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Ataque ao Templo de Sseth

Descrita por Ricardo Costa.
Baseada no jogo mestrado por Ivan Lira.


Personagens principais da aventura:

Os Humanos: Magnus de Helm; Sirius Lusbel; Sigel O'Blound (Limiekli), Sir Galtan de Águas Profundas, Brian Mestre das Espadas. Os Elfos: Mikhail Velian; Kariel Elkandor. Participação Especial: Storm Mâo Argentêa, Florin e Dove Garra da Falcão.


Ataque ao Templo de Sseth
     

     A Comitiva permanecia dividida em duas, uma ao norte de Evereska, entre a Floresta Alta e a margem ocidental do deserto de Anauroch , e outra, ao leste do reino élfico, na fronteira sul do mesmo deserto.

      O primeiro grupo, formado por Florin, Dove, Sirius e Limiekli, estava na cidade-reino orc de Urgithor e haviam conquistado a aliança de um bruxo orc chamado Marut. Agora dormiam no esconderijo do feiticeiro, enquanto se preparavam para cumprir uma nova tarefa que poderia colocá-los mais próximos de encontrar Bingo, que jazia prisioneiro em algum lugar daquela cidadela sinistra.

      Já o segundo, composto por Storm, Brian, Galtan, Magnus, Kariel e Mikhail, foi obrigado a submeter-se a um acordo com um sacerdote do deus Sseth, chamado Nalab. Em troca de guiá-los para fora daquele labirinto de cavernas, o sombrio humano pediu que matassem um outro sacerdote, um yuan-ti de nome Vandenspujo, que no momento estava para conduzir um ritual de sacrifício de três jovens humanas à Grande Naga. Além disso, queria o homem que lhe entregassem uma certa jóia que estava em poder de seu inimigo. Percorriam neste momento uma estreita passagem, indicada pelo guia.

Marut Tem Uma Surpresa

      Quando os primeiros raios de sol rompiam as nuvens e iluminavam a floresta próxima de Urgithor, os aventureiros começavam a acordar na caverna de Marut. Ainda estavam como orcs, devido ao efeito do encanto proferido por Dove. Porém, nem todos haviam dormido. Dove permanecera desperta, lendo um dos livros de Marut durante toda a noite. Limiekli, dentre os outros heróis, foi primeiro a levantar e ver a ranger.

      "Bom dia, Dove... Não me diga que não dormiu?"
      "Não Limiekli. Não dormi."
      "Você é uma elfa ou algo assim? Parece que os elfos é que nunca dormem..."
      "Vê minhas orelhas?", disse a ranger apontando. "Não são orelhas de elfo. E além disto, os elfos também precisam dormir..."
      "Conheço um que não dorme: Kariel. Sempre que a nos deitamos ele fica lá, lendo ou escrevendo."
      "Isto é, digamos, um pequeno segredo arcano que temos!"
      "Vocês são misteriosos. Desde que me uni a esta Comitiva da Fé só faço apanhar e ver estranhezas!"

      O ranger então levantou e foi à cozinha, onde encontrou o goblin Pukto, que fazia um chá. Perguntou por Marut. Segundo o assistente, o feiticeiro havia saído para recolher algumas ervas e vegetais para a refeição matinal. Limiekli decidiu ir caçar para complementar o desjejum.

      Marut chegou minutos depois, com algumas folhas e batatas, quando os heróis já estavam sentados, bebendo o chá feito por Puktos. Assim que o bruxo orc entrou, Dove o abordou.

      "Marut... sabe falar a língua comum dos humanos?"
      "Sim, sei. Porque pergunta?"
      "Vamos precisar desta sua habilidade em breve"
      "Não entendi? Algum problema?"
      "Não, mas algo irá nos acontecer em breve. Não deve assustar-se."
      "O que há? Já sei! Decidiram voltar atrás e me matar!"
      "Não! Não tema. Apenas sente-se e aguarde!"

      O feiticeiro sentou em uma pedra e olhava para Dove, bastante tenso e curioso. Depois de alguns minutos, uma transformação se operava. Os pelos grossos de orc começaram a desaparecer dos aventureiros, as presas salientes diminuíram e tornaram-se novamente dentes normais e a pele esverdeada voltava para o tom róseo, característico de boa parte dos humanos de Faerûn. As roupas e equipamentos também voltaram às suas características originais.

      "Humanos!? Que feitiço é este?", disse espantado, ainda em língua orc.
      "Será que dá para falar nossa língua?", pediu Sirius.
      "Como vocês conseguiram se transformar em humanos?", perguntou Marut, falando agora a língua comum.
      "Não nos transformamos em humanos, mas voltamos ao que éramos!", explicou Sirius.
      "Procuramos um amigo nosso que foi capturado e que deve estar prisioneiro aqui. Ele foi levado por Numoz, que lutou conosco e também matou muitos de sua espécie. Entre eles um general chamado Ortz.", relatou então Florin.
      "Ele matou Ortz? Ele era um dos principais generais do rei Jodrus!"

      Limiekli, também em sua aparência verdadeira, retornou ao esconderijo neste ponto da conversa. Colocou as caças, uma lebre e um porco do mato, na cozinha e entrou na sala. Entendeu a reunião que acontecia e integrou-se a ela.

      "Dias atrás, veio a Urgithor uma legião de orcs..."
      "Pode ser a de Numoz! Vi alguns rastros deixados pelos cavalos deles vindo na direção da cidade...", disse Limiekli sentando-se.
      "Se ele matou Ortz, sugiro a vocês investigarem mais sobre a Ambição da Shargrass. Já que concordaram em me auxiliar na fuga daqui, farei o possível para ajudá-los."
      "Obrigado.", Florin falou levantando e se aprumando-se. "Vamos Limiekli, temos que ir agora atrás de Gurdun."
      "Vamos!"
      "Ei, esperem... Não esqueceram de nada!? O encanto! Não podem sair como humanos!", avisou Sirius, sorrindo da precipitação dos dois companheiros.
      "É, claro... Dove, será que pode..."
      "Daqui a alguns minutos, meu amado.", disse a bela ranger. "Daqui a alguns minutos!"

Uma Estratégia a Ser Traçada

      O túnel cavernoso dentro de uma montanha na borda de Anauroch, por onde passavam os aventureiros era muito baixo e incômodo. Até mesmo Mikhail e Kariel, que eram elfos e não possuíam grande estatura, tinham que abaixar suas cabeças para não batê-las no teto. O quer dizer então dos humanos. O paladino Magnus de Helm, por exemplo, muito alto e robusto, caminhava bastante curvado e devagar. Após andarem nestas condições por cerca de quarenta minutos, notaram que os nativos do deserto não conseguiam mais prosseguir. Além da penosidade da tarefa, a trilha consumira suas poucas energias. Os mais velhos e as crianças cambaleavam e alguns, exaustos, já haviam sentado ao chão.

      "Nalab...", falou Kariel para o guia, "Os humanos libertados estão cansados. É seguro que descansemos aqui?"
      "Qual é o problema? Os deixem aí! Eles são inúteis."
      "Responda o que perguntei!"
      "Sim... este caminho é um túnel secreto. Poucos sabem de sua existência."
      "Mas não podemos parar! Existem três jovens que podem ser levadas ao sacrifício!", lembrou Mikhail.
      "Não poderia ajudar de alguma forma, Mikhail? Teria alguma benção que possa aliviar o sofrimento destes homens?", perguntou Magnus.
      "Infelizmente, não. Teria que descansar para conseguir invocar algum auxílio divino..."
      "Temos que continuar para salvar as mulheres seqüestradas." Kariel falou e em seguida pediu aos homens do deserto. "Por favor, levantem-se! Temos que prosseguir!"
      "M-mas... não agüentamos mais, senhor!. Deixe-nos descansar!", disse um senhor idoso em tom de súplica.
      "Vamos descansar, Kariel.", interferiu Storm, pondo a mão no ombro do elfo.
      "Eles não irão resistir se não pararmos. Não podemos trocar tantas vidas por apenas três."
      "Posso recitar uma oração de Mystra que livrará você e seu povo do cansaço.", sugeriu Mikhail para o homem.
      "N-não... não queremos magias e truques. Por causa da magia de seu amigo, um de nossos companheiros está morto!", falou o ancião.
      "Como? Isto é verdade, Kariel?", perguntou Storm.
      "Sim. Infelizmente sim.", respondeu o mago cabisbaixo.
      "O prolongamento de um relâmpago que conjurei atingiu acidentalmente um destes humanos, que estava longe de meu campo de visão. Hoje sujei minhas mãos com sangue inocente."
      "Foi uma fatalidade. Mas tem que tomar mais cuidado com este tipo de encanto, principalmente em lugares fechados. Vamos parar. Aproveitaremos para discutir uma estratégia."

      O grupo então acomodou-se como pôde no estreito e desconfortável corredor pedregoso. Os aventureiros fizeram um círculo e procuraram saber mais de Nalab para montarem uma estratégia.

      "Pode nos dar mais informações sobre este templo?", perguntou Mikhail.
      "Após sairmos deste corredor encontraremos Zaartikan e, além dela, uma passagem guardada. Seguindo por ela, encontraremos a câmara onde está o templo. Além de seus portões, está a guarda pessoal de Vandenspujo, composta de yuan-tis, muito mais fortes e habilidosos do que aqueles que enfrentaram, além da Grande Naga, e o próprio Vandenspujo, que além de ser um sacerdote, usufrui dos conhecimentos arcanos também. Já a saída para onde os conduzirei se localiza atrás do templo, em um outro túnel."
      "Quando estivermos dentro do templo nos dividiremos. Eu e Kariel, que temos habilidades arcanas, combateremos o sacerdote e vocês que são mais afeitos a batalha, poderão atacar os yuan-tis e esta tal Grande Naga.", planejou Storm.
      "Deixem que eu derroto esta cobra. Com um golpe de minha espada ela cairá!", disse, confiante, Galtan.
      "Não devemos subestimar os inimigos. Precisamos ser rápidos ou os répteis chamarão reforços.", alertou Magnus.
      "Magnus. Cuide para que os humanos fiquem ocultos durante os combates.", pediu Kariel.
      "Não se preocupe. Um bom seguidor de Helm primeiro protege e depois ataca!"
      "Obrigado. Não quero que hajam mais mortes.", disse o elfo de cabelos azuis, lembrando-se do infeliz incidente de horas atrás.
      "Lamento pelo que ocorreu com você, Kariel. Não queria estar passando por isto."
      "Acrescente meu nome em suas orações e peça para Helm aliviar minha culpa, meu amigo."
      "Orarei por você.", respondeu Magnus.

      O Paladino se afastou e, aproveitando que Storm estava sozinha, disse-lhe: "Storm, queria ter a oportunidade de conversar com você sobre o que aconteceu. Eu.. Me desculpe. Faltei com respeito."
      "Você não fez nada que eu não quisesse, Magnus. Depois que estivermos a salvo dessa situação, eu gostaria de falar com você sobre isso."
      "Como quiser."

      Então descansaram os heróis, a exceção de Kariel, que permaneceu despertos, lendo seus livros de encantos. Oito horas se passariam até levantarem novamente.

A Segunda Missão

      Dove havia lançado novamente seu encanto especial de disfarce sobre seus companheiros. Agora restava cumprir a missão que Kyrrus, o orc clérigo de Shargrass, incumbiu a Florin e Limiekli: matar Gurdun, um delator que entregava informações ao rei Jodrus sobre o movimento em apoio à Nova Gondyr. A cabeça da vítima também teria um destino importante: seria disfarçada como sendo a de Marut e entregue a um militar chamado Bragdas, como prova do cumprimento do contrato de assassinato do feiticeiro.

      Limiekli e Florin rumaram para a cidade. Passaram pelo mercado, pelo templo de Shargrass e chegaram no bairro sujo onde Gurdun morava. Aguardaram durante quase uma hora, mas parecia não haver movimento na casa do soldado. Limiekli então viu um kobold, que perambulava por um dos estreitos becos do lugar. Reconheceu a figura de longe e aproximou-se sem que ele o percebesse, junto com Florin.

      "E aí? Lembra-se de mim?", perguntou Limiekli, dando um susto no pequeno, que estava distraído.
      "S-sim... Está procurando Gurdun? Ele não está aí. Saiu em uma missão."
      "Onde ele foi?"
      "Para aquele posto avançado abandonado, criado antes da fundação da cidade."
      "Sei...", disse o ranger disfarçando.
      "Pode nos levar até lá?"
      "Posso, mas vou ganhar algo com isso?"
      "Damos a você uma peça de prata."
      "Só uma? Que tal duas? Estou com fome! Sabe, estou precisando mesmo... sou pequeno e não tenho força para empunhar uma espada ou uma lança. Não tenho mesmo um trabalho... snif...", começou a chorar o amarelado goblinóide.
      "Damos uma de prata agora e cinco de cobre depois de nos levar até lá.", aumentou a oferta Limiekli.
      "Feito!", disse sorrindo imediatamente e enxugando suas lágrimas de crocodilo. "Meu nome é Ferrir. E o de vocês?"
      Os dois se entreolharam, pois não haviam pensado nisto antes. Por fim responderam. "Sou Graxk", disse Limiekli. "E este é Zogurth", indicou com a cabeça Florin. "Se nos servir bem, poderá ser meu ajudante. O que acha?"
      "Ótimo! Estou nessa! Vamos... vou levá-los ao posto!"

      Limiekli, Florin e Ferrir atravessaram a pé a cidade e foram pouco além de seus limites. Entraram por um bosque de árvores esparsas e chegaram em uma clareira. Havia no meio algumas ruínas do que, décadas atrás, poderia ser um forte. Tudo estava tomando pelo mato e danificado pelo tempo. Limiekli e Florin procuraram por rastros, mas não encontraram nada que pudessem seguir. Resolveram então entrar no que sobrou do posto.

      "Não. Não vou entrar aí!", reclamou Ferrir.
      "Acho melhor você ficar aqui por enquanto.", disse Limiekli, retirando um rolo de corda da mochila para depois amarrar e amordaçar o pequeno monstrinho em uma árvore.
      "Ótimo, assim não poderá nos atrapalhar ou nos trair!"
      "Antes de matar Gurdun, Florin, vamos tentar extrair informações dele. Pode ser que descubramos algo de útil."
      "Certamente."

      Florin e Limiekli entraram por uma enorme fenda em uma parede em o que restou de um das construções que formavam o antigo forte. Percorreram alguns salões e corredores. Tudo parecia completamente abandonado. Haviam pedras, ruínas de móveis, ninhos de pássaros e alguns pequenos animais silvestres que fizeram dali seus lares. Encontraram uma escada rústica, que levava para um subterrâneo. Limiekli ajoelhou-se e verificou que os degraus não estavam tão sujos como as outras superfícies do posto abandonado e concluiu que poderia ser por ali que Gurdun entrara. Desceram a escada e abriram uma porta no nível inferior. Encontraram um corredor, iluminado por algumas tochas e por ele seguiram. Ouviram alguns ruídos e logo após, seis orcs, em armaduras e de armas em punho, se aproximaram. O maior deles dirigiu-se a Limiekli.

      "Quem são vocês? Para quem trabalham?"
      "Nós trabalhamos para Gurdun.", respondeu Limiekli.
      "Acha que sou estúpido? Eu sou Gurdun! Ouvi dizer que espalharam por aí que sou um caloteiro..."
      Naquele momento viram por trás dos orcs o pequeno Ferrir, que pulava e apontava para os dois invasores. "Foram eles, Gurdun! Foram eles! Ainda chamaram sua mãe de porca!"
      "Chega desta conversa.", disse Florin. "Viemos saber para quem você trabalha... E não pense que você e seus orcs são páreos para nós!"
      "Pode ser.", respondeu tranqüilamente. "Mas ainda assim vocês terão uma lição: Gronks!"

      Do fundo do corredor saiu um ogro, um humanóide, vestido em peles, com quase três metros de altura, e com uma maça de madeira, incrustada de espinhos de ferro. Limiekli concentrou-se em um encanto que conhecia e após recitar algumas palavras, raízes romperam o chão e prenderam três inimigos pelos pés, tal qual cobras.

      Os orcs também atacaram. Florin desembainhou sua espada e Limiekli retirou o arco das costas para disparar uma única flecha, antes que o contato corpo-a-corpo impossibilitasse a utilização desta arma. A seta, tinha endereço certo: atingiu o kobold traiçoeiro.

      Florin investiu contra um orc que se aproximou. Deu-lhe dois golpes rápidos nos flancos. Sofreu também um ataque, mas sua armadura reduziu o impacto do machado agressor. Em seguida, com mais dois golpes, decapitou o inimigo. Limiekli já havia deixado o arco de lado e lutava francamente. Tinham sorte os heróis, pois o corredor de estreita largura impedia que os inimigos usassem com eficiência sua superioridade numérica. Limiekli aplicou um golpe de machado no crânio de seu oponente, fazendo voar sangue e miolos. A situação de Florin era um pouco pior. Depois de haver abatido seu segundo adversário batia-se com Gurdun e Gronks. O ogro acertou-lhe um pesado golpe, e desta vez seu sangue foi derramado. Porém, como não era um homem comum, ainda haviam lhe restado muitas forças para lutar. Esquivou-se com um golpe de machado aplicado por Gurdun e ergueu sua espada e numa investida certeira, acertou o coração do ogro, que caiu morto. Com seu maior trunfo perdido e dois soldados mortos e três fora de combate, Gurdun resolveu render-se e baixou sua espada. Foi amarrado por Florin e Limiekli.

      "O que querem? Quem enviou vocês aqui?", perguntou Gurdun.
      "Para quem você trabalha?", perguntou Florin.
      "Para o rei Jodrus. E se for para trair o rei não responderei nada. Se não eu retornar a Urgithor, em pouco tempo virá uma tropa procurar-me."

      Florin então apertou com força o braço de Gurdun, justamente em um local onde havia um rasgo feito por sua própria espada. O orc gritou de dor.

      "Responda o que perguntarmos. O que sabe sobre Kyrrus e a Ambição de Shargrass."
      "Kyrrus... deve ter sido o maldito que mandou vocês aqui para matar-me. Vou queimar aquela igreja! E enquanto a Ambição de Shargrass, devem saber mais do que eu."
      "E sobre Numoz?", perguntou Limiekli. "Sabe alguma coisa dele? Ele veio a esta cidade após matar o general Ortz . Onde está ele e o prisioneiro que trouxe?"
      "Ortz está morto? Não sabia. Nada sei sobre Numoz e não tenho notícias de prisioneiros. Os que temos estão no forte em Urgithor e nos outros postos avançados, um ao norte e outro ao sul, onde estamos construindo uma represa."
      "Esta último não existe mais.", disse Limiekli com satisfação.
      "Parece que ele não sabe muita coisa que nos ajude, Limiekli."
      "Só precisa de uma motivação para falar mais."

      Limiekli então com sua lâmina fez um corte na perna do orc, e depois puxou a pele cortada provocando uma dor lancinante no orc. Este não resistiu a mais injúrias e caiu morto. Neste momento, o encanto que prendia os três últimos orcs terminava seus efeitos e as raízes voltaram para as profundezas da terra, liberando os soldados. Estes pegaram suas armas e atacaram os dois aventureiros, mas também foram derrotados, minutos depois. Os corpos foram empilhados e uma cabeça, a mais parecida com a de Marut, foi recolhida e colocada em um saco de tecido. Limiekli também lembrou de levar algumas armaduras e a peça de prata que havia pago a Ferrir.

Uma Deusa Que Surge

      Dentro do estreito corredor, o descanso estava chegando ao fim. Depois de repousar e de comerem alimentos providenciados por um encantamento divino de Mikhail, executado longe das vistas dos aldeões do deserto, o grupo preparava-se para prosseguir. Kariel, aproveitando-se novamente da invisibilidade que seu elmo concedia, seguiu como batedor, enquanto o restante aguardava por suas notícias. O elfo mago avançou lentamente pelo corredor, iluminado por uma emanação tênue de sua espada. Depois de pouco mais de meia hora, chegou ao fim do túnel. A abertura revelava um imenso salão rochoso, tão grande que comportava uma cidadela. Era Zaartikan. As construções não se assemelhavam às rústicas habitações das aldeias dos homens-lagartos. Haviam casas e torres de pedra, feitos com alguma arte, e estátuas de serpente. A cidade era iluminada por chamas mágicas e muitos yuan-tis , assim como cobras e serpentes, circulavam pelas suas ruas.

      Kariel olhou mais além e viu a passagem que Nalab havia mencionado. Era guardada por dois grandes yuant-tis de escamas vermelhas, bem maiores que os que já haviam visto, que portavam alabardas. Para chegar até eles, teriam que atravessar um trecho de Zaartikan. O elfo então retornou para seus companheiros.

      "Segui pelo corredor e ele leva para a cidade dos yuan-tis. Para chegarmos na passagem teríamos que caminhar pela cidade, o que é impossível de ser feito sem chamar atenção com todas estas pessoas!. Além disto existem sentinelas, bem maiores e mais fortes que os outros yuan-tis...", disse Kariel, ainda invisível, após se aproximar do grupo. "A única forma que vejo de atravessar seria utilizar magia."
      "Estes homens não irão aceitar esta alternativa.", colocou Galtan.
      "Deve haver uma maneira... Eles possuem algum tipo de crença?", perguntou Storm.
      "Sim. Um deles me falou de uma deusa do deserto em que acreditam.", informou Mikhail.
      "Sei que isto não é correto, mas a única chance de levá-los daqui é enganá-los. Kariel, será que poderia criar uma ilusão representando esta deusa?"
      "Sim, Storm, mas para isto preciso saber a aparência da divindade."
      "Eu já ouvi falar dela. Irei dar uma descrição e tentaremos."

      O elfo e Storm afastaram-se o suficiente para que os homens de Yassur não desconfiassem do plano. Conversaram e de lá Kariel operou o encanto. Surgiu então a frente dos habitantes do deserto a figura etérea de uma mulher de cabelos negros e véu sobre o rosto, que flutuava e emitia uma pálida irradiação branca.

      "Meus filhos!", disse a imagem.
      "El Ma'ra!". Os homens imediatamente ajoelharam-se.
      "Vim dizer-lhes que a vinda destes aventureiros para salvá-los não é uma coincidência. Foram guiados por mim até vocês. Obedeçam suas instruções e sairão para viver suas vidas no deserto."

      Em seguida, a figura desapareceu. Muitos dentre o povo de Yassur estavam impressionados, alguns choravam e um deles, o ancião de nome Nob sentiu um súbito mal-estar e foi acudido por Mikhail.
      "Nos perdoem!", disse para o clérigo de Mystra. "Não sabíamos que eram favorecidos pela Deusa..."
      "Não se preocupe", disse Mikhail. "Acalme-se e sairemos todos sair daqui."
      Brian Mestre das Espadas, que não estava por perto quando da concepção do plano da ilusão, aproximou-se de Mikhail. Estava bastante agitado. "Viu o que houve? Uma deusa apareceu aqui!"
      "Vimos, Brian!", respondeu o clérigo com tranqüilidade. "Não se espantam com isto? Como podem ficar tão calmos? Realmente são incomuns!"

      Passada a comoção, recompuseram-se. Kariel e Storm esperavam que a ilusão houvesse vencido a resistência dos homens contra encantos e decidiram conjurar portais, que conduzissem à passagem para o templo, em um local longe da vigilância dos sentinelas e da proximidade da cidade. Para encontrar um lugar seguro para determinar a saída da magia, teriam os dois que atravessar Zaartikan, passar pelos grandes yuan-tis que guardavam o caminho e conduzir o feitiço de dentro do novo corredor. Então Kariel e Storm, sob o efeito do sortilégio da invisibilidade, percorreram este perigoso percurso, ganhando o corredor, além dos sentinelas. Andaram mais aliviados, durante alguns metros pela passagem, que não era um simples túnel na rocha. Havia uma pavimentação de tijolos e, nas paredes, desenhos de serpentes e yuan-tis formavam cenas de adoração e sacrifício. Alguns archotes, onde as chamas de fogo mágico bailavam, iluminavam os caminhos.

      Quando consideraram que estavam em um trecho relativamente seguro, Kariel e Storm então fizeram alguns cálculos e executaram suas conjurações, fazendo surgir dois rasgos circulares no espaço. A mulher retornou enquanto o elfo aguardava, pois precisava conduzir os companheiros pelos portais, especialmente os aldeões de Yassur, tão arredios a magia. Após alguns minutos da partida de Storm, foram surgindo ao lado de Kariel todos os seus companheiros, incluindo os habitantes do deserto.

      "E agora, Nalab?", perguntou Mikhail para o guia.
      "Seguindo em frente encontraremos a câmara onde está o templo. Haverão quatro yuan-tis, tão fortes quanto os sentinelas. Vocês terão que abatê-los rapidamente, com o mínimo de alarde, caso contrário outros virão.", respondeu o sacerdote.
      "Eu irei na frente.", disse Storm sacando a espada.
      "Fiquem na retaguarda, desta vez! Não quero que nenhum deles escape ou dê alarme."

      Dito isto, Storm partiu em direção da saída do corredor, tendo os outros aventureiros em seu encalço poucos metros atrás e os ex-prisioneiros logo após estes.

Os Falsos Orcs Progridem

      Florin e Limiekli tinham deixado o posto orc e carregavam espólios e a cabeça de um dos soldados mortos dentro de um saco de um grosso tecido. Foram em direção do templo de Shargrass, onde encontrariam Kyrrus, o sacerdote que lhes incumbiu a missão de assassinar Gurdun. Demoraram um pouco para chegar no sinistro templo escuro de pedra, pois estavam andando a pé e tiveram que atravessar a cidade. Adentraram os portões abertos, criados de maneira a se parecerem com uma mandíbula de uma criatura bestial, pronta a engolir todos que ali passavam. Viram novamente Kyrrus, próximo do altar, onde rendia umas homenagens com alguns animais mortos em honra à Shargrass. Assim que viu os dois, deixou o ofício de lado e foi ter com os seus contratados.
      "Muito bem. Fizeram o que pedi?", perguntou.
      "Sim. Matamos Gurdun. Trouxemos até a cabeça dele neste saco", blefou perigosamente Limiekli."...mas duvido que possa reconhecê-la." Kyrrus olhou para o saco que sangrava.
      "Não é necessário mostrá-la. Vocês estão se esforçando e demonstrando o interesse em nossa organização, a Ambição de Shargrass. Voltem amanhã à noite e lhes darei um novo trabalho. Se cumprirem este também com êxito, os colocarei em uma caravana para Nova Gondyr, onde responderão a uma autoridade maior."

      Os dois balançaram a cabeça positivamente e deixaram o templo, em direção a caverna de Marut. Chegaram então ao esconderijo, onde foram recepcionados pelos colegas, curiosos sobre o andamento da missão.

      "Como foi tudo?", perguntou Sirius.
      "Tivemos que enfrentar um ogro, mas as coisas saíram bem. Descobrimos que existe um posto avançado dos orcs ao norte e Kyrrus, da Ambição de Shargrass deverá nos dar uma nova missão amanhã, antes de nos colocar em uma caravana para Nova Gondyr. Trouxemos também o ingrediente para criarmos o disfarce que precisamos...", disse Limiekli, erguendo o saco de tecido manchado e retirando pelos cabelos a cabeça do infeliz soldado orc.
      "Acha que pode transformar esta cabeça na de Marut, Dove?", quis saber Sirius.
      "Sim. Com os preparados corretos e ervas, poderemos criar algo bem convincente.", disse a mulher pegando sem receio o resto mortal da mão de Limiekli e colocando em um caldeirão.

      Então Sirius, Limiekli, Florin e o goblin chamado Pukto observaram o feiticeiro orc Marut e Dove prepararem estranhos líquidos, e adicioná-los juntamente com ervas no caldeirão onde estava a cabeça. Depois retiraram-na e começaram a retocar o rosto com alguns ungüentos e pigmentos. A cabeça aos poucos ganhava aparência quase idêntica à de Marut, o que surpreendeu até mesmo o próprio bruxo, que não esperava tão bom resultado. Pronta, a peça foi recolocada no saco trazido por Limiekli. Sirius e Dove iriam levá-la agora para seu contratante, mas não podiam partir naquele instante. O encanto que os mantinham com a aparência de orcs está próximo do fim e precisaria ser renovado. Como já era noite e não havia um prazo acertado, decidiram dormir e partir na manhã seguinte até a taverna Caminho da Morte.

      Na alta manhã do dia seguinte, já novamente convertidos em orcs, partiram novamente para Urgithor. Poderiam ter ido mais cedo, mas não era do feitio dos orcs levantarem na aurora para seus compromissos. Levavam a encomenda especial: uma cópia quase idêntica da cabeça do feiticeiro Marut. Após alguns minutos cavalgando no dia chuvoso que se apresentava, adentraram a taverna barulhenta. Sirius encaminhou-se para o balcão e chamou o taverneiro. Pediu-lhe a cerveja escura dos orcs e perguntou pelo militar que contratara seus serviços. O orc então deixou o balcão e saiu por uma porta aos fundos. Não demorou muito para que o grande orc com armadura chegasse novamente e, expulsando alguns incautos fregueses com a ameaça de seu machado, sentasse em sua mesa preferida. Dove e Sirius foram fazer-lhe companhia.

      "Então? Vocês dois fizeram o trabalho?", perguntou o militar.
      "Está aqui!". Sirius entregou-lhe o saco. O soldado abriu e analisou seu conteúdo. "Porém gostaria de saber o nome do orc para quem estamos trabalhando.", colocou Sirius.
      "Vocês estão tendo o orgulho de trabalhar para o capitão Bragdas."
      "Você prometeu 10 peças para mim e para dois ajudantes se fosse necessário. São trinta peças!"
      "Muito bem.", disse retirando um saco da cintura e jogando para Sirius, que o aparou no ar.       "Aí tem 150 peças. São 50 para cada. É um bônus pelo serviço bem feito. Talvez eu tenha uma outra tarefa, que pode ser feita para um aliado meu, o sacerdote Kyrrus da igreja de Shargrass. Se fizerem um bom trabalho serão bem recompensados. Procurem-no e diga que os mandei.", disse Bragdas, que logo depois levantou-se e deixou o estabelecimento.
      "Hum.... não estou gostando nada disto. Mais um serviço, desta vez com o empregador de Florin e Limiekli. A única coisa que não vejo nestas histórias é sobre como vamos encontrar Bingo..."
      "É o que podemos fazer, Sirius. O que você queria? Que olhássemos embaixo da cama de cada orc de Urgithor? Temos que nos infiltrar para ver se descobrimos alguma coisa."

      Ficaram na Caminho da Morte por mais uns vinte minutos, a fim de não levantar suspeitas. Em seguida pagaram a cerveja e foram a procura da igreja de Shargrass. Levaram meia hora para encontrar o templo e entraram por seus portões. Poucos oravam naquele momento. Sirius aproximou-se de um dos fiéis sentados em um dos bancos da igreja, um goblin que vestia uma túnica preta feita com um grosso tecido, e perguntou por Kyrrus. A amarelada criatura levantou e entrou em uma porta. Em seguida trouxe um orc, vestido em sinistros trajes sacerdotais.

      "Sou Kyrrus. O que vocês desejam comigo?"
      "Viemos por indicação do capitão Bragdas", disse Sirius. "Ele nos disse que tinha um trabalho para nós."
      "Sim. Existe um de nós que está preso nos calabouços do rei Jodrus. Seu nome é Dagon. Queremos que vocês o libertem de lá."
      "Entrar no calabouço do rei sozinhos!", exclamou Sirius.
      "Vocês terão ajuda. Dois outros orcs estarão com vocês. Venham aqui à noite. Apresentarei-lhes os seus companheiros. O trabalho deverá ser feito hoje mesmo, antes que haja tempo de Dagon soltar a língua para os soldados de Jodrus. Então? Estamos acertados?"
      "Sim. Estaremos aqui hoje a noite.", respondeu Dove.
      "Òtimo. Até mais tarde, então.", disse Kyrrus, virando as costas e deixando a nave da igreja pela porta pela qual havia entrado.

      Dove e Sirius saíram do templo de Shargrass e seus cavalos rumaram de volta para a caverna de Marut. Contaram aos companheiros sobre as novidades.

      "Então será esta a nossa missão?"
      "Sim, Limiekli.", falou Sirius. "Quem sabe não damos sorte e encontramos Bingo nestes calabouços? Daí caímos fora daqui e deixamos estes orcs com suas intrigas."
      "Não é bem assim, Sirius. Você não está pensando de maneira abrangente. Podemos encontrar uma maneira de entregar as informações sobre esta Ambição de Shargrass ao rei Jodrus e prejudicar desta maneira as forças de Lorde Aris em Cormyr", colocou Dove.
      "Jogo duplo. Boa idéia. Fazíamos isto muito em Forte Zenthil quando..." Ao mencionar o nome da nefasta cidade do norte, Dove e Florin olharam imediatamente Limiekli.
      "Eu era um batedor de lá, mas não se preocupem. Estou do lado de vocês agora! E não se enganem. Muita gente em Forte Zenthil não sabe das maquinações de seus líderes e sofrem muito.", disse o ranger.
      "Espero que nos perdoe pelo espanto, Limiekli, mas isto é um fato novo para nós. Não esperávamos um aliado vindo da cidade de nossos piores inimigos.", disse Florin.
      "Não devemos chegar todos ao mesmo tempo na igreja de Shargaas.", voltou Dove ao assunto do plano. "Sugiro que Florin e Limiekli vão primeiro. Eu e Sirius iremos depois."

      Assim planejaram e esperaram a noite cair sobre Urgithor. Com os disfarces renovados, deixaram então a caverna Florin e Limiekli e, cerca de uma hora depois, Dove e Sirius. Encontraram-se então em uma sala reservada do templo, onde havia uma grande mesa de madeira, e estavam na presença de Kyrrus. Com a presença do quarteto de 'mercenários', o sacerdote do deus orc da Morte e das Trevas começou a falar.

      "A missão de vocês é retirar Dagon do calabouço. Aqui está o mapa do castelo.", falou enquanto abria o papel sobre a mesa. Era uma planta rústica do edifício. "Posso providenciar equipamento e uma maneira de entrar. Um de nossos agentes penetrará no castelo com uma carroça de feno e poderão ir escondidos."
      "Quatro invasores com equipamentos em uma carroça de feno não seria muito arriscado?", perguntou Dove.
      "Vocês podem usar os muros se desejarem, ou alguma outra maneira que acharem melhor. A propósito... Até agora não sei o nome de vocês..."
      "Eu sou Orilda e este é Gru.", introduziu Dove a si mesmo e à Sirius.
      "O meu nome é Graxk. Meu amigo aqui é Zogurth.", fez Limiekli, apontando para Florin..
      "Pois bem...", continuou o clérigo, mostrando o mapa. "Existe uma escada na cozinha que leva ao subsolo. De lá poderão alcançar os níveis inferiores."
      "Então vocês dois poderão ir pelos muros. Eu e Zogurth iremos nas carroças. Nos encontraremos nos estábulos e entraremos na cozinha pela porta dos fundos.", disse Limiekli.
      "Está certo. Quando iremos?", perguntou Florin.
      "Daqui a alguns minutos. Aguardem aqui. Trarei alguns equipamentos e em breve sairão daqui na direção do castelo de Jodrus, na carroça de feno."

      Então o clérigo os deixou na sala e os quatros heróis em peles de orcs tiveram que esperar o seu retorno. Ainda que fossem aventureiros com boa experiência, penetrar em um castelo e resgatar um prisioneiro era tarefa difícil e por isto não podiam evitar que uma certa ansiedade percorresse seus corações.

No Templo de Sseth

      Alguns minutos depois que Storm tomou a dianteira, seus companheiros passaram a ouvir o ruído do choque do metal contra metal. A luta havia se iniciado. Desta vez, atendendo o pedido da guerreira, os demais aventureiros não interferiram no combate. A preocupação da aventureira era que os yuan-tis pudessem fugir e chamar reforços, caso percebessem uma ameaça maior do que uma mulher sozinha.

      Os heróis avançaram até a saída do túnel e encontraram a câmara do templo. Era outro imenso salão da caverna, com mais de quinze metros de altura. Em seu centro foi erguida uma estrutura de pedra, um prédio de formato quase circular, com uma grande cúpula e uma escadaria que levava à entrada, um portão de madeira entalhada, entre duas estátuas de serpentes. O fogo mágico colocado em archotes também iluminava o ambiente. Viram, ocultos, Storm combater os quatro guardas yuan-tis. Mikhail resolveu que lançaria um encanto divino, porém escolheu um que não denunciasse sua presença. Após alguns gestos e palavras, todo o som que era produzido no local da luta cessou. Assim garantiu o clérigo que o ruído da batalha não levasse outros inimigos aquela câmara.

      Storm mostrava toda sua maestria com a espada bastada. Não era a toa que muitos a colocavam entre as maiores heroínas de Faerûn. A Harpista foi derrotando seus adversários com golpes rápidos e precisos. É claro que, mesmo para ela, os yuan-tis eram oponentes capazes e, por algumas vezes, os golpes das alabardas penetraram nas suas defesas, fazendo-lhe pequenos arranhões em sua armadura. Mas antes que sofresse qualquer dano grave, os quatro inimigos caíram mortos. A mulher então guardou sua espada e os seus amigos, que a assistiam apreensivos, foram juntar-se a ela.

      "Agora vamos adentrar este portão! Acabaremos com este Vandenspujo", disse Galtan.
      "Esperem!", interrompeu Nalab. "Antes, deixem-me mostrar-lhes a saída da câmara, conforme prometi."

      O sacerdote guiou mais uma vez os aventureiros e juntos contornaram o templo até um dos túneis que haviam na parede da câmara.

      "É aqui. Este túnel levará vocês ao deserto além da montanha. Cumpri minha parte no trato. Espero que cumpram a sua e tragam a jóia de Vandenspujo para mim."
      "Como vamos ter certeza que esta é mesmo a saída?"
      "Não teremos, Mikhail", disse Kariel. "De qualquer forma temos que derrotar este Vandenspujo para salvar a vida das três jovens. Teremos que confiar neste homem e esperar que não seja um traidor."
      "Fiquem aqui", pediu Magnus aos aldeões do deserto. "Vocês ficarão mais seguros. Se não retornarmos em breve, sigam o túnel."
      "O que estamos esperando? Vamos salvar as mulheres, antes que seja tarde.", bradou Brian.

      Os heróis então correram em direção a entrada do templo. O portão principal estava aberto e Magnus o empurrou. Revelou-se um pequeno corredor e, logo após, um outro portão.

      "É aqui.", informou Nalab.
      "Preparem-se. Lembrem-se... eu e Kariel atacaremos Vandenspujo e os demais tentarão deter os yuan-tis.", Storm recordou o plano.

      Galtan então empurrou os grandes portões de madeira, que abriram ruidosamente, interrompendo o ritual em honra a Sseth. Vandenspujo, um yuan-ti de escamas amareladas e que estava trajado de vestes sacerdotais, prostrava-se frente a uma grande estátua de serpente, cuja bocarra aberta projetava-se sobre ele em direção de uma piscina construída no centro da sala. Dentro dela, amarradas a um poste de madeira, estavam as três mulheres seqüestradas, cobertas de água até o pescoço. Haviam no lado esquerdo e no direito do aposento fileiras de homens-serpentes. Eram, no total, dez yuan-tis armados. Parte deles retiraram arcos das costas e prepararam setas. Outros sacaram espadas e foram em direção dos invasores assim que os viram. Estava armado o cenário, desta que seria uma das batalhas mais dramáticas da Comitiva.

      Vandenspujo levantou-se e olhou para os estranhos que profanaram seu local sagrado. Com sua voz sibilante, o sacerdote então pôs-se a conjurar um feitiço e uma bola de fogo surgiu e partiu de suas mãos para explodir no meio dos heróis, causando-lhes os primeiros ferimentos. Setas disparadas pelos soldados serpentes também se precipitaram. Brian foi o mais atingindo neste ataque, tendo um projétil perfurado seu ombro. Storm executou um encanto e como se entrasse em uma porta invisível, desapareceu, para surgir em seguida próximo ao sacerdote e aplicar-lhe dois golpes, sem que o adversário, porém, sentisse algum efeito. Os yuan-tis guerreiros já haviam se aproximado o suficiente para um combate corpo a corpo. Mesmo Kariel, que tencionava unir-se a Storm no combate a Vandenspujo, foi cercado e teve que lutar com os soldados. Dos que entraram na sala, apenas Nalab não combatia. Sentado calmamente no chão, próximo ao portão. Esperava calmamente o desfecho da batalha.

      A distribuição do combate era desigual: Kariel lutava contra três yuan-tis, Magnus, Galtan e Mikhail contra dois cada. Brian era o único que combatia em igualdade, mas como estava bastante ferido devido aos primeiros ataques, era um dos que mais sofriam para se manter na batalha. Kariel estava protegido por um encanto, mas frágil era sua vantagem. Tal era a quantidade de golpes que recebia, que em breve o Escolhido de Mystra estaria tão vulnerável quanto qualquer outro naquela carnificina. Antes que o sortilégio se esgotasse, o arcano aproveitou e conjurou um feitiço que fez com que um jato de fogo partisse de suas mãos e atingisse dois de seus oponentes. O calor da chamas fez chiar os reptéis, mas as injúrias eram insuficientes para retirá-los de combate. Os outros viravam-se de maneira mais comum: com o fio de suas lâminas e com o peso do martelo de guerra. As coisas, porém não corriam bem. Os monstros eram rápidos e faziam sangue espirrar a cada ataque acertado na carne dos heróis. Mikhail sentiu os ferimentos. Os golpes dos yuan-tis o aproximava cada vez mais da morte. Conseguiu abater um deles e recitar uma oração a sua deusa, concedendo-lhe vitalidade adicional, mas tal ajuda não tardaria muito a tornar-se nula. Tentava resistir o quanto podia. Galtan também sofria. A sua habilidade de cavaleiro de Águas Profundas temperada em muitas batalhas, jamais tinha provado de lâminas tão velozes. Bloqueava com sua espada longa um golpe e eis que recebia outro pelos flancos. Já sentia um frio percorrer seu corpo e seus reflexos diminuírem. Seu superior, o comandante Brian, seguia contra seu oponente e praticamente limitava-se a defender os golpes que lhe eram endereçados. Sorte de Tymora, pois o homem não duraria muito sem estes recursos. Magnus, dentre todos os combatentes, era o que mais tinha êxito. Havia sido menos castigado e conseguira acertar um golpe certeiro, rasgando o couro de um dos seus inimigos, expondo-lhe as vísceras e fazendo-o tombar.

      Kariel, estava bastante ferido, mas lançava mão de seus artifícios. Havia conjurado alguns de seus projéteis arcanos e agora usava o recurso que desejaria não utilizar: o perigoso feitiço de relâmpago. O raio partiu das mãos do elfo, dividiu-se e acertou dois oponentes. A rama elétrica após atingir os corpos dos yuan-tis chocou-se contra as paredes de pedra do templo e refletiu, voltando pelo mesmo caminho. Novamente encontrou os yuan-tis, que receberam outra poderosa descarga elétrica, que vitimou um deles. Kariel foi também atingido, mas uma graça da Deusa da Magia o protegia contra aquele encanto. Mikhail, apesar de ainda estar em combate, conseguiu aproximar-se de Brian. O homem já estava para cair, quando sentiu a mão do clérigo tocar seu ombro, canalizando uma benção curativa. Enquanto isto, Galtan derrubava um inimigo e Magnus o seu segundo. O paladino de Helm, livre dos adversários correu para ajudar Brian.

      Como se não bastasse a situação em que se encontravam os aventureiros um chiado ouviu-se dentro da grande estátua de cobra. Logo após uma enorme serpente saiu da bocarra da imagem e caiu dentro da piscina. O réptil queria seu sacrifício. As pobres moças, amarradas e indefesas gritavam e clamavam o nome de sua deusa. Storm largou o combate místico com Vandenspujo e pulou também na água, na esperança de matar aquela que deveria ser a Grande Naga, antes que esta apagasse a chama da vida daquelas moças. O vilão, livre do combate com a guerreira, não tardou a lançar de suas artes malignas novamente contra os heróis. Conjurou um feitiço e fez Kariel e Magnus ficarem imóveis, feito estátuas. Logo após, lançou outro sortilégio mais mortal e próximo ao mago da comitiva ergueu-se uma coluna de chamas, engolfando o elfo. Desaparecendo o fogo, restou Kariel caído ao chão, bem próximo da morte.

      Storm lutava contra a enorme serpente dentro da piscina. A água se agitava e a guerreira, esquivava-se do corpo do réptil, ávido por envolvê-la em um abraço mortal, ao mesmo tempo que tentava golpeá-lo. As mulheres desesperadas, já não gritavam. Apenas choravam e aguardavam seu fim. Afinal que chance teria uma mulher contra um monstro daqueles? Mas Storm era mais do que pensavam. Conseguiu uma posição de vantagem e, com toda a sua força empregada em uma golpe mortal de sua espada bastarda, decepou a cabeça do animal medonho. Não houve tempo para comemorações. Saltou da água e foi em direção de Vandenspujo. Lançou-lhe uma magia que dissipou as proteções mágicas que o yuan-ti havia conjurado e então fez sua espada bailar. O sacerdote de Sseth, sentindo suas vestes e seu couro escamoso se rasgarem, já poderia prever que em breve se encontraria com o seu deus.

      Mikhail, com seu martelo, enviou o yuan-ti contra o qual combatia para o além vida, e correu em direção ao moribundo Kariel. O elfo acumulava tantas queimaduras que nem mesmo sua capacidade de regeneração, outro presente de Mystra, seria rápida o suficiente para impedi-lo de morrer. Então Mikhail realizou outra oração e impôs suas mãos sobre o amigo. Algumas feridas se fecharam e ele, ainda bastante machucado, recobrou a consciência. Porém o que viu, assim que novamente abriu seus olhos, foi Brian e Galtan caírem, vítimas dos intensos golpes. O arcano executou, ainda no chão, um feitiço e fez surgir entre os inimigos e os colegas caídos uma muralha de fogo. Ergueu-se e junto com Mikhail, lutavam contra dois yuan-tis mais próximos. Porém o clérigo, que havia salvado tantos, também tombou. Naquele momento somente haviam de pé Kariel, ainda muito ferido, e Magnus, paralisado pelo encanto de Vandenspujo . E eram ainda quatro os yuan-tis. Kariel, mesmo temendo efeitos indesejáveis, novamente teve de lançar seu encanto de relâmpago. Matou dois, mas haviam mais outros dois. Dificilmente resistiria, mas sabia que havia feito o possível e iria lutar até o fim. Por sorte sua, viu Storm vir em seu auxílio. Olhou para o final do salão e pôde enxergar o corpo de Vandenspujo. A guerreira e o elfo, juntos, acabaram então pode derrotar os últimos oponentes.

      Vencida a batalha, foram verificar os feridos. Brian, Galtan e Mikhail perdiam sangue e em breve estariam mortos. Porém, neste instante, o encanto que prendia Magnus perdeu o efeito e o paladino usou seus poderes divinos de cura para fechar as feridas de seus amigos. Assim, Brian, Galtan e Mikhail, mesmo que gravemente debilitados, novamente levantaram.

      "Fizeram um bom trabalho!" A voz era de Nalab. O pérfido seguidor de Sseth já estava ao lado do cadáver de Vandenspujo e segurava uma jóia vermelha em uma das mãos.
      "Não deixarei que saia com nenhum prêmio, maldito!", bradou Galtan, que ameaçou correr para atacar seu desafeto, mas foi segurado por Mikhail e Kariel.
      "Não vale a pena, Galtan! Ele irá matá-lo.", disse o clérigo de Mystra.
      "Estamos muito fracos. E se morrermos aqui, não conseguiremos completar a missão que nos foi confiada.", complementou Kariel.
      "Escute seus amigos, dromedário.", provocou Nalab. "Podem levar as jovens e considerem o acordo cumprido."

      O sangue de Galtan ainda fervia, mas as palavras de seus amigos faziam sentido e ele se resignou. Libertaram as jovens, saíram do templo e encontraram os outros aldeões, que haviam sido deixados na entrada do corredor indicado por Nalab. Percorreram o túnel apertado e quando a demora do percurso começou a fazê-los temer por uma traição, viram a luz branca dos raios de sol e uma abertura a frente. Enfim tinham encontrado a saída.

Esta história é uma descrição em teor literário dos resumos de aventuras jogadas pelo grupo Comitiva da Fé em Salvador sob o sistema de RPG Advanced Dungeons & Dragons.

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