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Na Pele dos Goblinóides
Descrita por Ricardo Costa e Ivan Lira.
Baseada no jogo mestrado por Ivan Lira.
Personagens principais da aventura:
Os
Humanos: Magnus de Helm; Sirius Lusbel; Sigel O'Blound (Limiekli),
Sir Galtan de Águas Profundas, Brian Mestre das Espadas.
Os Elfos: Mikhail Velian; Kariel Elkandor. O Halfling:
Bingo Playamundo. Participação Especial: Khelben
"Cajado Negro" Arunsun, Laeral Mão Argentêa,
Storm Mâo Argentêa, Florin e Dove Garra da Falcão.
Na Pele dos Goblinóides
Os
dois grupos nos quais se dividiram a Comitiva da Fé estavam ainda
separados e suas dificuldades prosseguiam. A equipe que estava ao
norte, agora transformada pelas artes místicas de Dove Garra da
Falcão em orcs, possuía como missão o resgate do companheiro halfling
Bingo, seqüestrado pelas forças do general orc Numoz. O pequeno
havia sido levado para a cidade-nação de Urgithor, onde agora teriam
que se infiltrar. Já os aventureiros do grupo que seguiu ao leste
estavam perdidos e separados, em um interminável labirinto de cavernas
habitado por hostis homens-lagartos e seres serpentes conhecidos
como yuan-tis.
Enquanto tais fatos se desenrolavam,
Khelben Arunsun, arquimago de Águas Profundas, estava diante de
uma das criaturas mais poderosas e antigas de Toril, o arquimago
morto-vivo conhecido por Larloch. Arriscou a vida o homem, na esperança
de que o arcano o ajudasse a conter as ameaças dos phaerimns e dos
vultos. Tal risco, porém, foi recompensado. Recebeu do vilão um
objeto chamado Dodecaedro Definitivo. O artefato mágico poderia
aprisionar os phaerimns, mas isto teria um preço: a vida do conjurador
que o acionasse. Ao fim da conversa, Khelben foi, com um aceno de
Larloch, devolvido a sua tenda, no acampamento próximo as muralhas
de Evereska.
E
assim prossegue a aventura...
Recompondo-se
No
acampamento nas cercanias de Evereska, uma linda mulher vestida
num fino robe arcano caminhava entre as barracas. Para alguém com
mais de quinhentos invernos de existência, Laeral estava muito tensa.
Ela vinha acompanhada pelo elfo Galaeron Nihmedu e ambos estavam
apreensivos pela recuperação de Khelben Arunsun, o arquimago de
Águas Profundas. Ele acabara de voltar de uma missão de onde quase
saiu sem vida, embora não por seus próprios méritos. Laeral foi
iniciada nas artes arcanas desde muito jovem pois, sendo filha da
deusa Mystra, obteve certos privilégios como ser ensinada por um
sábio de nome Elminster. No decorrer de sua vida aprendeu muitas
coisas, viajou pelos reinos e enfrentou situações mortais. Mas foi
com Khelben que ela conheceu o amor, e desde então ele se tornou
seu companheiro. Pela primeira vez em muitos anos ela teve receio
de que perderia o marido. Entretanto, milagrosamente, ele voltou.
Ao
entrar em sua barraca, Laeral espantou-se alegremente:
"Khelben!
Você acordou!" Disse ela ao ver o arquimago sentado em uma cadeira.
Ele estava completamente bem fisicamente. Seu olho voltara ao normal.
Sortilégio de Mystra.
"Sim
querida, eu estou bem agora."
"Khelben,
você partiu a poucos dias e voltou muito ferido... estava sem um
olho. O que aconteceu a você?" Perguntou Galaeron curioso.
"Eu
tive alguns contratempos, mas nada muito grave.. Galaeron, você
poderia nos deixar a sós? Eu gostaria de falar com minha esposa."
"É
claro, com licença." E Galaeron recuou e saiu da tenda.
"Khelben,
o que aconteceu? Diga-me." Perguntou Laeral.
Khelben
contou a sua esposa como conseguiu chegar até as câmaras inferiores
de um dos lugares mais tenebrosos dos reinos, a Cripta Warlock.
Situada na Costa da Espada, este lugar sempre foi evitado pelos
mais sábios e inteligentes de Faerûn. Apenas os tolos ou infelizes,
que tentaram a sorte visando conseguir riquezas ilimitadas adentraram
o covil maligno e nunca mais retornaram, com exceção do Mago Vermelho
e hoje zulkir Szass Tam. Ao recordar os fatos, Khelben falou sobre
a origem dos phaerimns e os sharn, e sobre a solução criada por
Larloch através do Dodecaedro Definitivo.
"Mas,
querido, será que não é perigoso fazer um ritual de enclausuramento
com este objeto? Ele é um mythalar...você não irá conseguir canalizar
uma energia tão grande."
"Não
tema. O Dodecaedro não é um simples artefato. Ele criará a própria
canalização. Eu serei apenas um gatilho no processo.", disse Khelben,
embora, na realidade, isso não fosse verdade. Larloch lhe revelou
que o processo mataria o conjurador, de que a morte seria iminente,
mas não queria de forma alguma entristecer sua esposa.
Ambos
continuaram conversando por algum tempo, até que o arquimago resolveu
ir até o Templo de Corelon para saber da restauração do mythal.
Novos
Orcs em Urgithor
Os
quatro novos orcs desceram a colina, onde haviam montado seu acampamento
oculto. Estavam a mais ou menos um quilômetro e meio de Urgithor.
Caminharam pela estrada, ainda estranhando suas novas formas.
"O
que vamos fazer agora?", perguntou Limiekli.
"Tenho
uma sugestão.", colocou Dove. "Vamos nos dividir e buscar por informações.
Bingo e Numoz estão aqui em algum lugar! Sirius pode vir comigo
e você irá com Florin. Nos encontraremos aqui mesmo, dentro de doze
horas, que é o tempo de duração da magia que permite nosso disfarce."
Os
demais concordaram com a sugestão de Dove e prosseguiram no caminho
para a cidade orc. Depois de alguns minutos, passou por eles uma
carroça, guiada por um goblin. Trazia animais mortos, provavelmente
caça. Limiekli pediu-lhe carona e o pequeno monstro não se opôs.
Assim, então chegaram a Urgithor. Era uma grande cidade. Sua aparência,
sinistra e desagradável. As construções, dispostas de maneira irregular,
eram de madeira e pedra, rústicas, desajeitas e escuras. Haviam
muitas chaminés que expeliam uma fumaça negra, que obscurecia os
últimos raios de sol. Orcs, goblins e alguns kobolds que habitavam
Urgithor, percorriam as ruas. Alguns vendiam carne, exposta ao céu
aberto em balcões repleto de moscas. Durante o caminho, viram também
algumas brigas, que pelos olhares indiferentes dos passantes, não
deveriam ser algo incomum. Decidiram então pular da carroça.
"Para
onde vamos?", perguntou Limiekli.
"Devemos
nos misturar, sobretudo com os militares."
"Já
sei, Dove. Vamos procurar uma taverna. É nestes lugares que encontramos
qualquer tipo de gente. Devem haver militares também. Pena que cerveja
de orc me dê dor de cabeça!", lamentou Sirius.
"Eu
e Limiekli daremos uma volta pela cidade.", disse Florin.
Então
o quarteto se dividiu e tomaram direções diversas. Dove e Sirius
andaram e viram uma grande construção, guardada por sentinelas em
armadura. Pela vigilância, suspeitaram ser um quartel.
"Será
que Bingo está por lá?", perguntou Sirius para Dove.
"Não
sei. É provável. Mas teremos que nos certificar e descobrir uma
maneira de entrar."
Em
uma esquina, viram uma placa de madeira com um nome escrito em pinceladas
descuidadas de tinta: Taverna Caminho da Morte. Parecia um estabelecimento
movimentado. Adentraram a porta e procuraram por uma mesa. De todas
as tavernas que já haviam visto, esta talvez fosse a mais suja,
fétida e barulhenta... mas nenhum dos freqüentadores parecia se
importar muito com aquilo.
Sirius
chegou ao balcão e pediu cerveja-de-orc. Foi servido com uma caneca
de madeira cheia da bebida escura e amarga. Dove aguardava e observava.
Eis quando um orc a agarrou pela cintura.
"E
aí, dona. Vamos tomar um barril ali comigo?"
Dove
deu-lhe uma potente cotovelada no rosto, e o galanteador caiu no
chão da taverna com o rosto ensangüentado e maxilar deslocado. Todos
caíram na gargalhada, inclusive Sirius. Terminadas as risadas, sentaram
e observaram ao redor. Em uma mesa próxima haviam três orcs. Pareciam
soldados e olhavam de vez em quando para a porta. Então entrou depois
na taverna um outro, maior, trajado em armadura, que sentou junto
com eles. Parecia ser um superior. Gritou e os esbofeteou, bradando
em voz alta.
"Idiotas.
São militares e não conseguem fazer sequer este serviço. Terei que
chamar mercenários." O orc olhou para o lado e viu Sirius, um orc
armado, que prestava atenção na conversa.
"Você!",
disse.
"Eu?",
respondeu Sirius.
"Sim.
Você mesmo. Parece ser um mercenário. Está disposto a aceitar um
serviço? É que estes imbecis aqui não conseguem matar um orc sequer!"
"Pode
ser. Como é o trabalho?"
"Venha
comigo!"
O
militar levou Sirius para uma mesa mais isolada, onde explicou-lhe
a missão.
"Neste
trabalho, você poderá levar quem quiser. Temos um foragido. Um feiticeiro
chamado Marut. Ele andou fazendo algumas coisas erradas e agora
deve ser punido."
"O
que ele fez?"
"Não
importa. O que importa é que darei até 10 peças de ouro para você
e para mais dois ajudantes se precisar. Qual é o seu nome? È alistado?"
"Meu
nome é... Gru. Não... ainda não me alistei."
"Pois
bem. Além disto, se for se alistar terá uma boa carreira. E então?
Aceita o serviço?"
"Aceito."
"Ótimo.
Você não conseguirá encontrar Marut em seu esconderijo na floresta,
mas sabemos que seu lacaio goblin, de vez em quando, vem a cidade
comprar mantimentos e produtos de feitiçaria. Soubemos que talvez
amanhã ele apareça no mercado. Siga-o até Marut e traga a cabeça
do feiticeiro para mim. Quando conseguir, fale com taverneiro. Ele
sabe como me encontrar. Agora pode ir."
Sirius
retornou a mesa e sentou novamente ao lado de Dove.
"O
que aquele militar queria, Sirius?"
"Que
eu matasse um feiticeiro em troca de um pagamento. Nada que tenha
relação com nossa missão."
"Será
mesmo? Ele parece ter alguma importância. Se conseguirmos cair nas
graças de um comandante, conseguiremos chegar mais facilmente à
Numoz e a Bingo."
"Então
faremos o que ele pediu?"
"Vamos
investigar esta história. Conversaremos também com os outros."
Enquanto
isto Limiekli e Florin passearam pela cidade. Encontraram uma loja
de armas e viram alguns soldados que saíam de lá. Resolveram entrar.
Era uma loja grande, mas desorganizada. Espadas rústicas feitas
em uma liga de metal escuro eram armazenadas em cestos, maças e
machados pendurados na parede e muitos orcs a andar e a baterem-se
em corredores apertados. Haviam também guardas, muito bem armados,
que cuidavam para que os ladrões ficassem afastados dos produtos.
Limiekli aproximou-se do balcão, onde um velho orc, cheio de cicatrizes,
estava para atender seus clientes.
"Velho,
o que tem aí? Não digo este lixo que tem espalhado pela sua loja.
Que item você tem que realmente preste? Daqueles que guarda para
você!", falou Limiekli, imitando bem o linguajar grosseiro dos seus
inimigos.
"O
que você quer? Parece que não precisa de armas. Sua língua já é
bastante afiada!"
"É
afiada, mas não como o que quero comprar. Quero um machado de qualidade."
"Está
bem, então. Aguarde!"
O
vendedor entrou em um cômodo e, minutos depois voltou com um imenso
machado, adornado com relevos de metal, figuras de crânios e morcegos.
A lâmina brilhava e parecia feita de bom aço.
"É
isto o que quer?", disse o orc, entregando a arma nas mãos de Limiekli.
"Está
ótimo! Dá para partir a cabeça de alguns elfos com esta coisa!"
"Têm
lutado muito? Não me parecem militares."
"Não
somos! Fazemos serviços em troca de pagamento!"
"Mercenários!"
"Isso.
Mas estamos sem trabalho. Você não tem nada aí pra gente? Fiquei
sabendo de uma guerra..."
"Sim...",
aproximou-se dos dois o vendedor, sussurrando. "Ouviu falar de um
reino humano chamado Cormyr? Muitos orcs estão combatendo por lá."
"Ouvi.
Seguem um humano, chamado Vorik, acho."
"Isto
mesmo. Se quiserem se alistar, procurem por Kyrrus, no templo de
Shargrass. Diga que foi Grob que os mandou."
"Valeu!
E o machado? Quanto vale?"
"Eu
guardarei para você. Fale com Kyrrus. Pode ser que o machado fique
até de graça!"
"Até
mais então, velho!"
Limiekli
e Florin deixaram então a loja. O Cavaleiro de Myth Drannor estava
surpreso com a performance de seu companheiro.
"Limiekli,
quando você começou a falar, pensei que botaria tudo a perder. Achei
iríamos acabar tendo que travar uma batalha ali naquela loja!"
"Relaxe,
Florin. Tinha que agir como um orc. Ademais, eles não são tão diferentes
de alguns que encontrei em Forte Zenthil."
"Forte
Zenthil? Você esteve lá? O que fazia naquele..."
"Deixa
pra lá... é uma longa história. Vamos logo ver este tal Kyrrus."
Uma
Batalha e um Reencontro
Sir
Galtan de Águas Profundas e Mikhail Velian de Evereska acabavam
de passar pelo portal místico aberto por Kariel e agora estavam
junto ao mago, em um túnel escuro, além da aldeia de homens-lagartos.
"Não
sei o que há a frente, mas irei investigar!", falou o elfo de cabelos
azuis para os companheiros recém chegados do portal. "Fiquem recuados
e atentos. Se houver problemas, farei um sinal com a luz de minha
espada."
"Esta
bem. Aguardaremos!", disse Mikhail, o elfo clérigo de Mystra.
Kariel
então tocou novamente o seu elmo encantado e desapareceu das vista
de seus amigos. Andou e saiu em um câmara iluminada e pavimentada
em pedra . A luz vinha de chamas de algumas piras, presas nas paredes.
O fogo tremeluzia em um ritmo estranho e sua queima não resultava
a mínima fumaça. Kariel estendeu sua mão e concentrou-se. Percebeu
que o fogo tinha origem arcana. Prosseguiu o caminho, o mago invisível.
Na sua direita, havia um pequeno pomar, com árvores cheias de frutinhas
vermelhas e arbustos. Um pouco mais a frente no caminho, havia uma
entrada a esquerda e um portão, guardado por quatro homens serpentes.
Kariel resolveu continuar em frente e terminou sua exploração em
outro portão, que impedia o seu avanço. Então, deu meia-volta e
foi contar aos companheiros o que havia visto.
"Companheiros.
Sou eu!", disse Kariel, ainda invisível, para não provocar sustos.
"A frente existe uma câmara diferente desta caverna. È iluminada
e o chão foi calçado com tijolos. Existe um pequeno pomar e duas
direções a serem seguidas, seladas por dois portões. O primeiro
deles, a esquerda, é guardado por quatro homens-serpentes e o outro,
a frente, está fechado, mas desguarnecido."
"Que
armas eles usam?", perguntou Mikhail.
"Pelo
que pude notar, possuem espadas comuns e arcos curtos."
"Eu
pego dois deles e cada um de vocês bate-se contra um!", disse o
confiante Galtan, já sacando sua espada longa e partindo para frente,
quando foi detido pelas mãos dos elfos.
"Espere!",
disse Mikhail.
"Ouvi
algo!"
"Eu
também!", concordou Kariel.
"Escondam-se."
Os
ouvidos élficos costumavam ser precisos e alguns segundos depois,
o humano Galtan também podia ouvir passos, ruídos metálicos e algo
sendo ser arrastado. Ocultaram-se bem nas sombras e viram quando
caminharam por eles duas duplas de homens-lagartos, que arrastavam
cada uma um corpo. Os elfos, com sua visão privilegiada, perceberam
tratarem-se de humanos, mas nem mesmo eles conseguiram identificar
com clareza suas feições, dada a escuridão. Tensos, esperaram os
inimigos passarem por eles e os seguiram, preservando uma certa
distância. Quando os répteis entraram na câmara, a luminosidade
desfez as sombras e puderam ver os prisioneiros. Um deles era Brian
Mestre das Espadas e o outro, um homem desconhecido, de barba por
fazer, que vestia uma diferente túnica branca. Os homens-lagartos
cumprimentaram os yuan-tis e seguiram reto, em direção ao portão
a frente.
"Não
podemos perder tempo. A hora é agora.", disse Mikhail.
"Sim.
Peguem os homens serpentes. Eu vou acertar os homens-lagartos antes
que abram os portões. Aguardem até que eu dê o primeiro combate.",
disse Kariel.
O
mago foi a frente e antes que os homens-lagartos aproximarem-se
do portão, viram projéteis luminosos de energia partirem em suas
direções e explodirem. Soltaram os humanos ao chão e viram o seu
agressor que, por conta das propriedades do encanto que executara,
ficou novamente visível. Os monstros retiraram de suas costas grandes
alabardas e partiram em direção ao mago.
Ao
ouvir as explosões provocadas pela magia de Kariel, os yuan-tis
tencionaram deixar suas posições, mas logo Mikhail e Galtan saíram
das sombras e os atacaram. O primeiro foi o clérigo de Mystra, que
recitou uma oração e, ao gesticular, uma coluna de chamas surgiu
do chão como um jato, engolfando dois dos inimigos, que feriram-se
bastante, mas não morreram. Em seguida, Mikhail retirou o martelo
da cintura e pôs-se a ir de encontro aos homens-serpentes. Galtan
correu em direção aos outros dois, que sacaram suas espadas para
enfrentá-lo. Mikhail errou seus primeiros golpes e sofreu por isto.
Os yuan-tis investiram com suas espadas e, apesar destas terem encontrado
sua cota de malha élfica, provocaram dolorosas contusões. Galtan
se saiu melhor, aparou os golpes dos inimigos e feriu gravemente
um deles, em um ataque certeiro com sua espada longa.
Kariel
lançou uma nova bateria de projéteis luminosos contra seus oponentes,
que mesmo feridos, continuavam avançando. Então cessou o mago de
encantos e sacou sua espada Goliath. Lutava contra quatro inimigos,
munidos de grandes armas. Kariel fazia o que podia, mas era difícil
enfrentar a desvantagem, ainda mais não sendo um guerreiro, nem
usando armaduras. Acertou um homem-lagarto com sua arma, mas também
foi atingindo pelos golpes de outros dois. Golpeou novamente o mesmo
oponente, desta vez com duas investidas rápidas de sua lâmina e
então o homem-lagarto tombou. Mas ainda haviam mais três e estes
acertavam impiedosamente o elfo, cujas roupas tingiam-se de sangue,
para em seguida voltarem a ficar limpas. Um efeito curioso da magia
do elmo que usava.
Na
outra batalha que se desenrolava, o primeiro yuan-ti caía, por conta
dos golpes de Galtan. O cavaleiro recebeu ataques do inimigo que
lhe restava, mas os ferimentos que sofreu não o impediram de lutar.
Então, com uma outra investida, driblou as defesas do monstro e
acertou-lhe o coração. A batalha prosseguiu e Mikhail fez sua primeira
vítima, um dos homens serpentes morreu após receber um pesado golpe
no crânio. O elfo clérigo de Mystra em breve receberia a ajuda do
cavaleiro. Contra os dois aventureiros juntos, a criatura teria
agora poucas chances.
Kariel
havia abatido outros dois homens-lagarto, mas havia perdido muito
de seu sangue e nem mesmo os seus poderes regenerativos, dádiva
da deusa Mystra, podiam agir na velocidade com a qual era ferido.
Lutava o elfo mago, já com poucas forças, quando novamente foi atingido.
Seu único oponente, também bastante ferido, mas em melhor condições,
viu então o aventureiro cambalear, ajoelhar e cair. Então ergueu
sua espada o réptil e guichou no momento de dar o golpe que mandaria
Kariel para o Reino de Arvandor. Porem, antes que o réptil conseguisse
seu intento, recebeu no rosto uma maça, arremessada por Galtan.
Em seguida Mikhail, projetando-se com seu escudo, chocou-se com
o homem-lagarto e este caiu ao solo, para encontrar a morte em um
golpe de misericórdia dado pelo Cavaleiro.
Mikhail
sentou-se ao lado do mago e realizou uma prece curativa. Kariel
então recuperou-se o suficiente para recobrar a consciência e erguer-se
novamente. Em seguida, foi a vez do clérigo se dirigir aos prisioneiros.
Outras preces foram feitas e Brian e o estranho se recuperaram.
Foi o militar de Águas Profundas o primeiro dos dois a falar.
"O
que aconteceu? Onde estamos?"
"Estamos
perdidos em um labirinto de cavernas. È bom vê-lo. Pensamos que
podia estar morto.", disse Galtan.
"O
mesmo digo de vocês. Por sorte, consegui entrar em um túnel antes
que as pedras me atingissem, mas depois fui atacado e vencido por
muitos destes homens-lagartos!"
"Enquanto
a Storm e Magnus, Brian? Sabe onde estão?"
"Não,
Kariel. Pensei que estavam com vocês!"
Kariel
então resolveu concentrar-se. Fechou os olhos e perguntou. "Storm.
Aqui é Kariel. Onde estão? Estão bem?". Tentou ouvir alguma resposta
em sua mente, mas só havia silêncio.
"Nada.
Nenhuma resposta. Espero que não tenha acontecido o pior.", desejou
o mago.
"O
que foi isto que estava fazendo? Com quem falava, Kariel? Não compreendo...",
perguntou Brian.
"Eu
e Storm podemos nos comunicar através de uma dádiva de Mystra, a
Deusa da Magia. Infelizmente parece que a mente dela está inacessível
por algum motivo."
O
estranho, de pele bronzeada, que devia contar quarenta primaveras,
também recobrou sua consciência e quis saber onde estava.
"Dentro
de uma montanha, nas fronteiras ao leste de Anauroch. Você foi capturado
por homens-lagartos."
"Quem
você é?", perguntou Mikhail.
"Estava
caçando no deserto, quando fui atacado. Me chamo Melicus e vim da
aldeia de Yassur. Que trajes estranhos vocês vestem! Parecem com
o de alguns mercenários que, de vez em quando, passam pela aldeia."
"Não
somos mercenários. E seu traje também nos parece bastante estranho,
homem.", disse Kariel.
"E
agora? Para onde vamos?", quis saber Brian. "Temos dois portões.
É hora de abri-los.", disse Galtan.
Os
Heróis Continuam
Devido
a alguns ferimentos, Magnus de Helm tinha adormecido. Em seus braços
também dormiu a Mestre Harpista do Vale das Sombras, seu nome era
Storm Mão Argêntea. Ambos foram vítimas de um ataque covarde dos
homens-lagartos, que provocaram uma avalanche, quase ceifando a
vida dos dois heróis. Após algumas horas o paladino despertou e
não encontrou sua companheira consigo.
"Storm!"
ele chamou, "Você está aí?"
"Sim,
estou aqui." Disse a barda se aproximando, "Eu estava examinando
esta área e descobri um caminho onde há pegadas de homens-lagartos.
Podemos ver até onde elas levam. Talvez encontremos o covil deles,
e de lá tentarmos identificar o paradeiro de nossos colegas."
"Concordo.
Eu estou pronto, e você? Se sente bem para continuar."
"Eu
estou bem. Sua benção me ajudou bastante."
"Parece
que ajudou até demais. Você está bem demais para alguém com aqueles
ferimentos. Storm, você é uma mulher de muitos segredos."
"Eu
admito... há algumas coisas que você não sabe. No momento certo
eu as revelarei. Não esconderia esses detalhes para o homem que
me salvou. Mas agora vamos prosseguir com a missão." Ao término
destas palavras, Storm conjurou um luz e então eles seguiram pelos
túneis.
Outra Missão Para Orcs
Limiekli
e Florin caminharam até a cidade e encontraram o templo de Shargrass.
Portões abertos, entraram no lugar sinistro. No altar, uma estátua
do deus orc da Noite e Trevas. Aproximaram-se de alguns clérigos
que estavam juntos a ela.
"Procuramos
alguém chamado Kyrrus.", disse Florin para.um sacerdote.
"Sou
eu. E vocês? Porque me procuram?"
"Grob
nos enviou. Disse que poderia ter um trabalho para nós! Queremos
arrebentar a cabeça de alguns elfos e humanos."
"Hum...
então irão se alistar... Posso colocá-los em alguma caravana com
destino a Nova Gondyr. Não têm nenhuma restrição em lutar por lá,
não?"
"Não.
Tendo cabeças para rachar e um pagamento, fazemos qualquer negócio!",
disse Limiekli.
"Ótimo,
pois alguns entre nós se recusam a lutar sobre o comando de um humano,
inclusive as forças do rei. Idiotas! Esta liderança não durará para
sempre. Quando assumirmos o poder, vamos espetar a cabeça deste
Vorik Aris em uma lança e teremos finalmente nosso império!"
"O
que devemos fazer?", perguntou Florin.
"Farão
um serviço. Se provarem sua eficiência, serão alistados. Existe
um militar chamado Gurdun. Achamos que ele é um dedo-duro, enviado
da Guarda Especial do rei Jodrus, para descobrir informações sobre
nosso movimento a favor de Nova Gondyr. Quero que acabem com ele."
"Como
vamos encontrá-lo?"
O
clérigo fez um sinal para que esperassem. Em seguida, rabiscou algo
em um papel e entregou a Limekli.
"Este
é o endereço, com as indicações. Agora vão!"
Florin
e Limiekli deixaram o templo e seguiram pelos becos imundos e escuros,
tentando decifrar o local indicado por Kyrrus. Enfim encontram,
após uma hora de busca, a casa de Gurdun. Havia na porta uma fêmea
orc, que segurava um filho recém-nascido. Limiekli notou um pequeno
kobold que passava pelo local. Segurou em suas roupas e o ergueu
com um dos braços.
"Você
mora por aqui?"
"Sim...
não me mate!"
"Não
vou matá-lo. Sabe onde é a casa de Gurdun?"
"É
aquela!", disse o pequeno e amarelado monstro, apontando.
"Ótimo.
O desgraçado me deve 5 peças!", disse, Limiekli, largando o kobold.
"Não
tem uma recompensa por ter te dado a informação? Uma peça para mim?",
pediu o pequeno.
Limiekli
voltou a erguê-lo.
"N-não
fique com raiva... Gurdun não está aí. Ele serve no quartel e só
chega a noite. P-posso lhe dar os horários!"
"Então
diga!"
"Ele
chega duas horas após o anoitecer."
"Está
bem, então. Se souber que ele descobriu que eu o estou procurando,
saberei que foi você que contou! Agora vai!", disse ele, largando
o kobold novamente e jogando-lhe uma peça de cobre.
"Você
viu, Florin? Parece que Gurdun tem uma esposa e um filho. Quando
se quer atrair alguém pode se tomar algo de que ele goste..."
"Seqüestro?
Não, Limiekli. Não uso táticas de nossos inimigos. Deixaremos os
dois fora deste assunto. È melhor voltarmos agora para o acampamento
e esperar por Dove e Sirius, antes que o efeito da magia cesse."
Um Estranho Prisioneiro
No
coração da montanha, dentro das cavernas dos homens-lagartos, os
heróis pensavam qual caminho a tomar.
"Qual
portão abrimos primeiro?", perguntou Galtan.
"Brian
e Melicus estavam sendo levados para o portão a frente. Pode ser
uma prisão. Quem sabe não encontramos Storm e Magnus?"
"Concordo,
Kariel. Então abrirei aquele! Preparem-se."
Galtan
chegou próximo ao portão e viu que este estava trancado. Tentou
forçá-lo, chutá-lo, mas não adiantava. A tranca era bastante firme.
Pegou então uma das alabardas dos inimigos e pôs-se a golpear a
fechadura. Foi quando aproximou-se Melicus.
"Senhor..."
"Um
momento. Estou tentando abrir o portão..."
"Pode
usar isto.", disse mostrando uma grande chave dourada. "Encontrei
nas coisas de um dos homens-lagartos!"
"Err...
muito obrigado.", falou desconcertado o cavaleiro.
"Havia
me esquecido de procurar..."
A
porta se abriu, mas antes que alguém avançasse pelo corredor, Kariel
ofereceu-se como batedor. Argumentou que tinha um recurso que poderia
ajudar, ainda que não contasse mais naquele dia com a invisibilidade
proporcionada pelo seu elmo. Os demais concordaram e Kariel lançou
sobre si um encanto. Seu corpo e pertences se alteraram. Era o elfo
de cabelos azuis agora idêntico a um homem-lagarto. Kariel então
avançou por um corredor, que havia além do portão aberto por Galtan
e conseguiu visualizar mais a frente um outro, guardado por dois
homens-lagartos sentinelas. Sem que fosse visto, retornou e informou
seus companheiros.
"Estamos
debilitados para enfrentar um novo combate.", colocou Galtan. "Devemos
tomar o outro portão."
"Porém,
Galtan, nada nos garante que por trás deste outro portão não hajam
outras criaturas. Vi somente dois oponentes e me preocupa a idéia
de que Storm e Magnus estejam presos por lá.", colocou Kariel.já
com sua aparência normal.
"Podemos
ir então, mas quanto a Melicus? Ele não parece ser um guerreiro.
Não acredito que consiga suportar um combate.", disse Mikhail.
"Consegue
se esconder entre os arbustos deste pomar, Melicus?", perguntou
Brian.
"P-posso.
Mas vocês voltarão para me retirar daqui, não é?"
"Claro
que sim. Nos aguarde", disse Galtan.
Então
avançaram. Mikhail tinha um plano. Usaria uma oração em especial
contra os inimigos e por isso pediu para seguir a frente. Assim
que avistou os homens-lagartos, o clérigo pronunciou suas palavras
divinas e levantou a mão espalmada para os inimigos, que já estavam
correndo em sua direção. Assim que terminou seu ritual, os homens-lagartos
ficaram paralisados, como se fossem estátuas. Galtan foi até eles
e com dois golpes de sua espada longa, arrancou-lhes a cabeça. Em
seguida, o cavaleiro verificou o portão. Estava destrancado. Quando
abriu o portão para prosseguir, deu de cara com um homem-lagarto
e haviam outros atrás deles. Fechou de novo (e rápido) o portão
e começou a fazer força para impedir a entrada dos inimigos.
"Por
Tyr! Existem uns dez homens-lagartos do outro lado do portão!"
Os
inimigos deram um bom empurrão no portão de madeira, jogando Galtan
para frente e entrando no corredor. Foi quando Kariel gritou:
"Abaixe-se,
Galtan."
O
guerreiro se jogou ao chão, justamente quando das mãos do elfo saiu
uma poderosa rama elétrica, que passou por cima do cavaleiro e percorreu
o corredor, atingindo os homens lagartos. Haviam mesmo dez e oito
deles morreram com a descarga elétrica. O raio se perdeu no interior
da montanha e pode-se se ouvir ao longe um grito de homem. Mas não
havia tempo para pensar nisto. Os dois homens-lagartos sobreviventes,
mesmo bastante feridos, partiram para o ataque. Galtan, levantou-se
e golpeou um deles com sua espada. O monstro tombou ao primeiro
golpe. O segundo tentou acertá-lo, mas errou a investida. A falha
foi fatal e Galtan fez mais uma vítima.
Mortos
os inimigos, era a vez de explorar o que havia além daquele portão.
Kariel foi quem se adiantou. O elfo corria. Estava muito preocupado
e apreensivo com o gritou que ouviu após lançar seu encanto. Passou
por uma sala onde havia alguns móveis rústicos, camas e restos de
comida e chegou em uma grande sala, cheia de jaulas. Dentro delas
podiam-se contar quinze humanos: homens, mulheres e crianças. Estavam
assustados, magros e sujos, como se estivessem na condição de cativos
há semanas. Também havia um corpo, com marcas de queimaduras recentes
e que ainda exalava fumaça. Kariel o viu, ajoelhou, e pôs as mãos
no rosto, desolado. Depois sentiu em seu ombro a mão de Galtan:
"O
que foi, Kariel?"
"Eu
matei um inocente, Galtan! Foi meu relâmpago que fez isto!"
"Foi
uma baixa da luta, Kariel. Um acidente. E não há tempo para nos
lamentarmos agora. Temos que prosseguir!", disse o cavaleiro, que
deixou então o elfo e partiu para abrir as jaulas e libertar aquelas
pessoas.
Kariel
então olhou para Mikhail.
"E
você, Mikhail. Pode fazer alguma coisa?"
"Lamento,
Kariel. Não posso fazer nada, a não ser orar para Mystra em seu
nome!"
"Então,
como clérigo de Mystra, uma das divindades em que acredito, peço
que prepare uma oração de penitência para livrar-me do peso que
meu coração está sentindo."
"Prepararei
então, Kariel. E lançarei sobre você esta benção assim que for possível."
"Obrigado."
Galtan
já havia aberto quase todas as jaulas com um molho de chaves encontrado
próximo aos homens-lagartos. Mas ainda havia uma, mais afastada,
que não havia visto antes. Um homem de calça, cabeça raspada, olhos
azuis e tez branca, repleta de tatuagens de serpentes, estava encarcerado
nela. Era bem diferente dos outros que, pelos trajes e pele bronzeada,
também pareciam ser habitantes do deserto como Melicus. O prisioneiro
também tinha grilhões prendendo suas mãos. O cavaleiro foi soltá-lo,
quando um dos prisioneiros libertados disse:
"Deixe-o
aí. Ele é um adorador de Sseth."
"Sseth.
Que deus é este?", perguntou Kariel.
"O
Deus Serpente! Um deus maligno.", respondeu o homem.
"Se
ele é servo desse Deus Serpente, porque os répteis o prenderam?",
questionou Brian.
"Não
sei!", disse o homem do deserto.
"Habitantes
da superfície, não?", perguntou o cativo, interrompendo seu silêncio.
"Se me deixarem aqui jamais sairão. Conheço os caminhos deste labirinto."
"Não
podemos sair sem encontrar nosso amigos desaparecidos.", colocou
Mikhail.
"Esqueça-os.
Estão mortos. Senão foram mortos pelos homens-lagartos e yuan-tis,
vagarão pelos corredores até morrerem de fome e sede. Me libertem
e eu poderei conduzi-los a saída."
"Como
foi parar aí?", argüiu Mikhail.
"Meu
nome é Nalab. O sacerdote yuan-ti Vandenspujo ordenou minha prisão,
pois não admite que um humano torne-se clérigo de Sseth. Ele também
mandou levar três jovens que estavam aprisionadas aqui para um sacrifício
a Grande Naga, um bichinho que Vandenspujo pensa ser uma reencarnação
de Sseth. Portanto, devem se apressar em me soltar."
"Pode
levar estes prisioneiros também em segurança?", quis saber Galtan.
"Estas pessoas são peso morto. Se fosse vocês, os deixaria aqui
mesmo. Mas de qualquer forma posso conduzi-los também, mas meu trabalho
como guia terá um preço."
"Que
preço?"
"Como
disse, conheço uma saída destas cavernas. Devem ter passado por
um grande portão. É a entrada para Zaartikan, uma de nossas cidades.
De lá, conheço um caminho secreto que evitará que atravessemos a
cidade. Depois iremos para o templo de Sseth, onde existe uma saída.
Lhes indicarei o túnel que leva para fora, se matarem Vandenspujo
e me entregarem uma jóia que ele possui, um dos tesouros do templo."
"Se
este sacerdote tem interesse em sacrifícios humanos, o eliminaremos,
mas só entregaremos a tal jóia após estar fora deste complexo de
cavernas. Caso contrário, uma traição por sua parte será muito provável.",
colocou Kariel.
"Devem
me entregar a jóia no templo. Este são meus termos!"
"Não
negociarei com este homem!", disse Galtan. "Não está na posição
de nos exigir nada! Ficará aí mesmo para apodrecer."
"Você
é quem sabe, cavaleiro!", falou o prisioneiro, aparentando tranqüilidade.
Em
seguida, os aventureiros deixaram o aposento e levaram consigo os
prisioneiros. Foram até o pomar, onde encontraram Melicus. Tinham
fome, mas as frutas, plantadas para alimentar os animais que sustentavam
os répteis, eram pequenas e poucas para satisfazer aquelas pessoas
famintas. Uma parte da ração dos aventureiros então também foi entregue
para os camponeses. Para os heróis, a pausa feita para que os camponeses
se alimentassem foi o momento de discutir o acordo proposto pelo
adorador de Sseth. Haviam muitas dúvidas sobre que decisão tomar.
O Feiticeiro Marut
Limiekli
e Florin chegaram primeiro ao acampamento oculto nas cercanias de
Urgithor. Minutos depois vieram Dove e Sirius. Conversaram sobre
suas missões como orcs, enquanto comiam em torno de uma fogueira.
"No
que estas tarefas como orcs irão nos levar?", perguntou Sirius.
"Não consigo ver as relações com o nosso objetivo!"
"Nesta
cidade existe um recrutamento, aparentemente clandestino, de orcs
para lutar nesta Nova Gondyr. Da conversa que ouvi no acampamento,
Numoz tinha este mesmo objetivo. Se nos aproximarmos deste grupo,
talvez fiquemos mais próximos de encontrá-lo.", disse Florin.
"Enquanto
as missões? O que faremos? Já sabemos onde vive o tal Gurdun. Podíamos
pegá-lo e obter mais informações do tal Kyrrus", sugeriu Limiekli.
"Sim.",
disse Dove. "Mas já sabemos da motivação de Kyrrus para matar Gurdun,
mas não sabemos o porquê querem o feiticeiro, o tal Marut, morto.
Creio que precisamos de mais dados sobre o segundo caso."
"Poderíamos
tentar invadir primeiro o esconderijo do feiticeiro e tentar retirar
dele mais informações.", sugeriu Sirius.
"Acho
uma boa idéia. Temos então que seguir o servo de Marut amanhã. Os
orcs normalmente não são bons rastreadores, mas nós temos melhores
chances de encontrá-lo.", disse Florin.
"E
não só podemos extrair informações. Este feiticeiro está sendo perseguido.
Dependendo de seus propósitos podemos até nos aliarmos a ele.",
completou Dove.
"Façamos
assim: Eu e Limiekli, que somos os mais furtivos, rastrearemos o
goblin e vocês nos seguem."
"Concordo.",
disse Dove, acompanhada de um aceno positivo de Sirius.
"Então,
o plano está traçado. Vamos dormir e nos preparar para amanhã!"
Então
deitaram e descansaram. Quando o sol raiou, acordaram, comeram parte
de suas rações de viagem e prepararam-se. Dove lançou novamente
sobre todos o encanto que permitia que se parecessem com orcs. Em
seguida desceram a colina e rumaram mais uma vez para Urgithor.
Na
grande cidade orc havia um mercado a céu aberto, local enlameado
e sujo, cheio de barracas que vendiam de tudo, desde frutas até
pequenos crânios de animais, oferecidos como 'objetos de decoração'.
Como não haviam trazido os cavalos, Limiekli resolveu que compraria
alguns. Aproximou-se de um estábulo que vendia animais e olhou as
montarias.
"Bons
cavalos! Quanto custam? Quero comprar quatro deles.", perguntou
o ranger.
"Duzentas
peças cada!"
"Trezentas?",
disse Limiekli, confundindo-se.
"Isto
mesmo! São 1200 peças ao todo!", aproveitou-se o goblin vendedor.
"Dou-lhe
800 por tudo!", respondeu Limiekli, fazendo o que achou ser uma
negociação agressiva.
"Feito!",
disse o vendedor sorridente. "Foi um prazer negociar com o senhor!"
Limiekli
levou os animais até os outros, que estavam na feira. Estavam juntos
quando Dove viu algo que chamou-lhe a atenção.
"Aquela
barraca vende ervas muito úteis para realização de magias. Acho
bom observá-la."
Não
demorou muito e o tempo mostrou o acerto da hipótese de Dove. Um
goblin, com a orelha cortada, apareceu. Entrou em um estabelecimento
próximo e saiu carregando um saco e, em seguida, adquiriu algumas
das ervas da barraca. Quando afastou-se, foi seguido por Florin
e Limiekli. Sirius e Dove vinham atrás dos companheiros. O pequeno
afastou-se da cidade e embrenhou-se na floresta. Era rápido e, volta
e meia, desaparecia entre os arbustos. Por sorte, Florin e Limiekli
eram homens da floresta e sabiam muito bem seguir rastros. Viram
quando a criatura aproximou-se de uma rocha, ao pé de uma colina
, afastou alguns galhos e arbustos, e entrou por uma passagem, que
estava oculta. Esperaram por Dove e Sirius, que chegaram minutos
depois.
"Nossa
presa entrou por ali.", apontou Limiekli, indicando para os aventureiros
recém-chegados.
"Será
que existe outro caminho por onde eles possam fugir?", disse Limiekli.
"Vamos
procurar... Guardem a passagem." falou Florin para Dove e Sirius.
Voltaram
alguns minutos depois. Como não encontraram outro caminho, prosseguiram
pelo local onde o goblin havia entrado. Esconderam os cavalos e
seguiram uma passagem estreita na rocha até chegarem uma câmara,
selada por uma parede e uma vão. Aproximaram-se e chegaram a uma
espécie de sala onde puderam identificar algumas decorações que,
apesar de rústicas, denotavam que o morador era alguém bastante
civilizado para um orc. Desta sala haviam duas saídas, uma ia para
o que se poderia determinar ser uma cozinha e outra que levava para
uma escada que descia. Os aventureiros então desceram as escadas
até que finalmente escutaram vozes:
"Pukto,
tem certeza que não foi seguido?"
"Tenho
mestre. Trouxe suas ervas e mantimentos!"
Com
a confirmação da presença de Marut, os aventureiros decidiram invadir
o aposento. Entraram com armas nas mãos. Havia um caldeirão fervendo,
livros em uma estante e muitos frascos com ervas, pós e líquidos
coloridos. O goblin e o feiticeiro orc olhavam assustados, Marut
tentou fazer alguma coisa, mas Florin o alertou:
"Marut,
não faça nada, não vamos feri-lo!"
"Então
vieram me matar?", perguntou o feiticeiro.
"Fomos
contratados para isto, mas antes queremos saber o motivo.", disse
Limiekli enquanto seus companheiros cercavam os dois goblinóides.
"Esperem,
por favor, poupe-nos, eu pago para que me libertem."
"Acalme-se,
queremos apenas respostas, não viemos com o intuito de matá-lo."
Explicou Dove.
"Neste
caso, sentem-se, vamos conversar.... Pukto, vá fazer uma chá para
os nossos convidados.", disse Marut ao seu lacaio. Dove o acompanhou
até a cozinha para se certificar que o goblin não colocaria veneno
nas bebidas.
"Muito
bem, o que gostariam de saber?" , perguntou Marut agora mais aliviado.
"Fomos
contratados para matá-lo, mas queremos saber o porquê?" Falou Florin.
"Estranho,
pensei que sabiam. Eu fiz algo que é considerado grave para nossa
cultura. Eu apenas quero a paz."
"Paz?
Como assim?"
"Existem
muitos humanos neste mundo, um número difícil de se contar. Existiam
muitos elfos também. Mas nosso povo está começando a entrar em um
processo de extinção. Sempre estamos embrenhados em guerras infrutíferas
e batalhas sem sentido, e com isso, estamos perdendo. Por isso eu
entendi que o único modo de nossa raça continuar existindo é através
da paz. Não há outro jeito."
"Taí,
é a primeira vez que ouço um orc falar algo sensato!", admirou-se
Sirius.
"Como!?
Concordam com meu pensamento? Então todos os livros que escrevi
não foram em vão! Pensei que só eu e Pukto acreditávamos nisto!"
Os
heróis abaixaram as armas. Dove, que já tinha voltado, gesticulou,
lançou um encanto sobre Marut e confirmou a veracidade das palavras
do feiticeiro.
"Então
não se preocupe. Não o mataremos.", disse Florin.
"Quem
contratou vocês?"
"Não
sabemos, é um militar. Ele não disse o nome."
"Deve
ser Bragdas. Ele já havia enviado assassinos para me matar. Acho
que ele pertence a uma organização chamada Ambição de Shargrass.
Eles têm o objetivo de se juntar ao general humano Vorik em Nova
Gondyr. É por isso também que ele me quer morto."
"Mas
ele quer sua cabeça como prova. O que faremos?", perguntou Limiekli.
"Podemos
utilizar outra cabeça e modificar suas propriedades! Aqui existem
ingredientes suficientes para isto.", sugeriu Dove.
"Já
temos a cabeça! Gurdun!", lembrou Sirius.
"Sim!
Podemos usá-la. Marut, voltaremos para preparar a cabeça. Depois
levaremos vocês daqui. Conheço um lugar chamado Aldeia do Amanhecer,
próximo ao Vale da Adaga. Lá encontrará outros que pensam da mesma
forma.", revelou Limiekli.
"Dove...
podíamos trazer nossas coisas para cá. O que acha?"
"Pode
ser, Sirius. Vamos perguntar a Marut."
Sirius
pediu e o feiticeiro concordou. A partir daquele dia, dormiriam
na caverna.
O Guia
Os
prisioneiros libertados ainda comiam. Enquanto isto, os aventureiros
pensavam em uma maneira alternativa de procurar uma saída e de levar
em segurança aquelas pessoas. Kariel pensou em um artifício que,
apesar de não conduzi-los a saída da montanha, poderia retirar os
habitantes do deserto do risco que era estar sob aquelas cavernas.
Chamou então Melicus. Com ele, veio também outro, um homem idoso
de barbas brancas.
"Este
é Nod.", apresentou Melicus. Vive próximo a minha aldeia, Yassur."
Melicus
olhou para Kariel, que retirara seu elmo e estava sentado com seus
amigos. Na luz do fogo mágico que iluminava o ambiente, notou algo
que não havia percebido durante os últimos e turbulentos momentos.
O cabelo do mago era azul e suas orelhas pontudas. Olhou para Mikhail
e viu entre seus cabelos dourados, também orelhas iguais.
"S-suas
orelhas? Este cabelos azuis? Porque fizeram isto com vocês?"
"Nãos
somos humanos, Melicus. Somos elfos. Uma raça diferente da sua!",
explicou Kariel.
"É...
eles são do tipo das fadas!", completou Galtan.
"Escutem.
Existe uma maneira de retirar o seu povo em segurança. Posso conjurar
um portal mágico que os levará diretamente para o meu reino, Kand.
Lá vocês ficarão em segurança e serão bem tratados. Quando sairmos
daqui, retornaremos e os conduziremos novamente para Anauroch!",
propôs o mago.
"Magia?",
respondeu Nod. "Não gostamos de magia! Magia é maligna! Se participarmos
disto, nossa alma poderá ir para o Abismo."
"Não
lhes acontecerá nada! Vocês têm mulheres e crianças aqui e são apenas
camponeses! Não saberão se defender e muitos entre vocês podem morrer.
Aceitem a oferta!", insistiu o elfo de cabelos azuis.
"Damos
nossa palavra!", garantiu Galtan.
"Não.
Preferimos morrer a usar esta feitiçaria! Nenhum de nós concordará
com isto. Preferimos ser guiados pelo servo de Sseth.", disse Nod.
Melicus assentiu, concordando com o ancião. Mikhail, clérigo que
era da Deusa da Magia, balançou a cabeça negativamente, triste por
ouvir crenças supersticiosas como aquelas.
"Então
sugiro que peguem as armas dos inimigos e virem-se como puderem.
As eventuais perdas de seu povo ficarão sob a responsabilidade de
vocês.", disse Galtan.
Naquele
momento, Kariel ouviu seu nome claramente ecoar na sua mente. Foi
com alegria que reconheceu a voz:
"Storm?
Graças a Tymora! Estão bem?"
"Sim...
estamos bem. E vocês?"
"Perdidos,
mas todos bem, Storm."
"Estamos
em um túnel, Kariel. Existe uma vila de homens-lagartos a frente."
"Passamos
por um lugar assim. Além da vila, Cavaleira Harpista, encontrará
um túnel e outra aldeia. Siga, Storm, o túnel após o segundo povoado
e nos encontrará!"
"Obrigado!"
Terminada
a comunicação, o elfo Escolhido de Mystra informou aos seus amigos
que Storm e Magnus estavam vivos e que se encaminhavam para encontrá-los.
Ficaram contentes com a notícia, mas havia outra questão.
"Teremos
que aceitar a proposta de Nalab, ou não conseguiremos levar estas
pessoas em segurança.", colocou Kariel
"Não
confio nele. Ele irá nos trair assim que tiver com a tal jóia nas
mãos!"
"Também
não confio, Galtan, mas não temos muitas escolhas no momento. Teremos
que libertá-lo e arriscar."
"Eles
estão certos, Galtan.", acrescentou Brian. "Vamos abrir a cela!"
Os
quatro então atravessaram novamente os portões e retornaram a prisão.
Nalab continuava aparentando tranqüilidade.
"Então
voltaram? Não sabe mesmo blefar, cavaleiro?", disse olhando para
Galtan.
"Não
era um blefe. Por mim ficaria aí mesmo!", respondeu o nobre de Águas
Profundas, enquanto Brian abria a cela e os grilhões do homem.
"Vocês
precisam de mim se querem passar por Zaartikan, ainda mais com esta
quantidade de pessoas. Portanto é bom se comportar, seu dromedário!"
Galtan, ofendido, partiu furioso na direção de Nalab, mas foi contido
pelos braços de Kariel e Brian.
"Não
faça isto, Galtan.", disse Brian, "Ele só quer lhe provocar. Não
caia no jogo dele."
O
guerreiro controlou-se, mas olhava com ódio para o servidor de Sseth.
Ao aproximarem-se novamente do pomar, Kariel ouviu novamente a voz
de Storm, mas desta vez não foi apenas em sua mente. A bela guerreira
estava já ali, junto com seu amigo Magnus de Helm. Estavam com as
vestes sujas de sangue, mas pareciam bem. Foram colocados a par
da situação.
"Então,
Nalab? Para onde vamos?", perguntou Brian.
"Adentraremos
o portão que ainda não foi aberto. Ele é um caminho para Zaartikan.
No meio deste túnel existe uma passagem secreta que irá nos deixar
quase no limite da cidade, de modo que não precisaremos atravessá-la
por completo. O único problema é que antes de chegarmos a esta passagem
oculta, poderemos encontrar uma patrulha de quatro yuan-tis que
guarda o túnel."
"É
importante que não deixemos que escapem ou podem avisar outros.
Irei sozinha, desta maneira ficarão confiantes e partirão os quatro
para atacar-me. Reunam todos e esperem."
"Irei
com você, Storm.", disse Magnus para a mulher que o fazia sentir
novas e estranhas emoções.
"Não
é necessário! Aguarde com os outros!", respondeu a barda sorrindo.
Galtan
usou a chave que estava no poder de Melicus para abrir o portão
e então Storm foi a frente, enquanto os homens do deserto, Nalab
e os aventureiros aguardavam na entrada do túnel. Pouco tempo depois,
ouviu-se ruídos metálicos. Um combate se iniciava. Galtan, o cavaleiro,
logo se impacientou.
"Galtan
de Águas Profundas não deixará uma donzela combater enquanto fica
esperando!", em seguida saiu correndo até Storm.
"Irei
também!", partiu Magnus.
"Por
Tymora! Mikhail e Brian. Por favor, fiquem aqui com Nalab. Irei
atrás daqueles dois!"
Quando
Galtan e Magnus chegaram, Storm já havia matado um yuan-ti e lutava
contra três. Os dois guerreiros então equilibraram numericamente
a luta e cada um atacou um inimigo. Kariel veio logo depois e uniu-se
a Galtan. Storm lutava com muita elegância e maestria com sua espada.
Desviou-se de muitos golpes e derrotou seu oponente rapidamente.
Magnus investiu com sua Chama do Norte contra o homem-serpente.
Este, já anteriormente ferido por Storm, caiu, mais rápido do que
o paladino poderia imaginar. Galtan também acertou seu primeiro
golpe e, antes que o yuan-ti revidasse, Kariel atravessou-lhe o
peito com Goliath, cessando assim o som de batalha.
"Felizes
agora, cavalheiros? Disse que daria conta sozinha! Os yuan-tis poderiam
ter fugido."
"Ora...
não permitiria uma dama combater sozinha estes monstros...", justificou
Galtan.
"Eu
sabia que podia com eles, mas fiquei preocupado com nossos amigos,
especialmente este impulsivo cavaleiro de Águas Profundas."
"Bem...Chamem
o tal Nalab. Temos que encontrar esta entrada antes que surjam mais
deles."
Todos
se reagruparam. Nalab seguia a frente no corredor escuro. Ia próximo
aos aventureiros (a exceção de Galtan, que não queria estar perto
do homem para não perder o controle e acertar-lhe um soco). Estes
o observavam atentamente. O seguidor de Sseth olhava em direção
ao teto, quando apontou um buraco.
"É
ali. Vamos subir."
Os
aventureiros então escalaram a rocha de uma das paredes do túnel
conseguiram alcançar o buraco no teto. De lá, jogaram uma corda,
para facilitar a escalada dos homens do deserto. O buraco no teto
era uma falha do piso de um corredor, mais estreito, que seguia
por cima do túnel pelo qual vieram.
"É
por aqui, disse Nalab. Este corredor irá nos levar a cidade!"
Então
foram os heróis da Comitiva, o misterioso Nalab e os assustados
homens do deserto para Zaartiklan, a cidade dos répteis e o coração
do mal que habitava aqueles túneis, em busca de uma saída.
Esta
história é uma descrição em teor literário
dos resumos de aventuras jogadas pelo grupo Comitiva da Fé
em Salvador sob o sistema de RPG Advanced Dungeons & Dragons.
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