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Ataque ao Templo de Sseth
Descrita por Ricardo Costa.
Baseada no jogo mestrado por Ivan Lira.
Personagens principais da aventura:
Os
Humanos: Magnus de Helm; Sirius Lusbel; Sigel O'Blound (Limiekli),
Sir Galtan de Águas Profundas, Brian Mestre das Espadas.
Os Elfos: Mikhail Velian; Kariel Elkandor. Participação
Especial: Storm Mâo Argentêa, Florin e Dove Garra
da Falcão.
Ataque ao Templo de Sseth
A
Comitiva permanecia dividida em duas, uma ao norte de Evereska,
entre a Floresta Alta e a margem ocidental do deserto de Anauroch
, e outra, ao leste do reino élfico, na fronteira sul do mesmo deserto.
O primeiro grupo, formado por
Florin, Dove, Sirius e Limiekli, estava na cidade-reino orc de Urgithor
e haviam conquistado a aliança de um bruxo orc chamado Marut. Agora
dormiam no esconderijo do feiticeiro, enquanto se preparavam para
cumprir uma nova tarefa que poderia colocá-los mais próximos de
encontrar Bingo, que jazia prisioneiro em algum lugar daquela cidadela
sinistra.
Já o segundo, composto por Storm,
Brian, Galtan, Magnus, Kariel e Mikhail, foi obrigado a submeter-se
a um acordo com um sacerdote do deus Sseth, chamado Nalab. Em troca
de guiá-los para fora daquele labirinto de cavernas, o sombrio humano
pediu que matassem um outro sacerdote, um yuan-ti de nome Vandenspujo,
que no momento estava para conduzir um ritual de sacrifício de três
jovens humanas à Grande Naga. Além disso, queria o homem que lhe
entregassem uma certa jóia que estava em poder de seu inimigo. Percorriam
neste momento uma estreita passagem, indicada pelo guia.
Marut Tem Uma Surpresa
Quando
os primeiros raios de sol rompiam as nuvens e iluminavam a floresta
próxima de Urgithor, os aventureiros começavam a acordar na caverna
de Marut. Ainda estavam como orcs, devido ao efeito do encanto proferido
por Dove. Porém, nem todos haviam dormido. Dove permanecera desperta,
lendo um dos livros de Marut durante toda a noite. Limiekli, dentre
os outros heróis, foi primeiro a levantar e ver a ranger.
"Bom
dia, Dove... Não me diga que não dormiu?"
"Não
Limiekli. Não dormi."
"Você
é uma elfa ou algo assim? Parece que os elfos é que nunca dormem..."
"Vê
minhas orelhas?", disse a ranger apontando. "Não são orelhas de
elfo. E além disto, os elfos também precisam dormir..."
"Conheço
um que não dorme: Kariel. Sempre que a nos deitamos ele fica lá,
lendo ou escrevendo."
"Isto
é, digamos, um pequeno segredo arcano que temos!"
"Vocês
são misteriosos. Desde que me uni a esta Comitiva da Fé só faço
apanhar e ver estranhezas!"
O
ranger então levantou e foi à cozinha, onde encontrou o goblin Pukto,
que fazia um chá. Perguntou por Marut. Segundo o assistente, o feiticeiro
havia saído para recolher algumas ervas e vegetais para a refeição
matinal. Limiekli decidiu ir caçar para complementar o desjejum.
Marut
chegou minutos depois, com algumas folhas e batatas, quando os heróis
já estavam sentados, bebendo o chá feito por Puktos. Assim que o
bruxo orc entrou, Dove o abordou.
"Marut...
sabe falar a língua comum dos humanos?"
"Sim,
sei. Porque pergunta?"
"Vamos
precisar desta sua habilidade em breve"
"Não
entendi? Algum problema?"
"Não,
mas algo irá nos acontecer em breve. Não deve assustar-se."
"O
que há? Já sei! Decidiram voltar atrás e me matar!"
"Não!
Não tema. Apenas sente-se e aguarde!"
O
feiticeiro sentou em uma pedra e olhava para Dove, bastante tenso
e curioso. Depois de alguns minutos, uma transformação se operava.
Os pelos grossos de orc começaram a desaparecer dos aventureiros,
as presas salientes diminuíram e tornaram-se novamente dentes normais
e a pele esverdeada voltava para o tom róseo, característico de
boa parte dos humanos de Faerûn. As roupas e equipamentos também
voltaram às suas características originais.
"Humanos!?
Que feitiço é este?", disse espantado, ainda em língua orc.
"Será
que dá para falar nossa língua?", pediu Sirius.
"Como
vocês conseguiram se transformar em humanos?", perguntou Marut,
falando agora a língua comum.
"Não
nos transformamos em humanos, mas voltamos ao que éramos!", explicou
Sirius.
"Procuramos
um amigo nosso que foi capturado e que deve estar prisioneiro aqui.
Ele foi levado por Numoz, que lutou conosco e também matou muitos
de sua espécie. Entre eles um general chamado Ortz.", relatou então
Florin.
"Ele
matou Ortz? Ele era um dos principais generais do rei Jodrus!"
Limiekli,
também em sua aparência verdadeira, retornou ao esconderijo neste
ponto da conversa. Colocou as caças, uma lebre e um porco do mato,
na cozinha e entrou na sala. Entendeu a reunião que acontecia e
integrou-se a ela.
"Dias
atrás, veio a Urgithor uma legião de orcs..."
"Pode
ser a de Numoz! Vi alguns rastros deixados pelos cavalos deles vindo
na direção da cidade...", disse Limiekli sentando-se.
"Se
ele matou Ortz, sugiro a vocês investigarem mais sobre a Ambição
da Shargrass. Já que concordaram em me auxiliar na fuga daqui, farei
o possível para ajudá-los."
"Obrigado.",
Florin falou levantando e se aprumando-se. "Vamos Limiekli, temos
que ir agora atrás de Gurdun."
"Vamos!"
"Ei,
esperem... Não esqueceram de nada!? O encanto! Não podem sair como
humanos!", avisou Sirius, sorrindo da precipitação dos dois companheiros.
"É,
claro... Dove, será que pode..."
"Daqui
a alguns minutos, meu amado.", disse a bela ranger. "Daqui a alguns
minutos!"
Uma Estratégia a Ser Traçada
O
túnel cavernoso dentro de uma montanha na borda de Anauroch, por
onde passavam os aventureiros era muito baixo e incômodo. Até mesmo
Mikhail e Kariel, que eram elfos e não possuíam grande estatura,
tinham que abaixar suas cabeças para não batê-las no teto. O quer
dizer então dos humanos. O paladino Magnus de Helm, por exemplo,
muito alto e robusto, caminhava bastante curvado e devagar. Após
andarem nestas condições por cerca de quarenta minutos, notaram
que os nativos do deserto não conseguiam mais prosseguir. Além da
penosidade da tarefa, a trilha consumira suas poucas energias. Os
mais velhos e as crianças cambaleavam e alguns, exaustos, já haviam
sentado ao chão.
"Nalab...",
falou Kariel para o guia, "Os humanos libertados estão cansados.
É seguro que descansemos aqui?"
"Qual
é o problema? Os deixem aí! Eles são inúteis."
"Responda
o que perguntei!"
"Sim...
este caminho é um túnel secreto. Poucos sabem de sua existência."
"Mas
não podemos parar! Existem três jovens que podem ser levadas ao
sacrifício!", lembrou Mikhail.
"Não
poderia ajudar de alguma forma, Mikhail? Teria alguma benção que
possa aliviar o sofrimento destes homens?", perguntou Magnus.
"Infelizmente,
não. Teria que descansar para conseguir invocar algum auxílio divino..."
"Temos
que continuar para salvar as mulheres seqüestradas." Kariel falou
e em seguida pediu aos homens do deserto. "Por favor, levantem-se!
Temos que prosseguir!"
"M-mas...
não agüentamos mais, senhor!. Deixe-nos descansar!", disse um senhor
idoso em tom de súplica.
"Vamos
descansar, Kariel.", interferiu Storm, pondo a mão no ombro do elfo.
"Eles
não irão resistir se não pararmos. Não podemos trocar tantas vidas
por apenas três."
"Posso
recitar uma oração de Mystra que livrará você e seu povo do cansaço.",
sugeriu Mikhail para o homem.
"N-não...
não queremos magias e truques. Por causa da magia de seu amigo,
um de nossos companheiros está morto!", falou o ancião.
"Como?
Isto é verdade, Kariel?", perguntou Storm.
"Sim.
Infelizmente sim.", respondeu o mago cabisbaixo.
"O
prolongamento de um relâmpago que conjurei atingiu acidentalmente
um destes humanos, que estava longe de meu campo de visão. Hoje
sujei minhas mãos com sangue inocente."
"Foi
uma fatalidade. Mas tem que tomar mais cuidado com este tipo de
encanto, principalmente em lugares fechados. Vamos parar. Aproveitaremos
para discutir uma estratégia."
O
grupo então acomodou-se como pôde no estreito e desconfortável corredor
pedregoso. Os aventureiros fizeram um círculo e procuraram saber
mais de Nalab para montarem uma estratégia.
"Pode
nos dar mais informações sobre este templo?", perguntou Mikhail.
"Após
sairmos deste corredor encontraremos Zaartikan e, além dela, uma
passagem guardada. Seguindo por ela, encontraremos a câmara onde
está o templo. Além de seus portões, está a guarda pessoal de Vandenspujo,
composta de yuan-tis, muito mais fortes e habilidosos do que aqueles
que enfrentaram, além da Grande Naga, e o próprio Vandenspujo, que
além de ser um sacerdote, usufrui dos conhecimentos arcanos também.
Já a saída para onde os conduzirei se localiza atrás do templo,
em um outro túnel."
"Quando
estivermos dentro do templo nos dividiremos. Eu e Kariel, que temos
habilidades arcanas, combateremos o sacerdote e vocês que são mais
afeitos a batalha, poderão atacar os yuan-tis e esta tal Grande
Naga.", planejou Storm.
"Deixem
que eu derroto esta cobra. Com um golpe de minha espada ela cairá!",
disse, confiante, Galtan.
"Não
devemos subestimar os inimigos. Precisamos ser rápidos ou os répteis
chamarão reforços.", alertou Magnus.
"Magnus.
Cuide para que os humanos fiquem ocultos durante os combates.",
pediu Kariel.
"Não
se preocupe. Um bom seguidor de Helm primeiro protege e depois ataca!"
"Obrigado.
Não quero que hajam mais mortes.", disse o elfo de cabelos azuis,
lembrando-se do infeliz incidente de horas atrás.
"Lamento
pelo que ocorreu com você, Kariel. Não queria estar passando por
isto."
"Acrescente
meu nome em suas orações e peça para Helm aliviar minha culpa, meu
amigo."
"Orarei
por você.", respondeu Magnus.
O
Paladino se afastou e, aproveitando que Storm estava sozinha, disse-lhe:
"Storm, queria ter a oportunidade de conversar com você sobre o
que aconteceu. Eu.. Me desculpe. Faltei com respeito."
"Você
não fez nada que eu não quisesse, Magnus. Depois que estivermos
a salvo dessa situação, eu gostaria de falar com você sobre isso."
"Como
quiser."
Então
descansaram os heróis, a exceção de Kariel, que permaneceu despertos,
lendo seus livros de encantos. Oito horas se passariam até levantarem
novamente.
A Segunda Missão
Dove
havia lançado novamente seu encanto especial de disfarce sobre seus
companheiros. Agora restava cumprir a missão que Kyrrus, o orc clérigo
de Shargrass, incumbiu a Florin e Limiekli: matar Gurdun, um delator
que entregava informações ao rei Jodrus sobre o movimento em apoio
à Nova Gondyr. A cabeça da vítima também teria um destino importante:
seria disfarçada como sendo a de Marut e entregue a um militar chamado
Bragdas, como prova do cumprimento do contrato de assassinato do
feiticeiro.
Limiekli
e Florin rumaram para a cidade. Passaram pelo mercado, pelo templo
de Shargrass e chegaram no bairro sujo onde Gurdun morava. Aguardaram
durante quase uma hora, mas parecia não haver movimento na casa
do soldado. Limiekli então viu um kobold, que perambulava por um
dos estreitos becos do lugar. Reconheceu a figura de longe e aproximou-se
sem que ele o percebesse, junto com Florin.
"E
aí? Lembra-se de mim?", perguntou Limiekli, dando um susto no pequeno,
que estava distraído.
"S-sim...
Está procurando Gurdun? Ele não está aí. Saiu em uma missão."
"Onde
ele foi?"
"Para
aquele posto avançado abandonado, criado antes da fundação da cidade."
"Sei...",
disse o ranger disfarçando.
"Pode
nos levar até lá?"
"Posso,
mas vou ganhar algo com isso?"
"Damos
a você uma peça de prata."
"Só
uma? Que tal duas? Estou com fome! Sabe, estou precisando mesmo...
sou pequeno e não tenho força para empunhar uma espada ou uma lança.
Não tenho mesmo um trabalho... snif...", começou a chorar o amarelado
goblinóide.
"Damos
uma de prata agora e cinco de cobre depois de nos levar até lá.",
aumentou a oferta Limiekli.
"Feito!",
disse sorrindo imediatamente e enxugando suas lágrimas de crocodilo.
"Meu nome é Ferrir. E o de vocês?"
Os
dois se entreolharam, pois não haviam pensado nisto antes. Por fim
responderam. "Sou Graxk", disse Limiekli. "E este é Zogurth", indicou
com a cabeça Florin. "Se nos servir bem, poderá ser meu ajudante.
O que acha?"
"Ótimo!
Estou nessa! Vamos... vou levá-los ao posto!"
Limiekli,
Florin e Ferrir atravessaram a pé a cidade e foram pouco além de
seus limites. Entraram por um bosque de árvores esparsas e chegaram
em uma clareira. Havia no meio algumas ruínas do que, décadas atrás,
poderia ser um forte. Tudo estava tomando pelo mato e danificado
pelo tempo. Limiekli e Florin procuraram por rastros, mas não encontraram
nada que pudessem seguir. Resolveram então entrar no que sobrou
do posto.
"Não.
Não vou entrar aí!", reclamou Ferrir.
"Acho
melhor você ficar aqui por enquanto.", disse Limiekli, retirando
um rolo de corda da mochila para depois amarrar e amordaçar o pequeno
monstrinho em uma árvore.
"Ótimo,
assim não poderá nos atrapalhar ou nos trair!"
"Antes
de matar Gurdun, Florin, vamos tentar extrair informações dele.
Pode ser que descubramos algo de útil."
"Certamente."
Florin
e Limiekli entraram por uma enorme fenda em uma parede em o que
restou de um das construções que formavam o antigo forte. Percorreram
alguns salões e corredores. Tudo parecia completamente abandonado.
Haviam pedras, ruínas de móveis, ninhos de pássaros e alguns pequenos
animais silvestres que fizeram dali seus lares. Encontraram uma
escada rústica, que levava para um subterrâneo. Limiekli ajoelhou-se
e verificou que os degraus não estavam tão sujos como as outras
superfícies do posto abandonado e concluiu que poderia ser por ali
que Gurdun entrara. Desceram a escada e abriram uma porta no nível
inferior. Encontraram um corredor, iluminado por algumas tochas
e por ele seguiram. Ouviram alguns ruídos e logo após, seis orcs,
em armaduras e de armas em punho, se aproximaram. O maior deles
dirigiu-se a Limiekli.
"Quem
são vocês? Para quem trabalham?"
"Nós
trabalhamos para Gurdun.", respondeu Limiekli.
"Acha
que sou estúpido? Eu sou Gurdun! Ouvi dizer que espalharam por aí
que sou um caloteiro..."
Naquele
momento viram por trás dos orcs o pequeno Ferrir, que pulava e apontava
para os dois invasores. "Foram eles, Gurdun! Foram eles! Ainda chamaram
sua mãe de porca!"
"Chega
desta conversa.", disse Florin. "Viemos saber para quem você trabalha...
E não pense que você e seus orcs são páreos para nós!"
"Pode
ser.", respondeu tranqüilamente. "Mas ainda assim vocês terão uma
lição: Gronks!"
Do
fundo do corredor saiu um ogro, um humanóide, vestido em peles,
com quase três metros de altura, e com uma maça de madeira, incrustada
de espinhos de ferro. Limiekli concentrou-se em um encanto que conhecia
e após recitar algumas palavras, raízes romperam o chão e prenderam
três inimigos pelos pés, tal qual cobras.
Os
orcs também atacaram. Florin desembainhou sua espada e Limiekli
retirou o arco das costas para disparar uma única flecha, antes
que o contato corpo-a-corpo impossibilitasse a utilização desta
arma. A seta, tinha endereço certo: atingiu o kobold traiçoeiro.
Florin
investiu contra um orc que se aproximou. Deu-lhe dois golpes rápidos
nos flancos. Sofreu também um ataque, mas sua armadura reduziu o
impacto do machado agressor. Em seguida, com mais dois golpes, decapitou
o inimigo. Limiekli já havia deixado o arco de lado e lutava francamente.
Tinham sorte os heróis, pois o corredor de estreita largura impedia
que os inimigos usassem com eficiência sua superioridade numérica.
Limiekli aplicou um golpe de machado no crânio de seu oponente,
fazendo voar sangue e miolos. A situação de Florin era um pouco
pior. Depois de haver abatido seu segundo adversário batia-se com
Gurdun e Gronks. O ogro acertou-lhe um pesado golpe, e desta vez
seu sangue foi derramado. Porém, como não era um homem comum, ainda
haviam lhe restado muitas forças para lutar. Esquivou-se com um
golpe de machado aplicado por Gurdun e ergueu sua espada e numa
investida certeira, acertou o coração do ogro, que caiu morto. Com
seu maior trunfo perdido e dois soldados mortos e três fora de combate,
Gurdun resolveu render-se e baixou sua espada. Foi amarrado por
Florin e Limiekli.
"O
que querem? Quem enviou vocês aqui?", perguntou Gurdun.
"Para
quem você trabalha?", perguntou Florin.
"Para
o rei Jodrus. E se for para trair o rei não responderei nada. Se
não eu retornar a Urgithor, em pouco tempo virá uma tropa procurar-me."
Florin
então apertou com força o braço de Gurdun, justamente em um local
onde havia um rasgo feito por sua própria espada. O orc gritou de
dor.
"Responda
o que perguntarmos. O que sabe sobre Kyrrus e a Ambição
de Shargrass."
"Kyrrus...
deve ter sido o maldito que mandou vocês aqui para matar-me.
Vou queimar aquela igreja! E enquanto a Ambição de
Shargrass, devem saber mais do que eu."
"E
sobre Numoz?", perguntou Limiekli. "Sabe alguma coisa
dele? Ele veio a esta cidade após matar o general Ortz .
Onde está ele e o prisioneiro que trouxe?"
"Ortz
está morto? Não sabia. Nada sei sobre Numoz e não
tenho notícias de prisioneiros. Os que temos estão
no forte em Urgithor e nos outros postos avançados, um ao
norte e outro ao sul, onde estamos construindo uma represa."
"Esta
último não existe mais.", disse Limiekli com
satisfação.
"Parece
que ele não sabe muita coisa que nos ajude, Limiekli."
"Só
precisa de uma motivação para falar mais."
Limiekli
então com sua lâmina fez um corte na perna do orc, e depois puxou
a pele cortada provocando uma dor lancinante no orc. Este não resistiu
a mais injúrias e caiu morto. Neste momento, o encanto que prendia
os três últimos orcs terminava seus efeitos e as raízes voltaram
para as profundezas da terra, liberando os soldados. Estes pegaram
suas armas e atacaram os dois aventureiros, mas também foram derrotados,
minutos depois. Os corpos foram empilhados e uma cabeça, a mais
parecida com a de Marut, foi recolhida e colocada em um saco de
tecido. Limiekli também lembrou de levar algumas armaduras e a peça
de prata que havia pago a Ferrir.
Uma Deusa Que Surge
Dentro
do estreito corredor, o descanso estava chegando ao fim. Depois
de repousar e de comerem alimentos providenciados por um encantamento
divino de Mikhail, executado longe das vistas dos aldeões do deserto,
o grupo preparava-se para prosseguir. Kariel, aproveitando-se novamente
da invisibilidade que seu elmo concedia, seguiu como batedor, enquanto
o restante aguardava por suas notícias. O elfo mago avançou lentamente
pelo corredor, iluminado por uma emanação tênue de sua espada. Depois
de pouco mais de meia hora, chegou ao fim do túnel. A abertura revelava
um imenso salão rochoso, tão grande que comportava uma cidadela.
Era Zaartikan. As construções não se assemelhavam às rústicas habitações
das aldeias dos homens-lagartos. Haviam casas e torres de pedra,
feitos com alguma arte, e estátuas de serpente. A cidade era iluminada
por chamas mágicas e muitos yuan-tis , assim como cobras e serpentes,
circulavam pelas suas ruas.
Kariel
olhou mais além e viu a passagem que Nalab havia mencionado. Era
guardada por dois grandes yuant-tis de escamas vermelhas, bem maiores
que os que já haviam visto, que portavam alabardas. Para chegar
até eles, teriam que atravessar um trecho de Zaartikan. O elfo então
retornou para seus companheiros.
"Segui
pelo corredor e ele leva para a cidade dos yuan-tis. Para chegarmos
na passagem teríamos que caminhar pela cidade, o que é impossível
de ser feito sem chamar atenção com todas estas pessoas!. Além disto
existem sentinelas, bem maiores e mais fortes que os outros yuan-tis...",
disse Kariel, ainda invisível, após se aproximar do grupo. "A única
forma que vejo de atravessar seria utilizar magia."
"Estes
homens não irão aceitar esta alternativa.", colocou Galtan.
"Deve
haver uma maneira... Eles possuem algum tipo de crença?", perguntou
Storm.
"Sim.
Um deles me falou de uma deusa do deserto em que acreditam.", informou
Mikhail.
"Sei
que isto não é correto, mas a única chance de levá-los daqui é enganá-los.
Kariel, será que poderia criar uma ilusão representando esta deusa?"
"Sim,
Storm, mas para isto preciso saber a aparência da divindade."
"Eu
já ouvi falar dela. Irei dar uma descrição e tentaremos."
O
elfo e Storm afastaram-se o suficiente para que os homens de Yassur
não desconfiassem do plano. Conversaram e de lá Kariel operou o
encanto. Surgiu então a frente dos habitantes do deserto a figura
etérea de uma mulher de cabelos negros e véu sobre o rosto, que
flutuava e emitia uma pálida irradiação branca.
"Meus
filhos!", disse a imagem.
"El
Ma'ra!". Os homens imediatamente ajoelharam-se.
"Vim
dizer-lhes que a vinda destes aventureiros para salvá-los não é
uma coincidência. Foram guiados por mim até vocês. Obedeçam suas
instruções e sairão para viver suas vidas no deserto."
Em
seguida, a figura desapareceu. Muitos dentre o povo de Yassur estavam
impressionados, alguns choravam e um deles, o ancião de nome Nob
sentiu um súbito mal-estar e foi acudido por Mikhail.
"Nos
perdoem!", disse para o clérigo de Mystra. "Não sabíamos que eram
favorecidos pela Deusa..."
"Não
se preocupe", disse Mikhail. "Acalme-se e sairemos todos sair daqui."
Brian
Mestre das Espadas, que não estava por perto quando da concepção
do plano da ilusão, aproximou-se de Mikhail. Estava bastante agitado.
"Viu o que houve? Uma deusa apareceu aqui!"
"Vimos,
Brian!", respondeu o clérigo com tranqüilidade. "Não se espantam
com isto? Como podem ficar tão calmos? Realmente são incomuns!"
Passada
a comoção, recompuseram-se. Kariel e Storm esperavam que a ilusão
houvesse vencido a resistência dos homens contra encantos e decidiram
conjurar portais, que conduzissem à passagem para o templo, em um
local longe da vigilância dos sentinelas e da proximidade da cidade.
Para encontrar um lugar seguro para determinar a saída da magia,
teriam os dois que atravessar Zaartikan, passar pelos grandes yuan-tis
que guardavam o caminho e conduzir o feitiço de dentro do novo corredor.
Então Kariel e Storm, sob o efeito do sortilégio da invisibilidade,
percorreram este perigoso percurso, ganhando o corredor, além dos
sentinelas. Andaram mais aliviados, durante alguns metros pela passagem,
que não era um simples túnel na rocha. Havia uma pavimentação de
tijolos e, nas paredes, desenhos de serpentes e yuan-tis formavam
cenas de adoração e sacrifício. Alguns archotes, onde as chamas
de fogo mágico bailavam, iluminavam os caminhos.
Quando
consideraram que estavam em um trecho relativamente seguro, Kariel
e Storm então fizeram alguns cálculos e executaram suas conjurações,
fazendo surgir dois rasgos circulares no espaço. A mulher retornou
enquanto o elfo aguardava, pois precisava conduzir os companheiros
pelos portais, especialmente os aldeões de Yassur, tão arredios
a magia. Após alguns minutos da partida de Storm, foram surgindo
ao lado de Kariel todos os seus companheiros, incluindo os habitantes
do deserto.
"E
agora, Nalab?", perguntou Mikhail para o guia.
"Seguindo
em frente encontraremos a câmara onde está o templo. Haverão quatro
yuan-tis, tão fortes quanto os sentinelas. Vocês terão que abatê-los
rapidamente, com o mínimo de alarde, caso contrário outros virão.",
respondeu o sacerdote.
"Eu
irei na frente.", disse Storm sacando a espada.
"Fiquem
na retaguarda, desta vez! Não quero que nenhum deles escape ou dê
alarme."
Dito
isto, Storm partiu em direção da saída do corredor, tendo os outros
aventureiros em seu encalço poucos metros atrás e os ex-prisioneiros
logo após estes.
Os Falsos Orcs Progridem
Florin
e Limiekli tinham deixado o posto orc e carregavam espólios e a
cabeça de um dos soldados mortos dentro de um saco de um grosso
tecido. Foram em direção do templo de Shargrass, onde encontrariam
Kyrrus, o sacerdote que lhes incumbiu a missão de assassinar Gurdun.
Demoraram um pouco para chegar no sinistro templo escuro de pedra,
pois estavam andando a pé e tiveram que atravessar a cidade. Adentraram
os portões abertos, criados de maneira a se parecerem com uma mandíbula
de uma criatura bestial, pronta a engolir todos que ali passavam.
Viram novamente Kyrrus, próximo do altar, onde rendia umas homenagens
com alguns animais mortos em honra à Shargrass. Assim que viu os
dois, deixou o ofício de lado e foi ter com os seus contratados.
"Muito
bem. Fizeram o que pedi?", perguntou.
"Sim.
Matamos Gurdun. Trouxemos até a cabeça dele neste saco", blefou
perigosamente Limiekli."...mas duvido que possa reconhecê-la." Kyrrus
olhou para o saco que sangrava.
"Não
é necessário mostrá-la. Vocês estão se esforçando e demonstrando
o interesse em nossa organização, a Ambição de Shargrass. Voltem
amanhã à noite e lhes darei um novo trabalho. Se cumprirem este
também com êxito, os colocarei em uma caravana para Nova Gondyr,
onde responderão a uma autoridade maior."
Os
dois balançaram a cabeça positivamente e deixaram o templo, em direção
a caverna de Marut. Chegaram então ao esconderijo, onde foram recepcionados
pelos colegas, curiosos sobre o andamento da missão.
"Como
foi tudo?", perguntou Sirius.
"Tivemos
que enfrentar um ogro, mas as coisas saíram bem. Descobrimos que
existe um posto avançado dos orcs ao norte e Kyrrus, da Ambição
de Shargrass deverá nos dar uma nova missão amanhã, antes de nos
colocar em uma caravana para Nova Gondyr. Trouxemos também o ingrediente
para criarmos o disfarce que precisamos...", disse Limiekli, erguendo
o saco de tecido manchado e retirando pelos cabelos a cabeça do
infeliz soldado orc.
"Acha
que pode transformar esta cabeça na de Marut, Dove?", quis saber
Sirius.
"Sim.
Com os preparados corretos e ervas, poderemos criar algo bem convincente.",
disse a mulher pegando sem receio o resto mortal da mão de Limiekli
e colocando em um caldeirão.
Então
Sirius, Limiekli, Florin e o goblin chamado Pukto observaram o feiticeiro
orc Marut e Dove prepararem estranhos líquidos, e adicioná-los juntamente
com ervas no caldeirão onde estava a cabeça. Depois retiraram-na
e começaram a retocar o rosto com alguns ungüentos e pigmentos.
A cabeça aos poucos ganhava aparência quase idêntica à de Marut,
o que surpreendeu até mesmo o próprio bruxo, que não esperava tão
bom resultado. Pronta, a peça foi recolocada no saco trazido por
Limiekli. Sirius e Dove iriam levá-la agora para seu contratante,
mas não podiam partir naquele instante. O encanto que os mantinham
com a aparência de orcs está próximo do fim e precisaria ser renovado.
Como já era noite e não havia um prazo acertado, decidiram dormir
e partir na manhã seguinte até a taverna Caminho da Morte.
Na
alta manhã do dia seguinte, já novamente convertidos em orcs, partiram
novamente para Urgithor. Poderiam ter ido mais cedo, mas não era
do feitio dos orcs levantarem na aurora para seus compromissos.
Levavam a encomenda especial: uma cópia quase idêntica da cabeça
do feiticeiro Marut. Após alguns minutos cavalgando no dia chuvoso
que se apresentava, adentraram a taverna barulhenta. Sirius encaminhou-se
para o balcão e chamou o taverneiro. Pediu-lhe a cerveja escura
dos orcs e perguntou pelo militar que contratara seus serviços.
O orc então deixou o balcão e saiu por uma porta aos fundos. Não
demorou muito para que o grande orc com armadura chegasse novamente
e, expulsando alguns incautos fregueses com a ameaça de seu machado,
sentasse em sua mesa preferida. Dove e Sirius foram fazer-lhe companhia.
"Então?
Vocês dois fizeram o trabalho?", perguntou o militar.
"Está
aqui!". Sirius entregou-lhe o saco. O soldado abriu e analisou seu
conteúdo. "Porém gostaria de saber o nome do orc para quem estamos
trabalhando.", colocou Sirius.
"Vocês
estão tendo o orgulho de trabalhar para o capitão Bragdas."
"Você
prometeu 10 peças para mim e para dois ajudantes se fosse necessário.
São trinta peças!"
"Muito
bem.", disse retirando um saco da cintura e jogando para Sirius,
que o aparou no ar. "Aí
tem 150 peças. São 50 para cada. É um bônus pelo serviço bem feito.
Talvez eu tenha uma outra tarefa, que pode ser feita para um aliado
meu, o sacerdote Kyrrus da igreja de Shargrass. Se fizerem um bom
trabalho serão bem recompensados. Procurem-no e diga que os mandei.",
disse Bragdas, que logo depois levantou-se e deixou o estabelecimento.
"Hum....
não estou gostando nada disto. Mais um serviço, desta vez com o
empregador de Florin e Limiekli. A única coisa que não vejo nestas
histórias é sobre como vamos encontrar Bingo..."
"É
o que podemos fazer, Sirius. O que você queria? Que olhássemos embaixo
da cama de cada orc de Urgithor? Temos que nos infiltrar para ver
se descobrimos alguma coisa."
Ficaram
na Caminho da Morte por mais uns vinte minutos, a fim de não levantar
suspeitas. Em seguida pagaram a cerveja e foram a procura da igreja
de Shargrass. Levaram meia hora para encontrar o templo e entraram
por seus portões. Poucos oravam naquele momento. Sirius aproximou-se
de um dos fiéis sentados em um dos bancos da igreja, um goblin que
vestia uma túnica preta feita com um grosso tecido, e perguntou
por Kyrrus. A amarelada criatura levantou e entrou em uma porta.
Em seguida trouxe um orc, vestido em sinistros trajes sacerdotais.
"Sou
Kyrrus. O que vocês desejam comigo?"
"Viemos
por indicação do capitão Bragdas", disse Sirius. "Ele nos disse
que tinha um trabalho para nós."
"Sim.
Existe um de nós que está preso nos calabouços do rei Jodrus. Seu
nome é Dagon. Queremos que vocês o libertem de lá."
"Entrar
no calabouço do rei sozinhos!", exclamou Sirius.
"Vocês
terão ajuda. Dois outros orcs estarão com vocês. Venham aqui à noite.
Apresentarei-lhes os seus companheiros. O trabalho deverá ser feito
hoje mesmo, antes que haja tempo de Dagon soltar a língua para os
soldados de Jodrus. Então? Estamos acertados?"
"Sim.
Estaremos aqui hoje a noite.", respondeu Dove.
"Òtimo.
Até mais tarde, então.", disse Kyrrus, virando as costas e deixando
a nave da igreja pela porta pela qual havia entrado.
Dove
e Sirius saíram do templo de Shargrass e seus cavalos rumaram de
volta para a caverna de Marut. Contaram aos companheiros sobre as
novidades.
"Então
será esta a nossa missão?"
"Sim,
Limiekli.", falou Sirius. "Quem sabe não damos sorte e encontramos
Bingo nestes calabouços? Daí caímos fora daqui e deixamos estes
orcs com suas intrigas."
"Não
é bem assim, Sirius. Você não está pensando de maneira abrangente.
Podemos encontrar uma maneira de entregar as informações sobre esta
Ambição de Shargrass ao rei Jodrus e prejudicar desta maneira as
forças de Lorde Aris em Cormyr", colocou Dove.
"Jogo
duplo. Boa idéia. Fazíamos isto muito em Forte Zenthil quando..."
Ao mencionar o nome da nefasta cidade do norte, Dove e Florin olharam
imediatamente Limiekli.
"Eu
era um batedor de lá, mas não se preocupem. Estou do lado de vocês
agora! E não se enganem. Muita gente em Forte Zenthil não sabe das
maquinações de seus líderes e sofrem muito.", disse o ranger.
"Espero
que nos perdoe pelo espanto, Limiekli, mas isto é um fato novo para
nós. Não esperávamos um aliado vindo da cidade de nossos piores
inimigos.", disse Florin.
"Não
devemos chegar todos ao mesmo tempo na igreja de Shargaas.", voltou
Dove ao assunto do plano. "Sugiro que Florin e Limiekli vão primeiro.
Eu e Sirius iremos depois."
Assim
planejaram e esperaram a noite cair sobre Urgithor. Com os disfarces
renovados, deixaram então a caverna Florin e Limiekli e, cerca de
uma hora depois, Dove e Sirius. Encontraram-se então em uma sala
reservada do templo, onde havia uma grande mesa de madeira, e estavam
na presença de Kyrrus. Com a presença do quarteto de 'mercenários',
o sacerdote do deus orc da Morte e das Trevas começou a falar.
"A
missão de vocês é retirar Dagon do calabouço. Aqui está o mapa do
castelo.", falou enquanto abria o papel sobre a mesa. Era uma planta
rústica do edifício. "Posso providenciar equipamento e uma maneira
de entrar. Um de nossos agentes penetrará no castelo com uma carroça
de feno e poderão ir escondidos."
"Quatro
invasores com equipamentos em uma carroça de feno não seria muito
arriscado?", perguntou Dove.
"Vocês
podem usar os muros se desejarem, ou alguma outra maneira que acharem
melhor. A propósito... Até agora não sei o nome de vocês..."
"Eu
sou Orilda e este é Gru.", introduziu Dove a si mesmo e à Sirius.
"O
meu nome é Graxk. Meu amigo aqui é Zogurth.", fez Limiekli, apontando
para Florin..
"Pois
bem...", continuou o clérigo, mostrando o mapa. "Existe uma escada
na cozinha que leva ao subsolo. De lá poderão alcançar os níveis
inferiores."
"Então
vocês dois poderão ir pelos muros. Eu e Zogurth iremos nas carroças.
Nos encontraremos nos estábulos e entraremos na cozinha pela porta
dos fundos.", disse Limiekli.
"Está
certo. Quando iremos?", perguntou Florin.
"Daqui
a alguns minutos. Aguardem aqui. Trarei alguns equipamentos e em
breve sairão daqui na direção do castelo de Jodrus, na carroça de
feno."
Então
o clérigo os deixou na sala e os quatros heróis em peles de orcs
tiveram que esperar o seu retorno. Ainda que fossem aventureiros
com boa experiência, penetrar em um castelo e resgatar um prisioneiro
era tarefa difícil e por isto não podiam evitar que uma certa ansiedade
percorresse seus corações.
No Templo de Sseth
Alguns
minutos depois que Storm tomou a dianteira, seus companheiros passaram
a ouvir o ruído do choque do metal contra metal. A luta havia se
iniciado. Desta vez, atendendo o pedido da guerreira, os demais
aventureiros não interferiram no combate. A preocupação da aventureira
era que os yuan-tis pudessem fugir e chamar reforços, caso percebessem
uma ameaça maior do que uma mulher sozinha.
Os
heróis avançaram até a saída do túnel e encontraram a câmara do
templo. Era outro imenso salão da caverna, com mais de quinze metros
de altura. Em seu centro foi erguida uma estrutura de pedra, um
prédio de formato quase circular, com uma grande cúpula e uma escadaria
que levava à entrada, um portão de madeira entalhada, entre duas
estátuas de serpentes. O fogo mágico colocado em archotes também
iluminava o ambiente. Viram, ocultos, Storm combater os quatro guardas
yuan-tis. Mikhail resolveu que lançaria um encanto divino, porém
escolheu um que não denunciasse sua presença. Após alguns gestos
e palavras, todo o som que era produzido no local da luta cessou.
Assim garantiu o clérigo que o ruído da batalha não levasse outros
inimigos aquela câmara.
Storm
mostrava toda sua maestria com a espada bastada. Não era a toa que
muitos a colocavam entre as maiores heroínas de Faerûn. A Harpista
foi derrotando seus adversários com golpes rápidos e precisos. É
claro que, mesmo para ela, os yuan-tis eram oponentes capazes e,
por algumas vezes, os golpes das alabardas penetraram nas suas defesas,
fazendo-lhe pequenos arranhões em sua armadura. Mas antes que sofresse
qualquer dano grave, os quatro inimigos caíram mortos. A mulher
então guardou sua espada e os seus amigos, que a assistiam apreensivos,
foram juntar-se a ela.
"Agora
vamos adentrar este portão! Acabaremos com este Vandenspujo", disse
Galtan.
"Esperem!",
interrompeu Nalab. "Antes, deixem-me mostrar-lhes a saída da câmara,
conforme prometi."
O
sacerdote guiou mais uma vez os aventureiros e juntos contornaram
o templo até um dos túneis que haviam na parede da câmara.
"É
aqui. Este túnel levará vocês ao deserto além da montanha. Cumpri
minha parte no trato. Espero que cumpram a sua e tragam a jóia de
Vandenspujo para mim."
"Como
vamos ter certeza que esta é mesmo a saída?"
"Não
teremos, Mikhail", disse Kariel. "De qualquer forma temos que derrotar
este Vandenspujo para salvar a vida das três jovens. Teremos que
confiar neste homem e esperar que não seja um traidor."
"Fiquem
aqui", pediu Magnus aos aldeões do deserto. "Vocês ficarão mais
seguros. Se não retornarmos em breve, sigam o túnel."
"O
que estamos esperando? Vamos salvar as mulheres, antes que seja
tarde.", bradou Brian.
Os
heróis então correram em direção a entrada do templo. O portão principal
estava aberto e Magnus o empurrou. Revelou-se um pequeno corredor
e, logo após, um outro portão.
"É
aqui.", informou Nalab.
"Preparem-se.
Lembrem-se... eu e Kariel atacaremos Vandenspujo e os demais tentarão
deter os yuan-tis.", Storm recordou o plano.
Galtan
então empurrou os grandes portões de madeira, que abriram ruidosamente,
interrompendo o ritual em honra a Sseth. Vandenspujo, um yuan-ti
de escamas amareladas e que estava trajado de vestes sacerdotais,
prostrava-se frente a uma grande estátua de serpente, cuja bocarra
aberta projetava-se sobre ele em direção de uma piscina construída
no centro da sala. Dentro dela, amarradas a um poste de madeira,
estavam as três mulheres seqüestradas, cobertas de água até o pescoço.
Haviam no lado esquerdo e no direito do aposento fileiras de homens-serpentes.
Eram, no total, dez yuan-tis armados. Parte deles retiraram arcos
das costas e prepararam setas. Outros sacaram espadas e foram em
direção dos invasores assim que os viram. Estava armado o cenário,
desta que seria uma das batalhas mais dramáticas da Comitiva.
Vandenspujo
levantou-se e olhou para os estranhos que profanaram seu local sagrado.
Com sua voz sibilante, o sacerdote então pôs-se a conjurar um feitiço
e uma bola de fogo surgiu e partiu de suas mãos para explodir no
meio dos heróis, causando-lhes os primeiros ferimentos. Setas disparadas
pelos soldados serpentes também se precipitaram. Brian foi o mais
atingindo neste ataque, tendo um projétil perfurado seu ombro. Storm
executou um encanto e como se entrasse em uma porta invisível, desapareceu,
para surgir em seguida próximo ao sacerdote e aplicar-lhe dois golpes,
sem que o adversário, porém, sentisse algum efeito. Os yuan-tis
guerreiros já haviam se aproximado o suficiente para um combate
corpo a corpo. Mesmo Kariel, que tencionava unir-se a Storm no combate
a Vandenspujo, foi cercado e teve que lutar com os soldados. Dos
que entraram na sala, apenas Nalab não combatia. Sentado calmamente
no chão, próximo ao portão. Esperava calmamente o desfecho da batalha.
A
distribuição do combate era desigual: Kariel lutava contra três
yuan-tis, Magnus, Galtan e Mikhail contra dois cada. Brian era o
único que combatia em igualdade, mas como estava bastante ferido
devido aos primeiros ataques, era um dos que mais sofriam para se
manter na batalha. Kariel estava protegido por um encanto, mas frágil
era sua vantagem. Tal era a quantidade de golpes que recebia, que
em breve o Escolhido de Mystra estaria tão vulnerável quanto qualquer
outro naquela carnificina. Antes que o sortilégio se esgotasse,
o arcano aproveitou e conjurou um feitiço que fez com que um jato
de fogo partisse de suas mãos e atingisse dois de seus oponentes.
O calor da chamas fez chiar os reptéis, mas as injúrias eram insuficientes
para retirá-los de combate. Os outros viravam-se de maneira mais
comum: com o fio de suas lâminas e com o peso do martelo de guerra.
As coisas, porém não corriam bem. Os monstros eram rápidos e faziam
sangue espirrar a cada ataque acertado na carne dos heróis. Mikhail
sentiu os ferimentos. Os golpes dos yuan-tis o aproximava cada vez
mais da morte. Conseguiu abater um deles e recitar uma oração a
sua deusa, concedendo-lhe vitalidade adicional, mas tal ajuda não
tardaria muito a tornar-se nula. Tentava resistir o quanto podia.
Galtan também sofria. A sua habilidade de cavaleiro de Águas Profundas
temperada em muitas batalhas, jamais tinha provado de lâminas tão
velozes. Bloqueava com sua espada longa um golpe e eis que recebia
outro pelos flancos. Já sentia um frio percorrer seu corpo e seus
reflexos diminuírem. Seu superior, o comandante Brian, seguia contra
seu oponente e praticamente limitava-se a defender os golpes que
lhe eram endereçados. Sorte de Tymora, pois o homem não duraria
muito sem estes recursos. Magnus, dentre todos os combatentes, era
o que mais tinha êxito. Havia sido menos castigado e conseguira
acertar um golpe certeiro, rasgando o couro de um dos seus inimigos,
expondo-lhe as vísceras e fazendo-o tombar.
Kariel,
estava bastante ferido, mas lançava mão de seus artifícios. Havia
conjurado alguns de seus projéteis arcanos e agora usava o recurso
que desejaria não utilizar: o perigoso feitiço de relâmpago. O raio
partiu das mãos do elfo, dividiu-se e acertou dois oponentes. A
rama elétrica após atingir os corpos dos yuan-tis chocou-se contra
as paredes de pedra do templo e refletiu, voltando pelo mesmo caminho.
Novamente encontrou os yuan-tis, que receberam outra poderosa descarga
elétrica, que vitimou um deles. Kariel foi também atingido, mas
uma graça da Deusa da Magia o protegia contra aquele encanto. Mikhail,
apesar de ainda estar em combate, conseguiu aproximar-se de Brian.
O homem já estava para cair, quando sentiu a mão do clérigo tocar
seu ombro, canalizando uma benção curativa. Enquanto isto, Galtan
derrubava um inimigo e Magnus o seu segundo. O paladino de Helm,
livre dos adversários correu para ajudar Brian.
Como
se não bastasse a situação em que se encontravam os aventureiros
um chiado ouviu-se dentro da grande estátua de cobra. Logo após
uma enorme serpente saiu da bocarra da imagem e caiu dentro da piscina.
O réptil queria seu sacrifício. As pobres moças, amarradas e indefesas
gritavam e clamavam o nome de sua deusa. Storm largou o combate
místico com Vandenspujo e pulou também na água, na esperança de
matar aquela que deveria ser a Grande Naga, antes que esta apagasse
a chama da vida daquelas moças. O vilão, livre do combate com a
guerreira, não tardou a lançar de suas artes malignas novamente
contra os heróis. Conjurou um feitiço e fez Kariel e Magnus ficarem
imóveis, feito estátuas. Logo após, lançou outro sortilégio mais
mortal e próximo ao mago da comitiva ergueu-se uma coluna de chamas,
engolfando o elfo. Desaparecendo o fogo, restou Kariel caído ao
chão, bem próximo da morte.
Storm
lutava contra a enorme serpente dentro da piscina. A água se agitava
e a guerreira, esquivava-se do corpo do réptil, ávido por envolvê-la
em um abraço mortal, ao mesmo tempo que tentava golpeá-lo. As mulheres
desesperadas, já não gritavam. Apenas choravam e aguardavam seu
fim. Afinal que chance teria uma mulher contra um monstro daqueles?
Mas Storm era mais do que pensavam. Conseguiu uma posição de vantagem
e, com toda a sua força empregada em uma golpe mortal de sua espada
bastarda, decepou a cabeça do animal medonho. Não houve tempo para
comemorações. Saltou da água e foi em direção de Vandenspujo. Lançou-lhe
uma magia que dissipou as proteções mágicas que o yuan-ti havia
conjurado e então fez sua espada bailar. O sacerdote de Sseth, sentindo
suas vestes e seu couro escamoso se rasgarem, já poderia prever
que em breve se encontraria com o seu deus.
Mikhail,
com seu martelo, enviou o yuan-ti contra o qual combatia para o
além vida, e correu em direção ao moribundo Kariel. O elfo acumulava
tantas queimaduras que nem mesmo sua capacidade de regeneração,
outro presente de Mystra, seria rápida o suficiente para impedi-lo
de morrer. Então Mikhail realizou outra oração e impôs suas mãos
sobre o amigo. Algumas feridas se fecharam e ele, ainda bastante
machucado, recobrou a consciência. Porém o que viu, assim que novamente
abriu seus olhos, foi Brian e Galtan caírem, vítimas dos intensos
golpes. O arcano executou, ainda no chão, um feitiço e fez surgir
entre os inimigos e os colegas caídos uma muralha de fogo. Ergueu-se
e junto com Mikhail, lutavam contra dois yuan-tis mais próximos.
Porém o clérigo, que havia salvado tantos, também tombou. Naquele
momento somente haviam de pé Kariel, ainda muito ferido, e Magnus,
paralisado pelo encanto de Vandenspujo . E eram ainda quatro os
yuan-tis. Kariel, mesmo temendo efeitos indesejáveis, novamente
teve de lançar seu encanto de relâmpago. Matou dois, mas haviam
mais outros dois. Dificilmente resistiria, mas sabia que havia feito
o possível e iria lutar até o fim. Por sorte sua, viu Storm vir
em seu auxílio. Olhou para o final do salão e pôde enxergar o corpo
de Vandenspujo. A guerreira e o elfo, juntos, acabaram então pode
derrotar os últimos oponentes.
Vencida
a batalha, foram verificar os feridos. Brian, Galtan e Mikhail perdiam
sangue e em breve estariam mortos. Porém, neste instante, o encanto
que prendia Magnus perdeu o efeito e o paladino usou seus poderes
divinos de cura para fechar as feridas de seus amigos. Assim, Brian,
Galtan e Mikhail, mesmo que gravemente debilitados, novamente levantaram.
"Fizeram
um bom trabalho!" A voz era de Nalab. O pérfido seguidor de Sseth
já estava ao lado do cadáver de Vandenspujo e segurava uma jóia
vermelha em uma das mãos.
"Não
deixarei que saia com nenhum prêmio, maldito!", bradou Galtan, que
ameaçou correr para atacar seu desafeto, mas foi segurado por Mikhail
e Kariel.
"Não
vale a pena, Galtan! Ele irá matá-lo.", disse o clérigo de Mystra.
"Estamos
muito fracos. E se morrermos aqui, não conseguiremos completar a
missão que nos foi confiada.", complementou Kariel.
"Escute
seus amigos, dromedário.", provocou Nalab. "Podem levar as jovens
e considerem o acordo cumprido."
O
sangue de Galtan ainda fervia, mas as palavras de seus amigos faziam
sentido e ele se resignou. Libertaram as jovens, saíram do templo
e encontraram os outros aldeões, que haviam sido deixados na entrada
do corredor indicado por Nalab. Percorreram o túnel apertado e quando
a demora do percurso começou a fazê-los temer por uma traição, viram
a luz branca dos raios de sol e uma abertura a frente. Enfim tinham
encontrado a saída.
Esta
história é uma descrição em teor literário
dos resumos de aventuras jogadas pelo grupo Comitiva da Fé
em Salvador sob o sistema de RPG Advanced Dungeons & Dragons.
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