goblin. Aguardou
até que o sentinela, por poucos minutos, se ausentasse de seu posto.
Entrou e fechou a porta novamente. Haviam dentro do depósito vários
sacos com mantimentos e armas, acomodados sobre um forro de palha
que cobria o chão e protegia contra a umidade do solo. Limiekli
então agachou-se e retirou do cinto suas pederneiras. Bateu as pedras
e uma fagulha saltou em direção a palha seca. Com um sopro do ranger,
a pequena fagulha cresceu e tornou-se chama. O incêndio então começou.
Limiekli pôs-se a fugir por uma janela que havia. Do lado de fora
pôde observar que haviam outras duas cabanas que começavam a se
iluminar pelas labaredas. Seus amigos Florin e Bingo também haviam
conseguido levar a cabo a missão.
Logo o acampamento se alvoroçou.
Orcs e goblins gritavam e corriam. Também viram riscar no céu flechas
incendiárias, que atingiam as construções e matavam alguns inimigos.
Era Sirius, que do alto do morro disparava o seu arco, aumentando
a balbúrdia. Em meio a confusão, Limiekli pôde ver que um contigente
de guerreiros orcs se aglomerava em um determinado ponto do acampamento.
Aproximando-se, observou que os inimigos lutavam contra Florin e
Bingo, que já estava novamente visível. Tirou então a besta que
carregava nas costas, armou-lhe flechas e pôs-se a dispará-las contra
as criaturas, tornando-se, ao primeiro ataque, também visível.
No alto do morro, Dove havia
desaparecido para surgir bem próximo a represa que estava sendo
construída. A aventureira aproximou-se da estrutura de madeira e
cordas e tocou em um grande tronco, que servia de sustentação para
a construção e afastou-se. Em seguida, sem motivo aparente, a madeira
desapareceu e sua ausência fez arruinar o restante da obra, que
foi levada pela força das águas represadas. Dove observava a represa
sendo destruída quando aproximou-se pela suas costas o phaerimm,
que havia sido visto no acampamento na noite passada. Pretendia
a maléfica criatura mágica um ataque furtivo. Dove percebeu e magicamente
desapareceu para surgir em seguida no alto, acima do inimigo e,
com o efeito de outro encanto, acertar-lhe seis golpes certeiros
com sua espada bastarda, em uma velocidade impossível de ser atingida
por meios comuns. O orc xamã, vendo a situação, também tentou acertar
a ranger com um feitiço, mas esta, muito experiente, deu um salto
acrobático esquivando-se e o feitiço direcionou-se ao phaerimm,
que por sua vez o ignorou. Dove aproveitou o impulso e aplicou dois
potentes golpes fazendo o monstro cair inerte ao chão, inerte para
sempre. Foi em direção ao xamã e o impalou, jogou seu corpo ao lado
como uma carcaça velha. Em seguida, a aventureira correu, ainda
sob o efeito da velocidade invocada pela magia, para o centro do
acampamento. Estava preocupada com o marido e com os outros e queria
ajudá-los.
Os goblinóides perceberam de
onde vinham as flechas incendiárias que se abatiam sobre eles e
cerca de vinte deles rumaram na direção onde Sirius estava. O aventureiro
então direcionou seu arco para os novos alvos: orcs e goblins que
corriam a toda velocidade, morro acima, para alcançá-lo. As flechas
de Sirius eram rapidamente disparadas e quase sempre eram certeiras.
Os corpos iam caindo, mas os sobreviventes chegavam cada vez mais
perto. Até que dois goblins e um orc restantes chegaram a distância
curta, onde o arco era inútil. Sirius então trocou de arma e sacou
sua espada para enfrentar os adversários. Esquivou-se do ataque
de um machado e aproveitou o movimento para atingir as costas do
seu agressor, um robusto orc. A lâmina penetrou fundo e logo foi
retirada para ser usada contra os goblins. O orc, que já possuía
algumas flechas espetadas no corpo tombou. Sirius lutou contra os
goblins e após alguns poucos minutos de combate, conseguiu também
derrotá-los. Sem demora, olhou para o campo do alto de sua posição
privilegiada, procurando seus amigos. Viu a multidão de orcs em
torno de Florin e Bingo. E mais. Viu também quando o general orc
que chamava-se Numoz afastou-se da luta, subiu em um cavalo, seguido
por alguns soldados e quando um deles capturou o pequeno Bingo,
levando-o embora na garupa de sua montaria. Dezenas de outros orcs
e goblins seguiram seu líder e deixaram o acampamento cavalgando,
reduzindo consideravelmente o número de adversários. Desceu então
o morro Sirius, espada em punho, pois seus olhos não encontraram
Limiekli e temia que ele não estivesse mais vivo.
Porém, o ranger vivia. Não usava
mais a besta, e valia-se agora de sua espada. Combatia corpo-a-corpo
contra três inimigos. Sua habilidade na arma, fruto de seus anos
de combate no exército de Zenthil, fizeram a diferença e os goblinóides
tombaram, ainda que tivessem conseguido provocar alguns ferimentos.
Limiekli não via mais Bingo. Não sabia o que tinha acontecido com
o pequenino, mas sabia que ele era esperto e podia ter se ocultado
em algum lugar. Entrou em uma cabana, próxima ao combate. Reconheceu
o lugar em que ouvira, na noite passada, a conversa entre os generais
orcs. Não achou Bingo, mas encontrou algo: o cadáver de Ortz, o
general que liderava o acampamento, jazendo em seu leito. Não havia
marcas nem cortes, o que fez Limiekli suspeitar de magia ou veneno.
Havia um prato de comida e Limiekli procurou sentir algum odor conhecido.
Reconheceu um tipo de veneno, retirado de uma erva que tinha familiaridade
em sua vida na floresta. Os orcs eram traiçoeiros e, de vez em quando,
provavam eles próprios de sua maldade. Limiekli então subiu no parapeito
da janela e de lá escalou até o telhado, conseguindo assim um bom
posicionamento para atirar com sua besta nos inimigos que enfrentavam
Florin.
A ajuda era bem vinda, mas Florin
saía-se bem, condizente com sua fama e experiência de herói conhecido
e membro dos Cavaleiros de Myth Drannor. Lutava em grande desvantagem,
mas aos seus pés jaziam dezenas de corpos de orcs. Dove também vinha
a seu socorro e conjurou um encanto poderoso. Uma bola de fogo surgiu
em suas mãos e voou em direção de um grupo de inimigos, incinerando-os.
Em seguida, sacou sua espada e começou a lutar.
Com a debandada dos soldados
de Numoz, a fuga de outros tantos e as baixas proporcionadas pelos
heróis, especialmente Florin e Dove, existiam agora pouco mais de
uma dezena de orcs. Destes, os que não foram abatidos correram em
direção a floresta. Os vitoriosos então puderam abaixar suas espadas
e respirarem.
"E agora. O que faremos com
veneno?", perguntou Sirius, apontando para os caldeirões colocados
a céu aberto.
"Podem derramá-los no chão!",
respondeu Florin, sendo atendido por Sirius, que com forte pontapé,
virou a gigantesca panela de cobre.
"Eu encontrei o tal de Ortz,
o general orc. Ele está morto naquela cabana.", disse Limiekli apontando,
"Parece que foi envenenado!"
Então foram todos a cabana do
desafortunado general e viram seu corpo. Também coletaram alguns
papéis que estavam em um móvel do quarto.
"Havia uma proteção mágica agindo
sobre esta área. Quando chegamos ela foi ativada e nossa presença
foi revelada. Por isto eu e Bingo fomos cercados. Mas antes disto,
Numoz envenenou Ortz.", disse Florin
"Talvez ele quisesse ficar com
o controle de todos os orcs e atacar Evereska!", sugeriu Limiekli.
"Não creio. Numoz foi claro.
Ele quer levar seus soldados para se unir a Aris."
"E Bingo!? Para onde foi levado?"
"Existe um lugar onde podemos
procurá-lo. Ouvi Numoz mencionar quando passei por perto da barraca...
chama-se Urgithor. É uma nação de orcs no norte daqui. Devem ter
rumado para lá. Temos que partir o quanto antes."
"Certo, Florin! Vou pegar os
cavalos. Talvez consigamos alcançá-los.", disse Limiekli.
"Eles estão a nossa frente e
não sabemos que caminho tomaram. Não iremos encontrá-los facilmente.
Teremos que nos infiltrar em Urgithor e encontrar Bingo."
"Entrarmos em uma cidade de
orcs não será uma tarefa fácil!". "Mas teremos que tentar, Sirius.
Florin está certo.", disse Dove, "Mas alguns de nós precisam de
cuidados antes de continuar!"
De fato, todos a exceção de
Sirius tinham ferimentos de batalha. Dove então ministrou algumas
curas e alguns minutos depois, ainda que não completamente refeitos,
pegaram seus cavalos, alguns mantimentos dos depósitos dos orcs
e partiram. Deixaram o campo que ainda ardia em chamas e seguiram
um caminho indicado por Florin.
Um Objetivo Alcançado
Na
parte ocidental dos reinos, Khelben, o arquimago de Águas Profundas,
enfrentava provavelmente seu maior desafio. Ainda tinha dúvidas
se sobreviveria a isso. Seu único refúgio era permanecer veemente.
"Sim, há um motivo para você
não ter atravessado o Tênue Véu ainda. Eu chamaria isso de uma probabilidade
feliz, vocês mortais a chamam de sorte." Continuou o esqueleto,
trajado em uma roupa ornada com jóias e feito do material mais fino,
embora Khelben pudesse apenas ver suas botas.
"Neste caso você provavelmente
sabe porque eu vim aqui."
"Correto, existem poucas coisas
neste e em outros mundos que eu não saiba. Você está aqui compelido
pela ameaça dos phaerimns e pelo retorno de Obscura. Logicamente
deduziu que alguém da época de Netheril teria algum tipo de informação
e então adentrou meus portões." Respondeu a figura circundando o
trono.
"Larloch, escute. Independente
do que representamos, os phaerimns são uma ameaça iminente a todos
os seres de Toril. Se não nos unirmos agora, poderemos estar presenciando
o início da extinção dos povos deste mundo."
"Você disse duas inverdades.
Primeiro, os phaerimns não representam nenhuma ameaça para mim.
Segundo, não há porque eu me aliar a você, suas capacidades são
inócuas comparadas a uma possível retaliação minha."
"Como pode ser tão arrogante
numa situação como essa? Não entende que estou procurando uma solução
cabível para o problema?"
"Não me ofenda com estas comparações
mundanas. Estou além destas fraquezas mortais. E não precisa entrar
em desespero, favorecido pela deusa. Eu irei ajudá-lo. Fornecerei
as informações adequadas para derrotar os phaerimns." Continuou
Larloch a circundar o arquimago.
"Será que devo ficar feliz com
isso? A tentação é uma das piores ruínas para a alma."
"Os phaerimns não são ameaça
para mim ou meu reduto, contudo, não posso ignorar o mundo exterior.
Em suma, não quero vê-lo destruído. Se algum dia eu decidir controlá-lo,
não almejarei um reino de cinzas e desolação. Por isso, Khelben
de Águas Profundas, eu o usarei para resolver esta questão para
mim. Apenas escute. Os seres conhecidos por phaerimns surgiram milênios
atrás no império de Netheril. Por algum tempo causaram grandes problemas.
Foi então que apareceram os sharn, seres que aprisionaram os phaerimns
numa imensa barreira que não mais existe. Pensaram alguns que os
sharn foram uma espécie de transformação sofrida pelos arquimagos
de Netheril. Isso não é verdade, os tolos pereceram na busca de
um solução. Tolos como Karsus, que tinha um grande poder mas nenhuma
sabedoria. Ambos, phaerimm e sharn, vieram de uma outra dimensão.
Lá, eles representam duas forças opostas da natureza, como o caos
e a ordem, por isso, através de um acidente mágico provocado pelos
arquimagos de Netheril, ambas as raças foram jogadas ao nosso plano."
"Suponho então que deveríamos
atrair estes nêmesis dos phaerimns para que eles se destruam?" Opinou
Khelben se esforçando muito para falar.
"Não, correria o risco de atrairmos
mais phaerimns. Eles são seres de extrema inteligência. Após conhecer
nosso plano eles desejam dominá-lo, portanto, esperam uma forma
de invadi-lo mais uma vez. Acredito que nesta nova tentativa virá
um contingente maior deles. Você não percebeu porque eles querem
tanto o mythal élfico de Evereska?"
"Eu imaginava que isso fazia
parte da cadeia alimentar deles."
"Eles querem descobrir o segredo
do mythal, pois esse artifício é uma boa alternativa em relação
a falta de um mythalar. Eles precisam de um excelente conduíte mágico
que possibilite criar uma fenda entre os dois mundos."
"Por Mystra, não podemos esperar
mais. Diga, o que posso fazer para evitar este desastre?"
"Eu construí algo que pode aprisionar
todos os phaerimns num determinado local", disse Larloch mostrando
a Khelben um cristal, "Este é o Dodecaedro Definitivo. É
um artefato mythalar que possui energia suficiente para criar um
campo de aprisionamento para os pherimns, basta que ele seja acionado
de uma forma muito simples. Você deve conhecer o ritual de enclausuramento.
Qualquer arquimago sabe disso."
"Sim, eu conheço. Então é assim?
Simples?"
"Seria, se o artefato não retirasse
a vida do conjurador. Isso mesmo. Para que ele seja acionado é necessário
a vida do conjurador. É uma viagem ao mundo dos mortos sem
retorno, Khelben. Imagino que para você seja um sacrifício justo."
Khelben não disse nada, prefiria
não acreditar naquela afirmação.
"Depois do Dodecaedro ser acionado,
os phaerimns serão aprisionados num grande campo de energia, área
suficiente para que os seres sejam eliminados pois, se não forem
destruídos, podem descobrir como criar a fenda dimensional. Não
se preocupe, a fenda só aprisiona os phaerimns, qualquer outro ser
pode sair e entrar livremente nela, e lá os criaturas não poderão
conjurar feitiços, embora mantenham suas defesas naturais. E por
último, só direi uma coisa em relação a Obscura, seu rei, o Lorde
das Sombras, voltou para dominar os reinos. Ele não é tão poderoso
e tão paciente como eu, mesmo assim pode representar um grande problema
para você."
"Larloch, eu gostaria de fazer
outras perguntas..."
"Não, seu tempo acabou. Vá,
favorecido pela deusa. Salve os reinos novamente, e depois leve
consigo a lembrança de que um dia esteve na presença do Lorde Supremo,
leve esta recordação para o túmulo."
Antes que Khelben pudesse dizer
alguma coisa, Larloch fez apenas um pequeno gesto com a mão e o
arquimago de Águas Profundas surgiu dentro da barraca designada
para ele e sua amada Laeral no acampamento nos arredores de Evereska.
Logo que chegou, exausto e bastante ferido, tombou fazendo barulho,
o que atraiu a atenção de Laeral e Galaeron, que conversavam fora
da tenda. Ambos entraram e acudiram Khelben. Ministraram um elixir
mágico que melhorou suas condições.
Por Um Calor Humano
Magnus
dormira por algumas horas. Ao despertar percebeu o lindo corpo de
Storm Mão Argêntea abraçado ao seu. Olhou ao redor. Estavam no mesmo
lugar de antes. Olhou para a guerreira para ver se ainda estava
ferida. Storm então também acordou, afastou-se lentamente dele dizendo
"Você estava muito ferido, precisava se manter aquecido, por isso
..."
"Eu entendo, muito obrigado
Storm."
"Não, eu é que devo agradecer,
não fosse sua benção divina, talvez estaria ao lado de minha falecida
irmã Syluné. Eu jamais esquecerei isso. Mas por ora, vamos ver seus
ferimentos. Tire a armadura por favor."
Magnus aos poucos foi tirando
as placas de sua esplendorosa armadura, Storm o ajudou. Ficou ele
apenas de calça, portanto a harpista o examinou e viu alguns talhos
abertos. Teve de passar as mãos no corpo viril do paladino para
identificar as partes doloridas, suas mãos foram percorrendo seu
grande tórax até chegar aos ombros quando sua face ficou junto com
a dele, seus olhares se cruzaram e num ímpeto, se beijaram calorosamente
com um abraço forte e confortante que durou bastante tempo. Magnus
ignorou completamente as dores que sentia com o abraço, sentiu apenas
prazer. Foi então que depois de alguns minutos voltaram a si e Storm
pegou linha e agulha de sua sacola e fechou os cortes dele. Resolveram
descansar para decidir que rumo tomariam.
Nos Labirintos da Caverna
Kariel
conduzia velozmente a montaria onde também estavam Mikhail e Galtan.
Fugiam dos homens-lagartos e já haviam aberto boa distância de seus
perseguidores, que não mais podiam ser vistos. Repentinamente, apresentou-se
no corredor rochoso um grande buraco que interrompia o caminho.
Desmontaram e começaram a analisar a situação. O fosso não era profundo,
devia ter uns três metros, mas sua largura era considerável, cerca
de quatro metros. No fundo do buraco passava um outro caminho, que
fazia parte do labirinto que era o interior daquela montanha. Haviam
então duas possibilidades: tentar um perigoso salto sobre o fosso
e prosseguir no caminho em que estavam ou descer e continuar por
baixo. A última opção foi descartada por conta do animal. Descer
o cavalo poderia se tornar uma tarefa difícil. Então decidiu-se
pelo salto, mesmo que parecesse arriscado com um corredor tão apertado.
Kariel, que era o mais leve,
iria conduzir o cavalo, que ia sem equipamentos ou mesmo sela, para
ficar mais leve. Além de seus pertences o elfo levava uma corda
que seria jogada para os seus companheiros, a fim de que pudessem
alcançá-lo do outro lado. Então subiu no cavalo, tomou distância
e saltou. O animal desequilibrou-se e acabou caindo no fosso, junto
com seu cavaleiro. O mago não sofreu nada de sério, mas o animal
havia quebrado a pata, uma sentença de morte para os da sua espécie.
Kariel então levantou-se e chamou pelos amigos que estavam acima.
"Desçam! Mikhail... o cavalo
quebrou a pata. Precisa ajudá-lo", disse jogando o rolo de corda.
"Já vamos até aí!", disse o
elfo de Evereska.
Mikhail e Galtan desceram. O
clérigo de Mystra então usou uma de suas orações que proporcionavam
cura e a pata do animal se recuperou. Também aproveitou para curar
alguns ferimentos ainda abertos de Galtan.
"E agora? Prosseguimos por este
caminho aqui em baixo?", perguntou Galtan.
"Sim. Estávamos perdidos antes.
Pior do que isto não ficaremos. Mas o cavalo não poderá prosseguir.
O terreno é muito acidentado. Porém minha magia somente dispersará
daqui a várias horas."
"Posso tentar dissipar o seu
encanto e mandá-lo de volta.", sugeriu Mikhail.
"Ótimo. Então faça isto, meu
amigo."
Mikhail recitou algumas palavras
divinas e concentrou-se. Sua prece deu resultado: o encanto de Kariel
se desfez e o animal voltou para o local de onde viera.
"Precisamos descansar e refazer
nossas forças."
"Sim, Kariel, mas não aqui.
É muito perigoso. Vamos prosseguir e tentar encontrar um local mais
seguro.", sugeriu Mikhail.
Então os três puseram-se a andar
pelo estreito corredor rochoso, iluminados por uma lanterna carregada
por Mikhail e pela brilho azulado emanado da espada de Kariel. Quarenta
minutos depois encontraram a frente quatro passagens. Escolheram
uma cujo caminho levava para o alto, pois não desejavam descer às
profundezas da montanha. Caminharam por seis horas, procurando por
algum abrigo, um nicho entre as rochas onde pudessem repousar, mas
foi em vão. Sendo assim resolveram parar no meio do caminho para
recobrar suas energias. Sentaram no chão e recostaram-se na parede
de pedra. Mikhail recitou outra de suas orações e um encanto divino
agiu, fazendo-os dormir. Repousaram por uma hora, mas era como se
houvessem deitado por oito. Em seguida levantaram e recomeçaram
a caminhada.
Andavam com a mente preocupada
em achar uma saída e no destino de seus companheiros Magnus, Storm
e Brian. Kariel, que sabia ser Storm Escolhida de Mystra como ele
era, tentou comunicar-se pronunciando o nome da guerreira, mas não
obteve resposta. O elfo então quis acreditar que a aventureira havia
apenas desativado este dom, coisa que um Escolhido podia fazer para
não interferir na concentração. Era um pensamento mais reconfortante
do que julgar que Storm havia morrido no desabamento.
Caminharam por mais três horas
até Galtan observar algo para os seus companheiros.
"Amigos... notaram que o chão
deste caminho é bastante liso e tem pouca poeira acumulada? Esta
trilha deve ser bastante usada. Devemos ter cuidado."
"Ativarei o encanto de meu elmo
e irei a frente como batedor."
Kariel tocou o seu elmo e desapareceu.
Seguiu a frente de seus companheiros e logo ouviu passos. Haviam
criaturas caminhando e o ruído estava cada vez mais forte. Por um
instante, o elfo de cabelos azuis tornou-se visível e com um gesto
pediu que os companheiros tentassem se ocultar nas paredes. Com
as fontes de luz apagadas apenas os elfos puderam, com sua visão
superior, notar as formas que se aproximavam. Eram as silhuetas
de cinco homens lagartos e uma outra mais alta, de um ser diferente
que, ao invés de pernas, arrastava-se sobre uma cauda de serpente.
Kariel não esperou muito e assim que o grupo passou por ele, conjurou
uma bola de fogo que explodiu, matando dois homens-lagartos e ferindo
os outros inimigos. O clarão do fogo iluminou a caverna e revelou
Galtan e Mikhail. Haviam agora três homens lagartos e a criatura
serpente, cujos mais sábios ou experientes conhecem pelo nome de
yuan-ti. Dois homens-lagartos atacaram Mikhail, outro Galtan e o
yuan-ti partiu em direção a Kariel. O fogo mágico invocado desapareceu
e a escuridão era agora afastada somente pelo brilho azulado de
Goliath, a espada de Kariel.
Galtan conseguiu desviar de
um golpe da alabarda do homem-lagarto que combatia contra ele. O
cavaleiro de Águas Profundas, aproveitou bem a falha do oponente
e desferiu-lhe um ataque fulminante com sua espada. Mikhail também
teve sorte, coisa que em muitas ocasiões costumava faltar nas suas
lutas. Esquivou-se das investidas dos dois monstros e com seu martelo,
rachou o crânio de um deles. Kariel invocou um encanto que o fez
dobrar de tamanho e correu contra o homem-serpente. Galtan, que
havia se livrado do inimigo, investiu também contra o yuan-ti. O
cavaleiro chegou primeiro e desferiu o primeiro golpe. O monstro
mostrou sua agilidade e inclinou seu corpo para trás, escapando
da espada. Em seguida, com a lâmina de formato curvo que empunhava,
tirou um pouco de sangue do aventureiro. Kariel, usou sua Goliath,
que agora estava do tamanho de uma lança, e provocou um ferimento
no ser rastejante, abrindo-lhe um rasgo diagonal no peito. O yuan-ti
revidou, mas seu ataque foi anulado por uma proteção mística que
agia sobre o elfo. Neste momento, Galtan tentou outro golpe e desta
vez atingiu o coração da criatura, que tombou inerte. Quase neste
mesmo instante, Mikhail terminava o combate derrotando o inimigo
que restava. Arrastaram os corpos e os ocultaram nas paredes rochosas.
"Que criatura era aquela?",
perguntou Galtan.
"Não conheço este homem serpente.",
respondeu Kariel.
"O ar parece mais fresco vindo
da frente.", analisou Mikhail. "Talvez haja uma saída!".
"Vou à frente novamente. Se
houver um perigo eminente, acenderei minha espada duas vezes! Aguardem
aqui."
Kariel foi como batedor e, novamente
invisível e de volta ao seu tamanho normal, percorreu alguns metros
a frente. A medida que avançava viu o final do corredor. A saída
levava para uma câmara maior e uma iluminação vinha de lá. Kariel
aproximou-se e pôde ver uma imenso salão rochoso, tão grande que
serviu para que os homens-lagartos construíssem nele uma aldeia.
Haviam casas rústicas, feitas com amontados de pedra, iluminadas
por tochas e dezenas de habitantes, de todos os tamanhos. Do outro
lado da aldeia podia se avistar outra passagem, que iniciava outro
corredor. Kariel então retornou e foi contar o que viu aos amigos.
"Existe uma aldeia de homens-lagartos
a frente e além dela existe uma passagem."
"Uma aldeia! De quantas criaturas
estamos falando?"¸ quis saber Mikhail.
"Vi cerca de setenta!"
"Não podemos enfrentar todos
eles! Você, com seus artifícios de mago, poderia promover uma distração
para permitir que passemos sem sermos notados?", perguntou Galtan.
"Poderia criar uma distração,
mas mesmo assim eles são muitos. Com certeza algum deles iria percebê-los..
Farei o seguinte: continuarei invisível e prosseguirei no próximo
corredor. Quando perceber um
local seguro, conjurarei um portal. Vocês poderão atravessá-lo e
me encontrarão do outro lado."
"Está certo. Mas tenha cuidado!",
alertou Mikhail.
Kariel então prosseguiu. Andou
com muito cuidado para evitar ruídos e procurou caminhos onde não
precisasse cruzar com os habitantes da aldeia. Chegou a entrada
do novo corredor, onde pôde respirar profundamente. Prosseguiu por
mais vinte minutos no túnel rochoso e chegou a outra câmara, um
pouco menor que a anterior. Para a sua surpresa, havia nela também
uma vila e outro corredor. O elfo então novamente encheu-se de cuidado
e percorreu os caminhos entre as rústicas casas. Alcançou a passagem
após a nova vila. Desta vez, o corredor parecia muito mais escuro
e profundo. Andou um pouco mais e não encontrou sinal de que existisse
outra vila próxima. Então concentrou-se, tentou calcular a distância
que havia percorrido e conjurou seu encanto. Um brilhante portal
circular de energia mágica se abriu e, segundos depois, passaram
por ele Mikhail e Galtan.
A Comitiva de Orcs
Florin,
Dove, Limiekli e Sirius cavalgaram durante um dia em direção ao
norte e agora faziam uma refeição. Estavam em uma colina e, sentados
ao redor de uma pequena fogueira, conversavam.
"Sinto que falhei com vocês
ao não proteger Bingo. Deixei que ele fosse levado. Se desejarem,
posso seguir sozinho. Não precisam se arriscar!", falou Florin,
sentindo-se culpado.
"Não. Viemos todos juntos e
assim vamos ficar!", colocou Sirius.
"Um daqueles documentos que
estavam no quarto de Ortz era um mapa de Urgithor. Segundo ele,
poderemos encontrar várias patrulhas antes de chegarmos a cidade.",
continuou Florin, segurando o documento.
"Então precisaremos de um disfarce."
"Sim, Limiekli. Tenho um encanto
especial que poderá nos auxiliar.", revelou Dove.
"Posso tornar nossas aparências
a semelhança dos orcs. Assim poderemos passar pelas patrulhas sem
que sejamos descobertos. O feitiço ainda nos dará a possibilidade
de entender a língua orc."
"Ótimo. Mas ainda me intriga
o porquê de Numoz ter envenenado Ortz. É certo que os dois divergiam,
mas se Ortz tivesse êxito em Evereska ainda assim seria boa coisa
para os orcs."
"Não sei, Florin.", disse a
esposa Dove, "Mas talvez possamos encontrar as respostas em Urgithor."
Dove então levantou-se, e seus
companheiros fizeram o mesmo. A bela heroína começou o seu encanto
e recitou algumas palavras arcanas. Aos poucos, os corpos de humanos
dos aventureiros foram se transformando: a pele se tornou esverdeada
e suja, seus rostos se projetaram para frente e duas enormes presas
cresceram na mandíbula, seus braços tornaram-se mais longos e seus
cabelos ficaram grossos como pêlos de animais. Suas posses também
mudaram: as vestes se tornaram rústicas e de tons escuros, armas
de metal reluzente ficaram foscas e perderam toda a beleza. E agora
exalavam também desagradáveis odores. Após a transformação ser completada,
Sirius fez uma observação sobre esta característica: levantou os
braços e com suas novas e grandes narinas tentou sentir algo.
"A transformação foi perfeita,
mas não estamos fedendo como orcs!"
"Devemos estar", disse Limiekli,
"Mas com estes narizes de orcs não iremos nos incomodar com nosso
próprio cheiro."
"E então meus amigos? Estão
prontos!?"
"Sim, Florin!", respondeu Limiekli.
"Então vamos! Vamos salvar Bingo!"
E assim, apagaram a fogueira
e subiram nos cavalos rumo a estrada. Em direção a Urgithor.
Esta
história é uma descrição em teor literário
dos resumos de aventuras jogadas pelo grupo Comitiva da Fé
em Salvador sob o sistema de RPG Advanced Dungeons & Dragons.
|